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A contribuição fisiológica dos exercícios físicos para o 

tratamento da obesidade em crianças e adolescentes escolares

La contribución fisiológica de los ejercicios físicos para el tratamiento de la obesidad en niños y adolescentes en edad escolar

 

*Orientador

**Colaboradores

Brasília, DF

(Brasil)

Lic. Júlio Celso Noguchi Júnior

Prof. Dr. Márcio Rabelo Mota*

Prof. Ms. Alessandro de Oliveira Silva**

Prof. Ms. André Arantes**

juliocnj@live.com

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade é uma epidemia que vem crescendo de forma alarmante ao redor de todo o mundo, acompanhando essa crescente taxa crianças e adolescentes também sofrem com o que a OMS define como o grande desafio do novo século. O Índice de Massa Corporal é o parâmetro internacional para a classificação da relação do peso em quilos sobre a estatura em metros ao quadrado. Crianças e Adolescentes possuem um parâmetro específico para classificação e método de mensuração, o percentil. Para diminuir essa crescente taxa de obesidade, que afeta também crianças e adolescentes, os exercícios físicos são fatores essenciais para o tratamento e prevenção dessa epidemia global. O objetivo deste artigo é através de uma revisão de literatura identificar a contribuição fisiológica do exercício físico para o tratamento e prevenção da obesidade em escolares.

          Unitermos: Obesidade. Escolares. Crianças e adolescentes. Exercícios físicos.

 

Resumen

          La obesidad es una epidemia que está creciendo a un ritmo alarmante en todo el mundo. Esta tasa de crecimiento de los niños y adolescentes también sufre de lo que la OMS define como el gran reto del nuevo siglo. El índice de masa corporal es el parámetro para la clasificación de la relación internacional del peso en kilogramos por la altura en metros al cuadrado. Los niños y adolescentes tienen un parámetro específico para la clasificación y el método de medición, el percentil. Para reducir la creciente tasa de obesidad, que afecta también a los niños y adolescentes, el ejercicio es un factor clave para el tratamiento y la prevención de esta epidemia mundial. El propósito de este artículo es a través de una revisión de la literatura para identificar la contribución del ejercicio fisiológico para el tratamiento y prevención de la obesidad en la escuela.

          Palabras clave: Obesidad. Escuela. Niños y adolescentes. Ejercicios físicos.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Obesidade ou sobrepeso são definidos como acúmulo demasiado ou irregular de gordura, que possa vir a prejudicar a saúde (OMS, 2011), nesta visão, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) classifica a obesidade e o sobrepeso como nomenclaturas utilizadas como parâmetros de peso que estão acima do que é comum para a saúde e para determinada estatura (CDC, 2011).

    Como definição fisiológica, a obesidade pode ser descrita como um desequilíbrio na manutenção do peso corporal, que pode ser designado de uma abundante ingestão energética ou por um gasto de energia muito baixo. A origem da obesidade consiste numa complexa relação entre o genótipo e o meio ambiente em que vive o sujeito. Um gasto de energia muito baixo pode estar relacionado a três fatores, a taxa metabólica de repouso; o efeito térmico do alimento e o efeito térmico da atividade física (LEMURA, 2006).

    A obesidade representa um desajuste de vários fatores co-relacionados que acabam por afetar o equilíbrio nutricional e metabólico do corpo humano, favorecendo o aumento da massa corpórea. Estima-se que 25% da gordura corporal e ganho de peso estão relacionados ao fator genético e 30% relacionado ao estilo de vida do indivíduo e fatores ambientais (MCARDLE, 2010).

    O atual quadro mundial mostra que o sobrepeso e a obesidade vêm crescendo em números preocupantes. Países desenvolvidos e em desenvolvimento estão sendo acometidos por essa crescente síndrome mundial. Segundo pesquisas realizadas pela OMS em 2008, cerca de 1,5 bilhões de adultos com idade superior a 20 anos, estavam com sobrepeso naquela época e um levantamento realizado em 2010 revelou que mais de 42 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos, ao redor do mundo, estão com sobrepeso (OMS, 2011). Em um estudo realizado pelo IBGE, entre os anos de 2008 e 2009, constatou-se que metade da população adulta no Brasil tinha sobrepeso e que os casos de sobrepeso em adolescentes aumentaram cerca de 6 vezes nos últimos 34 anos (IBGE, 2010).

    Para mensurar a taxa de obesidade e sobrepeso, é utilizado o IMC, que é a relação de estatura sobre peso ao quadrado do indivíduo. Porém para crianças e adolescentes, os parâmetros utilizados são específicos para o IMC da idade e percentil de cada sexo (CDC, 2011).

