Repercussão dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física nas séries finais do ensino fundamental das escolas estaduais do município de Porto Alegre, RS, Brasil La repercusión de los Parámetros Curriculares Nacionales de Educación Física en los niveles superiores de la enseñanza básica de las escuelas estatales del municipio de Porto Alegre, RS, Brasil |
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Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA) Especialização em Psicomotricidade (ULBRA) (Brasil) |
Leandro Pereira Tanger |
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Resumo A Educação Física no Brasil sofreu influencia de diversas abordagens pedagógicas no decorrer dos anos, com isso, fazendo com que os conteúdos e objetivos não ficassem bem claros aos profissionais da área. A mobilização de diversos órgãos da sociedade buscou criar um documento que desse um norte aos professores. Portanto foram criados os parâmetros curriculares nacionais (PCNs), para cada área do conhecimento escolar. Em cima disso, o trabalho buscou verificar o que os professores de Educação Física que lecionam para as séries finais do ensino fundamental, há mais de 15 anos em escolas estaduais de Porto Alegre, pensavam sobre os objetivos que deviam ser alcançados com a prática pedagógica desta área nos dias atuais e se essas metas tiveram alguma influência dos PCNs, durante a sua vigência. Para a obtenção de informações utilizou-se um questionário, que foi respondido por três professores que começaram a lecionar em épocas e escolas diferentes, possibilitando as visões de profissionais de décadas distintas. Com essa pesquisa concluiu-se que os PCNs são importantes, pois vem padronizar as abordagens metodológicas buscando um desenvolvimento corporal, mental e o bom relacionamento, sempre respeitando os traços culturais dos educandos. Porém o estudo revelou resultados preocupantes, com desinteresse dos professores com os outros conteúdos da educação física que constam no documento, que diversificam a prática, provocando maiores estímulos à participação dos alunos as aulas. Unitermos: Educação Física. PCNs. Professores. Objetivos. Conteúdos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Brasil possui dimensões continentais, com variações climáticas grandes à medida que nos aproximamos ou afastamos da linha do Equador, percorrendo de norte a sul e sul a norte. Ele apresenta somente uma língua como sendo oficial, o português, mas apresenta regiões com traços culturais distintos devido à influência de outros países.
Segundo David (2002), desde 1980 entidades educacionais, científicas, sindicais e partidos políticos, vêm unindo forças no intuito de constituir uma base comum nacional, com qualidade pedagógica e social, referências estas que devem ser usadas como base para formar professores em todo país. Então em 1994, inspirado no modelo educacional espanhol, o Mistério da Educação e do Desporto brasileiro, reúne um grupo de pesquisadores e professores com o intuito de elaborar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Em 1997, lançam-se os documentos para 1º e 2º ciclos (1ª a 4ª series do ensino fundamental). No ano seguinte são lançados os para 3º e 4º ciclos (5ª a 8ª series), quando também é lançado um documento especifico para área de Educação Física (DARIDO, 2001). As regiões brasileiras necessitavam de referências comuns no processo educativo, que respeitassem as diversidades regionais, culturais e políticas existentes no país, portanto foram criados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que visam auxiliar os alunos nas escolas na busca pelo exercício da cidadania, proporcionando-os acesso a conhecimentos elaborados e reconhecidos pela sociedade. Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Física visam dar informações importantes para os professores no que se refere à prática na área, disponibilizando instrumentos que ajudarão nas discussões, nos planejamentos e nas avaliações, propondo a democratização, à humanização e a diversificação da prática pedagógica, ampliando para as atividades com dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais, contrariando a visão apenas biológica do passado (BRASIL, 1998).
Para Darido e Neto (2005), existem várias formas de elaborar e aplicar às atividades de Educação Física na escola, as tendências influenciam os professores na maneira como aplicam as atividades em aula. As perspectivas pedagógicas não aparecem puras e apresentam várias influências, com isso, determinam as particularidades de cada profissional na aplicação prática. Portanto, Soares (2001) enfatiza que os parâmetros curriculares nacionais são importantes devido ao grande número de conhecimentos adquiridos pelos professores, os quais podem ser levados por diversas direções que dificultam a ação pedagógica.
