Introdução
Uma modalidade de esporte coletivo de grande mobilização entre os escolares é
o voleibol, sendo um esporte praticado por duas equipes composta por seis
jogadores em uma quadra dividida por uma rede, cujo, o objetivo é enviar a bola
por cima da e fazê-la cair no solo do campo adversário (MACHADO, 2006). Com
isso, há uma necessidade de treinamento para que as equipes possam desempenhar
seu papel frente às competições escolares.
Uma alternativa de preparação física para prática desportiva é o
Treinamento Funcional, definido como a base para movimentos integrados e
multi-conjuntos de estabilização, aceleração e desaceleração dos
movimentos. Esse treinamento baseia-se entre outros princípios na
especificidade buscando desenvolver a força, a velocidade, assimilando o
ângulo de execução e amplitude dos movimentos, aprimorando a postura, os
sistemas energéticos específicos e a sinergia entre os músculos, que deve
convergir na ação que o atleta necessita realizar durante a prática
desportiva (CAMPOS e CORAUCCI, 2004).
Para o Treinamento Funcional, recomendam-se movimentos que imitam situações
naturais e de posições que poderiam ocorrer em situações reais da vida
cotidiana ou competições esportivas, que podem ser ajustadas ao longo do
chamado treinamento cognitivo (ELVAR et al., 2008).
De acordo com Santos, Piucco e Reis (2007) grande parte dos praticantes da
modalidade de voleibol amador não realiza atividades para o desenvolvimento do
condicionamento físico e nem complementares para preventivas lesões. Não
diferente da afirmação dos autores supracitados, a equipe de voleibol escolar
analisada, não tinham preocupações com atividades físicas capaz de
preveni-los de lesões e melhorar o condicionamento físico, o que motivou e
justificou a realização deste estudo.
Dessa forma, será possível melhorar as variáveis de força e composição
corporal de escolares de uma equipe de voleibol submetidas a um programa de seis
semanas de Treinamento Funcional?
Contudo, o objetivo do presente estudo foi verificar os efeitos de um programa
de treinamento funcional sobre variáveis relacionadas à composição corporal
e força muscular de uma equipe de voleibol feminino de uma Instituição
Federal de Ensino.
Materiais
e métodos
O estudo foi realizado com nove voluntárias participantes de uma equipe de
voleibol escolar feminina de uma instituição e Ensino Federal. Amostra foi
constituída de sete voluntárias, com idade superior a 18 anos, participantes
de uma equipe escolar, com freqüência igual ou superior a 75% de
participação no treinamento. De outra forma, duas voluntárias foram
excluídas, pois, apresentaram freqüência inferior a 75% no treinamento.
As voluntárias assistiram a uma palestra, onde foram apresentados os objetivos
e a metodologia do estudo, bem como, todos os critérios de voluntariedade para
participação em pesquisa com seres humanos de acordo com a resolução
n°196/96, momento em que foi assinado o termo de consentimento livre e
esclarecido (BRASIL, 1996).
Protocolos
de avaliação
Questionário
de anamnese
Constituído de 14 perguntas de identificação pessoal, além de fatores que
identifique a individualidade das voluntárias.
Avaliação
cineantropométrica
Inicialmente, realizou-se uma avaliação cineantropométrica utilizando as
medidas de massa corporal e estatura, determinadas em balança antropométrica Fillizola®
(Brasil), capacidade de 150 kg e intervalos de 100g, com o indivíduo
descalço, usando roupas leves, de pé, com os calcanhares juntos, cabeça
posicionada no plano horizontal, olhando em linha reta. A estatura foi
verificada utilizando o estadiômetro vertical fixo à balança (ROCHA, 2000).
Para determinar o Índice de Massa Corporal (IMC) utilizou-se os
valores de massa corporal e estatura estabelecida pela seguinte equação
(ANJOS, 1992 apud PITANGA, 2005):
IMC =
peso (kg) / estatura (m²)
O Protocolo de Jackson e Pollock (1980) de três dobras cutâneas para mulheres:
tríceps, supra-ilíaca e coxa foi utilizado para verificar o percentual de
gordura corporal (%G). As medidas foram realizadas com um compasso de dobras
cutâneas da marca Sanny® (Brasil).
: com o avaliado
em pé, de costas para o avaliador, medir a dobra cutânea na projeção do
ponto meso-umeral na face posterior do braço. A dobra deve ser tomada no
sentido longitudinal (ROCHA, 2000).
