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‘Cai prá dentro mano’: o rap como possibilidade de lazer

‘Me metí p’adentro hermano’: el rap como posibilidad de recreación

 

*Doutor em Educação Física pela UNICAMP Professor Adjunto do Departamento

de Educação Física e do Programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas

da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR

**Formada em Serviço Social pela Universidade Estadual de Ponta Grossa/PR (UEPG)

Mestre pelo Programa de Mestrado em Ciências Sociais Aplicadas (UEPG)

***Doutora em Serviço Social pela PUC-SP. Professora Associada

do Departamento de Serviço Social e do Mestrado em Ciências Sociais Aplicada

da Universidade Estadual de Ponta Grossa, PR

Constantino Ribeiro de Oliveira Jr*

constantino@uepg.br

Naja Kayanna Polichuk**

najapolichuk@msn.com

Solange Aparecida Barbosa de Morais Barros***

solangebarros@brturbo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Esse artigo tem objetivo de refletir sobre o universo do rap como possibilidade de lazer a partir das considerações sobre lazer de um grupo de rappers que fazem parte do Movimento Hip-Hop em Ponta Grossa- Pr. O Hip-Hop é um movimento sócio-cultural e é composto por quatro elementos: o rap, o grafitti, o break e o DJ. Já o lazer é um conceito que apresenta vários entendimentos, dentre os quais, temos em Elias o foco da interpretação para lazer nesse artigo. Para realizar a pesquisa utilizamos como metodologia à abordagem qualitativa, para a coleta de dados fizemos entrevistas semiestruturadas e observações, e, na análise dos dados optamos pelo método Hermenêutico de interpretação.

          Unitermos: Lazer. Rap. Hip-Hop.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A popularização do termo lazer que vivenciamos hoje, onde a maioria das pessoas são capazes de falar dele, definindo-o ou praticando-o, nos faz perceber que esse fenômeno está nas práticas sociais e presente no cotidiano.

    O lazer pode ser associado ao trabalho, ao tempo livre e ao consumo. Contudo uma das formas de compreender o lazer apresenta-se como independente da sua relação com o trabalho, focando suas bases na busca pela excitação, pelas emoções e por sentimentos que durante o processo de desenvolvimento da sociedade foram sendo controlados.

    É nessa perspectiva que procuramos pensar o lazer, dentro do contexto das busca por emoções. Temos como palco o movimento Hip-Hop e, em específico um dos seus elementos, o rap . Para iniciar esse artigo traremos considerações sobre os aspectos conceituais da teoria elisiana.

Aspectos conceituais

    O processo civilizador que o autor Norbert Elias trabalha em seus estudos, revela o lazer como sendo um fenômeno construído historicamente. Sendo assim, não podemos simplesmente dizer quando e como o lazer surgiu, pois, as modificações que decorrem de um processo histórico-social não podem ser entendidas como fruto de planos racionais. Contudo, é possível afirmar que essas ações são fruto de atos humanos (ELIAS, 1994).

    Por isso procuramos compreender o lazer por meio da teoria configuracional, pois, essa teoria revela que os fenômenos que ocorrem na sociedade não devem ser compreendidos de maneira estática, mesmo porquê essas relações são mutáveis.

    O esses fenômenos constituintes de padrões altamente mutáveis e inconstantes são criados e mantidos por seres sociais, e, a sociedade [...] “exerce influência sobre cada ser humano, cada eu individual” (ELIAS, 1980, p. 21), mas há uma inter-relação entre os indivíduos e a sociedade.

    Em Norbert Elias há uma amplitude de concepções para se entender a sociedade, em razão do autor buscar analisar não somente o indivíduo em si, mas sim conceitos de formação, interdependência, equilíbrio das tensões.

    Elias ao analisar e entender a sociedade como um processo de evolução e de desenvolvimento social acreditava que: “[...] as pessoas constituem teias de interdependência ou configurações de muitos tipos, tais como famílias, escolas, cidades, estratos sociais ou estados” [...] e que “[...] cada uma dessas pessoas constitui um ego ou uma pessoa, como muitas vezes se diz numa linguagem reificante. Entre estas pessoas colocamo-nos nós próprios." (Elias, 1970, p. 15-16).

