O saber a partir da oficina de experiência docente El conocimiento a partir del taller de práctica docente
	*Acadêmica de Educação Física, Licenciatura. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus Santo Ângelo **Professor Mestre de Educação Física. Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, Campus Santo Ângelo	Tainara Garcia Machado* Carlos Augusto Fogliarini Lemos** tainara_garcia88@hotmail.com (Brasil)
	Resumo           O artigo aborda o saber a partir da experiência docente apresentando as Disciplinas de Oficina de Experiência Docente, sendo fundamentais na formação inicial do acadêmico. Desde o inicio do Curso as disciplinas oportunizam as tarefas de observação, planejamento, execução e reflexão sobre situações contextualizadas de ensino, resolvendo situações-problema que são características do cotidiano docente sempre se remetendo a pensar em formas diferentes de aplicação.           Unitermos: Experiência docente. Formação inicial. Disciplinas.   Abstract           This article addresses the knowledge from the teaching experience presenting the Disciplines Workshop Experience Lecturer, being instrumental in the academic training. Since the beginning of the course subjects nurture the tasks of observation, planning, execution and reflection on the contextualized learning, problem-solving situations that are typical everyday teaching always think of referring to different ways of application.           Keywords: Teaching experience. Initial training. Courses.
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus Santo Ângelo construiu uma proposta curricular para o Curso de Educação Física – Licenciatura colocando à prática pedagógica como elemento articulador do processo de formação dos professores de Educação Física.

    Conforme a Resolução CNE/CP 01, de 18 de fevereiro de 2002, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, graduação plena, estabelece no art. 6 que na construção do projeto pedagógico dos cursos de formação dos docentes, devem ser considerados entre outras “as competências referentes ao domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar” (item I) como também “as competências referentes ao domínio do conhecimento pedagógico” (item IV).

    Além do mais, no art.12º §2º consta que a prática deverá estar presente desde o início do curso e permear toda a formação do professor, acrescentando ainda no art. 13º §1º que a prática será desenvolvida com ênfase nos procedimentos de observação e reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com o registro dessas observações realizadas e a resolução de situações problemas.

    A Resolução CNE/CP 02 (2002) complementa que:

“a carga horária dos cursos de formação de professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante integralização de no mínimo 2.800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas ao longo do curso” (p. 1).

    Neste sentido, há no Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Licenciatura em Educação Física da URI 05 (cinco) disciplinas específicas que estabelecem a relação teórica-prática que se denominam de Oficina de Experiência Docente (OED), todas relacionadas às metodologias de ensino, tanto de esportes individuais como dos esportes coletivos.

    As disciplinas de OED são oferecidas a partir do 1º semestre do curso permeando toda a formação docente privilegiando o processo de aprender fazendo, o aluno docente tanto aprimora e reelabora seus conhecimentos sobre os conteúdos curriculares pelos quais é responsável e aprofunda o seu entendimento das especificidades dos diferentes momentos de aprendizagem e das características próprias dos alunos das diversas etapas da Educação Básica.

    Nesta perspectiva, o presente artigo tem por objetivo apresentar a operacionalização do eixo articulador das dimensões teóricas e práticas na formação inicial de professores de Educação Física da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus Santo Ângelo.

Operacionalização das práticas pedagógicas

    As disciplinas de OED são realizadas aos sábados pela manhã, onde os acadêmicos individualmente ou divididos em grupos, ministram aulas de Educação Física para alunos de escolas municipais e estaduais conveniadas com a Universidade sempre com a participação presente do professor da respectiva OED.

    Na OED I os alunos aprendem a elaborar planejamentos relacionados ao atletismo e a ginástica. Realizam estudos sobre referenciais enfatizando o papel da escola e o papel do professor. Ao longo do semestre os acadêmicos são colocados em contato com situações de aprendizagem que desenvolvam os saberes da experiência vinculando a prática pedagógica.

    No final da disciplina é realizada a Copa URI de atletismo, onde os acadêmicos colocam em prática conhecimentos em relação aos aspectos específicos do atletismo como técnicas, regras e arbitragem, além dos saberes da experiência relacionada à organização do evento. Nesta OED também se realiza a ginastrada na qual os acadêmicos divididos em grupos realizam apresentações que devem constar elementos de correr, saltar, rolar, equilibrar, entre outros.

    A natação e a ginástica esportiva são abordadas na Oficina de Experiência Docente II. Na temática que envolve a ginástica esportiva os acadêmicos divididos em trios ou quartetos além de ministrar aulas de saltos, giros, rolos e balanceios, realizam auxílio aos demais colegas e escolares, desenvolvem procedimentos de observação e auxiliam na organização dos materiais.