    A obesidade pode aumentar os riscos e taxas de mortalidade, pois está relacionada a diversos tipos de complicações biológicas e doenças. A morbidade, a resistência à insulina, hipertensão, dislipidemia, doenças cardíacas, acidente vascular cerebral (AVC), doenças hepatobiliares, osteoartrite, doenças de pele, prejuízos respiratórios e câncer são algumas das complicações que a obesidade pode causar (CLAUDINO, 2005).

    Apesar da falta de métodos e parâmetros que classifiquem e avaliem crianças e adolescentes como obesas, sabe-se que o índice dos casos de obesidade nessa faixa etária tem se elevado de forma alarmante. A obesidade pode acarretar diversos distúrbios durante a infância e adolescência assim como, problemas psicológicos e sociais, riscos de doenças cardiovasculares aumentadas, metabolismo de glicose alterada, distúrbios hepáticos e gastrintestinais, apnéia do sono e complicações ortopédicas (OMS, 2004).

    Uma alimentação desequilibrada e ausência de exercício físico, assim como o sedentarismo, influenciado pelo uso de aparelhos eletrônicos, mais especificamente a televisão, são fatores determinantes para a causa da obesidade infantil. (PINTO DA SILVA, 2006). Sendo assim, a escola é uma das grandes influenciadoras na prevenção da obesidade, orientando os alunos a prática de hábitos saudáveis (BARBOSA, 2008).

    O exercício físico na escola tem um papel importante no auxílio e prevenção da obesidade (ARAÚJO, 2010). Em um estudo, realizado com alunos da 6ª série de escolas públicas e privadas, relacionando à participação das aulas de Educação Física e sua influência no IMC, verificou-se que os alunos que tinham participação nas aulas representavam um IMC médio maior do que os que eram inativos (CAPUTO, 2009).

    Os familiares são os maiores agentes influenciadores, sendo assim, são primordiais que os familiares estimulem as crianças a praticar exercícios físicos e se movimentar. Esse estímulo deve ser feito de maneira harmoniosa onde as atividades sigam o interesse das crianças e não dos próprios familiares (BARBOSA, 2008). Além disso, o consumo de alimentos industrializados tem aumentado em nossa sociedade, diante disso a ingestão de alimentos gordurosos também. E esse consumo inadequado tem sido refletido no hábito alimentar das crianças que são principalmente influenciadas pelos seus familiares (PINTA DA SILVA, 2008).

    O número de pessoas obesas no mundo vem crescendo de maneira espantosa, afetando inclusive crianças e adolescentes. O papel da Educação Física, seguida da influência da escola, professores, familiares e de uma boa alimentação são assuntos primordiais para ajudar na redução dessa taxa de obesidade. Neste contexto, o objetivo deste artigo é através de uma revisão de literatura identificar a contribuição fisiológica do exercício físico para a obesidade em escolares.

Materiais e métodos

    O presente trabalho caracteriza-se como uma pesquisa de delineamento bibliográfico e natureza exploratória com livros e artigos científicos validados e publicados entre os anos de 2000 a 2010. As informações contidas nesse estudo foram retiradas de artigos científicos disponíveis em periódicos presentes na internet (LILACS, SCIELO, PEDIATRICS, AJCN, NCBI) e de livros presentes na Biblioteca João Herculino do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB.

Revisão da literatura

A caracterização da obesidade no mundo

    A obesidade pode ser definida como o acúmulo demasiado ou irregular de gordura corporal, sendo influenciadora de doenças e prejudicial à saúde. Está relacionada à ingestão exacerbada de energia proveniente de alimentos e a inatividade física do indivíduo (OMS, 2004).

    A obesidade pode ser classificada de duas formas, endógena ou exógena. A obesidade endógena está relacionada a distúrbios hormonais, que é implicada a alterações do metabolismo tireoidiano, gonadal, hipotálamo-hipofisiário, tumores e síndromes genéticas. A obesidade exógena está implicada a diversos fatores relacionados ao ambiente e hábitos, uma exagerada ingestão de alimentos e baixo gasto de energia, que pode ser mudada de acordo com a conscientização do individuo (FISBERG, 2005).

    Com o objetivo de se mensurar a obesidade com um parâmetro internacionalmente aceito, a (OMS, 2004) definiu o Índice de Massa Corporal (IMC), como referência. O IMC tem como definição, o cálculo do peso do individuo em quilogramas, dividido pela altura, em metros ao quadrado. E para classificação adulta relacionando o IMC, a OMS definiu uma tabela (tabela 1).

