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Entre a psicomotricidade e o desenvolvimento humano: 

a importância da Educação Física na Educação Infantil

Entre la psicomotricidad y el desarrollo humano: la importancia de la Educación Física en la Educación Inicial

 

Facultade de Integrado

Campo Mourão, Paraná

(Brasil)

Fayson Rodrigo Merege Barbosa

fayson_rodrigo@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Considerando que o movimento, a corporeidade e o lúdico são de suma importância para o desenvolvimento da criança e que a Educação Física é parte do processo de cultura e humanização da mesma, o presente estudo busca construir e consolidar uma parceria entre a Pedagogia e a Educação Física na Educação Infantil. Pela importância que a infância representa na formação da personalidade do indivíduo, buscam-se respaldos por uma “nova práxis pedagógica” que leve a uma organização didática. Com esse princípio mostraremos a importância do profissional de Educação Física atuando na Educação Infantil auxiliando a criança em seu desenvolvimento integral e aprendizagem a partir das brincadeiras, jogos e o lúdico.

          Unitermos: Educação Física. Educação Infantil. Desenvolvimento motor. Psicomotricidade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 169 - Junio de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O principal instrumento da educação física é o movimento, por ser o denominador comum de diversos campos sensoriais. Se a Educação Física pretende atender as reais necessidades e expectativas da criança, necessita-se antes de qualquer coisa compreender que o desenvolvimento humano se dá a partir da integração entre a motricidade, a emoção e o pensamento.

    Busca-se uma Cultura Corporal de Movimento que não se paute em um modelo “escolarizante” influenciada pelo modelo do esporte de rendimento, mas uma prática pedagógica da Educação Física na Educação Infantil que venha a contribuir para a ampliação das linguagens, das interações e da leitura de mundo por parte das crianças.

    Diante dessa situação esperam-se uma Educação Física comprometida com os interesses, necessidades e direitos das crianças aos lhes permitir que os mesmos desempenhem um papel mais ativo em seus movimentos, e assim respeitando suas reais expectativas, já que nesta faixa etária só pode se caracterizar pela brincadeira, pelo jogo e pela ludicidade a ampliação das próprias culturas infantis de movimento.

    GO Tani (1989, p. 150) ressalta que:

    Se existe uma seqüência normal nos processos de crescimento, de desenvolvimento e de aprendizagem motora, isto significa que as crianças necessitam ser orientadas de acordo com estas características, visto que, só assim, as suas reais necessidades e expectativas serão alcançadas.

    O papel fundamental da Educação Física na Educação Infantil é para o desenvolvimento integral da criança, de modo que o aluno venha a progredir em seus conhecimentos e habilidades. Isso proporciona que a criança venha a vivenciar diversas experiências físicas e culturais, construindo assim, um conhecimento a respeito do mundo que a cerca, por meio da aprendizagem e o desenvolvimento que estão inter-relacionados a partir do seu contato com o mundo.

1.     A brincadeira, os jogos e o lúdico como ação pedagógica

    O ato de brincar possibilita o processo de aprendizagem da criança, pois é uma importante forma de comunicação da mesma entre o mundo da fantasia e da imaginação. A brincadeira facilita a construção da reflexão, da autonomia e da criatividade numa relação entre jogo e brincadeira.

    Não se pode roubar a espontaneidade das crianças, e se faz necessário olhar sob uma nova ótica as brincadeiras sem restringi-las somente como “função pedagógica”, pois assim limitamos suas possibilidades e impedimos que as crianças criem e recriem as suas formas de brincar e se expressar. A importância do brincar para o desenvolvimento integral da criança é por auxiliar nos aspectos físico, social, cultural, afetivo, emocional e cognitivo.

    Para Kishmoto (2002, p. 148) o “brincar também contribui para a aprendizagem da linguagem”. Para ser capaz de falar sobre o mundo, a criança precisa saber brincar com o mundo com a mesma desenvoltura que caracteriza a ação lúdica. A utilização combinatória da linguagem funciona como instrumento de pensamento e ação. A brincadeira é alguma forma de divertimento típico na infância, ou seja, é natural da criança. Brincando a criança se diverte, faz exercícios, constrói seu conhecimento e aprende a conviver com seus amigos.