Dobra
cutânea supra-ilíaca
: estando o
avaliado em pé, de frente para o avaliador, faz-se a medida na interseção
da linha auxiliar anterior com a linha horizontal que passa acima do ponto
íleo-espinhal. A dobra cutânea deve ser tomada no sentido obliquo, em
ângulo de 45º (ROCHA, 2000).
Dobra
cutânea da coxa
: o avaliado deve
está em pé, de frente para o avaliador com o pé direito apoiado em um
suporte de 10 cm de altura. Faz-se a leitura na parte anterior da coxa na
altura do ponto médio-femural que é marcado pelo ponto médio da distancia
da prega inguinal e o bordo superior da patela (ROCHA, 2000).
Realizou-se também a avaliação da Relação Cintura x Quadril (RCQ). Está
relação (RCQ) tem apresentado uma estreita ligação com os riscos para
desenvolvimento de doenças coronarianas, como o infarto do miocárdio (LARSSON
et al., 1984 apud PITANGA, 2005). Utilizou-se uma fita métrica de 2m da marca
Pack® (Brasil) para esta avaliação.
A Relação Cintura Quadril (RCQ) foi determinada pela fórmula:
RCQ =
circunferência da cintura (cm)/ circunferência do quadril (cm)
Avaliação
da força muscular
- o testado
deve estar em quatro apoios sobre um colchonete com os cotovelos estendidos.
Será realizada a flexão dos cotovelos até que estes fiquem ao nível dos
ombros, voltando à posição inicial, realizando a extensão completa do
cotovelo. Mede-se o número máximo de execução corretas (ROCHA, 2000).
Teste
de força abdominal
- o testado deve
estar deitado em decúbito dorsal sobre um colchonete, com as mãos na nuca,
pernas flexionadas, joelhos formando um ângulo de 90º, planta dos pés no
solo, os pés deverão esta presos pelo avaliador. Realizar a flexão da
coluna até encostar os cotovelos nos joelhos, voltando à posição inicial
até que as escapulas toquem o solo. Mede-se o número de repetições
corretas realizadas em 1 minuto (ROCHA, 2000).
Teste
de impulsão vertical
- Em uma parede
escalada até 400 cm, mede-se a altura total do testado. Com as pontas dos
dedos sujas de giz, sem realizar corrida de aproximação, o testado poderá
saltar o mais alto possível, registrando na escala a altura alcançada no
salto utilizando uma fita métrica de 12m da marca Starret® (Brasil).
Mediu-se a potência subtraindo-se da altura alcançada no salto, a altura
total. O avaliado terá apenas duas chances para executar o salto,
registrando-se o melhor resultado. Cabe ressaltar, que todas as medidas foram
realizadas por um único observador, acadêmico de educação física,
treinado para executar essa função (ROCHA, 2000).
Procedimentos
de intervenção
O programa de treinamento funcional foi realizado duasento funcional será
realizado 3 vezes por semana, com duração de 45 a 60 minutos por dia em um
período de 6 semanas, dividida em três etapas: iniciante, intermediário e
avançado, em um período de duas semanas cada etapa, em que se buscou o
desenvolvimento das variáveis relacionadas à força muscular e composição
corporal das atletas escolares de voleibol feminino.
-
Iniciante:
exercícios sem carga, com objetivo de aprendizado para a execução correta
do movimento.
-
Intermediários:
exercícios executados com carga baixa.
-
Avançado:
exercícios realizados com carga e potência.
O treino será dividido em três momentos distintos:
-
Aquecimento
dinâmico: 10 minutos.
-
Treinamento
Funcional: 30 a 40 minutos.
-
Relaxamento:
5 a 10 minutos.
O treinamento funcional propriamente dito, com duração de aproximadamente 40
minutos, trabalhou os movimentos de estabilidade da coluna vertebral,
priorizando os músculos que rodeiam e estabilizam o tronco como: reto
abdominal, obliquo e paravertebrais em cadeia com membros inferiores e membros
superiores (MMII / MMSS) respectivamente. O treinamento foi desenvolvido
seguindo o roteiro de aula como mostra a Tabela 1.