Tabela 1. Classificação do IMC para adultos e seus possíveis níveis de risco à saúde.

    Outra fonte utilizada para mensuração da obesidade é a circunferência abdominal (tabela 2), uma medida simplificada e com bom grau de conveniência. Essa medida pode relacionar importantes fatores de risco, provenientes de doenças crônicas e cardiovasculares (OMS, 2004).

Tabela 2. Classificação da Circunferência abdominal de acordo com sexo e seus possíveis riscos à saúde

    A obesidade e o sobrepeso se distinguem em algumas características. Segundo a tabela de classificação da OMS, os indivíduos com sobrepeso possuem IMC entre 25 e 29,99 e indivíduos obesos de 30 para cima. Sendo assim, a maior diferença da obesidade para o sobrepeso está caracterizada na maior concentração de massa corporal de gordura, para o obeso. Outra diferença está relacionada ao gasto energético, o obeso por possuir mais peso relacionado à sua estatura, tende a gastar mais energia para a realização de seus movimentos. Além disso, os obesos possuem uma taxa metabólica durante o repouso, mais alta, pelo fato de apresentarem uma massa de tecido respiratório maior (BOUCHARD, 2003).

    Para crianças e adolescentes, o método para mensuração de IMC é diferente. É baseado na determinante de sexo e idade dos indivíduos. Conhecido como percentil (quadro 1 e 2), esse método é utilizado para crianças e adolescentes numa faixa etária de 2 a 20 anos e se difere tanto para o sexo como para a idade dos mensurados (CDC, 2011).

Quadro 1. Classificação do percentil para crianças e adolescentes do sexo masculino

Quadro 2. Classificação do percentil para crianças e adolescentes do sexo feminino

A fisiopatologia da obesidade

    A incapacidade do corpo em controlar a quantidade de energia oriunda de alimentos, pode estar relacionada tanto a ingestão excessiva de energia, quanto a um gasto de energia muito baixo. O gasto de energia muito baixo está relacionado a três fatores principais: a taxa metabólica de repouso, o efeito térmico do alimento e o efeito térmico da atividade física.

    A taxa metabólica de repouso (TMR) representa de 50% a 70% do gasto de energia total do corpo, sendo o fator principal na ação reguladora de energia e composição corporal. A TMR está relacionada ao gasto energético para suprir as necessidades fisiológicas essenciais do corpo humano, em estado de repouso e jejum. O gasto energético para essas necessidades fisiológicas estão relacionadas à energia para manutenção da temperatura corporal e gradientes eletrolíticos, à energia para sustentação dos aparelhos cardiovasculares e pulmonares durante o repouso e fornecimento de energia para o sistema nervoso central e outras reações químicas. As condições de idade, sexo, hereditariedade, tamanho e composição corporal, temperatura corporal, exercício físico, estado nutricional e fatores hormonais, são fatores influenciadores da TMR.

    O efeito térmico do alimento (ETA) é a energia que o corpo gasta após a deglutição de alimentos e é responsável por cerca de 10% do gasto energético. Esse custo energético está relacionado ao metabolismo de absorção, ao transporte e à conversão dos nutrientes que foram deglutidos, em suas respectivas formas de armazenamento. Cada nutriente possui um nível de demanda energética para ser metabolizado, sendo a gordura responsável por 0 a 3%, as proteínas por 20% a 30% e os carboidratos por 5% a 10%, dos gastos energéticos. O ETA possui dois componentes em seu processo, as termogêneses obrigatória e facultativa. A termogênese obrigatória é o gasto energético proveniente da absorção, transporte e síntese dos nutrientes que serão utilizados pelo corpo. A termogênese facultativa é o gasto energético excessivo proveniente da termogênese obrigatória, por conta do processo de distribuição e armazenamento dos nutrientes.

    O efeito térmico da atividade física (ETAF) é um componente variável dos gastos energéticos, pois está relacionado ao exercício físico. Sendo assim pessoas mais sedentárias possuem um gasto energético no ETAF a partir de 15%, enquanto pessoas com um treinamento mais vigoroso podem atingir taxas de até 50%. Além disso, o ETAF pode influenciar também o TMR por conta de um aumento na taxa metabólica após o exercício físico, um aumento crônico na taxa metabólica de repouso, devido à rotina de treinamentos, um efeito potencializado na taxa metabólica por conta de sua influência sobre a termogênese dietética.