    De acordo com Oliveira (2000) o brincar não significa apenas recrear, mas sim desenvolver-se integralmente. Através do brincar a criança pode desenvolver áreas da personalidade como afetividade, motricidade, inteligência, criatividade além de capacidades importantes como atenção, memória, a imitação e a imaginação.

    Gallahue (2005, p. 204) ressalta que:

    As brincadeiras são o modo básico pelo qual elas tomam consciência de seus corpos e deus capacidades motoras. Brincar também serve como importante facilitador do crescimento cognitivo e afetivo da criança pequena, bem como importante meio de desenvolver tanto habilidades motoras como rudimentares.

    Toda criança segundo Brougère (2002, p. 26/27) adquire, constrói sua cultura lúdica brincando, e esta como toda cultura é o produto da interação social que lança suas raízes, na interação precoce entre a mãe e o bebê.

    Para Piaget (1976) a atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança. Estas não são apenas uma forma de desafogo ou entretenimento para gastar energia das crianças, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual. Ele afirma

    O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação da real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem todos que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil.

    Os jogos também são importantes no desenvolvimento das crianças, adolescentes e jovens, pois o que caracteriza o jogo é a possibilidade de agir, adquirir iniciativa e confiança, proporcionando o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração. Para Brougère (2002, p. 22)

    A criança aprende a compreender algumas características do jogo: o aspecto fictício, pois o corpo não desaparece de verdade, trata-se de um faz de conta; a inversão dos papéis; a repetição que mostra que a brincadeira não modifica a realidade, já que se pode sempre voltar ao inicio (...)

    O jogo para Tezani (2004) não é simplesmente um “passatempo”, é através dele que a criança pode brincar naturalmente sendo criativa em descoberta do seu prórioprio eu. O jogo se torna essencial para que a criança manifeste sua criatividade, utilizando suas potencialidades de maneira integral. As crianças ficam mais motivadas a jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais. Piaget (1967) elucida que o jogo não pode ser visto apenas como divertimento, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral.

    Antunes (2003) analisando o jogo pelo ponto de vista educacional tem-se perdido sua característica de divertimento, brincadeira e “passatempo” e aponta que em nossa cultura o termo jogo é confundido com competição. O jogo em sua suas diversas formas, auxilia no processo ensino-aprendizagem.

    Principalmente na Educação Infantil o brincar é uma ótima ferramenta de aprendizagem, visto que permite através do lúdico vivenciar a aprendizagem como processo social. Para Vygotsky (1998) o educador poderá fazer o uso de jogos, brincadeiras, histórias e outros para que de forma lúdica a criança seja desafiada a criar e recriar seu “mundo”.

    A ludicidade, tão importante para a saúde mental do ser humano é um espaço que merece atenção dos pais e educadores. O lúdico apresenta valores específicos para todas as fases da vida humana. Todavia, tanto na idade infantil como na adolescência a finalidade é essencialmente pedagógica. Santos (2002, p. 12) relata sobre a ludicidade como sendo:

    "uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento."

    De acordo com o Referencial Curricular Nacional da Educação Infantil (1998) a partir da importância da ludicidade que o professor deverá contemplar jogos, brinquedos e brincadeiras, como princípio norteador das atividades didático-pedagógicos, possibilitando à criança uma aprendizagem prazerosa. Como diz Arantes; Cruz; Hora; Cardoso (2001, p.81) “parece estar sendo necessário ser revivido e avaliado” o processo de ensino, objetivo, finalidade da educação física, o movimento, a corporeidade, na educação das crianças.

2.     O Processo de formação humana: o desenvolvimento global da criança

2.1     Desenvolvimento Motor

    O domínio motor refere-se aos movimentos. Um comportamento observável (externo) e ao mesmo tempo é o produto de todo um processo interno. É a ação motora, realizada de maneira voluntária (GALLAHUE, 1989).

    O comportamento motor do ser humano é permeado por inúmeras mudanças. Estas, por sua vez, têm sido os pontos centrais para muitas definições dos conceitos de aprendizagem motora e desenvolvimento motor. Acredita-se que neste processo de mudanças contínuas há um progresso de movimentos simples e não organizados para a realização de habilidades altamente complexas. Pensando-se que se inicia na concepção e se prolonga até a morte, o desenvolvimento motor é visto como um procedimento que se baseia nas mudanças comportamentais observadas. Preocupa-se em entender o processo que leve a essas mudanças, considerando que a seqüência resultaria de mudanças na capacidade de controlar movimentos. (FLINCHUM 1981).

