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Dança e Educação Física, que passos isso dá no salão?
Uma experiência de ensino da dança de salão em aulas
de Educação Física no ensino fundamental

El baile y la Educación Física. ¿Qué pasos hay que dar en el salón? Una experiencia de 

enseñanza del baile de salón en las clases de Educación Física en la escuela primaria

 

Faculdade Social

Salvador, BA

(Brasil)

Tiago Teixeira Trindade

Francisca Jocélia de Oliveira Freire

tiagotrindade@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Esse trabalho de pesquisa em ação (THIOLLENT, 2008) descreve uma experiência vivenciada no Instituto Municipal Educacional “José de Arapiraca”, na cidade de Salvador-BA (Brasil). Trata-se de um estudo realizado com o objetivo de inserir/tematizar a Dança como conteúdo das aulas de Educação Física a partir das concepções teóricas críticas da área. Foi desenvolvida uma unidade temática de aulas em que a Dança como dimensão da cultura corporal foi problematizada, entrelaçando as práticas de dança dos alunos, os estereótipos de gênero e dança produzido pela mídia, entre outros. As vivências de dança foram realizadas tendo a Dança de Salão como tema gerador. O estudo não só relata a experiência de ensinar dança como conteúdo das aulas de Educação Física, mas também a discute como expressão corporal como forma de linguagem e suas relações com a cultura em que os alunos estão inseridos.

          Unitermos: Educação Física. Dança de salão. Escola. Ensino fundamental.

 

Resumen

          Este trabajo de investigación-acción (Thiollent, 2008) describe una experiencia en el Instituto Municipal de Educación “José Arapiraca” en la ciudad de Salvador, Bahía (Brasil). Este estudio se realiza con el fin de incluir / tematizar el contenido de la danza en las clases de educación física desde las concepciones teóricas críticas de esta área. Hemos desarrollado una unidad temática de las clases en la que el baile fue problematizado como parte de la dimensión de la cultura corporal, vinculando las prácticas de baile de los estudiantes, los estereotipos de género y la danza producidos por los medios de comunicación, entre otros. Las experiencias de la danza se realizaron teniendo al Baile de Salón como hilo conductor. El estudio no sólo relata la experiencia de enseñanza de la danza como contenido de las clases de educación física, sino también se explica cómo expresión corporal como una forma de lenguaje y sus relaciones con la cultura en la que los alumnos se encuentran.

          Palabras clave: Educación Física. Baile de salón. Escuela. Educación primaria.

 

Abstract
         
This research work in action (Thiollent, 2008) describes an experience at the Municipal Institute of Education “Jose Arapiraca” in the city of Salvador, Bahia (Brazil). This is a study in order to insert / thematize the content of the Dance as physical education classes from the theoretical conceptions of the critical area. We developed a thematic unit of lessons in the dance culture as a dimension of the body was questioned, interweaving dance practices of students, gender stereotypes and dance produced by the media, among others. The experiences of dance were performed with the ballroom dancing as a guiding theme. The study not only reports the experience of teaching dance as the content of physical education classes, but also discusses how body language as a language and its relationship to the culture in which students are placed.

          Keywords: Physical Education. Ballroom dancing. School. Basic education.

 

          Artigo científico apresentado junto ao Curso de Especialização em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Educação Física e Esporte Escolar da Faculdade Social, como parte dos requisitos para aquisição do título de Especialista em Educação Física Escolar na linha de pesquisa Prática Pedagógica e Intervenções da Educação Física Escolar. Orientador Profº Ms. João Danilo B. de Oliveira.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O presente artigo nasce de uma pesquisa, caracterizada como pesquisa ação, pesquisa de cunho qualitativo com base empírica, onde o problema abordado é resolvido através da relação dos participantes e dos pesquisadores (THIOLLENT, 2008), desenvolvida junto à especialização em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Educação Física e Esporte Escolar, na Faculdade Social da Bahia. Ao pensarmos numa pesquisa sobre o ensino da Dança nas aulas de Educação Física nos vimos colocados diante de três desafios: o primeiro de apropriamos da produção teórica recente sobre o tema; o segundo de escolhermos um referencial teórico de referência; e o terceiro organizarmos uma ação pedagógica propositiva sobre o ensino da dança em uma escola pública.