Para Oliven (1995), há uma grande dificuldade na construção de uma identidade nacional como pregam os PCNs, devido ao interesse de intelectuais de diferentes grupos que competem e são vistos como detentores do poder e da autoridade legítima de serem guardiões da memória nacional, acabam tornando os debates confusos e difusos na implementação de um projeto curricular nacional. Quanto a isso, a memória coletiva está restrita a grupos menores que podem ser exemplificados pelas regiões brasileiras detentoras de suas tradições, e por isso particularizam-se. Já a memória nacional refere-se à nação, adquirindo maior amplitude englobando a sociedade como um todo e definindo-se como universal. Portanto, devido a essa complexidade fica difícil a construção de uma memória nacional e de uma identidade nacional brasileira.
Mais de treze anos se passaram desde a publicação dos PCNs, pouco tem se falado sobre o documento -benefícios que trouxe para o cotidiano da prática pedagógica nas escolas- por isso pairam dúvidas a respeito da importância deste na procura de melhorar o ensino no país. A partir dos antecedentes anteriores, formulou-se o problema de investigação: Qual a repercussão na prática do professor de Educação Física nas séries finais do ensino fundamental das escolas estaduais de Porto Alegre, depois de mais de dez anos de PCNs?
Material e métodos
O instrumento utilizado na investigação foi um questionário adaptado a partir do estudo de Darido (2001), composto por seis questões abertas, o qual foi aplicado em três professores de diferentes escolas. Os materiais utilizados foram folhas e canetas.
Optou-se pela aplicação dos questionários em três escolas localizadas próximas, para que tivesse a composição de alunos com poder aquisitivo semelhante. Outro aspecto controlado foi o tempo de docência dos professores.
Para que esse estudo tivesse um resultado preciso, foi padronizada a forma de aplicação do instrumento, evitando assim a possibilidade de viés no mesmo.
Os resultados foram analisados a partir de uma metodologia qualitativa, procurando identificar nas respostas dos questionários as categorias temáticas, para indicar similaridades e diferenças entre os três respondentes. A análise de conteúdo é proposta por (BARDIN, 2000).
Para que o confronto das respostas dos questionados facilitasse a discussão dos resultados, caracterizou-se os respondentes assim: o professor (1) leciona há mais de 33 anos, o professor (2) há mais de 23 anos e o (3) há mais de 15 anos.
Os dados obtidos foram comparados qualitativamente de acordo com as categorias temáticas identificadas em cada resposta do questionário utilizado.
Apresentação e discussão dos resultados
Para que o confronto das respostas dos questionados facilitasse a discussão dos resultados, caracterizou-se os respondentes assim: o professor (1) leciona há mais de 33 anos, o professor (2) há mais de 23 anos e o (3) há mais de 15 anos.
Os dados obtidos foram comparados qualitativamente de acordo com as categorias temáticas identificadas em cada resposta do questionário utilizado.
Objetivos gerais da educação no ensino fundamental
O professor 1 primeiramente equivocou-se, pois faz considerações até a 4ª série, o qual denominou até esse estágio como ensino fundamental. Ao falar sobre os objetivos, destacou as atividades recreativas (correr, saltar, aumento de força física, equilíbrio, coordenação e ritmo), ressaltando apenas atividades de desenvolvimento corporal como sendo importantes.
Já o professor 2 enfatizou que é preciso incentivar e valorizar a inclusão de todos na perspectiva de melhorar a participação, o prazer e a aprendizagem. Através da iniciação desportiva é preciso proporcionar aquisição e desenvolvimento de novas habilidades. Aos alunos deve-se possibilitar com o emprego útil do tempo de lazer a socialização e a implantação de hábitos saudáveis.
