Fatores financeiros e motivacionais relacionados com  a escolha dos locais para a prática da dança: estudo  de caso do Samba Rock na cidade de São Paulo Los factores económicos y motivacionales relacionados con la elección de lugares  para practicar el baile: un estudio de caso del Samba Rock en la ciudad de Sao Paulo Financial and motivational factors related to the choice of places to dance practice: a case study of Samba Rock in Sao Paulo
	*Orientador **Discentes Grupo de Pesquisa CNPq: Pesquisas Interdisciplinares em Sociologia do Esporte Universidade de São Paulo. Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Brasil)	Prof. Dr. Marco Bettine de Almeida* Kaio César Pereira** César Quintino Furtado** marcobettine@gmail.com
	Resumo           Este trabalho tem como objetivo retratar se a influência financeira tem o poder de selecionar o público que freqüenta as casas de dança: Samba Rock na cidade de São Paulo, este trabalho pode auxiliar a entender se o processo de evolução da prática do estilo musical trouxe adeptos das classes sociais mais altas da cidade. Analisar a influência de segregação das etnias sociais, uma vez que em geral na população brasileira, os negros e pardos fazem parte, em sua maioria, da sociedade de classe média ou classe média baixa e os brancos continuam sendo os que compõem, em sua maioria, a classe que vai da qualificação de média até a classe alta.           Unitermos: Dança. Samba rock. Classe.   Resumen           Este trabajo tiene como objetivo describir si el factor económico tiene el poder para seleccionar al público que frecuenta las salas de baile: Samba Rock en Sao Paulo. Este trabajo puede ayudar a entender el proceso de la evolución de la práctica del estilo musical ofrecido a los asistentes de las clases más altas de la ciudad. Se analiza la influencia de la segregación social de los grupos étnicos, toda vez que en general, en la población brasileña, los negros y mulatos forman parte, en su mayoría, en la sociedad, de clase media o clase media baja y que los blancos siguen siendo los que componen principalmente, la clase que califica como clase media alta a la clase alta.           Palabras clave: Danza. Samba rock. Segregación social.   Abstract           This work aims to portray the financial clout has the power to select the audience that frequents the houses of dance: Samba Rock in Sao Paulo, this work may help to understand the process of evolution of the practice style of music brought fans the upper classes of the city. To analyze the influence of social segregation of ethnic groups, since the general population, blacks and browns are a part, for the most part, society's middle class or lower middle class and the whites are still those that comprise mostly , the class will qualify the average to the upper class.           Keywords: Dance. Samba Rock. Social segregation.
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Estudar o fenômeno da dança é entender a complexidade dos movimentos, organizados e articulados a um ritmo, estruturado na cultura que originou aquele determinado estilo e a interpretação do artista, é a expressão corporal que estimula sentidos e se transforma em arte.

    O Samba Rock é um estilo musical de dança de salão que foi difundido socialmente em São Paulo em sua maioria pela população de cor negra ou parda durante a década de 50 e 60. A música, importada dos norte americanos, teve por parte dos brasileiros um estilo de dançar próprio.

    “Os anos de 1950 e 1960 viriam o nascimento de algo que tornaria os bailes paulistanos, e depois paulistas, diferentes de outros no Brasil. Muitos dizem que é um estilo de música, outros falam que é o nome da dança: o Samba-Rock. Nesse termo que desperta polêmicas longe de estarem terminadas, entram uma palavra cuja origem é o quimbundo e outra tem origem inglesa. É uma dança de movimentos muitas vezes sofisticados, às vezes bem cadenciados, bem malandros, e é transmitida de forma familiar: de pais e mães para filhos e filhas, tios e tias para sobrinhos e sobrinhas. Por outro lado, o samba-rock já se aprende em escolas ou em aulas em salões; mas ninguém sabe qual será o futuro de iniciativas como essas. Para muitos, o samba-rock é também o estilo de música imortalizado pelas guitarras tribais de Jorge Bem e Luis Vagner e recentemente reanimado na voz possante e melódica de Paula Lima e nos instrumentos de bandas como o Clube do Balanço.” (BARBOSA e RIBEIRO, 2007)

    Inicialmente o ritmo era chamado de “solto” pela tua característica diferenciada entre as demais danças de salão (ou de casais) existentes na época como o floreado, fox blue, fox trote, o próprio rock, que tinham muitas partes da dança onde o homem ficava corpo a corpo com a mulher. No samba-rock o único contato exigido é o das mãos, a condução deste estilo é dada somente pelas mãos, daí esta origem do nome solto. Após o lançamento de um álbum da banda Lee Jackson, onde o nome do LP era "Rock Samba", no qual fizeram uma fusão de uma música do Bill Haley que tinha uma guitarra e colocaram um ritmo de samba no meio da música. A partir daí é que foi dada a rotulagem do estilo como Samba Rock devido ao sucesso que a música teve na época. (BARBOSA e RIBEIRO, 2007, p.118)

    Não muito difundido na indústria de mídia, o Samba Rock conseguiu se expandir e fortalecer com base nos bailes organizados pelas comunidades populares nos bairros de São Paulo, onde os negros se sentiam mais ambientados e menos atingidos pelo preconceito que em época de ditadura militar era muito mais forte do que na sociedade contemporânea do século XXI.