    No que se refere ao primeiro eixo, fizemos um levantamento em periódicos e bases de dados onde são divulgadas produções acadêmicas da área de Educação Física no intuito de nos apropriar do que vem sendo produzido no interior dessa área de conhecimento sobre propostas de ensino e tematização da dança, como conteúdo curricular das aulas de Educação Física. Reconhecemos também a existência de outras formas de expressão da dança dentro da Escola, seja ela tratada como atividade extracurricular, como modalidade esportiva ou mesmo por profissionais da área de dança. No que pese reconhecermos a importância dessas diferentes formas que concorrem com o ensino da dança na escola, restringimos nossa analise apenas na dança como conteúdo das aulas de Educação Física curricular.

    No segundo eixo tomamos como base teórica para o estudo as perspectivas críticas de ensino da Educação Física, que reconhecem a Educação Física como área de conhecimento que tematiza na escola conteúdos da cultura corporal de movimento, a partir de tais autores Darido e Rangel (2008), Vago (2009) e Marques (1999). Para discutir a escola e as aulas de Educação Física como lugar de encontros, onde circula, reproduz, transforma e se produz culturas, no caso específico, a cultura da dança, como um dos elementos constitutivos da cultura corporal de movimento. Nosso objetivo era de que os alunos fossem integrados, introduzidos à cultura da dança, que trouxe se para as aulas a sua cultura dançante e que juntos pudéssemos criar experiências que garantissem aos alunos: a) a apropriação de um conhecimento cultural, saberes e práticas, relacionadas à dança; b) o desenvolvimento de atividades co-educativas como referência de sociabilização nas aulas de Educação Física; c) o desenvolvimento de uma comunicação corporal, técnica, expressiva e estética, mas também verbalizada sobre a experiência de dançar, mas precisamente a experiência de dançar a dança de salão.

    No terceiro eixo aparece nosso olhar sobre a realidade, nossa inserção nessa realidade e a proposta lá desenvolvida de ensino da dança de salão para uma turma do ensino fundamental. De imediato imaginamos que encontraríamos resistência para trabalhar a dança como conteúdo das aulas de Educação Física, assim como encontraríamos estereótipos de gênero que são difundidos pela mídia e muitas vezes incorporados no imaginário coletivo dos alunos. Fato que em alguma medida não ocorreu e foi revelador de outras questões bem interessantes.

    Neste sentido, o presente estudo traz o relato de uma experimentação pedagógica de ensino da Dança nas aulas de Educação Física. Essa foi à lacuna científica e o maior desafio identificado em relação às discussões sobre esse tema na recente produção teórica na área. Constatamos que há uma vasta e consistente produção teórica sobre a Dança e a Educação Física, sobre as possibilidades de tematização da Dança como conteúdo das aulas de Educação Física a partir das perspectivas críticas de ensino da área, mas um abismo enorme entre essas proposições e o chão das escolas. Por isso, nos debruçamos a realizar uma pesquisa em ação, como forma de relatar uma experimentação prática e também de aproximar o que se produz e como se produz propostas de ensino da Dança nas aulas de Educação Física do chão das escolas.

Dança e Educação Física: escolarização e entrelaçamentos

    Ao investigarmos as tradições históricas da Dança e da Educação Física, percebemos que elas em alguns aspectos se distanciam e em muitos outros se aproximam. Enquanto dimensão constitutiva da cultura em nossa sociedade, elas mantêm tradições culturais, acadêmicas e perspectivas teóricas distintas, no entanto, enquanto atividades ligadas ao repertório da cultura lúdica e linguagem corporal, e suas possibilidades de tematização no âmbito escolar, essas duas áreas mantêm fortes vínculos e inúmeras possibilidades de entrelaçamento, principalmente se a concepção de referência tomada para a Educação Física tiver a expressão corporal como forma de linguagem, como objeto de estudo, e a cultura corporal do jogo, ginástica, esporte, lutas e danças como manifestações da cultura corporal lúdica a ser tematizada.