O professor 3 também destacou a integração e vai mais além, dizendo que se deve oportunizar ao aluno o desenvolvimento de suas potencialidades de forma democrática e não seletiva, para que ele possa, valorizar sua saúde, respeitar as características pessoais, adotar atitudes de solidariedade em situações lúdicas e sempre usar os conceitos desta disciplina nos momentos de lazer.
De acordo com Libâneo (1997), os objetivos antecipam resultados esperados daquilo que se deseja ensinar. Os objetivos gerais almejam grandes finalidades através da prática escolar que cunho social e pedagógico, por isso eles devem ambicionar metas referentes à educação, ao papel da escola, relativas às formulações da legislação, dos currículos oficiais do sistema e da escola. Na hora de formular os objetivos gerais, deve-se pensar causas sociais, em busca da democracia, da cidadania e da paz.
Segundo Sacristán (1998), currículo provém da palavra latina currere, que se refere à carreira, a um percurso que deve ser realizado e, por derivação, a sua representação ou apresentação. A escolaridade é um percurso para os alunos e alunas, e o currículo é seu recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade. Veiga (1995) salienta que o currículo é um importante elemento constitutivo da organização escolar, pois implica:
(...), necessariamente, a interação entre sujeitos que tem um mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que o sustente. Currículo é uma construção social do conhecimento, pressupondo a sistematização dos meios para que esta construção se efetive; a transmissão dos conhecimentos historicamente produzidos e as formas de assimilá-los, portanto, produção, transmissão e assimilação são processos que compõem uma metodologia de construção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currículo propriamente dito. Nesse sentido, o currículo refere-se à organização do conhecimento escolar (p.26).
Para COLETIVO DE AUTORES (1992) na Europa, no final do século XVlll e início do século XlX, surgem os jogos, ginásticas, dança e equitação, forma cultural que caracterizaria a sociedade burguesa no seu sistema escolar, que valorizava muito os exercícios físicos, pois os trabalhadores estando em bom estado físico se tornariam uma grande força de trabalho. No século XVlll, as escolas alemãs de ginástica partem para outros países da Europa e da América com o intuito de implantar a prática nesses países. Nas quatro primeiras décadas do século XX no Brasil, o idealismo da ditadura do estado novo faz com que se implante a militarização escolar a onde predominavam os métodos ginásticos. Após a segunda guerra mundial, surgem com a influência da cultura européia e como elemento da cultura corporal o esporte método desenvolvido pela educação física desportiva generalizada. Já Rodrigues (2002) destaca que a integração tem destaque como objetivo geral da Educação Física nos dias atuais, pois nos PCNs e dada ênfase na prevalência na formação de valores, atitudes, habilidades e competências que ajudarão os alunos na percepção das diversidades de padrões de beleza, saúde e desempenho entre as pessoas.
Nas práticas da cultura corporal de movimento os alunos deverão agir com dignidade, solidariedade e respeito, sempre contrariando qualquer tipo de violência. Eles deverão adquirir percepção de como conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar das diferenças culturais corporais do Brasil e do mundo, que servem de via de integração entre as pessoas e entre diferentes etnias e sociedades. Eles também deverão reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, prezando pela sua saúde e melhoria da saúde coletiva.
Devem adquirir condições de reivindicar uma vida digna para si e para os outros, percebendo quando existirem trabalhos que atrapalhem o crescimento e desenvolvimento das pessoas. Aprender a analisar criticamente os padrões colocados pelos meios de comunicação, reconhecendo os diferentes grupos sociais existentes, com isso evitando o consumismo e o preconceito. Com isso buscando a autonomia, conhecendo, organizando e interferindo no espaço, procurando uma melhor qualidade de vida através de reivindicação de locais para promoção de lazer, que são reconhecidos como uma necessidade do ser humano e um direito do cidadão (BRASIL, 1998).