    Dessa maneira já é possível visualizar que para Elias a compreensão dos fenômenos na sociedade só é possível a longo prazo, pois é partir da compreensão das evoluções de longa duração que poderemos compreender com mais cientificidade os fatos atuais.

    Mas e o lazer? O lazer é refletido na obra o Processo Civilizador onde Elias demonstra que os indivíduos, nesse longo processo, refrearam suas pulsões, aumentando seu autocontrole por meio de mecanismos externos expressos em leis e mecanismos internos na mudança do patamar dos sentimentos de vergonha e delicadeza (ELIAS,1994), e isso possibilitou a formação de uma sociedade com regras e leis que acabaram por influenciar a vida e os sentimentos das pessoas.

    Esse contexto em que as emoções foram sendo restringidas pode ser compreendido no relato do processo civilizacional de longa duração descrito em o Processo Civilizador escrito por Norbert Elias (1994).

    Em O Processo Civilizador (1994) o autor utiliza poemas (Tischzuchten) escritos em meados do século XIII sobre boas maneiras e como se comportar, por exemplo, a mesa, para dizer que o comportamento, os hábitos e as regras mudam, e também demonstrar como os indivíduos foram condicionados a essas mudanças:

    Apesar dos escritos de Elias estabelecerem a questão do controle das emoções, tendo como foco a sociedade européia, construindo uma teoria centrada na Europa, não significa dizer que se trata de uma teoria eurocêntrica. Sendo assim, esses poemas demonstram uma série de regras que os indivíduos deveriam se adaptar, e na maioria das vezes se adaptam, não precisando necessariamente serem europeus (ELIAS, 1994).

    Vejamos um exemplo de comportamentos citado pelos autores no livro O Processo Civilizador, item IV- Do comportamento à Mesa:

Século XIII

    Vejamos o poema de Tannhiiuser sobre as maneiras corteses:

  • 1. Considero homem bem educado aquele que sempre pratica boas maneiras e nunca se Mostra grosseiro.

  • 2. Há muitas formas de boas maneiras e elas servem a muitos bons fins. O homem que as adapta nunca erra.

  • 25. Quando comes, não esqueças os pobres. Deus te recompensara se os tratares bondosamente (ELIAS, 1994, p. 96).

    E assim como os hábitos e maneiras de se comportar à mesa as emoções também foram sendo controladas, e isso não necessariamente ocorreu de uma hora para outra, e elas também não foram proibidas por serem anti-higiênicas, mas sim, porque geravam associações desagradáveis. Assim, padrões de comportamentos que eram considerados naturais passam a serem repudiados e essas práticas novas era repassadas as crianças, que por sua vez, incorporavam esses comportamentos reprimindo não só a conduta mas o sentimentos e as emoções. Pois “Gente fina não faz isso". E o desagrado com tal conduta, que e assim despertado pelo adulto, finalmente cresce com o hábito, sem ser induzido por outra pessoa. (ELIAS, 1994, p. 134).

    Assim a conduta e o modo de se viver se enraíza no subconsciente humano provocando uma espécie de controle que [...] “em parte – já não se encontra sob o seu domínio. Tornou-se um aspecto da estrutura profunda da sua personalidade” (ELIAS, DUNNIG, 1992, p.103), que ao se transformar gera uma espécie de tabu, vergonha e repugnância, que passa a constituir uma luta no interior do indivíduo (ELIAS, 1994). Nesse sentido o indivíduo se depara com certas emoções que devem ser veladas, como por exemplo, chorar em público ou então expressar medo ou raiva.

    Contudo, apesar dos indivíduos terem se adaptado a uma ordem vigente, seus instintos permanecem sob uma espécie de controle da emoção. Elias cita alguns exemplos tendo por base o instinto da agressividade: as mutilações de prisioneiros pela honra do Rei, a tortura e mutilação dos pobres, e a matança dos devedores e ladrões (ELIAS, 1994).

    E, a partir desse controle estabelecido surge a necessidade de buscar o autocontrole e equilíbrio por meio das atividades que, de algum modo, possam aliviar as emoções reprimidas, liberando-as, e que, a excitação exercida por elas esteja dentro de um plano aceitável pela sociedade, pois:

    Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações são convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo (ELIAS, 1994, p. 270).