    Talvez, vista sobre outras perspectivas teóricas e epistemológicas, entre elas as concepções mais tradicionais e tecnicistas da área ou mesmo algumas mais contemporâneas como: a desenvolvimentista, a da saúde renovada, entre outras, a Dança não se constitua como objeto de estudo das aulas de Educação Física e ao aparecer nestas aulas, sirva apenas como meio para desenvolver aspectos relacionados aos fins vistos por cada uma dessas abordagens como finalidades da área e nunca como dimensão constitutiva da nossa cultura corporal e logo, como objeto de estudo, vivência, reflexão.

    Em estudos históricos da área de Educação Física como os realizados por Soares (1998) “imagens da educação no corpo, através do estudo da ginástica francesa no século IXI” e Vago (2009) sobre o enraizamento da Educação Física nas escolas brasileiras, é possível identificar a Dança já inserida nas propostas de ensino nas aulas de Educação Física. No entanto, é a partir do processo de revisão crítica por que passou a área de Educação Física, onde a área buscou afastar-se da visão tecnicista de ensino e que colocavam a ênfase da área no desempenho de movimentos estereotipados, na disciplina e ordem, bem como no desempenho, sobre forte influência biomédica e militar; e se aproximar do campo da antropologia e da cultura e de teóricas críticas de ensino, passando a olhar o corpo, os movimentos e as distintas formas de expressão corporal como forma de linguagem, logo manifestações históricas e culturais, reveladoras de intencionalidade, sentimentos, sentidos e significados de grupos culturais específicos é que a Dança, entre outras manifestações corporais, passam a constituir o universo de interesse e de estudo da Educação Física.

    Surge então o termo “Cultura Corporal do Movimento”, entendida como uma categoria teórico/empírica que aglutina as diferentes manifestações corporais historicamente produzidas e acumuladas na cultura através da expressão corporal como forma de linguagem (SOARES et al, 1994). A Dança, assim como outras manifestações lúdicas corporais, nessa perspectiva é entendida como uma manifestação do ser humano, presente em todos os tempos e em todos os povos, partindo de necessidades, interesses e formações simbólicas de cada grupo social, numa relação dialética entre homem, cultura e sociedade.

    De acordo com Nunes e Couto (2006) os embasamentos teóricos e práticos realizados pelos professores em 1964 estavam voltados ao lado tecnicistas, sendo a educação voltada para garantia de uma mão de obra qualificada, com isso, a Educação Física se enquadra em um caráter instrumentalista, onde o desenvolvimento técnico-motor se encontrava como objetivo a ser alcançado.

    Desta forma, a dança enquanto objeto de estudo nas aulas de Educação Física nessa perspectiva passa a ser vista como uma tentativa de compreender uma dimensão da cultura, que expressa num tempo, momento, gestos e movimentos de uma época histórica marcando particularidades corporais de cada região do mundo que norteava atitudes éticas do indivíduo na sociedade.

    A dança incluída nesta cultura corporal leva os alunos a pensarem seu tempo e, principalmente, refletirem que estão imersos em uma cultura universal, que a cultura corporal como meta da Educação Física possibilita observar as manifestações culturais e corporais na construção histórica da humanidade.

    Toda ação humana envolve atividade corporal e a criança é o melhor exemplo para esta afirmação, pois é um ser em constante mobilidade e utiliza-se dela para buscar conhecimento de si mesma e daquilo que a rodeia, relacionando-se com objetos e pessoas. Logo, fica evidenciado que a ação corporal é necessária para que a criança harmonize de maneira integradora as potencialidades motoras, afetivas e cognitivas (PCN’s Arte/2000). No PCN Arte a dança é vista como um meio de representar a capacidade do corpo em movimento na atividade escolar como forma de expressão e compreensão artística com maior consciência, autonomia, responsabilidade e sensibilidade.