    A prática pedagógica da natação se desenvolve em 08 (oito) aulas, com a finalidade de adaptar os escolares ao meio líquido. Os acadêmicos inicialmente observam uma aula de natação nas mais diversas instituições que oferecem a modalidade nos municípios da região noroeste do Rio Grande do Sul, para que a partir desta análise possam ter conhecimento de como se transcorre uma intervenção de natação para crianças. Outra tarefa realizada é a elaboração de um diagnóstico de uma aula ministrada pelo professor da disciplina de OED aos escolares que participarão das aulas de natação. Após estes procedimentos ocorre o planejamento das atividades que serão desenvolvidas nas aulas subseqüentes em que os escolares divididos em duplas ou trios serão designados aos acadêmicos ministrarem as demais aulas. As atividades desenvolvidas relacionam-se as habilidades motoras aquáticas básicas como entradas e saídas da água, deslocamentos, imersões, abertura dos olhos sob a água, equilíbrio dorsal, ventral e vertical, saltos, lançamentos e recepções, deslizamento ventral e dorsal, respiração, propulsão e nado rudimentar sempre utilizando o elemento lúdico nas atividades. Após as aulas há uma reflexão para expor as dificuldades encontradas e se o planejamento foi realizado como planejado.

    Na OED III, que se refere ao futsal/futebol e a dança, os acadêmicos divididos em grupos inicialmente ministram aulas para seus próprios colegas para vivenciar a experiência da docência e em um segundo momento são divididos em grupos para ministrarem aulas para os escolares das escolas conveniadas. Assim em cada encontro dois grupos ministram as aulas e os outros grupos de acadêmicos auxiliam, observam e apontam dúvidas e sugestões para após o término da aula refletir sobre o planejamento e a execução da mesma. Acrescenta-se a isto que ao final da disciplina devem confeccionar um relatório contendo todas as aulas ministradas.

    A modalidade de handebol e basquetebol é abordada na OED IV, sendo que a partir desta disciplina inicia-se um processo diferente em que são os acadêmicos é que se deslocam até as escolas conveniadas para a realização das aulas oportunizando assim, mais autonomia tanto no planejamento quanto na execução das aulas. Ocorre que nas duas primeiras aulas todos os alunos realizam o diagnóstico da mesma turma e avaliam a aula, e somente após que inicia o processo da docência sob supervisão docente. Acrescenta-se que sempre ao final de cada aula os acadêmicos deslocam-se até a Universidade para a avaliação das mesmas, apontando sugestões, bem como, ressaltando os pontos positivos e negativos da intervenção.

    Ao término da oficina é realizado o Mini Festival de Handebol para os escolares participaram do evento como forma de integração entre todas as escolas conveniadas.

    O esporte voleibol é a quinta e última modalidade abordada nas OED, que também é realizada nas escolas conveniadas. O planejamento e a execução das aulas são realizados neste momento individualmente, como forma de preparação para iniciar os estágios. Durante a semana é feito orientação com todos os acadêmicos, onde se procura expor as facilidades e/ou dificuldades, para que todos reflitam e auxiliem na solução do seu problema ou dos colegas. No término desta OED é realizado o Festival de Mini-voleibol, sendo convidados todos os alunos participantes das diversas escolas conveniadas onde cada acadêmico é responsável pela escola que ministrou as aulas.

    Assim, as disciplinas de OED tem o objetivo de auxiliar no amadurecimento pessoal do estudante e na sensibilização para as atividades didático-pedagógicas a partir da articulação de conhecimentos pedagógicos de conteúdos específicos das diversas modalidades esportivas, sob a orientação e supervisão docente. Também compreendem a observação e reflexão de situações contextualizadas de ensino, a resolução de situações-problema características do cotidiano docente no ensino de conteúdos específicos, o planejamento didático e estudos individuais (PPC, 2006).

    Neste sentido, Nascimento (2002), afirma que durante o planejamento das aulas, os docentes devem procurar realizar decisões mais planejadas e organizar melhor as situações de aprendizagem para o aluno, de modo a que os estudantes demorem menos tempo para compreender o exercício planejado, podendo então reproduzir igual ou melhor do que a demonstração apresentada.

    Segundo o mesmo autor é na formação inicial que objetiva-se o aperfeiçoamento das qualidades e responsabilidades profissionais. Assim, nas OED as vivências determinam padrões de interação diferenciados, bem como emanam situações de desafios e de apoio ou suporte adequado ao estudante.

    Por isso, se faz necessário para a aprendizagem do acadêmico a orientação, pois se deve incentivar o mesmo a refletir, através da prática da ação-reflexão-ação, o qual é apontado na resolução de situações-problema com uma das estratégias didáticas privilegiadas (CNE/CP/01). Nesta mesma linha, Neira (2003) afirma que essa nova tendência investigativa sobre a formação de professores valoriza mais o aprendizado denominando de professor reflexivo.

    Neste sentido, isso minimiza a possibilidade de planejar uma aula com falhas, por que além da reflexão, tem-se o auxílio do professor orientador da OED. Por mais que ele observe que a aula descrita não terá o desempenho esperado, o mesmo admite que o acadêmico descubra na prática, que nem tudo que se planeja, consegue-se executar. Daí a importância do orientador, em fazê-lo refletir porque não acontece conforme planejado e quais seriam então outras variações possíveis para a mesma atividade (MARCON, 2004).

    Conforme o PPC (2006) o Curso deverá oferecer possibilidades de apropriação do conhecimento por meio do ensino, pesquisa e extensão que permita ao aluno um domínio de competência de natureza técnica-instrumental estruturado a partir de uma atitude crítico-reflexivo.