    Sendo assim, as próprias sociedades humanas desenvolveram formas de alívio destas tensões e emoções reprimidas por meio de atividades de lazer, que por sua vez, proporcionariam sensações agradáveis e de prazer.

    Segundo Norbert Elias e Eric Dunning essas sensações são assim apresentadas:

    Existem grandes variações na maneira como a excitação agradável, a diletante vibração das emoções proporcionadas pelas atividades de lazer, se pode expressar e, até que se estudem com maior detalhe as ligações entre a estrutura das atividades de lazer e da ressonância emocional que provocam em atores ou espectadores, seria prematuro avançar explicações, ainda que a titulo experimental, para as variedades de prazer proporcionadas (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 131).

    Isso quer dizer que o campo das emoções que proporcionam o prazer possuem uma condição abstrata, onde cada individuo em determinado contexto manifestará uma reação diferente de outro individuo mesmo que este esteja no mesmo contexto.

    Embora Elias tenha centrado seus estudos nas atividades de esporte para entender a excitação que uma atividade de lazer possa trazer, ele diz que na verdade não são as atividade de lazer pelas quais as pessoa optam em realizar que trazem emoções, e sim que as emoções são renovadas por meio dessas atividades.

    Elias e Dunning descrevem isso como tensões miméticas que, na verdade, são emoções que os indivíduos buscam por meio do lazer vivenciando sentimentos de euforia, tristeza, ódio, raiva, alegria de maneira controlada, ou seja, os sentimentos vividos na “vida real” são reproduzidos no lazer e “[...] muitas dessas ocupações de lazer, entre as quais o desporto nas suas formas de prática ou de espetáculos, são então consideradas como meios de produzir um descontrolo de emoções agradável e controlado” (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 73), nesse caso a lógica é da atividades de desporto.

    A partir dessa afirmação vemos o lazer como fonte de excitação e busca de emoções satisfazendo as necessidades humanas de prazer, mesmo que seja feito de forma controlada. Essa satisfação proporciona um certo equilíbrio e controle das atividades e emoções na vida exterior.

    E, embora essas emoções fortes fossem amortecidas e restringidas pelos poderes sociais vigentes em cada época e “[...] restrições embutidas conservadas pelo controlo social, que, em parte, são incrustadas de modo tão profunda que não podem ser abaladas”, as excitações obtidas pelas atividades de lazer constituem uma forma de extrapolar emoções dentro de uma aceitabilidade da sociedade (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 112).

    Segundo os autores não há certeza do sentido original do termo mimético mas é possível sugerir o que signifiquem hoje:

    O termo mimético refere-se a este aspecto de um tipo de factos e experiências de lazer. O seu sentido literal e imitativo, mas já na Antiguidade era usado num sentido mais alargado e figurado. Referia-se a todas as espécies de formas artísticas na sua relação com a realidade, quer possuíssem um caracter de representação ou não. Contudo, o aspecto mimético que é uma característica comum de todos os factos de lazer classificados sob esse nome, destacado ou minimizado segundo as avaliações correntes, desde as tragédias e sinfonias até ao pôquer e a roleta, não significa que se trate de representações de factos da vida real, mas antes que as emoções — os sentimentos desencadeados por elas — estão relacionadas com as que se experimentam em situações da vida real transpostas apenas e combinadas com uma espécie de prazer (ELIAS e DUNNING, 1992, p. 124-125).

    Essa conceituação de mimetismo de Elias e Dunning associa as atividades de lazer com a necessidade humana de experimentar as tensões agradáveis produzidas durante as mesmas, e ainda, a capacidade que elas têm, de certa forma, de reproduzir as emoções vivenciadas na realidade.

    O termo mimético não está somente relacionado ao contexto literal de adaptação ou imitação, mas, num sentido figurado, o conceito eliasiano diz respeito a todas as formas físicas e artísticas na sua relação com a realidade. Não é simplesmente uma imitação de acontecimentos reais, mas o despertar de emoções relacionadas à vida real.

    “A excitação mimética é, na perspectiva social e individual, desprovida de perigo e pode ter um efeito catártico”1 (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 125) [...], isso significa que as emoções excitadas pelo lazer podem ter efeitos curativos devido à sensação agradável que produzem. “O caracter essencial do seu efeito catártico é a restauração do tônus mental normal através de uma perturbação temporária e passageira da excitação agradável” (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 138).