    O cérebro possui um papel importante na homeostasia energética e na regulação do peso corporal. As funções do cérebro estão relacionadas ao controle da fome e do gasto energético, e na segregação dos hormônios relacionados ao controle das reservas energéticas. O hipotálamo funciona para sensibilizar os sinais aferentes relacionados à homeostasia de energia e para produzir sinais eferentes relacionados à regulação correta das reservas energéticas (LEMURA, 2006).

    A leptina, um hormônio peptídico proveniente dos adipócitos, possui papel importante atuando como regulador do peso corporal (LEMURA, 2006). É uma importante mediadora das funções regulatórias do metabolismo e respostas neuroendócrinas do organismo (FLIER, 1998), estando relacionada às funções de armazenar, equilibrar e servir as reservas energéticas (NEGRÃO, 2000). Ligada aos níveis de estado nutricional e armazenamento de energia, a leptina pode ser relacionada a possíveis fatores da obesidade (FLIER, 1998).

    Conhecida por estimular efeitos contrários aos produzidos pela leptina (GALE, 2004), a grelina é um hormônio peptídico motivador do aumento da secreção do hGH, hormônio do crescimento (KOJIMA, 2001), é secretada por células enterocromafins, encontradas principalmente no estomago. A grelina possui ação estimulante na ingestão de alimentos, na aplicação de carboidratos e no decréscimo no dispêndio de gordura. Sendo assim, a grelina por estar relacionada à regulação da ingestão alimentar e a saciedade, está conseqüentemente associada à obesidade (GALE, 2004).

Estatísticas e riscos da obesidade

    Segundo dados da OMS, comparado com o quadro de 1980, a taxa mundial de obesidade dobrou. Pesquisas realizadas em 2008 mostraram que cerca de 1.5 bilhões de adultos com idade superior a 20 anos estavam com sobrepeso, dentro desse número 200 milhões de homens e 300 milhões de mulheres eram obesos. A obesidade já superou os números da desnutrição, cerca de 65% da população mora em países cuja obesidade e sobrepeso matam mais pessoas que a desnutrição (OMS, 2011). A obesidade infantil mais do que triplicou nos últimos 30 anos e afeta atualmente cerca de 17% de crianças e adolescentes no Estados Unidos (CDC, 2011). Cerca de 43 milhões de crianças com idade inferior a cinco anos, estavam com sobrepeso em 2010. Aproximadamente 2,6 milhões de pessoas morrem de doenças relacionadas ao sobrepeso e obesidade por ano (OMS, 2011).

    Em um estudo realizado nos de 2008 e 2009 pelo IBGE (gráficos 1,2 e 3), verificou-se que o quadro de sobrepeso e obesidade no Brasil aumentou de forma alarmante, tanto na infância e adolescência, quanto na fase adulta (IBGE, 2010).

Gráfico 1. Evolução de indicadores antropométricos na população de 5 a 9 anos no Brasil, nos períodos 1974-1975, 1989 e 2002-2003 e 2008 e 2009

 

Gráfico 2. Evolução de indicadores antropométricos na população de 10 a 19 anos no Brasil, nos períodos 1974-1975, 1989 e 2002-2003 e 2008 e 2009

 

Gráfico 3. Evolução de indicadores antropométricos na população com 20 ou mais anos no Brasil, nos períodos 1974-1975, 1989 e 2002-2003 e 2008 e 2009

    A obesidade está relacionada a um alto grau de morbidade. Sendo assim a probabilidade de aparecimento de doenças é grande. Doenças como a resistência à insulina, que está relacionada a resultados da obesidade com fatores genéticos, sendo uma característica do diabete tipo 2. A hipertensão está presente em 50% dos casos de pessoas com obesidade. Doenças cardíacas, como aterosclerose e insuficiência cardíaca congestiva são mais prováveis em indivíduos com obesidade. Além disso, doenças como dislipidemia, câncer, hepatobiliares, osteoartrites, acidentes vasculares cerebrais e doenças de pele, também estão relacionadas à obesidade (CLAUDINO, 2005).

Influenciadores externos na obesidade de crianças e adolescentes

    Vários fatores externos podem estar ligados aos maus hábitos que influenciam diretamente na obesidade de crianças e adolescentes. A mídia, a família e a alimentação são os principais fatores a ser destacados (MELLO, 2004).