Objetivos do trabalho com Educação Física nos anos finais do ensino fundamental
O professor 1 disse que é importante neste momento a iniciação desportiva, é só nesta fase que ele vem a destacar que é preciso incentivar a integração dos alunos.
Já o professor 2 disse que o objetivo geral e os objetivos específicos para os anos finais do ensino fundamental devem receber a mesma orientação, pois o ensino fundamental tem o mesmo objetivo até o final.
O professor 3 demonstrou maiores argumentos sobre o assunto, destacou novamente que os alunos devem conhecer e valorizar os aspectos relacionados ao lazer, concordando com o professor 2 e que também participar de atividades corporais, sempre respeitando e reconhecendo as diferenças de cada indivíduo na busca do respeito mútuo. Completou que os professores devem favorecer aos alunos o conhecimento de si mesmos, de suas capacidades e limites, além de desenvolver a opinião crítica a respeito dos assuntos impostos pela mídia e senso-comum.
Para Souza e Vago (1999) os professores de Educação Física deveriam observar a cultura de movimento dos alunos, que para eles é um dos elementos centrais na produção da cultura escolar de Educação Física. Bracht (1999) diz que ela fará com que o sujeito conheça seu corpo, buscando inter-relações com a ciência, a cultura e a sociedade, por isso através da cultura corporal reorganizará e transformará os saberes advindos dessas inter-relações (DAVID, 2002). Portanto Becker (1993) diz que o construtivismo é idéia de que, nada rigor esta pronto, acabado, e de que:
(...), especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do individuo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais, e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento (p.88-89).
Molina (2003) diz que uma das principais características da Educação Física escolar esta na forma como recebe os conhecimentos, que estes encontram-se desprovidos de unidade interna e em fragmentos e durante a prática pedagógica cotidiana sofrem união, com isso são denominados de fazer práxico. Porém Rangel e Darido (2005) acreditam que a Educação Física deve voltar-se para além do saber fazer, procurando que o aluno reflita sobre as atividades, suas finalidades, as atitudes e valores que estão envolvidos na prática, buscando a sua emancipação. Mas para chegar a essa formação o sujeito deve conhecer parte da cultura corporal de movimento, e através dela encontrar diversas possibilidades de práticas, que assim o tornarão um sujeito autônomo. Para isso, espera-se que alguns objetivos sejam alcançados ao final do ensino fundamental, dentre eles que os alunos sejam capazes de participar de atividades corporais sem discriminar colegas por diferenças pessoais, físicas, sexuais ou sociais, reconhecendo e respeitando seus limites físicos e os dos outros buscando participar de atividades de forma construtiva e de maneira equilibrada (BRASIL, 1998).
Segundo David (2002), hoje em dia o professor não deve ser somente um técnico que reproduz seus conhecimentos para os alunos, mas sim um profissional capaz de formar cidadãos aptos a tomarem decisões nas aprendizagens escolares, fazendo com que se tornem participantes dos processos pedagógicos. Com isso eles devem criar, atuar no mundo refletindo e modificando situações, contrariando o que é imposto pêlos opressores, que beneficiam-se com a sua exploração ao os tratarem como objetos e não como sujeitos históricos (FREIRE, 1987). Portanto, a prática pedagógica da Educação Física precisa conscientizar o aluno que todas as práticas corporais foram construídas pelo homem durante a história devido às necessidades de adaptação, e essas práticas se formaram pela relação do homem com a natureza e com outros homens (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Definição de PCNS
O professor 1 disse que é o currículo base e o professor (2) falou diretamente que são os Parâmetros Curriculares Nacionais sem fundamentar sua resposta. O professor 3 disse o que significa a sigla PCNs e para que serve, expondo que foi elaborado com o intuito de dar um “norte” ao trabalho pedagógico desenvolvido nas escolas.