    No PCN (2000) da Educação Física para o ensino fundamental a dança aparece através das Atividades Rítmicas e Expressivas, que tem como características a expressão e comunicação por meio dos gestos a partir de estímulos sonoros que provocam a execução do movimento corporal, dentre eles as danças regionais e folclóricas.

    Para Soares (et al, 1992) a dança considera as linguagens sociais do homem, pois permite uma esfera de hábitos que o compõe. O ensino da dança na escola compreende-se que, o valor dos sentidos para o aluno deve-se aprender desde a técnica para sua execução, assim como a expressão corporal, sem prejudicá-lo a ação espontânea estilizada e simbólica, não sendo levada a produção acrobática.

    Segundo Brasileiro (2002) o conteúdo dança nas aulas de Educação Física descontextualiza todos os papeis, uma discussão dos currículos escolares, de como ensinar a dança nas aulas de Educação Física? Daí vem uma série de fatores relacionados à área, como: aceitação dos alunos especialmente do sexo masculino, organização estrutural da escola, currículo e capacitação profissional. Essa autora destaca também o papel que pode ter a dança na superação caráter sexista presentes nas aulas de Educação Física na escola. Muitos são os estudos sobre turmas de educação física divididas na escola por sexo, padrões fisiológicos e psicológicos. No país que vivemos, onde a mídia coloca em foco a sensualidade feminina ou um lindo casal dançando, a cultura vem sendo transformada como “dança de mulher”, fazendo com que os homens tomem certa distância do conteúdo nas escolas (Marques, 1997).

    Uma cultura acolhedora à presença de atividades coeducativas sobre a perspectiva de gênero é fundamental para que a dança contribua nas aulas de Educação Física e torne-se objeto de vivências da cultura corporal de jovens, de ambos os sexos nas aulas. Um exemplo disso é citado na cidade de Joinvile, Santa Catarina. Por se tratar de uma cidade onde o Balé Clássico tornou-se uma atividade tradicional apreciado por todos, sem distinção de gênero, idade ou classe social, a mesma teve ótima aceitação na escola e aulas de Educação Física (KUNZ, 2003). Os valores culturais de uma sociedade são fundamentais para a estimulação do aluno em apreciar a arte da dança em todos os aspectos.

    Considerando esse aspecto dos valores sociais e em se tratando da primeira experiência de dança nas aulas de Educação Física com o grupo que se ia trabalhar, fizemos a escolha de iniciar a tematização do conteúdo dança nas aulas de Educação Física pelo estudo, tematização e vivência da dança de salão. A Dança de Salão integrar as relações de gênero para sua realização, naturalmente, além disso, aparecem nas propostas de ensino da dança na escola, outras razões para o ensino da mesma, alem é claro, de considerarmos que ela é uma dimensão da cultura da dança na nossa sociedade sobre a qual os alunos estão integrados e não devem deixar de se apropriar dessa cultura.

    Por ser uma Dança a dois, que para acontecer é necessário à participação tanto de meninas quanto de meninos, a Dança de Salão, naturalmente, coloca em prática a inserção de meninos nas aulas de dança, além de trabalhar a relação de sociabilização entre os alunos, sendo o respeito o ponto de partida para se dançar, pois o diálogo corporal acontece a todo o momento. Questão como o papel feminino e masculino surge no ambiente da Dança de Salão, por ser uma Dança, na qual existe uma condução por parte de um dos parceiros para execução de certos movimentos. Porém, segundo Ried (2003) “não se trata, portanto, no conduzir e ser conduzida, de uma relação de disputa do poder, mas de cooperação efetiva visando o resultado do esforço conjunto, na qual um dos dois entra com o mais importante que tem a oferecer”. 