    Um elevado tempo assistindo televisão e pouco dispêndio de energia, relacionado aos exercícios físicos, são fatores diretamente ligados a obesidade em crianças e adolescentes (FAITH, 2001). Crespo (2001) realizou um estudo com 4069 crianças e constatou que a prevalência de obesidade era maior naqueles que permaneciam assistindo televisão por quatro horas ou mais. Além disso, constatou que mais da metade das crianças assistiam mais de duas horas de televisão por dia e isso está diretamente relacionado ao tempo diário para ser gasto com exercícios físicos. Pimenta (2001), também constatou em seu estudo que o tempo em frente à televisão está relacionado ao acúmulo de gordura corporal. Sendo assim, quanto maior for o tempo diário assistindo televisão, maior a probabilidade para o acúmulo de gordura corpórea. A televisão pode ser também uma grande influenciadora para o consumo de fast-foods, a maioria dos comerciais de televisão estão relacionados a produtos alimentícios e em geral alimentos gordurosos e isso pode encorajar as crianças ao seu consumo (DEHGHAN, 2005).

    Os familiares possuem influência direta na mediação da obesidade em crianças e adolescentes. São os familiares, os responsáveis pelos hábitos de alimentação e exercício físico das crianças (SHACHIKO, 2002). Goldfield, (2001), realizou um estudo onde ficou evidente que a base familiar é importante e exerce maior influência no comportamento das crianças, sendo primordial para o tratamento da obesidade. A influência familiar supera em custos e desempenho os tratamentos pediátricos em grupo, mostrando que os familiares são mais importantes para o tratamento da obesidade, do que terapias clínicas, sendo um ponto chave para controlar os hábitos e comportamentos das crianças e adolescentes. Além disso, Epstein (2001), constatou em seu estudo que a mudança de hábitos alimentares por parte dos próprios familiares, influencia diretamente no comportamento alimentar das crianças. Os familiares cujas alimentações tiveram um decréscimo na gordura e um acréscimo em frutas e verduras tiveram resultados positivos na redução de sobrepeso em todos os familiares. Isso mostra a importância que os pais têm para os hábitos alimentares e agentes influenciadores dos filhos.

    A orientação nutricional no período da infância e adolescência é importante para o tratamento da obesidade, pois acarreta desde cedo numa mudança de habito alimentar correto e é importante também para possíveis prevenções na fase adulta. (SOARES, 2003). Um estudo realizado com 45 crianças e adolescentes por Lima (2004), verificou que os participantes possuíam hábitos alimentares inadequados, favorecendo o desenvolvimento da obesidade. Bowman (2005), constatou em seu estudo, realizado com 6212 crianças, que 30.3% dos participantes consumiam fast-foods diariamente em suas refeições, mostrando o quadro preocupante de ingestão demasiada de alimentos gordurosos no cotidiano de crianças e adolescentes.

A contribuição do exercício físico para crianças e adolescentes escolares

    A escola é primordial para a conscientização de crianças e adolescentes com relação à obesidade e importante para a prevenção e tratamento dessa epidemia, podendo ser útil na educação dos hábitos alimentares e introdução de exercícios físicos, através da Educação Física para os alunos (COELHO, 2008). A Educação Física tem um papel importante na prevenção da obesidade. Os exercícios físicos são importantes no tratamento e na das doenças crônico-degenerativas (SANTOS, 2007).

    Um estudo realizado com 383 escolares teve o objetivo de analisar os benefícios do exercício físico programado na composição corporal em escolares. Os alunos foram separados em dois grupos, caso e controle. Sendo o grupo caso submetido aos exercícios físicos programados (em três partes: exercícios aeróbicos, jogos esportivos e alongamento) e o grupo controle a atividades convencionais de Educação Física. O estudo visou à mensuração de um pré e um pós-teste para avaliar a evolução de ambos os grupos. No final do estudo, quando comparados o pré e o pós-teste, observou-se que o grupo caso apresentou estabilidade no IMC, percentual de gordura e massa gorda e redução significativa nos perímetros da prega cutânea triciptal, perímetro do abdômen nas meninas. Enquanto o grupo controle apresentou aumento no IMC, perímetro do abdômen e massa gorda nas meninas. Concluindo que exercícios físicos programados apresentam um diferencial na melhora da composição corporal e na prevenção da obesidade nos escolares (FARIAS, 2009).