Segundo Moreira (2001) são apresentadas algumas justificativas para definição dos PCNs. Uma delas pretende cumprir o que apresentado na Constituição Federal de 1998, que determina um número mínimo de conteúdos para formar uma base comum em todas as regiões do país. Outra quer buscar um aumento na qualidade do ensino fundamental, mas para isso, tem que buscar articulação nas diferentes idéias levantadas nos estados e municípios, que têm o objetivo de provocar reformulação curricular.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Física – 5ª à 8ª séries estão divididos em dois momentos. Na primeira parte, fala dos princípios que norteiam a Educação Física no ensino fundamental, mostram as influências, as tendências pedagógicas e o quadro atual na aplicação escolar, que tem como norteadora a cultura corporal de movimento que é relacionada com os temas transversais, fazendo assim a caracterização da Educação Física. Ainda nesta parte apresenta de forma geral sem muitos detalhes, aspectos conceituais, atitudinais e procedimentais relacionados à metodologia, conteúdos, objetivos e avaliação. Já na segunda se aprofunda mais, e apresenta critérios na busca na seleção de conteúdos, objetivos, métodos, avaliação e orientações didáticas para ensinar, na Educação Física dos 3º e 4º ciclos. Também se preocupam em detalhar os blocos de conhecimentos da cultura corporal de movimento.
De acordo com o último autor, a Educação Física está direcionada para cultura corporal de movimento, e que esta é constituída de blocos de conhecimento que estão divididos em: Primeiro bloco, esportes, jogos, lutas e ginásticas; o segundo, atividades rítmicas e expressivas; e o terceiro bloco, conhecimentos sobre o corpo. Ele ressalta que a cultura corporal de movimento é o objetivo de estudo da Educação Física escolar e relaciona-se com os temas transversais.
Para Galvão e Rodrigues (2005), a transdisciplinaridade (temas transversais) hoje ainda é mais um desejo que uma realidade, pois visa relacionar as disciplinas cientificas a temas a serem estudados, considerando a forma como o aluno vê o mundo, sua forma de pensar e raciocinar. Como forma de prender a atenção do aluno ao trabalhar com a transdiciplinaridade, são envolvidas temáticas do cotidiano dos alunos. Os autores destacam que os temas que constam nos parâmetros curriculares nacionais são considerados de urgência, pois expressão a realidade social do país, e por isso devem servir de reflexão, crítica e problematização nas escolas. Esses temas que constam no documento são: ética, meio ambiente pluralidade cultural, saúde, orientação sexual, trabalho e consumo.
Importância dos PCNS para a Educação Física
O professor 1 respondeu que não é dada ênfase aos PCNs. O professor 2 disse que também não tem importância, pois os objetivos propostos não foram alterados a partir dos PCNs.
O professor 3 afirmou que os PCNs são importantes porque favorecem a reflexão de novas metodologias e abordagens, visando os aspectos culturais e sociais de cada comunidade ou região, buscando a construção cultural do corpo como um todo, com o objetivo da despadronização do movimento repetitivo e técnico, resquícios da educação-física de uma época militarizada.
Soares (2001) indica que os componentes curriculares para a Educação Física, normalmente são escolhidos sem a participação dos professores que atuam cotidianamente nas escolas, com isso os documentos produzidos são deixados de lado nas bibliotecas escolares, pois os profissionais rejeitam as orientações de quais conhecimentos devem ser ensinados, devido à democratização do ensino público e a falta de um mecanismo de controle administrativo eficiente. Por isso, segundo Oliven (1995), pesquisas etnográficas devem ser feitas para auxiliar na escolha dos saberes que farão parte do componente curricular da Educação Física, pois coletam dados importantes com os autores sociais envolvidos diretamente, colaboradores, alunos e principalmente professores. Portanto reflexões são necessárias na escolha do componente curricular de Educação Física no ensino fundamental, pois as mudanças demoram a acontecer e os professores assim mesmo têm que atender os alunos (SOARES, 2001).