    Estamos falando de uma excitação onde o individuo se sente encorajado, provocado a procurar alivio da repressão social:

    Creio que a satisfação de uma necessidade humana através do prazer, e, em particular, por intermédio da agradável excitação que equilibra o controlo regular dos sentimentos na vida exterior ao lazer, é uma das funções básicas que a sociedade humana possui para a sua satisfação (ELIAS, DUNNING, 1992, p.97).

    Entendemos que [...] “Existem muitos matizes e graus de prazer e de satisfação que o cognoscenti pode encontrar nestas atividades de lazer” (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 134), contudo podemos afirmar que o prazer esta relacionado a práticas de lazer.

    Segundo Gutierrez (2001) sentir prazer em alguma atividade realizada distingue o lazer de outras atividades, pois não existe lazer sem que haja expectativa de prazer. Para o autor prazer tanto depende de como é condicionada a concepção em determinada sociedade, como da relação estabelecida entre o individuo e o meio.

    Entretanto, segundo Elias e Dunning (1992), nem todas as atividades de lazer:

    [...] proporcionam uma satisfação optima. Um jogo muito excitante pode ser perdido pela sua equipa. Nesse caso, as pessoas continuarão em geral a levar ainda para casa o gosto da sua excitação agradável, mas este divertimento não será tão puro como no primeiro caso. Mas um jogo muito bom pode acabar num empate. Nesta situação, entra-se numa área de controvérsia. O consenso — muito elevado nos casos que temos mencionado — parece diminuir logo que se atinge o único limite da escala que mencionamos, onde se encontra de novo um vincado nível de consenso. No futebol, como em todos os outros factos miméticos, existem sem dúvida insucessos. Para uma pesquisa sobre os prazeres do lazer, não é menos relevante estudar o caracter distintivo dos fracassos do que estudar aqueles que proporcionam uma satisfação. Os jogos que não satisfazem são, por exemplo, aqueles em que uma equipa é tão superior à outra que a tensão está ausente; sabe-se, de antemão, quem vai ganhar. Dificilmente existe ai qualquer surpresa e sem ela não ha excitação. As pessoas não sentem grande prazer em semelhante jogo (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 134).

    Os níveis de excitação e prazer causados em pessoas que praticam alguma forma de lazer mimético dependem de uma análise psicológica, biológica e social e de um estudo mais aprofundado, visto a complexidade e especificidade de cada caso.

    O que podemos afirmar em relação à busca por essas atividades é que:

    Nas sociedades mais desenvolvidas, a escolha individual das actividades de lazer também depende das oportunidades construídas antecipadamente, e estas mesmas actividades são habitualmente moldadas por fortes necessidades de estimulação social, directamente ou em convivência com o lazer mimético (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 157).

    Para compreender o lazer vimos que Elias e Dunning apresentam essa atividade numa perspectiva de controle das emoções que são fruto do processo de civilização que algumas sociedades foram sendo submetidas.

    Mas as atividades de lazer em Elias e Dunning possuem outro aspecto que deve ser refletido: o tempo livre.

    Para esses autores há uma distinção entre as atividades no tempo livre e atividades de lazer. Há uma classificação que recebe o nome de espectro do tempo livre, vejamos:

O Espectro do Tempo Livre

  1. Rotinas do tempo livre, subdividido em:

    1. Provisão rotineira das necessidades biológicas.

    2. Rotinas familiares e rotinas com a casa.

  2. Atividades intermediárias de tempo livre que servem principalmente para satisfazer necessidades de formação e/ou também auto-satisfação e autodesenvolvimento, subdivididas em:

    1. trabalho particular voluntário;

    2. trabalho particular para si próprio,

    3. “Hobbies”, leituras, trabalhos em madeira;

    4. Atividades religiosas;

    5. Atividades de formação de caráter mais voluntário, socialmente menos controlado e com freqüência de caráter acidental.