    Mesmo nas brincadeiras, na escola e em casa, as crianças são representadas por toda e qualquer atividade corporal, assim levando-as às experiências motoras presentes no dia-a-dia. Até algum tempo atrás, as experiências motoras vivenciadas espontaneamente pela criança e suas atividades diárias eram suficientes para que adquirisse as habilidades motoras e formasse uma base para o aprendizado de habilidades mais complexas.

    O desenvolvimento motor pode ser visto progressivamente pelas habilidades de movimento, ou seja, a abertura para o desenvolvimento motor é dada através do comportamento de movimento observável do sujeito (Gallahue & Ozmun, 1995; 2001).

    O modelo teórico de Gallahue refere-se ao desenvolvimento motor apresentado através das fases dos movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados. Para maior compreensão de cada fase estaremos explicando a seguir.

Fase motora reflexa

    Os primeiros movimentos do feto são reflexos, que são movimentos involuntários, controlados subcorticalmente e formam a base para o desenvolvimento motor.

    O bebê, a partir da atividade reflexa, obtém informações sobre o ambiente imediato; as reações do bebê à luz, ao toque, a sons e a alterações na pressão provocam atividade motora involuntária, os reflexos.

    Os reflexos podem ser classificados em primitivos e posturais. Os “Reflexos Primitivos” são a 1ª forma de movimento involuntário. São classificados como: agrupadores de informações, caçadores de alimentos e reações protetoras.

    São agrupadores de informações, pois auxiliam a estimular a atividade cortical e o desenvolvimento; são caçadores de alimentação e protetores porque há evidências de que sejam filogenéticos, ou seja, evolutivos; os reflexos de sugar e o de procura pelo olfato, por ex, são considerados mecanismos de sobrevivência primitivos e sem eles o RN seria incapaz de obter alimento.

    Os “Reflexos Posturais” são a 2ª forma de movimento involuntários e muito similares, na aparência a comportamentos voluntários posteriores, mas são inteiramente involuntários; parecem servir como equipamentos de teste neuromotor para mecanismos estabilizadores, locomotores e manipulativos que serão usados mais tarde com controle consciente; o reflexo primário de caminhar e o reflexo de arrastar-se, relembram intimamente os comportamentos voluntários posteriores de caminhar e de engatinhar.

a.     Estágio de codificação de informações

    Neste estágio, os centros cerebrais inferiores são mais desenvolvidos que o córtex motor e estão essencialmente no comando do movimento fetal e neonatal; o estágio de codificação (agrupamento) de informações é caracterizado por atividade motora involuntária que se observa do período fetal até ao redor do 4º mês do período pós-natal.

b.     Estágio de decodificação de informações

    Este estágio começa ao redor do 4º mês de vida e é um “processamento” de informações da fase reflexa de codificação; neste momento acontece uma gradual inibição de muitos reflexos e os centros cerebrais superiores continuam a se desenvolver; com isso os reflexos cedem lugar à atividade motora voluntária, mediada pela área motora do córtex cerebral; o desenvolvimento do controle voluntário dos movimentos reflexos do bebê envolve o processamento de estímulos sensoriais com informações armazenadas, não simplesmente reações aos estímulos.

Fase de movimentos rudimentares

    As primeiras formas de movimentos voluntários são os movimentos rudimentares, observados do nascimento até os dois anos de idade; são determinados pela maturação (filogenético) e têm uma seqüência de aparecimento altamente previsível, resistente a alterações em condições normais; o ritmo com que essas alterações aparecem varia de criança a criança e depende de fatores biológicos, ambientais e da tarefa; no bebê representam as formas mais básicas de movimento voluntário que são necessárias para a sobrevivência; envolvem: movimentos estabilizadores (controle da cabeça, pescoço e dos músculos do tronco), as manipulativas (alcançar, agarrar e soltar) e locomotoras (arrastar-se, engatinhar e caminhar).