Ocorrência de mudanças a partir dos PCNS
O professor 1 respondeu que não percebeu mudanças e o professor 2 responde diretamente não, sem fundamentar sua resposta.
Já o professor 3 disse que em parte sim, mas ainda vê escolas que não consideram os aspectos tratados nos PCNs, pela insegurança dos educadores que não se sentem capacitados em abordar alguns assuntos, como por exemplo: as lutas ou as danças.
Para Soares (2001) alguns conteúdos propostos nos PCNs como lutas e danças ainda não são incorporados aos currículos escolares, porque muitos professores não encontram-se preparados para aplicação dos mesmos, por não terem adquirido essas competências em sua formação docente. Outra dificuldade que os profissionais encontram na transmissão desses saberes é a dificuldade de adaptação às condições existentes em cada escola, com isso acabam se acomodando em lecionar práticas mais usuais, futebol, voleibol e corridas.
Para Gallardo (2002), o aumento exponencial de instituições de ensino superior que formam professores de Educação Física, tem contribuído pouco para a evolução da área. Essa proliferação de faculdades no Brasil tem acentuado a formação de novos professores de forma “descuidada”, onde não existe uma formação profissional, mas sim uma capacitação técnica que implica um não aprofundamento da questão do entendimento da complexidade do ser humano, fator importante quando se lida com o ensino-aprendizagem no contexto escolar. Por isso, é função das Licenciaturas em Educação Física é preparar academicamente um profissional que seja capaz de ensinar, compreender, descrever e sistematizar qualquer atividade da cultura corporal, e aplicar esses conhecimentos em qualquer âmbito de atuação profissional (vivência, prática e treinamento), já que ele é o especialista em motricidade humana. Kunz (2001) vai mais além e afirma que a formação acadêmica dos professores de Educação Física deve ter como eixo central capacitá-los para agirem pedagogicamente em diferentes instituições. Acima de tudo o profissional desta área é um educador, logo ele é responsável individualmente e coletivamente pela ação social solidária que é identificada na profissão docente.
Conteúdos da Educação Física nos anos finais do ensino fundamental: dimensões conceituais (informações, fatos, noções), procedimentais (saber fazer) e atitudinais (normas, valores, atitudes)
O professor 1 respondeu que a Educação Física atualmente na escola trabalha com os alunos na prática desportiva, o respeito, valores e noções de regras básicas. O professor 2 disse que através do desporto, deve-se proporcionar aos alunos que cheguem aos objetivos que ele citou, quando questionado referente aos objetivos gerais da Educação Física no ensino fundamental e objetivos no trabalho com Educação Física nos anos finais do ensino fundamental.
Já o professor 3 ao contrário de seus colegas, mostrou-se empolgado para responder a pergunta e descreveu um pouco sobre a prática adotada na sua escola, onde buscam desenvolver um projeto diferenciado na educação física que atenda às necessidades da comunidade. Para esse, as aulas acontecem em turno diferente das outras disciplinas, favorecendo o desenvolvimento deste projeto. O trabalho é feito por oficinas (dança, tênis, vôlei e futsal) onde os alunos escolhem o que mais lhe interessa. Atualmente eles oferecem estas modalidades, pelo fato da insegurança dos profissionais em lecionar outras, conforme mencionado na questão anterior. Em outro momento foi oferecido o judô que era adaptado às condições de infra-estrutura que possuíam. Indicou que as modalidades vão se reciclando e adaptando-se devido aos interesses comuns, que elas servem como base para desenvolvimento de outros aspectos, considerados mais importantes tais como a busca de espaço de inter-relação e construção de conhecimentos indispensáveis para o exercício da cidadania, tendo em vista uma postura crítico transformadora da realidade social, que vão ao encontro do Projeto Político Pedagógico da escola.