  3. Atividades de lazer, subdivididas em:

    1. Atividades puras ou simplesmente sociáveis:

      1. Participar como convidado em reuniões formais;

      2. Participar em lazer comunitário, relativamente informal.

    2. Atividades de jogo ou miméticas. Subdivididas em:

      1. Participar em atividades miméticas de elevado nível organizativas - jogar futebol.

      2. Participar como espectador em atividades miméticas bastante organizadas – assistir uma partida de futebol.

      3. Participar em atividades miméticas menos organizadas; dança, montanhimo.

    3. Miscelânea de atividades de lazer menos especializadas: viajar nos feriados, comer fora, passeio a pé.2

    Como podemos ver, todas as atividades de lazer são atividades de tempo livre, mas nem todas as atividades de tempo livre são de lazer. Quando Elias se refere a um espectro de atividades é justamente porque há sobreposição e combinação de características, talvez seja por essa característica que o autor não tenha intenção de propor uma classificação rígida.

    Segundo Elias e Dunning:

    O espectro do tempo livre é um quadro de classificação que indica os principais tipos de actividades de tempo livre nas nossas sociedades. Com o seu auxilio, podem observar-se rapidamente factos que estão, com freqüência, obscurecidos pela tendência para equacionar o tempo livre enquanto actividades de lazer: algumas actividades de tempo livre terem o caracter de trabalho, ainda que constituam um tipo que se pode distinguir do trabalho profissional; algumas das actividades de tempo livre, mas de modo algum todas, são voluntárias; nem todas são agradáveis e algumas são altamente rotineiras. As características especiais das actividades de lazer só podem ser compreendidas se forem consideradas, não apenas em relação ao trabalho profissional mas, também, em relação às várias actividades de não lazer, no quadro de tempo livre. Desta maneira, o espectro do tempo livre contribui para dar maior precisão ao problema do lazer (ELIAS, DUNNING, 1992, 149).

    Sendo assim, as atividades de tempo livre apresentam entre si diferentes matizes, podendo fundir-se e/ou justapor-se entre si. Contudo mantém um eixo norteador capaz de dar suporte teórico geral.

    Ressaltamos ainda que por o autor trabalhar o tempo livre e o lazer fora da perspectiva tradicional em que o lazer se liga ao trabalho não necessariamente teremos atividades de lazer em todo tempo livre:

    [...] a polarização do lazer e do trabalho na sua forma tradicional é inadequada. Sugere que todo o tempo que não é despendido no trabalho, no sentido de uma ocupação de trabalho remunerado, ou seja, todo o tempo livre, pode ser dedicado a actividades de lazer (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 110).

    Nessa lógica há possibilidade de realizar várias atividades durante o tempo livre, sejam elas trabalho remunerado, trabalho para si, lazer, etc. E nessa:

    [...] polarização convencional do trabalho e lazer, o termo trabalho refere-se habitualmente a uma única forma especifica de trabalho — o tipo de trabalho que as pessoas executam como modo de ganhar a vida. Nas sociedades mais diferenciadas e urbanizadas, este é um tempo rigidamente regulado e, na maior parte dos casos, um tipo de trabalho altamente especializado. Em paralelo, no seu tempo livre, os membros destas sociedades têm em geral de fazer uma boa parte de trabalho sem remuneração. Só uma porção do seu tempo livre pode ser votada ao lazer, no sentido de uma ocupação escolhida livremente e não remunerada — escolhida, antes de tudo, porque é agradável para si mesmo. Nas sociedades como as nossas, cerca de metade do tempo livre dos indivíduos é, em geral, dedicado ao trabalho (ELIAS E DUNNING 1992, p. 107).

    Portanto Elias abandona a tradicional dicotomia que por vezes limitam a compreensão do fenômeno lazer, e, é a partir desse suporte teórico sobre o espectro do tempo livre que vemos há a possibilidade de compreender a unidade estrutural que existe por trás dessa variedade de ocupações de lazer. Segundo os autores no centro dessa unidade estrutural permanece a separação rígida entre uma esfera da vida social onde predominam atividades com objetivos impessoais que tem como prioridade às funções daquilo que fazemos pelos outros, assim como as funções que realizamos para nós mesmos. Essas duas funções geram satisfações emocionais estritamente subordinadas à fria reflexão, ou seja, são relativamente desprovidos de emoções.