    Talvez, por todo o contexto que envolve a docência, exige-se dos acadêmicos que desenvolvam um ensino de qualidade, que sejam professores competentes, pois segundo Neira (2003) “as competência são capacidades de natureza cognitiva, sócio-afetivas e psicomotoras que se expressam de forma articulada em ações cotidianas influindo, de forma significativa, na obtenção de resultados distintos de qualidade”.

    Saber algo significa que o sujeito particular se apropria dos conteúdos de seu meio, incorpora neles sua própria experiência, conseguindo realizar, assim, tipos heterogêneos de ações cotidianas (PIMENTA, 1996).

    Ou seja, todo o conhecimento teórico adquirido no decorrer do ensino superior, juntamente com as vivências práticas da OED, auxilia no planejamento das aulas durante o estágio. Nesta relação, procura-se articular a teoria na pratica cotidiana, de maneira simples e objetiva, possibilitando, maiores acertos na execução dos planos de aula, formando assim as competências necessárias na formação do professor.

    Outro motivo é que uma competência completa exige reconhecer quando a habilidade pode ser usada e se ela está sendo utilizada corretamente (COSTA, 2005). Essa sensibilidade de reconhecer as situações práticas é proporcionada pela OED, que aos poucos os acadêmicos conseguem identificar em determinadas aulas e no decorrer da vida aprimoram tal competência.

    Até mesmo por que, as experiências vivenciadas durante as etapas iniciais da carreira docente, talvez, tenham um impacto ainda maior por se tratar de um momento de grande indefinição e conflito para o educador em formação. E, dependendo do que encontrarem pela frente, isso pode determinar inclusive sua permanência ou não na profissão (PEREIRA, 2010).

    Essa é a função da oficina, preparar o acadêmico para quando realizar o estágio, já ter uma breve experiência e conhecimento da realidade escolar, o docente não vai se deparar de repente com uma turma de trinta alunos, com os quais nunca tinha visto antes, tendo apenas o plano de aula, e um pavor de estar sozinho com os alunos.

    Forma-se assim, um perfil profissional do Licenciado em Educação Física, onde sua função é esclarecer e intervir profissionalmente e academicamente no contexto específico e histórico-cultural a partir de conhecimentos de natureza técnica cientifica e cultural. Atuando como educador nas instituições de ensino, com competências variadas, conforme PPP (2007).

Considerações finais

    De acordo com o objetivo deste relato o que o Curso de Licenciatura em Educação Física da URI – Campus Santo Ângelo proporciona aos licenciados de Educação Física é muito importante para a vida profissional dos futuros professores, pois permite o contato direto entre os acadêmicos e escolares, em que onde a possibilidade de discutir sobre as atividades realizadas são instantâneas.

    Nesta perspectiva, as Oficinas de Experiência Docente oportunizam os acadêmicos desde o inicio do Curso as tarefas de observação, planejamento, execução e reflexão sobre situações contextualizadas de ensino, resolvendo situações-problema que são características do cotidiano docente sempre se remetendo a pensar em formas diferentes de aplicação.

    E, são esses componentes que propiciam o amadurecimento do acadêmico, pois as situações vivenciadas são singulares, e por mais que se aproximem os objetivos das aulas seu andamento será diferente e os alunos realizarão de forma diferente e única. Portanto, as atividades realizadas nas Oficinas de Experiência Docente vêm reforçar a necessidade para a construção de competências pedagógicas, algo defendido pela Universidade.

Referencias bibliográficas

• MARCON, Daniel. As Práticas de ensino e a construção das Competências Pedagógicas: o caso do curso de Licenciatura em Educação Física de Universidade de Caxias do Sul-RS. 2004. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Universidade Federal de Santa Catarina, 2004.

• NASCIMENTO, Juarez. V. Formação Profissional em Educação Física. Contextos de desenvolvimento curricular. Montes Claras. Ed. Unimontes. 2002.

• NEIRA, G. Marcos. Desenvolvendo competências, Ed. Phorte Ltda, São Paulo, SP, 2003.

• NÓVOA, Antonio. Diz-me como ensinas e dir-te-ei quem és e vice-versa. In: FAZENDA, Ivani (org.). A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. 2. Ed. Campinas: Papirus. 1997.

• PERROUD, Philippe. Oficio de aluno e sentido do trabalho escolar. Porto: Porto editora, 1995.

• Projeto Político Pedagógico de Graduação no curso de Educação Física, modalidade Licenciatura, URI, 2006.

• SCHMIDT, R.A.; WRISBERG, G.A.: Aprendizagem e Performance Motora. Uma abordagem da aprendizagem baseada no problema, 2ºed. Porto Alegre-RS, Artmed, 2001.

• TARDIF, Maurice et al. Teoria e educação 4. Os professores de face ao saber: Esboço de uma problemática do saber docente. 1991.

• PEREIRA, Júlio E. D. A epistemologia da experiência na formação de professores: primeiras aproximações. Revista Brasileira de Pesquisa sobre Formação de professores. Volume 02, n. 02 jan.-jul. 2010.

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