    O Samba Rock traz a história dos dançarinos anônimos da cidade de São Paulo, que criaram uma nova dança ignorada pelos meios de comunicação (jornais, rádio, televisão e revistas) por quase quatro décadas. (RODRIGUES, 2006)

    Neste bailes organizados pelas comunidades populares, a presença da população de pele negra era maioria quando comparadas com a população de pele branca. Nos dias atuais após a evolução da sociedade como um todo, é possível encontrar ambas as etnias numa mesma casa de festas que toque o estilo musical, porém há uma diferenciação de acordo com o bairro onde a casa está localizada, podendo esta diferença ser influenciada pelo preço cobrado pela festa ou pelo bairro onde a casa está localizada.

    A escolha de ter o momento de lazer em um local específico pode ser influenciada por outros fatores como o gosto, a companhia de amigos ou pelo costume, ou tradição, que a pessoa tem de frequentar este local.

    Pesquisar a dança em casas noturnas nos permite analisar a racionalidade envolvida nas ações tomadas pelos frequentadores das mesmas. "Cada casa noturna cria um clima que instiga, o que conduz à determinação de comportamentos e à configuração de sentidos/significados peculiares às relações estabelecidas." (TORTOLA & LARA, 2011). A casa noturna pode ter frequentadores de acordo com a música que é tocada, as pessoas que a frequentam, o espaço que é cedido para a prática da dança ou pelos produtos que ela oferece.

    No âmbito do lazer podemos definir casas noturnas como equipamento de conteúdo social, tendo em vista o seu principal objetivo de socialização, claro que serviços oferecidos podem se tornar objetivos secundários, que aumentam as atrações da casa assim como oferecer outras opções para entreter os frequentadores, por exemplo o oferecimento de porções e lanches, apesar do estabelecimento não ser de conteúdo gastronômico ele pode usar esse artifício como forma de atrair mais frequentadores.

    A avaliação de um o cliente é influenciada pelas características do serviço ou produto e esta diretamente relacionado com a avaliação de valor agregado (ZEITHAML, 2003), pensando nesse contexto é fundamental que a empresa, no caso a casa noturna esteja próxima dos seus clientes, conhecendo os gostos de seu publico alvo, tal como a disponibilidade financeira e as escaladas de importância gerada pelo consumidor alvo.

    Em casas noturnas devemos ainda relacionar ao valor, o serviço como atendimento, os produtos, musica e cardápio, o publico, a aparecia física, a estrutura e a tradição (WALL; BERRY, 2007).

    Visto isso basemos nossa hipótese em formas de relacionar o valor do estabelecimento e como isso influencia na escolha de seus frequentadores. O valor cobrado pelas casas noturnas de Samba rock, ou no dia em que é oferecido, pode ou não influenciar a escolha do publico que a frequenta, fazendo assim uma distinção baseada na renda financeira do mesmo?

Método de pesquisa

    Para análise deste trabalho foram realizadas entrevistas com 8 freqüentadores de uma casa noturna que toca o estilo musical Samba Rock da cidade de São Paulo em 2 dias diferentes, sendo 3 freqüentadores de uma sexta-feira à noite, e outros 4 de um domingo à noite. A casa noturna escolhida está localizada na Zona Oeste de São Paulo, uma no bairro de Pinheiros, de nome fantasia “Gracie A Dio”. As pessoas que entraram na amostra foram abordadas nas filas de entrada das casas de festas, informadas que as suas respostas serviriam para análise de um trabalho acadêmico para a disciplina de Antropologia e Sociologia da Atividade Física e Esporte da Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo e responderam a perguntas que traçaram um breve perfil das mesmas (Anexo I) seguidas da pergunta: “Os preços das casas de festas influem na sua tomada de decisão para frequentá-las?”. As respostas foram transcritas pelo próprio entrevistador logo após a realização das entrevistas. A análise dos resultados foi baseada na similaridade das respostas obtidas pelos entrevistados.