    As atividades de lazer preenchem essas funções por uma diversidade de meios, os quais são chamados pelos autores como “elementos do lazer” que são a sociabilidade, mobilidade e imaginação, e:

    Se olharmos para as categorias de actividades de lazer indicadas no espectro do tempo livre, pode ver-se, de imediato, que não há nenhuma actividade onde estas três formas elementares de ativação emocional se encontrem ausentes. Também se pode ver que dois ou três destes elementos se combinam com freqüência embora, um deles possa ser dominante em qualquer das actividades. Cada um destes elementos pode servir, a sua maneira, como um meio de atenuar os controlos que, na esfera do não lazer, mantêm severamente vigiadas as inclinações afectivas das pessoas (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 178).

    Segundo os autores, considerar esses elementos aponta para o modelo geral dos indivíduos, ou seja, para um equilíbrio de tensão instável [...] “entre uma esfera onde a actividade intelectual impessoal e o controlo das emoções que a acompanha prevalece sobre a estimulação das actividades emocionais” [...] (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 178), e na outra esfera [...] ”onde a excitação agradável de semelhante processo emocional prevalece e os controlos inibitórios estão enfraquecidos” (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 178).

    Isso quer dizer que cada um desses elementos pode servir como meio para atenuar os controles que, na esfera de não lazer, mantêm as emoções dos indivíduos severamente vigiadas (ELIAS, DUNNING, 1992).

    Para explicar essas funções os autores delimitam duas esferas. A primeira é a sociabilidade que:

    [...] como um elemento básico do lazer desempenha um papel na maioria das actividade de lazer, senão em todas. O que significa dizer que um elemento do prazer e o sentimento agradável vivido pelo facto de se estar na companhia dos outros sem qualquer obrigação ou dever para com eles, para alem daqueles que se tem voluntariamente (ELIAS, DUNNING, 1992, p. 179).

    Neste caso então o lazer oportuniza uma maior e mais profunda interação entre as pessoas e em decorrência disso uma amigável emotividade, a qual se diferencia da praticada, e de certo modo, considerada normal, no âmbito das atividades profissionais e também nas atividades de não lazer.

    A partir do embasamento teórico em Elias e Dunning sobre lazer apresentamos a seguir uma reflexão sobre o Movimento Hip-Hop trazendo aspectos gerais do seu surgimento, o Hip-Hop no Brasil e em específico o Movimento em Ponta Grossa, pois é preciso entender o contexto em que os sujeitos dessa pesquisa estão inseridos.

O hip-hop, o rap e a estratégia de pesquisa

    Existem algumas divergências a respeito de onde e como o Hip-Hop surgiu, contudo, no final da década de 1960 um novo estilo musical começou a despontar nos bairros pobres conhecidos como guetos na África. Foi uma das primeiras manifestações culturais pela qual, os negros procuravam expressar seus sentimentos de reivindicação devido às condições miseráveis e problemas sociais que assolavam a África naquele período.

    O movimento cresceu, com influência intensa da luta dos negros pelos direitos civis ocorrida nos anos 60, com base forte na ideologia pacifista de Martin Luther King, que defendeu desde o começo da sua militância a alternativa do diálogo pregando o amor e a não-violência desde os anos 50.

    Martin envolveu-se com o Movimento pelos Direitos Civis e procurava a solução para os problemas da população negra.

    Contudo, o “auge” do Movimento Hip-Hop acontece na segunda metade da década de 1970, por meio do África Bambaataa que foi um dos primeiros DJs que tocava as primeiras batidas e mixagens do Breakbeate.3

    Seu grupo Zulu Nation cresceu e virou um movimento internacional, tendo inclusive representantes brasileiros. Esse movimento iniciou no Bronx (USA), desenvolvido por jovens afro-americanos e por caribenhos, como uma nova expressão cultural, em um momento de transição da cidade nova-iorquina, mergulhada no desemprego, na crise da industrialização, no aumento da violência, fatores que incidiam diretamente sobre a juventude (STOPPA, 1999).

    Na busca por melhores condições de vida, a comunidade negra se uniu com intuito de reivindicar direitos de uma maneira alternativa. Por esse motivo encontra no Movimento Hip-Hop uma das primeiras expressões para de alguma forma catalisar a população e seus anseios em torno de expressões de luta social, utilizando como estratégia manifestações culturais, sejam elas por meio da dança, da música e do grafitti.

    Com base nesses quatro elementos a arte (grafite), linguagem peculiar (rap), dança (Break) e música (DJ) o Hip-Hop, que significa literalmente saltar movimentando os quadris, é o meio pelo qual seus integrantes demonstram a cultura, os seus valores, ideologias e pensamentos.

