Análise da potência muscular em indivíduos praticantes e não praticantes de basquete Estudio de la potencia muscular en jugadores y no jugadores de baloncesto Analysis of muscle power in practitioners and non practitioners of basketball |
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*Instituto de Ciências da Atividade Física e Esporte. Universidade Cruzeiro do Sul **Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas Laboratório de Fisiologia do Exercício, UFSCar ***Universidade Federal de São Paulo. Campus Baixada Santista (Brasil) |
Gustavo Barquilha* João Carlos de Oliveira** Paulo Henrique Silva Marques de Azevedo*** |
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Resumo Cada vez mais crianças e adolescentes aderem a algum tipo de esporte buscando uma melhor qualidade de vida e aumento da sua aptidão física. Sendo assim o objetivo deste estudo foi analisar a potência muscular entre praticantes e não praticantes de basquete nas categorias mirim e infantil. Participaram 8 indivíduos praticantes de basquete (PB) e 8 não praticantes (NP) com idade (anos): 15 ± 1.51 e 15.12 ± 1.64; Massa corporal (kg): 66.78 ± 16.26 e 59.12 ± 7.01; Estatura (metros): 1.76 ± 0.12 e 1.69 ± 0.08; IMC (kg/m2): 21.26 ± 3.49 e 20.64 ± 1.67, para PB e NP, respectivamente. Foram aplicados testes de potência para membros inferiores (salto vertical e salto horizontal) e de membros superiores (arremesso de medicineball). Resultados: Salto vertical (cm): 45.63 ± 3.97 e 39.87 ± 9.66; Arremesso de medicineball (m): 3.98 ± 1.03 e 2.97 ± 1.32; 10 saltos sucessivos: Distância (m): 19.48±2,68 e 17.99±0.96; tempo (s): 7.86±0.96 e 9.47±3.85; Potência Absoluta (Watts): 167.16±45.36 e 124.39±32.95; Potência Relativa (Watts/kg): 2.50±0,38 e 2.12±0.55. Conclui-se que o treinamento de basquete associado à educação física escolar, quando comparado ao grupo que realizava apenas educação física escolar, não foi efetivo em proporcionar melhora na capacidade física potência muscular de membros inferiores e superiores. Unitermos: Educação Física Escolar. Potência muscular. Medidas. Avaliação.
Abstract The number of children and adolescents that practice some kind of sport looking for a better quality of life and an increase of physical fitness is becoming higher each day. So this study aims to analyze the muscle power between practitioners and non practitioners of basketball in infant category. The individuals who have participated in this study were: Eight basketball practitioners (PB) and eight non practitioners (NP); age (years old): 15 ± 1.51 and 15.12 ± 1.64; Body mass (kg): 66.78 ± 16.26 and 59.12 ± 7.01; Stature (meters) 1.76 ± 0.12 and 1.69 ± 0.08; BMI (kg/m2): 21.26 ± 3.49 and 20.64 ± 1.67, to PB and NP, respectively. Power tests have been applied to the lower limbs (vertical jump and horizontal jump) and to the higher limbs (medicineball pitch). Results: Vertical jump (cm): 45.63 ± 3.97 and 39.87 ± 9.66; Medicineball pitch (m): 3.98 ± 1.03 and 2.97 ± 1.32; 10 successive jumps: Distance (m): 19.48±2, 68 and 17.99±0.96; time (s): 7.86±0.96 and 9.47±3.85; Absolute power (Watts): 167.16±45.36 and 124.39±32.95; Relative power (Watts/kg): 2.50±0, 38 and 2.12±0.55. The conclusion is that the basketball training associated with the physical school education compared to the group that had only physical school education was not effective in providing improvement in physical capacity and muscle power of lower and higher limbs. Keywords: Physical School Education. Muscle power. Measures. Evaluation.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Crianças que apresentem o hábito de praticar atividades físicas (aumentando assim o seu gasto calórico), aliados a uma alimentação saudável, têm um menor risco de desenvolver patologias, como por exemplo, obesidade (1,2), além dos efeitos positivos da atividade física na promoção da saúde óssea (3). Um dos objetivos da educação física escolar é o de criar no aluno o hábito de praticar atividade física ao longo da vida, buscando assim índices mínimos de desempenho para manter níveis funcionais, motores e morfológicos, para uma melhor qualidade de vida, ou ainda melhorar o desempenho esportivo (4,5). Porém, o tempo disponibilizado para uma aula de educação física escolar parece ser insuficiente para que o aluno melhore o nível de condicionamento físico. Estes fatores associados levam ao incentivo da prática de atividades esportivas extracurriculares (4).
É difícil a análise dos critérios de iniciação e especialização esportiva de modalidades coletivas e individuais, pois tem que se levar em consideração a idade dos participantes, muitas vezes precoces em relação ao recomendado na literatura da área, adesão ao esporte, entre outros aspectos (6).