Tabela
1. Exercícios das aulas para o treinamento funcional
Análise
estatística
A análise foi realizada com medidas descritivas de tendência central e
dispersão. Posteriormente foi verificada a normalidade dos dados, onde os
resultados possibilitaram a utilização do teste T Student, aceitando a
potência de p≤0,05 com erro (α) = 5% para aceitação ou rejeição
das hipóteses do estudo, de acordo com as considerações de Ayres et al.
(2007). Utilizou-se o programa PASW® 17.0 for Windows para análise dos
dados.
Resultados
A Tabela 2 apresenta as variáveis de estudo com os valores da média, mediana,
desvio padrão, número máximo e número mínimo dos dados de entrada.
Tabela
2. Treinamento funcional para atletas escolares de voleibol feminino, n=7
A Figura 1 apresenta os resultados para os dados da composição corporal das
atletas escolares de voleibol feminino, demonstrando que não houve diferença
estatística p<0,05 para os mesmos após a realização do treinamento.
Figura
1. Mostra o pré e pós-testes das variáveis: Massa corporal; índice de
massa corporal (IMC),
%
de gordura (%G); Risco cintura & quadril (RCQ) e seus respectivos p-valor
A Figura 2 mostra que a variável de salto vertical apresentou uma melhora
estatística significativa (p<0,05) com um ∆=0,027%. Porém, as outras
variáveis de desempenho não apresentaram melhoras estatísticas.
Figura
2. Mostra o pré e pós-testes das variáveis: flexão de braço (Flex.Br);
Abdominal (Abd) e salto vertical
(diferença
entre a posição inicial estática e o valor obtido no salto). Demonstrando um
p<0,05 para a última
Discussão
Após o período de seis semanas de treinamento funcional com duas
intervenções semanais, seguindo um critério de progressão dos exercícios,
partindo-se dos exercícios de estabilização, flexão e extensão, rotação
até atingir os exercícios de potência que as atletas escolares foram
submetidas constatou-se uma melhora significativa (p<0,05) na força muscular
de membros inferiores.
O salto vertical é baseado em várias variáveis independentes
específicas, cada uma das quais pode afetar ou contribuir para o desempenho
final do salto. Essas variáveis podem ser identificadas, podendo ser
manipuladas separadamentes ou em cojunto para maximizar o desempenho do salto
vertical (WEISS, 1997 apud VILLARREAL, 2004).
Para os exercícios de pliométricos de salto vertical foram utilizados faixas
elásticas de aproximadamente um metro de comprimento, os exercícios se
assemelhavam ao movimento de bloqueio do voleibol que de acordo com Elvar et al.
(2004) o exercício ao se aproximar da realidade de movimento inerente da
modalidade esportiva, como ângulo em que a força é aplicada, cadencia e
velocidade, pode-se ter uma transferência de resultados na aplicação da
atividade atlética.
Para Boff e Da Silva (2009) em um estudo de revisão de literatura, o
treinamento utilizando os exercícios pliométricos obtém bons resultados para
o salto de atletas escolares.
Essa melhora é compreendida com a nalise das estrutudas dos membros inferiores,
que são projetadas para uma melhor adaptação do sitema de alongamento e
encurtamento, caracteristica do treinamento pliométrico, devido a presenças de
tendões muitas vezes mais longos que o ventro dos muscúlos, como por exemplo,
os extensores distais como os músculos gastrocnêmio e o sóleo. Quando
esticado o tendão pode aumentar até 5% antes de sua redução, isso melhora a
utilização da energia elástica e sua eficiência mecânica, podendo atingir
grandes velocidades de aceleração e desaceleração (PLISK, 2006).
A essência do treinamento funcional está baseada na melhoria dos aspectos
neurológicos que afetam a capacidade funcional do corpo humano, através de
exercícios que desafiam os diversos componentes do sistema nervoso e, por isso,
estimulam sua adaptação. Isso resulta em uma melhoria das principais
qualidades físicas utilizadas tanto nas atividades do dia-a-dia como nos gestos
esportivos, como os saltos para o voleibol (CAMPOS e CORAUCCI, 2004).
Neste estudo verificou-se com as analises dos dados de pré e pós teste que
não apresentaram valores significativos nas variáveis de composição
corporal, desempenho de força das flexões de braço e abdominais, no entanto a
variável de salto vertical mostrou-se com valor significativo, com uma melhoria
de p=0,004 no pós teste.