    Os B-Boys (abreviatura de “Break Boy” rapaz que dança no Break da música), começaram a se apresentar na periferia de Nova York, na década de 1970, ouvia-se o Soul, onde o cantor James Brown era o rei, e também surgia o Funk, um estilo agressivo. Esses estilos musicais somados ao Rhythm and Poetry (Ritmo e Poesia, Rap), o soul e ao Funk são os ritmos do Hip-Hop (COSTA, 2008).4

    O sentimento por tudo que os negros passavam era expresso nas suas canções, falavam de mudança de atitude, valorização da cultura negra, revolta contra os opressores, fazendo do rap a sua voz.

    Há diferentes estilos de rap, o Gangstar Rap, Porno Rap, Love Rap, Brown Rap entre outros, mas o que é importante ressaltar é que o rap é o ritmo aliado à essência da alma, a poesia e as manifestações culturais, sociais, por meio da qual o MC (cerimônia de mestre) passa a sua mensagem.

    De forma semelhante ao processo histórico ocorrido nos EUA, o Hip-Hop no Brasil veio “no embalo da cultura Black e desenvolveu-se no país, em meados da década de 80, nos salões que animavam a noite paulistana, no circuito negro e na periferia da cidade” (STOPPA, 1999).

    O Hip-Hop no Brasil surge no final dos anos 1970, inicio dos anos 1980, em um momento em que há eclosão dos denominados “novos movimentos sociais”, que passam a incorporar questões como a de gênero e raça no processo de construção de um novo modelo de sociedade mais pluralista, democrática e participativa, gerando novas formas de práticas de exercício político reivindicatório.

    Muitos acreditaram que o Hip-Hop no Brasil não passaria apenas de moda, um estilo transitório, mas com o decorrer do tempo o Break, que foi o primeiro elemento a aparecer e tomar conta das ruas de São Paulo, o rap e o graffiti ganharam notoriedade transformando o Hip-Hop em um estilo de vida.

    Nos meados de 1983 quando o movimento ainda estava começando uma série de perseguições por parte da sociedade e até mesmo da polícia ocorreram aos adeptos do Hip-Hop, que eram ridicularizados e descriminados.

    Mesmo assim o Hip-Hop em 1988-1989 com o lançamento dos primeiros discos de rap no país, a coletânea “HIP – HOP. Cultura de rua. O som das ruas” em 1989, que lançou os expoentes do rap nacional, a dupla Thaide & DJ Hum, a ousadia do rap “made in Brazil”, em 1988, mostraram o Hip-Hop de atitude consciente e com bases reivindicatórias, desde então o Movimento começa a conquistar o seu espaço no Brasil. Mas somente em 1990 o Hip-Hop passa ser visto e entendido pelos setores formais da sociedade como Movimento Social e Cultural.

    Nesse momento que o grupo de rap paulistano Racionais MC’s lança o 4º álbum “Sobrevivendo no Inferno”, com vendagem superior a um milhão de cópias (ROCHA et al, 2001). Esse grupo influenciou a cultura Hip-Hop desde o seu primeiro disco.

    Em meados dos anos 90 tem-se um princípio de abertura das rádios em relação às músicas de Rap. Tocar as músicas de um estilo tão peculiar e visto pela maioria da sociedade como marginal, foi um avanço para essa época, mesmo que tocadas poucas vezes demonstra que a cultura do Hip-Hop estava se expandindo.

    Muitos jovens nessa época tiveram o primeiro contato com o Hip-Hop e seus elementos, nesse caso o rap, alugando cd, fita cassete, ouvindo algumas músicas na rádio e tentando reproduzir de maneira amadora o que estavam ouvindo e curtindo.

    E foi dessa maneira que o estilo do Hip-Hop começou a aparecer na cidade do interior do Paraná em Ponta Grossa. Por meio da iniciativa de um sujeito que tinha ouvido e que pensou que poderia reproduzir aquele som. Esse "cara" é o Integrante Guég que representa e coordena o Movimento Hip-Hop em Ponta Grossa até hoje.