    É por este viés que a Dança de Salão deve ser desenvolvida no ambiente escolar, considerando também a realidade social e cultural do aluno, viabilizando uma educação que valorize a diversidade e a relação social entre os alunos, ou seja, o papel da Dança de Salão na escola não é de formar bailarinos, mas ser mediadora de uma consciência social que potencialize a relação do aluno com o mundo e consigo. De acordo com Arnizaut (2007, p.74) “a linguagem corporal é uma linguagem universal por meio da qual se podem criar laços intensos entre as pessoas, o que muitas vezes pelos meios verbais não se consegue”.

Apresentação e analise dos dados

    Este é um relato sobre uma experiência vivida no Instituto Municipal Educacional “José de Arapiraca”, localizado no Bairro da Boca do Rio, Salvador-Ba. O primeiro contato com a turma teve como objetivo conhecer os alunos os quais iríamos desenvolver o trabalho proposto, isso foi feito com todos colocados em um circulo onde cada um em uma rodada rápida e dinâmica se apresentaria por seu nome. Para visualizarmos o entendimento que estes alunos obtinham sobre a Dança, ainda em círculo, pedimos para estes que significasse a Dança através de uma palavra que para eles naquele momento representaria sua visão sobre Dança, não importava a palavra, no momento o mais importante era o seu significado sobre o assunto tratado, surgiram varias palavras as mais marcantes, por serem utilizadas por vários alunos, foram: movimento, ritmo e arte.

Aula 01

Conteúdo

Objetivo

Metodologia

Atividade

 

Dança

 

Conhecer a turma e apresentação dos educandos para diagnosticar o sentido de dança para eles.

No primeiro momento iremos fazer o acolhimento da turma onde faremos uma dinâmica de apresentação em circulo, sendo que na primeira rodada cada um dirá seu nome. Na segunda rodada cada aluno irá expressar através de uma palavra o seu entendimento prévio de Dança, no terceiro momento cada um indicara um tipo/estilo de dança que conhece ou já viu em algum lugar rua, televisão, escola e internet.

Dinâmica de grupo.

    Em seguida pedimos para que eles indicassem os tipo/estilos de Dança os quais eles conhecem ou já viram em algum lugar. Logo após solicitamos que eles demonstrassem um movimento qualquer que representasse este tipo/estilo de Dança, neste momento pudemos perceber que apesar de toda Cultura Corporal obtida por eles em suas vivências, seja na escola, na rua, na comunidade e através da mídia televisiva entre outras, durante alguns minutos era percebível a dificuldade de usar o corpo como instrumento de comunicação e representação de sua Cultura, seja ela pagode, arrocha, hip hop e etc. Além do próprio entendimento destas Danças como “Dança”, já que são visualizados pela sociedade como pejorativas e periféricas, os próprios alunos tem como referência de Dança o ballet clássico, um estilo tão distante de sua realidade.

    Partindo das atividades iniciadas fomos conhecendo os tipos/estilos de Danças que são acessados no cotidiano dos alunos. A proposta seguinte era de instigar eles a descobrir como a Dança estava presente na vida de algumas outras pessoas do Colégio, solicitando que em grupos eles fossem até as outras áreas da instituição colher depoimentos no qual haveria relatos sobre contatos/vivencias com a Dança. Ao retornar para sala de aula em grupo eles escolheriam um dos relatos para representá-lo para toda a turma, não foi fácil convencê-los a tal representação, porem chegamos ao acordo de que o grupo que se sentisse a vontade representaria através da Dança e quem não estivessem tão a vontade poderia relatá-lo verbalmente. Ao final conseguimos discutir sobre a proposta inicialmente apresentada.

Aula 02

Conteúdo

Objetivo

Metodologia

Atividade

 

 

Dança

 

Discutir a pesquisa sobre mídia e dança.