a.     Estágio de inibição de reflexos

    Inicia-se ao nascimento e estende-se até ao redor de um ano; o desenvolvimento do córtex e a diminuição de restrições do ambiente fazem com que vários reflexos sejam inibidos e gradualmente desapareçam; os reflexos primitivos e posturais são substituídos por comportamentos motores voluntários; como o aparato neuromotor do bebê ainda está em estágio rudimentar, o movimento voluntário não é muito diferenciado, e os movimentos embora intencionais pareçam descontrolados e grosseiros; se o bebê deseja entrar em contato com um objeto, haverá movimentação de toda a mão, pulso, ombro e até do tronco; o processo de movimentar a mão, apesar de voluntário apresenta falta de controle.

b.     Estágio de pré-controle

    Ao redor de um ano as crianças têm mais precisão e controle sobre seus movimentos; acontece uma maior integração de informações motoras e perceptivas com mais significado e coerência; o rápido desenvolvimento dos processos cognitivos* superiores e dos processos motores encoraja rápidos ganhos nas habilidades motoras rudimentares; aprendem a obter e manter o equilíbrio, a manipular objetos e a locomover-se pelo ambiente com controle e certa destreza.

Fase de movimentos fundamentais

    São conseqüência da fase de movimentos rudimentares do período neonatal; estas crianças estão envolvidas de forma ativa na exploração e experimentação das capacidades motoras de seus corpos; é um período para descobrir como desempenhar uma variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos, isoladamente e de modo combinado; estão aprendendo a agir com controle motor e competência a vários estímulos; atividades locomotoras (correr e pular), manipulativas (arremessar e apanhar) e estabilizadoras (andar com firmeza e equilíbrio em um pé só) são exemplos de movimentos fundamentais que devem ser desenvolvidos nos primeiros anos da infância.

    Segundo Gallahue (2005) é uma concepção errada a noção de que estas habilidades de movimentos fundamentais são determinadas unicamente pela maturidade da criança (filogenética) e não sofre influências do ambiente (ontogenética), tais como oportunidade para a prática, encorajamento, instrução e o cenário; o ambiente e o estímulo desempenham papel fundamental no aprendizado.

a.     Estágio inicial

    Representa as primeiras tentativas da criança de superar as limitações decorrentes da fase rudimentar; os movimentos apresentam uma seqüência imprópria, movimentos que faltam, uso limitado ou exagerado do corpo e coordenação Insuficiente; os movimentos locomotores, estabilizadores e manipulativos estão no nível inicial.

b.     Estágio elementar

    Maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais; há um aprimoramento na sincronização dos elementos temporais e espaciais do movimento, mas ainda os movimentos são restritos ou exagerados; normalmente crianças de inteligência e atividade física normais tendem a chegar neste estágio só pelo processo de maturação, mas muitos indivíduos adultos não ultrapassam o estágio elementar em muitos padrões de movimento.

c.     Estágio maduro

    Maior desempenho nos movimentos mecanicamente eficientes, coordenados e controlados; as crianças atingem geralmente este estágio maduro ao redor de 5 a 6 anos de idade; embora algumas crianças possam atingir este estágio basicamente pela maturação (genética) e com um mínimo de influências ambientais, a grande maioria precisa de oportunidades para a prática, o encorajamento e a instrução em um ambiente que promova o aprendizado.

Fase de movimentos especializados

    As habilidades motoras especializadas são resultados da fase de movimentos fundamentais; nesta fase o movimento torna-se uma ferramenta aplicável a muitas atividades motoras complexas presentes na vida diária, na recreação e nos esportes. É um período em que as habilidades estabilizadoras, locomotoras e manipulativas fundamentais são progressivamente refinadas, combinadas e elaboradas para uso em situações cada vez mais exigentes; o ritmo e o nível atingido nesta fase dependem da tarefa, do fator individual e do ambiente. Apresenta-se 3 etapas:

a.     Estágio transitório

    Se inicia ao redor dos 7 ou 8 anos de idade; a criança começa a combinar e aplicar habilidades motoras fundamentais ao desempenho de habilidades especializadas no seu dia-a-dia, por ex, caminhar numa ponte de cordas, pular corda e jogar bola; estes movimentos contém os mesmos elementos que os motores fundamentais só que com forma, precisão e controle maiores,ou seja, as habilidades transitórias são simplesmente aplicações de padrões de movimentos fundamentais em formas mais específicas e mais complexas.