Entre as várias modalidades praticadas por jovens está o Basquete, um esporte de contato que exige do participante rápidas transições entre ataque e defesa (7), envolvendo movimentos de potência, velocidade e habilidade, características de atividades de alta intensidade comuns no basquete (8).
Verkhoshansky (9) também cita a potência muscular como uma capacidade física importante para o desempenho no basquete, pois é necessária a realização repetida de esforços com máxima velocidade e força durante uma partida de basquete (acelerações, arranques), alternados com intervalos curtos de trabalho pouco intenso, mantendo o alto nível de precisão espacial e de movimentos e sua efetividade de trabalho. Hoffman (10) também destaca a importância da potência muscular no basquete, destacando a importância da potencia em alguns lances do jogo como uma rápida mudança de direção, a explosão para realizar um arremesso ou uma defesa, entre outras jogadas.
Sabendo da importância da potência muscular para o desempenho no basquete e na vida diária, este estudo tem como objetivo analisar a capacidade física potência muscular entre alunos que fazem educação física escolar praticante e não praticantes da modalidade esportiva basquete nas categorias mirim e infantil.
Metodologia
Sujeitos
Participaram do presente estudo dezesseis sujeitos do sexo masculino, sendo 8 praticantes de basquete e 8 não praticantes, alunos do ensino fundamental e médio da rede pública de ensino, com variação de idade entre 14 e 17 anos.
Materiais e métodos
Foi utilizado no presente estudo uma quadra poliesportiva, medicineball com peso de 3 Kg, uma corda de nylon de 2 m de comprimento, uma trena feita de metal flexível, com comprimento de 5 m, giz colorido e cadeira (feita de ferro, com altura de 50 cm).
Teste de IMC
Foi calculado o índice de massa corpórea dos sujeitos [IMC= Peso
(kg)/Estatura(m)2]. As medidas de peso corporal foram realizadas mediante uma
balança antropométrica da marca Fillizola, com precisão de 100 gramas.
Vestindo apenas short e meia, o avaliado se posicionou estaticamente ao centro
da balança, olhar fixo no horizonte, de costas para a escala de medidas,
centralizando seus maléolos na plataforma de apoio e braços estendidos ao
longo do corpo. A balança foi aferida a cada três pesagens. A Estatura foi
aferida na mesma balança e posição da pesagem, com o sujeito realizando uma
inspiração máxima seguida de apnéia. A escala era dada em centímetros
(precisão de 1 cm).
Testes para medir potência muscular
Salto vertical
O testando deveria assumir a posição em pé, de lado para a superfície graduada e com o braço estendido acima da cabeça, o mais alto possível, mantendo as plantas dos pés em contato com o solo, sem flexioná-los. Era feita uma marca com os dedos, na posição mais alta que pudesse atingir. Para facilitar a leitura, os dedos do testando foram sujos com pó de giz. O teste consistiu em saltar o mais alto possível, sendo facultado ao testando, o flexionamento das pernas e o balanço dos braços para a execução do salto. Após três tentativas, foi computado para análise o maior valor.
Arremesso de medicineball
Da posição sentada em uma cadeira, o testando segura a bola de medicineball com as duas mãos contra o peito e logo abaixo do queixo, com os cotovelos o mais próximo do tronco. Uma corda é colocada na altura do peito do testando para mantê-lo seguro à cadeira e eliminar a ação de embalo durante o arremesso. O esforço deve ser realizado pelos braços e cintura escapular, evitando-se a participação de qualquer outra parte do corpo. O testando deverá arremessar o medicineball na maior distância possível, em três tentativas. Foi computada para análise a maior distância.
Teste de potência máxima em 10 saltos sucessivos
A metodologia do teste inclui a realização de 10 saltos sucessivos, com os pés unidos sem sobre-passo, no menor tempo possível, e que não seja superior a dez segundos. O teste foi realizado em uma pista com pelo menos 30 metros de extensão, demarcada de 50 em 50 cm. A distância do salto ficou compreendida entre a linha de saída e o último ponto de contato próximo a linha de chegada do último salto.
Estatística
O processamento dos dados foi realizado por meio de análise descritiva das variáveis, na qual os valores foram expressos na média ± desvio padrão. Foi aplicado teste de Levene para verificar a normalidade dos dados. Para comparação entre grupos foi aplicado o teste-t de Student para amostras independentes, com índice de significância de 5% e confiabilidade de 95% (11).
Resultados
As características antropométricas dos sujeitos envolvidos no estudo estão apresentadas na tabela 1.
Tabela 1. Características antropométricas
Na tabela 2 estão apresentados os valores do teste de salto vertical e arremesso de medicineball, enquanto que na tabela 3 estão apresentados os valores do teste de 10 saltos sucessivos. Todos os testes foram aplicados no Grupo praticantes de basquete (PB) e não praticantes (NP).