Descrever os tipos de mídia e quais delas tem o acesso.

No primeiro momento vamos pedir para eles o trabalho que foi dito na aula retrasada sobre a concepção de mídia e dança. No segundo momento, iremos fazer outra dinâmica, eles irão dividir em equipes e recolher o máximo de depoimento sobre dança (assinaturas), logo após a equipe escolhe um depoimento e discute. Terceiro e último momento vamos falar sobre a aula da semana que vem, que vamos analisar os filmes com a temática dança.

Dinâmica de grupo.

    Seguindo a idéia de usar a mídia para discutir Dança, seguimos para utilização da mesma como estímulo para nossas discussões utilizando de um filme como viés para tal. O filme apresentado foi “Vem Dançar”, por se tratar de um filme onde o enredo ocorre em uma escola e a Dança é utilizada como meio educativo/pedagógico, além de ser um filme onde o estilo de Dança utilizado é a Dança de Salão, que não por acaso foi o estilo escolhido para desenvolver o trabalho técnico com os alunos. Através do filme foi possível alimentar o interesse dos alunos pela Dança, com isso, o estimulo pelas próximas aulas que seriam aulas para trabalhar a dimensão objetiva (técnicas e conhecimentos procedimentais) de Dança de Salão.

Aula 03

Conteúdo

Objetivo

Metodologia

Atividade

 

Dança

 

Analisar a proposta do filme com a temática dança.

No primeiro momento iremos fazer o acolhimento da turma. Logo após, levaremos a turma para a sala de áudio e vídeo para a exibição do filme com a temática dança. No final da aula, discussão de tema.

Exibição de filme.

 

Aula de Exibição do Filme “Vem Dançar”

    Nas aulas para trabalhar a competência objetiva (saber executar movimentos técnicos da dança de salão) os alunos inicialmente tiveram a oportunidade de aprender tanto os passos do cavalheiro quanto o da dama, já que a Dança de Salão é codificada em um formato onde existe uma condução por parte de um dos participantes da Dança e uma ação perante a esta condução por parte do outro participante que seguindo o estimulo/proposta/condução faz com que a Dança aconteça. Desenvolvemos com os alunos a partir dos passos ensinados uma dinâmica de espelho onde um executa um movimento e o outro é estimulado a responder com outro movimento, sem seguir necessariamente o formato tradicional da Dança de Salão.

    Apresentamos para os alunos como desenvolver estes passos a dois e as suas possibilidades de execução, a modalidade escolhida foi o Samba de Gafieira, por ser uma Dança de Salão brasileira, conseqüentemente as musicas utilizadas fariam parte do repertorio musical dos alunos, possibilitando uma maior participação e até intimidade dos mesmos nas atividades. Neste momento pudemos perceber a ruptura do sexismo, pois a participação dos meninos foi mais significativa que das meninas, o que não costuma ser comum nas aulas de dança, sobretudo em aulas de Educação Física escolar.

Aula 04

Conteúdo

Objetivo

Metodologia

Atividade

 

 

Dança

- Desenvolver a percepção rítmica dentro da modalidade aplicada.

-Reconhecer as direções espaciais dentro da técnica aplicada.

_ Dominar a qualidade de execução do passo Básico do Samba.

-Proporcionar um diálogo corporal entre a dama e o cavalheiro.

No primeiro momento iremos fazer uma preparação corporal utilizando um breve alongamento das partes do corpo, em seguida explicaremos a mecânica do passo básico do samba pensando na contagem musical utilizada para executar o movimento proposto, logo após desenvolveremos o mesmo com os alunos, neste momento todos aprenderam juntos, sem distinção de passos de dama ou de cavalheiro. No segundo momento mostraremos como desenvolver esta modalidade da Dança de Salão em duplas, demonstrando como se executa o passo da Dama e do Cavalheiro e suas distintas possibilidades, desenvolvendo com os alunos uma dinâmica de espelho onde um executa um movimento e o outro é estimulado a responder com outro movimento. No terceiro momento um “feedback” com as aulas propostas de dança.