Segundo Rangel e Darido (2005), na perspectiva dos PCNs os conteúdos são meios pelos quais o aluno deve analisar e abordar a realidade de forma que, com isso, possa ser construído uma rede de significados em torno do que se aprende na escola e do que se vive.
Para o Coletivo de Autores (1992), qualquer disciplina baseia-se em um programa e este possui conhecimentos, conteúdos de ensino organizados sistematicamente, neles também se encontra o tempo para assimilação dos conhecimentos e os caminhos para o ensino, que são os procedimentos didático-metodológicos. Libâneo (1997) fala que os objetivos propostos precisam de caminhos, que estruturam o ensino e a aprendizagem escolar. Esses caminhos são os conteúdos, que formam a base pedagógica que serve de estrutura para o trabalho, podem ser definidos como um conjunto de conhecimentos princípios e valores que tiveram importância num determinado tempo da história. Para Freire (1987), a educação deve se dar através do diálogo entre professor e aluno, o conteúdo deve ser passado como um problema que é organizado e constituído para ser visualizado no mundo dos educandos, onde estão seus temas geradores.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, para a aprendizagem de atitudes é necessária uma prática constante, coerente e sistemática, em que valores e atitudes almejadas sejam expressos no relacionamento entre as pessoas e na escolha dos assuntos a serem tratados. Além das questões de ordem emocional, tem relevância no aprendizado dos conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a um grupo social, com seus próprios valores e atitudes. Tendo em vista, anteriormente, a escola segue conforme os PCNs, tendo uma abordagem pedagógica baseada no âmbito social do aluno, contrária ao autoritarismo (RODRIGUES, 2002).
Para Coletivo de Autores (1992) os conteúdos que servem para os alunos refletirem pedagogicamente na escola, levando-os a entenderem sentido e significado, são os de importância social. Deste modo, o estudante toma consciência de que classe social faz parte, através da sua vinculação com a realidade. Por isso o currículo deve manter conteúdos atualizados, que farão com que os alunos estejam sempre bem informados sobre avanços científicos e técnicos. É por meio do corpo que se interage com o meio ambiente que cerca, pois é complexo e não é formado apenas por coisas e animais, mas também por pessoas. Nesse sentido são os aspectos pessoais presentes no corpo, que permitem estabelecer relações inter-pessoais com outros seres humanos, considerando os aspectos presentes nos corpos (NETO e LORENZETTO, 2005).
Segundo Coletivo de autores (1992), o conteúdo que a Educação Física escolar trata pedagogicamente é a cultura corporal, que tem como objetivo usar a expressão corporal como linguagem, que estão evidenciadas nas atividades corporais através dos jogos, esportes, ginásticas, danças e outras, que fazem parte do seu conteúdo de ensino. Já Kunz (2001) da maior ênfase ao esporte como o principal campo do conhecimento da Educação Física nos dias atuais, chegando a dizer que há um processo de esportivização desta área. Segundo ele, o esporte é a manifestação mais visível e principal referência da cultura de movimento, pois é uma prática corporal que demonstra e ajuda a ratificar princípios e valores. Portanto, as aulas devem ser cada vez mais críticas e complexas procurando sempre reflexão a partir de conteúdos procedimentais, atitudinais e conceituais.
A dimensão procedimental diz respeito ao saber fazer. No que diz respeito à dimensão atitudinal, esta se referindo a uma aprendizagem que implica na utilização do movimento como um meio para se alcançar um fim, mas esse fim não necessariamente se relaciona a melhora na capacidade de se mover efetivamente. Nesse sentido, o movimento é um meio para o aluno aprender sobre seu potencial e suas limitações. Já a dimensão conceitual significa a aquisição de um corpo de conhecimentos objetivos, desde aspectos nutricionais até sócio-culturais como a violência no esporte ou o corpo como mercadoria no âmbito dos contratos esportivos (BRASIL, 1998).