b.     Estágio de aplicação

    Inicia-se ao redor dos 11 aos 13 anos e mudanças interessantes acontecem no indivíduo; no estágio anterior, as habilidades cognitivas limitadas da criança, as habilidades afetivas e as experiências combinadas com a avidez natural de este ser ativo tornaram o foco normal (sem interferência do adulto) sobre o movimento amplo e generalizado a “todas as atividades”. Nesta fase o indivíduo, com a sofisticação cognitiva crescente e mais experiência, torna-se capaz de tomar numerosas decisões de aprendizado e participação em atividades mais complexas; o indivíduo começa a tomar decisões conscientes a favor ou contra a sua participação em certas atividades; essas decisões fundamentam-se, no geral, no modo pelo qual a criança percebe até que ponto os fatores inerentes à tarefa, a si mesma e ao ambiente, aumentam ou inibem a probabilidade de ela obter satisfação ou sucesso; o embate entre forças e fraquezas, oportunidades e restrições limita as escolhas; neste estágio as crianças começam a buscar ou a evitar a participação em atividades específicas; é a época para refinar e usar habilidades mais complexas em jogos avançados, atividades de liderança e em esportes escolhidos.

c.     Estágio de utilização permanente

    Inicia-se por volta dos 14 anos de idade e continua por toda a vida adulta; representa o auge do processo de desenvolvimento motor e é caracterizado pelo uso do repertório de movimentos adquiridos pelo indivíduo por toda a vida.

    Isto nos permite pensar que estágios e idades não têm regras fixas e que partir disso os princípios de desenvolvimento tem grande importância; assim, devem-se considerar alguns como os da individualidade, atestando que o ser humano apresenta capacidades e limitações. Mudanças que ocorrem no desenvolvimento ocorrido no mesmo permitem identificar a seqüência de fases do processo de desenvolvimento motor e princípio da continuidade e que o ser humano passa por uma série de mudanças contínuas ao longo de sua vida. (DEVAL 2001).

    O aprender a mover-se envolve atividades como tentar, praticar, pensar, no qual a aprendizagem, através do movimento, implica usar movimentos como meio para chegar a um fim. A partir e através disso é que a criança pode aprender mais sobre si mesma, conhecendo o seu meio ambiente e construindo o seu mundo.

    Esses padrões constituem a primeira forma de ação voluntária no controle de movimento e podem ser definidos como o conjunto de características básicas. O desenvolvimento dos padrões fundamentais segue uma seqüência de estágios, representando níveis graduais de proficiência e de controle motor. (ROBERTON, 1982)

Domínio cognitivo

    O domínio cognitivo envolve o que chamamos de atividades intelectuais, operações mentais como a descoberta ou reconhecimento de informação, a retenção ou armazenamento de informações, a geração de informações a partir de certos dados e tomadas de decisão, ou de julgamentos acerca de informação (MAGILL, 1980).

    Vygotsky aponta que, no processo de desenvolvimento, a criança começa usando as mesmas formas de comportamento que outras pessoas inicialmente usaram em relação a ela. Isso ocorre porque, desde os primeiros dias de vida, as atividades da criança adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social, retratadas através de seu ambiente humano, que auxilia a atender seus objetivos. Isto vai envolver comunicação, ou seja: a fala.

    "A afetividade e o desenvolvimento da inteligência estão indiciadas e integradas, no desenvolvimento psicológico, não sendo possível ter duas psicologias, uma da afetividade e outra da inteligência para explicar o comportamento." (PIAGET, apud ARANTES, 2003, p.56).

    Para Piaget e Vygotsky a inteligência é a capacidade de aprender sempre e renovar o conhecimento com base em novos conceitos, assim, superando as novas situações.

    Para muitos o convívio social proporcionado pela escola oferece possibilidades que a família raras vezes tem condições de propiciar. As atividades programadas não podem perder de vista então, as necessidades e os interesses das crianças que estão prontas para explorar, experimentar, colecionar, perguntar e aprender. Ao ingressar na vida escolar, a criança transpõe a vida familiar e passa a conviver com pessoas de sua idade, descobrindo à sua maneira, novos valores, experiências, que vêm enriquecer a sua própria experiência com a qual passa a se compactuar. Essa socialização transmite para a criança a confiança em si, adaptabilidade e rendimento intelectual. (FERREIA & CALDAS 2002)

As fases de desenvolvimento cognitivo segundo Piaget

  • Sensório motor ou prático (0 – 2 anos): a criança conhece o mundo através das ações que ela exerce sobre determinados objetos e observa a reação destes. As ações são reflexos ou manipulações.