O treinamento funcional é o desenvolvimento de uma postura correta e saudável
com exercícios de estabilização da coluna vertebral com objetivo de
transferir e potencializar outras estruturas dependentes. Desta forma, um
programa de seis semanas de treinamento onde se trabalhou a estabilização da
coluna vertebral em corredores profissionais, mostrou uma melhoria no desempenho
especifico da modalidade (STAMTON et al., 2004)
No entanto, Villarreal (2007) destaca que são varias as variáveis que
interagem para a execussão do salto vertical como, controle motor,
coordenação muscular, multi-ação comum, níveis de força, técnica de
execução. Essas variáveis nos leva a analisar e refletir a validade de
estudos que medem o salto. Por esta razão, é imperativo que seja conduzidas
mais pesquisas para que seja determinada a correlação entre essas variáveis
para melhores conclusões.
Conclusão
Constatou-se com o presente estudo que as variáveis de composição corporal,
além da flexão de braço e abdominal não sofreram alteração estatística
significativa, isto indica que a metodologia ou o tempo de aplicação da mesma
não foi suficiente para apresentar melhoras para estas variáveis. Entretanto,
houve uma melhora estatística significativa para o salto vertical que é uma
variável de desempenho específico para o voleibol. Recomenda-se com isso,
novos estudos que contemple um período maior de treinamento, com um número
amostral maior e com um grupo controle.
Referências
-
AYRES,
M.; AYRES, A.Jr.; AYRES, D.L. e SANTOS, A.L. BioStat 5.0: Aplicações
estatísticas nas áreas das ciências biológicas e médicas. 5a Edição,
Belém, 2007.
-
BOFF,
R e Da Silva, E.R. Aplicabilidade do treinamento pliométrico para jogadores
de voleibol. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 14
n°138, 2009. http://www.efdeportes.com/efd138/treinamento-pliometrico-para-jogadores-de-voleibol.htm
-
BRASIL.
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do Brasil. 1996.
Disponível em http://conselho.saude.gov.br.
Acesso em: 25 abr. 2011.
-
CAMPOS,
M. A.; CORAUCCI NETO, B. Treinamento funcional resistido: para melhoria
da capacidade funcional e reabilitação de lesões musculoesqueléticas.
Rio de Janeiro: Revinter, 2004.
-
ELVAR,
J.R.H.; RAMÓN. M.; CHALVI. I. Treinamento funcional revisão e
reformulações. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano
12 - N° 117 -2008. http://www.efdeportes.com/efd98/efunc.htm
-
______.
J. R. H.; CHULVI. I.; ISIDRO. F.; MARÍN. M.; RAMÓN M. Treinamento
funcional e instabilidade na aptidão. EFDeportes.com, Revista Digital.
Buenos Aires, Año 10 - N° 70 - 2004. http://www.efdeportes.com/efd117/el-entrenamiento-funcional-y-la-inestabilidad-en-el-fitness.htm
-
JACKSON,
A. S., POLLOCK, M. L. e WARD, A. N. N. Generalized equations for predicting
body density of women. Med Sci Sports Exerc. 12(3):175-82, 1980.
-
MACHADO,
A. A. Voleibol: do aprender ao especializar. Educação física no ensino
superior. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro: 2006.
-
PLISK,
P. Functional Training. National Strength and Conditioning
Association - série Hot Topic NSCA, Nevada, 2006. Disponível em:
http://www.nsca-lift.org/HotTopic/download/Functional%20Training%20modified[1].pdf,
Acesso em: 12 set. 2011.
-
PITANGA,
Francisco José Gondim. Testes, medidas e avaliação em educação
física e esportes. 4º Edição, Phorte, São Paulo, 2005.
-
ROCHA,
P. E. C. P. Medidas e Avaliação em ciências do esporte. 4. ed. Rio
de Janeiro: Sprint, 2000.
-
PIUCCO.
T; REIS. D. C. Fatores que interferem nas lesões de atletas amadores de
Voleibol. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho
Humano. 2007;9(2)189-195.
-
STANTON,
R. et al. O efeito de curto prazo de formação bola suíça sobre
estabilidade e core: economia de corrida. Journal of Strength and
Conditioning Research, 2004.
-
VILLARREAL,
Eduardo Saez Saez de. Variáveis que determinam salto
vertical. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 10 - N°
70 - 2004. http://www.efdeportes.com/efd70/salto.htm
Outros artigos em
Portugués
 |
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 169 | Buenos Aires,
Junio de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados
|