Tabela 2. Valores médios (média) e desvio padrão (DP) do teste de salto vertical e arremesso de bola
Tabela 3. Valores médios e desvio padrão do teste de 10 saltos sucessivos
Discussão
Ao ser investigada a relação entre alunos praticantes da educação física escolar e os da equipe de treinamento de basquete, procurou-se detectar as possíveis diferenças de desempenho motor de membros inferiores e superiores entre esses indivíduos, como proposto por Loko et al. (12). O presente estudo apresenta grande importância devido à carência de estudos sobre basquetebol nas divisões menores em âmbito nacional. Não foram encontradas diferenças significantes entre os grupos, provavelmente por não ter sido aplicado treinamento específico para a melhoria da aptidão física dos participantes.
Guedes et al (13) sugerem que adolescentes habitualmente ativos não tem a garantia de que necessariamente possam ser aptos fisicamente. Outros fatores, que não apenas os hábitos de prática de atividade física podem influenciar os componentes da aptidão física relacionada à saúde.
A muita contradição na literatura em se tratando da melhora de certas aptidões físicas para crianças, mesmo quando aplicado treinamentos específicos adequados. Em estudo desenvolvido por Rodrigues Filho (14), 35 tenistas juvenis divididos em dois grupos (controle e treinamento) foram submetidos a um treinamento de pliometria para membros inferiores. O resultado aponta para um aumento no rendimento do grupo treinado superior ao do grupo controle. Marques & González-Badillo (15) encontraram melhora no salto vertical após a aplicação de um protocolo de treinamento de força em jogadores de basquete de 10 a 13 anos.
Nosso estudo foi de característica transversal, analisando apenas a possível influência do treinamento de basquete na potência muscular, diferente dos estudos citados acima, que analisou longitudinalmente o treinamento específico de potência muscular, o que pode explicar a diferença de resultados. Porém o resultado do presente estudo vai de contradição a um estudo feito por Bortoni & Bojikian (16), que compararam crianças de escola privada submetidas à intervenção com futsal comparada a um grupo controle, aonde se conclui que as intervenções com futsal com duas aulas semanais de noventa minutos foram suficientes para melhorar o desempenho da agilidade e velocidade, mesmo sem um treinamento especifico para essas agilidades.
Crianças e adolescentes apresentam maior dificuldade em produzir força e potência quando comparados com adultos. Provavelmente por características fisiológicas que diferenciam crianças de adultos, como uma menor concentração de lactato sanguíneo e muscular; menor atividade e concentração das enzimas glicolíticas, especialmente da fosfofrutoquinase, menor quantidade de fibras de contração rápidas (IIB) entre outros fatores (17). Estas características fisiológicas ajudam a entender o porquê dos sujeitos PB do presente estudo não obterem melhoras de potência muscular, uma vez que está capacidade física é dependente da força muscular, do metabolismo anaeróbio alático e do recrutamento de fibras Tipo II.
Tourinho Filho e Tourinho (18) afirmam que o desempenho anaeróbio progride com a idade, ao contrário ao que é descrito para o consumo máximo de oxigênio (VO2max) relativo ao peso corporal. Em indivíduos do sexo masculino, o Vo2max permanece sem modificação significativa da infância até a fase adulta, sendo mais comum às crianças se adaptarem melhor ao treinamento aeróbio (19). A potência aeróbia não foi analisada no presente estudo. Entretanto, a baixa capacidade de adaptação do metabolismo anaeróbio pode ter tido forte influência para que não houvesse diferença de potência muscular entre PB e NP. O estudo do VO2max se faz necessário neste tipo de amostra, pois esta capacidade física parece ser mais sensível ao treinamento nesta fixa etária, quando comparado à potência muscular.
Os resultados encontrados por Vidal Filho et al (20) que investigaram as respostas fisiológicas em um grupo de pré-adolescentes, em um jogo de basquetebol, sugerem que os pré-adolescentes utilizam mais o sistema oxidativo e o sistema fosfogênico (ATP-CP) durante a prática do basquetebol. Estes dados não concordam com nossos achados no que se refere ao metabolismo anaeróbio alático. Era esperado que os PB tivessem melhor desempenho nos testes de potência muscular quando comparados ao NP, uma vez que esta via energética é altamente solicitada durante partida de basquete (20). O tempo de prática e a idade biológica dos sujeitos do presente estudo não foram levados em consideração. Estes fatos, em conjunto, denotam uma limitação do trabalho.
Conclusão
Os resultados encontrados no presente estudo sugerem que apenas o treinamento de basquete associado às aulas de educação física não foram suficientes para melhorar os níveis de potência muscular nos participantes desse estudo. Sugerimos o estudo da capacidade e potência aeróbia em amostra semelhante à utilizada no presente trabalho, assim como um estudo de caráter longitudinal.
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