  • Pré-operatório ou intuitivo (2 – 6 anos): aparecimento da linguagem que representa imagens e objetos. O pensamento é intuitivo e egocêntrico.

  • Operatório-concreto (7 – 11 anos): ainda necessita do concreto para fazer a abstração de seu pensamento.

  • Operacional-formal ou abstrato (11 anos): A operação se realiza através da linguagem. O raciocínio acontece com o levantamento de hipóteses e possíveis soluções.

    Vygotsky (apud ARANTES, 2003, p. 21) ressalta que o desenvolvimento cognitivo é interno e contínuo, acontece desde os primeiros dias até o fim de nossas vidas. O pensamento do bebê vai se desenvolvendo de acordo com suas estruturas, partindo do motor para o lógico e abstrato. Para que este desenvolvimento aconteça de forma natural e saudável é preciso que a criança seja estimulada constantemente através de percepções táteis, auditivas, visuais, motoras e afetivas.

    A partir do momento que a criança está inserida na escola, isso lhe acarreta mudanças emocionais, pois a mesma necessita separar-se do seio familiar e fazer novas amizades, de modo que se adapte a novos ambientes. E ao longo deste período entre os 3 anos e os 6 anos que a criança fortalece suas capacidades motoras e psicológicas já adquiridas, iniciando o seu processo de socialização.

    Portanto, Piaget aponta que a ordem é invariável do desenvolvimento, pois a inteligência constrói-se progressivamente ao longo do tempo, por estágios ou etapas constantes e seqüenciais.

Domínio afetivo

    Domínio afetivo refere-se à emoção ou sentimentos, são envolvidos numa situação real de ensino-aprendizagem, visto que aspectos como motivação, interesse, responsabilidade, cooperação e respeito ao próximo estão sempre presentes e devem ser trabalhados adequadamente (GO TANI, 1988).

    O aspecto afetivo literalmente tem influência sobre o desenvolvimento intelectual, visto que ele pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento. O processo de formação e enriquecimento afetivo da criança nos faz perceber que esse processo afetivo é continuo e inovador, onde a formação de sentimentos esta diretamente ligada aos valores e evolução da sociedade, ou seja, os sentimentos inter-individuais são construídos com a cooperação do outro e os intra-individuais são elaborados com a ajuda do outro, sendo a troca intra-pessoal.

Considerações finais

    A Educação Física caminhando junto a Pedagogia na Educação Infantil pode criar um espaço onde a criança brinque com a linguagem corporal, com o corpo, com o movimento e até mesmo alfabetizando-se nessa linguagem. Por meio de uma prática pedagógica, as atividades aplicadas para a educação básica devem ter o caráter lúdico como elemento essencial para a ação educativa.

    É importante ressaltar que não há uma preocupação nos cursos de Licenciatura em Educação Física uma preocupação em formar professores para intervirem na educação de 0 a 6 anos. Se a Educação Física pretende atender essas expectativas da primeira infância há a necessidade de mudança quanto à formação dos mesmos, para que não haja um “pacote” de atividades de jogos e brincadeiras aplicadas na educação infantil sem um objetivo específico.

    O professor sabendo de sua responsabilidade deve levar em conta as características de cada fase e cada aluno que passa por ela, desde as peculiaridades de cada jogo, brincadeira ou esporte que auxiliem o seu desenvolvimento integral. Entende-se que a criança tem como característica principal a intensidade de movimentos, e nesse aspecto é que a Educação Física é de fundamental importância no desenvolvimento da primeira infância. Cada fase do desenvolvimento infantil tem suas próprias características, assim, exigindo estudos aprofundados sobre os métodos pedagógicos, atuação intencional do professor na aula de Educação Física na Educação Infantil.

    A Educação Física na Educação Infantil é de suma importância visto que, o principal instrumento da mesma é o movimento, por ser o denominador comum de diversos campos sensoriais. O movimento é um dos eixos contemplados nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Quando a integração entre motricidade pensamento e emoção está ligada entre si, o desenvolvimento humano ocorre de forma global.

    A importância da Educação Física na Educação Infantil partir-se-á no que a infância representa na formação da personalidade do indivíduo, na qual a aprendizagem e desenvolvimento estão inter-relacionados desde que a criança passa a ter contato com o mundo.

Referências bibliográficas

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