 

Dança de Salão: Samba de Gafieira.

 

Alunos na aula prática da Dança Salão Samba de Gafieira

    Este trabalho seria desenvolvido em 6 aulas com duração de 50 minutos cada, porém ocorreram fatores que influenciaram no processo das nossas aulas, reduzindo estas para 4 aulas, tendo uma discrepância de tempo entre uma aula e outra, pois estávamos em período eleitoral e a escola era zona eleitoral, consequentemente nossos conteúdos sofreram alterações e a falta de contato entre os professores e alunos prejudicou o andamento do desenvolvimento do projeto, os alunos acabaram por não recordar as atividades propostas nas aulas anteriores, causando uma quebra no processo.

    No ultimo encontro elaboramos um diálogo onde cada um teria a possibilidade de relatar e discutir suas sensações, emoções, inquietações e receios relacionados ao primeiro contato corporal com a técnica da Dança de salão, possibilitando uma análise sobre a vivência proposta. Pudemos perceber que apesar dos transtornos, o trabalho foi desenvolvido e deixamos uma semente plantada sobre o entendimento e interesse pela dança na escola, tanto entre as meninas como nos meninos.

    “A dança na escola deve partir do pressuposto de que o movimento é uma forma de expressão e comunicação do aluno, objetivando torná-lo um cidadão crítico, participativo e responsável, capaz de expressar-se em várias linguagens, desenvolvendo a auto expressão e aprendendo a pensar em termos de movimento.” (SANTANA, 2007, p. 24)

Considerações finais

    O presente artigo tem como viés o desenvolvimento de um trabalho educativo em Educação Física escolar utilizando a Dança, que faz parte da cultura corporal, como conteúdo para o seu desenvolvimento, no caso a Dança de Salão.

    Podemos considerar que o trabalho foi de grande importância para reafirmar a importância de se trabalhar a dança no âmbito escolar, sobretudo como parte constitutiva da cultura corporal e objeto de estudo das aulas de Educação Física. Sabemos o quanto a dança faz parte do cotidiano da humanidade, pois se trata de uma atividade que para o seu acontecimento basta o corpo, existe varias técnicas que foram desenvolvidas para o seu ensino, porém antes de serem codificadas estas danças eram populares surgindo através de manifestações culturais de um povo, ou seja, a dança faz parte da vida do homem desde seu surgimento.

    Podemos evidenciar o valor educativo existente na Dança, pois através desta tivemos a possibilidade de refletir e discutir com os alunos participantes não apenas a Dança como técnica apurada de passos codificados, mas leva-los a pensar e repensar seu corpo, suas práticas dançantes, a dança da sua comunidade, a dança midiática e seu pensamento sobre dança, considerando sua realidade social e suas vivencias.

    Um dos pontos mais consideráveis deste trabalho foi possibilitar e facilitar a participação dos meninos na prática da Dança, já que escolhemos uma técnica onde a participação deste é indispensável, e novamente o papel educativo é viabilizado, potencializando a relação social entre os alunos e sua relação com o mundo e consigo, já que o diálogo corporal é o ponto de partida para o acontecimento da dança de salão.

    Não podemos deixar de relatar que ainda são poucos os profissionais de Educação Física que se apropriam da Dança como conteúdo para ser desenvolvido em suas aulas, ainda existe um distanciamento entre o professor de Educação Física e o conteúdo Dança, um dos motivos é a falta de intimidade com o assunto, porém sabemos que existem várias formas de utilizar um conteúdo em aula, mesmo não sendo um especialista, entendemos que, enquanto professores, faz parte da nossa prática educativa facilitar o acesso ao vasto campo de conhecimento existente em nossa área.

Referências

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  • Vem Dançar (Take the Lead). EUA. 118 min. Direção: Liz Friedlander. Distribuição: Play Arte.

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