    Para analisar as perspectivas de curto e longo prazo de um treinamento de três meses, envolvendo uma intervenção no comportamento nutricional e de exercícios físicos em crianças e adolescentes obesos, 54 participantes (6 a 16 anos) foram divididos em um grupo de controle (apenas orientações) e outro de intervenção, durante três meses de trabalho. As atividades foram desenvolvidas, duas vezes por semana, num período de uma hora, imitando todos os modelos das aulas de educação física que são desenvolvidas normalmente. Com diferença no enfoque motivacional e de participação, com atenção nas habilidades motoras e de flexibilidade nos exercícios de endurance. Os participantes também foram recomendados a praticar pelo menos uma vez na semana exercícios aeróbicos com duração de 30 a 45 minutos e passaram por intervenções nutricionais, com instrução aos familiares. Depois de três meses de atividades, os participantes do grupo de intervenção mostraram uma redução no peso, IMC e percentual de gordura. Enquanto o grupo controle sofreu um aumento no peso e percentual de gordura. O estudo mostra que a intervenção multidisciplinar (dieta e exercícios físicos programados) ajuda na melhoria e restauração da saúde dos praticantes (NEMET, 2005).

    Analisar os resultados de um treinamento de futsal na composição corporal de crianças escolares de 07 a 11 anos, foi objetivo de um estudo onde participaram durante 16 semanas, 27 praticantes do sexo masculino. O treinamento consistiu em atividades convencionais e lúdicas de futsal, por 90 minutos, durante três vezes na semana. Foram analisadas antes e depois, massa corporal; estatura; IMC; percentual de gordura e massa magra absoluta. Depois desse ciclo de 16 semanas de treinamento pode-se observar uma estabilidade nos níveis de IMC, massa corporal e estatura. Porém, para o percentual de gordura notou-se redução e massa magra absoluta significativo aumento (SOARES, 2008).

    Um estudo visou determinar quais os efeitos do exercício físico em diferentes intensidades para a aptidão cardiovascular, porcentagem de gordura corporal e tecido adiposo das vísceras. O estudo contou com um total de 80 participantes, com idade entre 13 e 16 anos, que foram divididos em três grupos no qual participaram das atividades exigidas durante 8 meses. Grupo 1: educação do estilo de vida, duas vezes por semana. Grupo 2: educação do estilo de vida,; exercícios físicos de intensidade moderada, 5 vezes na semana (atividades variadas, estimuladores e de preferência dos praticantes, 55%-60% vO2 pico). Grupo 3: educação do estilo de vida; exercícios físicos de alta intensidade (exercícios com consumo de 250kCal por sessão, 75%-80% do vO2 pico). Ambos os exercícios (média e alta intensidade), demonstraram melhoras equivalentes na composição corporal dos participantes (porcentagem de gordura corporal e tecido adiposo das vísceras). Porém os exercícios de alta intensidade foram os únicos que mostraram melhoria da aptidão cardiovascular (GUTIN, 2002).

    Comparar os efeitos da prática de exercícios físicos aeróbicos e anaeróbicos, orientados por educação alimentar, na melhoria da composição corporal, IMC, lipídios sanguíneos e capacidade de trabalho físico em adolescentes obesos foi o objetivo de um estudo onde foram avaliados adolescentes entre 12 e 14 anos, com IMC acima do percentil 95. Os exercícios propostos foram realizados durante três vezes na semana, com período de duração de uma hora e quinze minutos. Além disso, os praticantes contaram com orientação nutricional uma vez na semana, durante uma hora e meia. Os selecionados foram divididos aleatoriamente em dois grupos. Treinamento aeróbico (GEC), que consistia em exercício físico de caminhada continua e finalizando com esportes envolvendo bolas. (vo2máx: 80-85%). Treinamento anaeróbico (GEI), que consistia em exercício físico de caminhada intermitente de alta intensidade e circuito com peso. (vo2máx: 96-105%). Ambos os grupos GEC e GEI, apresentaram melhoria na redução do IMC, equivalentes. Com relação ao aumento de massa magra e diminuição de massa gorda, o grupo GEI se mostrou proporcionalmente mais eficiente (GEC: p=0,001 e p=0,001; GEI: p=0,015 e p:0,015). Quando relacionado aos níveis de HDL e LDL, o grupo GEC obteve uma diminuição significativa (p=0,002), porém para o grupo GEI, o HDL diminuiu (p=0,002) e o LDL aumentou, sem diferença estatística. E, com relação ao colesterol total, apenas o grupo GEC obteve diminuição e melhora significativa (p=0,006). Ambos os exercícios demonstraram resultados satisfatórios na composição corporal dos participantes, porém os exercícios aeróbicos mostraram melhor resposta com relação à freqüência cardíaca (SABIÁ, 2004).