Discussão dos resultados

    Analisando a maioria dos entrevistados, tanto estudantes quanto profissionais do setor administrativo de empresas tiveram um posicionamento semelhante em relação à seleção do público que freqüenta a casa noturna de acordo com o preço cobrado para entrada na mesma. As falas: “...aqui era mais caro antes, eles estavam cobrando R$ 30,00 para mulher e R$ 40,00 para homem, aí o lugar ficava mais elitizado e o número de pessoas que dançavam diminuía quando acontecia isto.” (Sujeito 1); e “...quando fica mais elitizado devido ao custo de ingresso na casa a pista de dança acaba ficando mais vazia, isso é meio ruim na minha opinião porque é bonito ver as pessoas que sabem dançar dançando, por mais que eu não seja muito habilidosa na dança eu acho muito bonito ver as pessoas dançando como aquele casal que está na pista neste momento.” (Sujeito 2); e “O publico freqüentador desse tipo de casa noturna, particularmente quem procura para dançar e 'curtir' o samba rock, conhecem os integrantes desse nicho e conhece os costumes e características, por isso sabe aonde ir, quando ir e o que os atrai.” (Sujeito 7). Indicam uma relação direta de que o preço faz com que estas pessoas que tem o costume da prática da dança não freqüentem o espaço em grande número devido à elitização do espaço.

    Por outro lado também foi possível notar uma ressignificação para o local frequentado quando observamos a fala “...mesmo quando eles cobram mais caro, eu dou um jeito de vim aqui, porque a banda que toca [Clube do Balanço no dia] tem um som muito gostoso de ouvir e o ambiente desta casa é gostoso para curtir o som...” (Sujeito 1). Ou então a fala “...além do bom som daqui, encontrei muitas mulheres que sabiam dançar.” (Sujeito 3). Na primeira frase vemos uma relação de Fetichismo da Mercadoria de Marx, onde a música e o ambiente da casa tornam-se objeto de consumo para o frequentador da casa de tal maneira que mesmo com o preço de entrada na casa ficando mais caro, o indivíduo continuará a frequentando. O que pode ser observado pelo Sujeito 8 por esta fala:”...tenho um bom emprego e não sustento ninguém, acredito que sair, me divertir é uma espécie de investimento, pago para ter alguma coisa diferente no meu cotidiano e que me marque, sempre que saio pra dançar ou curtir uma balada saio pensando que quero algo que faça diferença na minha vida.” Neste caso temos a mesma relação de consumo pelo entretenimento produzido por dançar e ouvir o SambaRock.

    Há também fatores que se demonstram relevantes para aumentar o valor da casa como demonstrado nesse trecho: “Acho que o preço é uma mistura de tudo na casa sabe, bom bar, bom publico, no caso de casas pra dançar boa banda, localização e uma boa organização.” (Sujeito 6) Podemos compreender que o preço não é só composto pelo lucro da casa mas os serviços que ela disponibiliza tem custo e esse é repassado ao consumidor final.

    Observando o publico durante o evento, foi possível notar uma relação de idade dos presentes na casa diferente em cada dia , na sexta-feira a noite encontrou-se um maior número do público jovem entre 20 e 35 anos, e no domingo um público mais velho variando entre 27 até 45 anos. Esta diferença na faixa etária permite uma interpretação de que durante as noites a região onde está localizada a casa tenha a cultura de presença do público mais jovem.

Conclusão

    Existe uma relação entre preço e publico frequentador de casas que tocam o Samba Rock, pois foi possível notar, hesitação em ir a locais que possuem um valor mais elevado de entrada. Uma possível razão para esta reação pode estar ligada ao dado cultural de que o aprendizado é dado em meios familiares e em locais que priorizam a pratica da dança não os serviços de suporte, como bar, refeição e atendimento. Para comprovar esta hipótese seria necessário outra forma de abordagem mais voltada para os serviços oferecidos pelas casas, algo que não ocorreu neste estudo pois a ferramenta de análise não permite afirmar esta observação.

Referências bibliográficas

• BARBOSA, Márcio; RIBEIRO, Esmeralda. Bailes: Soul, samba-rock, hip-hop e identidade em São Paulo. São Paulo. Quilombhoje, 2007.

• RODRIGUES, Vagner. Fora da mídia e dentro do salão: samba-rock e mestiçagem. 2006. 98p. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Semiótica) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.

• TORTOLA, E., LARA, L.. A Dança como Produto à Venda em Casas Noturnas: Um Mapeamento do Terreno Mercadológico. Movimento (ESEF/UFRGS), 17, mai. 2011.

• WALL, E.A.; BERRY, L. The combined effects of the physical environment and employee behavior on customer perception of restaurant service quality. Cornell Hotel and Restaurant Administration Quarterly, v. 48, n. 1, p.59 – 69, 2007.

• ZEITHAML, V.A. Marketing de Serviços: a empresa com foco no cliente. 2 ed. Porto Alegre, RS: Bookman, 2003. p. 536.

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