Rodrigues (2002) deduz que, a cultura corporal de movimento que é o objeto de estudo para a Educação Física, encontra-se especificado nos parâmetros curriculares nacionais marcados pelo ecletismo na tentativa de união da abordagem crítico-emancipatória que defende a cultura de movimento, com a abordagem crítico-superadora que defende a cultura corporal. Já Soares (2001) ao comentar este ecletismo, salienta que os PCNs de Educação Física causam preocupação à medida que destacam a cultura corporal e a cultura de movimento como referências na escolha de conhecimentos a serem transmitidos, ao não salientarem os saberes que foram escolhidos nestas vastas culturas, causam um grande problema para os professores na elaboração do currículo escolar.
A concepção educacional crítico-emancipatória, prima para formação de um sujeito autônomo e consciente da cidadania, e que isso, tem igual ou maior importância do que adquirir competência para o âmbito do trabalho. Por isso a Educação Física deve contribuir não somente para o “saber fazer” que são as competências objetivas, mas também sempre de forma crítica, deve desenvolver competências sociais e criativas (KUNZ, 2001). Já concepção crítico-superadora, utiliza o discurso da justiça social como ponto de apoio e é baseada no marxismo e neo-marxismo, tendo recebido na Educação Física grande influência dos Educadores José Libâneo e Demerval Saviani. Ela levanta questões de poder, interesse, esforço e contestação. Acredita que qualquer consideração sobre a pedagogia mais apropriada deve versar não somente sobre questões de como ensinar, mas também como elaboramos conhecimentos, valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico (DARIDO e NETO, 2005).
Conclusão
Constatou-se com o estudo que os PCNs revelam a união de idéias e convicções, as quais vem se moldando há vários anos na práxis da Educação Física escolar. A temática corrente da área não é somente voltada para a concepção de competências físicas, mas também de desenvolver atitudes de respeito aos limites dos outros com solidariedade, assim integrando a todos nas atividades. Mas os resultados são preocupantes porque demonstraram o desinteresse dos professores com os PCNs, à medida que não deram importância devida aos outros conteúdos que constam no documento, que através da diversificação servem de alternativas para estimular os alunos à prática da Educação Física. Também contribuíram para esse desinteresse, a falta de políticas consistentes de formação continuada, que fariam os professores se atualizarem as necessidades impostas à área atualmente, com isso, os tornariam aptos a aplicação das propostas dos PCNs. Portanto, recomendações são importantes para que estes assuntos sejam mais pautados no meio acadêmico, que reflexões sejam feitas com o conteúdo presente neste documento tão importante que são os PCNs, na busca de uma melhor tomada de consciência dos professores do que se trata o trabalho escolar nos dias atuais.
Referências
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BRACHT, Valter. Educação física e ciência: cenas de um casamento (in)feliz. Ijuí: Ed. Unijuí, 1999. 160p. Coleção Educação Física.
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental.
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DARIDO Suraya Cristina; RANGEL, Irene Conceição Andrade. (Coord.) Educação Física na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005.
FREIRE, Paulo, Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
KUNZ, Elenor (Orgs.). Didática da Educação Física. Ijuí, 2001. 160p. (Coleção Educação Física).
LIBÂNEO, José Carlos. Didática/ José Carlos Libâneo. São Paulo: Cortez, 1997.
MOREIRA, Antônio Flávio. Os parâmetros curriculares nacionais mais uma vez em questão. Rio de Janeiro. Mimeo, 2001.
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OLIVEN, R.G. O global, o nacional e o regional. A Sociologia entre a modernidade e a contemporaneidade. Número especial. 1995, p.195-208.
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SACRISTÁN, J. Gimeno; GÓMEZ, A. I. Pérez. Compreender e transformar o ensino. 4 ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
VEIGA, Ilma Passos de Oliveira. Projeto Político-Pedagógico da Escola: uma construção coletiva. In: VEIGA, Ilma Passos de Oliveira (org.). Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível. Campinas, SP: Papirus, 1995.
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