    Um estudo realizado na China teve como objetivo avaliar o perfil de lipídeos no sangue em crianças obesas, relacionado a uma dieta de baixa caloria, com ou sem exercícios de força. Participaram do estudo, 82 crianças de 8 a 11 anos, O estudo consistiu em seis semanas de um programa de dieta alimentar, onde foram divididos aleatoriamente os participantes em dois grupos, o de treinamento e o sem treinamento. O grupo de treinamento foi submetido a treinos de força, envolvendo um circuito com duração de 75 minutos totais, que incluíam aquecimento, treinamento de força, treinamento aeróbico para estimular as crianças, treinamento de agilidade e descanso. As intensidades dos exercícios variaram de 60-70% dos batimentos máximos dos participantes. Todos os participantes foram submetidos a uma mesma dieta, orientada por um nutricionista. Diante dos fatos, pode-se observar que a altura dos participantes aumentou significativamente e não aparentou diminuição no IMC. Porém, o grupo de treinamento obteve um aumento significativo na massa magra. Ambos os grupos tiveram diminuição no colesterol total e o grupo de treinamento obteve uma redução na relação LDL:HDL significativa. Conclui-se que um programa de dieta junto com exercícios físicos aumenta a proporção de benefícios contra a obesidade. Um programa desses é necessário para a melhoria também e deve ser realizado em longo prazo, para a manutenção da saúde (SUNG, 2002).

    Savoye (2007), realizou um estudo com 209 participantes de idades entre 8 e 16 anos, durante 1 ano. Os participantes foram divididos em dois grupos, controle e gerenciado. O grupo controle recebia apenas orientações a respeito da educação alimentar e de exercícios físicos a cada 6 meses. O grupo gerenciado recebia orientações e acompanhamento em exercícios duas vezes por semana, durante os 6 primeiros meses, perfazendo um total de 100 minutos por semana e nos 6 meses restantes 100 minutos de atividade por mês. Os exercícios consistiam em aquecimento, exercícios aeróbicos de alta intesidade e descanço. Os exerícios aeróbicos consistiam em circuitos, jogos esportivos e danças, que variavam de 65% a 80% do FCmáx de acordo com a idade dos participantes. No final da pesquisa, comparando o pré e o pós-teste, o grupo gerenciado obteve estabilidade no peso corporal, redução no IMC e redução no percentual de gordura. O grupo controle obteve aumento no peso corporal, aumento no IMC e percentual de gordura. Os dados do estudo indicam que um programa de exercícios físicos que envolva profissionais e familiares realizando intervenções constantes é eficiente para a prevenção e tratamento da obesidade.

    O quadro mostra os resultados positivos com relação à melhora da composição corporal de crianças e adolescentes que passaram por estudos onde o exercício físico melhorou a composição corporal de forma significativa.

Quadro 1. Descrição de diferentes estudos relacionados à prevenção e tratamento da obesidade

Autor

Procedimento

Resultados (média)

Farias, 2009

Exercício Físico Programado. N: 383 (10 a 15 anos). Dois grupos: caso e controle. Grupo caso: exercícios físicos programados (três etapas: exercícios aeróbicos, jogos esportivos e alongamento). Grupo Controle: atividades convencionais de Educação Física. Um ano letivo, duas vezes por semana, 60 minutos de duração.

Grupo caso: diminuição no percentual de gordura (-1,5%), aumento massa magra (+7,8%). Grupo controle: nenhuma diferença significativa com relação ao percentual de gordura e massa magra.

Nemet, 2005

Exercícios Habituais de Educação Física. N: 54 (6 a 16 anos). Dois grupos: controle e intervenção. Grupo controle: apenas orientações teóricas. Grupo intervenção: aulas de educação física que são desenvolvidas normalmente. Com diferença no enfoque motivacional e de participação, com atenção nas habilidades motoras e de flexibilidade nos exercícios de endurance. Os participantes também foram recomendados a praticar pelo menos uma vez na semana exercícios aeróbicos com duração de 30 a 45 minutos. Três meses, duas vezes por semana, 60 minutos de duração

Grupo intervenção: diminuição do IMC (-1.6), percentual de gordura (-2,3%), diminuição colesterol total (13,11%). Grupo controle: aumento no peso corporal (5,2kg), aumento percentual de gordura (+3,5%).

Soares, 2008

Treinamento de futsal. N: 27 (7 a 11 anos, sexo masculino). Treinamento misto de futsal, envolvendo atividades lúdicas e atividades de desenvolvimento técnico. 16 semanas, três vezes por semana, 90 minutos duração.

Diminuição no percentual de gordura (19,0±24,1%, p<0,05) e aumento na Massa Magra (3,4±4,1%, p<0,05).

Gutin, 2002

Exercícios Físicos em diferentes intensidades. N: 80 (13 a 16 anos). Três grupos. Grupo 1: educação do estilo de vida (orientações teóricas), a cada duas semanas.

Grupo 2: educação do estilo de vida (a cada duas semanas), exercícios físicos de intensidade moderada (exercícios físicos de preferência dos participantes, 55%-60% vO2 pico), 5 vezes por semana. Grupo 3: educação do estilo de vida (a cada duas semanas), exercícios fisicios de alta intensidade exercícios físicos de preferência dos participantes,, 75%-80% do vO2 pico). Oito meses, 5 vezes por semana, 250kCal por sessão.

Comparados ao Grupo 1 que sofreu apenas orientações teóricas, os Grupos 2 e 3 relataram diminuição no percentual de gordura (p=0,001) e o Grupo 3, melhoria na aptidão cardiovascular (p=0.009).

Sabiá, 2004

Exercícios físicos com treinamento aeróbico e anaeróbico. N: 28 (12 a 14 anos). Dois grupos: aeróbico (GEC) e anaeróbico (GEI). Treinamento aeróbico (GEC): exercício físico de caminhada continua e encerramento com atividades esportivas. (vo2máx: 80-85%). Treinamento anaeróbico (GEI): caminhada intermitente de alta intensidade e circuito com peso. (vo2máx: 96-105%). 16 semanas, três vezes por semana, 20 a 40 minutos de duração.

Grupo GEC: diminuição do IMC (p=0,001), diminuição concentração de HDL e LDL (p=0,002), diminuição colesterol total (p=0,006). Grupo GEI: diminuição IMC (p=0,001), diminuição HDL (p=0,002).

Sung, 2002

Treinamento de Força. N: 82 (8 a 11 anos). Dois grupos: sem treinamento e com treinamento. Grupo sem treinamento: orientações e intervenções a respeito da nutrição e dieta dos participantes. Grupo treinamento: treinos de força, envolvendo um circuito com duração de 75 minutos totais, que incluíam aquecimento, treinamento de força, treinamento aeróbico para estimular as crianças, treinamento de agilidade e descanso. (60-70% FCmáx). 6 semanas, 75 minutos de duração.

Grupo com treinamento: aumento Massa Magra (+2,3%), diminuição colesterol total (-9,6%), diminuição relação LDL:HDL (-8,3%). Grupo sem treinamento: aumento Massa Magra (0,9%), diminuição colesterol total (21,38%). Os resultados indicam que quando a dieta é aliada com os exercícios físicos os benefícios são potencializados.

Savoye, 2007

Treinamento aeróbico. N: 209 (8 a 16 anos). Dois grupos: controle e gerenciado. Grupo controle: apenas orientações teóricas a respeito de hábitos alimentares e prática de exercícios físicos. Grupo gerenciado: intervenções práticas e teóricas, envolvendo exercícios aeróbico (circuitos, jogos e dança). Um ano, 100 minutos por semana (1º semestre) e 100 minutos por mês (2º semestre), duas vezes por semana (1º semestre) e duas vezes por mês (2º semestre).

Grupo controle: aumento no peso corporal (7.7kg), IMC (1.6) e gordura corporal (5.5kg). Grupo gerenciado: estabilidade no peso corporal (+0.3kg), diminuição no IMC (-1.7) e gordura corporal (-3.7kg).

Conclusão

    A partir do presente estudo de revisão bibliográfica, pode-se concluir que o número de obesos vem crescendo de forma alarmante no mundo todo. Essa grande epidemia vem afetando a população desde a infância, que influenciada pela televisão e sedentarismo, cresce cada vez mais. A alimentação inadequada, proveniente do crescente número de fast-foods e comidas gordurosas, combinada com inatividade física são as principais causas da obesidade. Familiares, escolas e professores de educação física são os mediadores mais importantes para a conscientização de crianças e adolescentes na prevenção e tratamento da obesidade nessa faixa etária. Ambos os exercícios, aeróbicos e anaeróbicos, apresentam relevância no tratamento e prevenção da obesidade em crianças e adolescentes escolares. Porém, exercícios físicos aeróbicos aparentam apresentar melhores resultados na redução do IMC e percentual de gordura, enquanto exercícios aeróbicos aparentam apresentar melhorias no aumento de massa magra e composição corporal. Conclui-se que a prática de exercícios físicos, quando bem estruturados e programados, são importantes para que crianças e adolescentes escolares sejam prevenidos e tratados com relação à obesidade.

Referências bibliográficas

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 169 | Buenos Aires, Junio de 2012  
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