    O Movimento Hip-Hop em Ponta Grossa tem atividades culturais, e, como fonte de valores construídos historicamente adota o respeito, a dignidade e a educação. O elemento rap é representado por cerca de dez grupos, e sempre há organizações de shows, apresentações e projetos que, entre outros objetivos, visam mostrar a cultura e apoiar os rappers.

    E foi em um desses encontros que conhecemos o Guég, que nos falou sobre os grupos de Rap, nos apresentando a alguns integrantes do Movimento e no inseriu no contexto do Hip-Hop pontagrossense.

    A partir de então buscamos entrevistar os rappers e observar as atividades desenvolvidas por eles. Ocorreram cerca de vinte e cinco encontros com esses integrantes no período de novembro de 2009 a fevereiro de 2011 em eventos e festividades, e também contatos individuais. A seguir apresentaremos os dados empíricos e as análises.

O rap como possibilidade de lazer: as análises

    Foram entrevistados sete rappers que pertencem a seis grupos diferentes eles nos falaram sobre o rap e nos falam sobre a possibilidade desse elemento do Hip-Hop ser uma atividade de lazer.

    Ser rapper para os entrevistados significa desenvolver uma atividade que, de uma maneira ou de outra, proporcione um sentimento de alegria e de prazer.

    O coordenador do Movimento (Guég) nos respondeu basicamente três modos de se entender o lazer. O primeiro modo diz respeito ao lazer para quem acompanha alguma atividade do Movimento Hip-Hop, contudo não necessariamente precisa estar ligado ao rap. Esse pensamento está ligado ao trabalho social que o Grupo do Guég realiza em conjunto com outros integrantes do Movimento e com apoio da secretaria da cultura, prefeitura e outras instituições. Pois quando alguma atividade dentro dos quatro elementos é realizada, em praça pública por exemplo, o número de crianças que vem assistir é grande. E como o objetivo nessas apresentações é disseminar a cultura Hip-Hop e também “distrair” as crianças e proporcionar algum lazer outras atividades são realizadas, como a cama elástica, entrega de balas, presença do papai Noel.

    A outra forma de pensar o lazer como atividade de desenvolvimento básico. Como o integrante afirma, isso se da pelo fato do Grupo Ponta Rap desenvolver projetos nas escolas com intuito de levar o Hip-Hop até as crianças.

    Mas, para os integrantes, as atividades desenvolvidas pelo Movimento também são de lazer e proporcionam algum sentimento prazeroso definido pelas palavras “gostar e gostarem”. O depoente afirma que os quatro elementos são atividades de lazer e acrescenta ainda que o “criar” algo, como por exemplo, um rap, faz parte dessa atividade de lazer, essa é a terceira forma de se compreender o lazer.

    Já para o integrante Adriano do Grupo Consciência do Gueto o rap é era entendido como um momento de lazer, mas torno-se uma atividade de cunho profissional, e, ele passou a entender o rap como trabalho. Contudo em nossas observações vimos que Adriano é um rapper que além de cantar participa de batalhas de rimas de improviso.

    Essas batalhas são formas de manifestar as emoções, os pensamentos e, é por meio delas que os batalhadores elevam a sua tensão agindo de forma agressiva, contudo nos limites permitidos pela sociedade, ou pelo grupo em que o individuo está inserido. Alguns palavrões de baixo calão e gestos obscenos fazem parte de algumas batalhas.

    Vimos em Elias e Dunning que os indivíduos ao longo da história sofreram um controle dos impulsos afetivos e emocionais mais espontâneos o que acabou por levar as pessoas a desenvolver atividade em que o controle dessas emoções estivesse assegurado. Um exemplo disso pode ser essas batalhas de rimas que surgiram no Hip-Hop como forma de canalizar a violência que existia entre as gangues, tentando por meio do rap, e do Break competir artisticamente. Sendo assim, podemos afirmar que essas batalhas constituem em meios de produzir um descontrole de emoções agradável e controlado. Essas atividades segundo Elias e Dunning (1992, p. 73):

    [...] oferecem (embora nem sempre) tensões miméticas agradáveis que conduzem a uma excitação crescente e a um clímax de sentimentos de êxtase [...]. Nesta linha, as tensões miméticas das actividades de lazer e a excitação com elas relacionada, isenta de perigo ou de culpa, podem servir como um antídoto das tensões provenientes do stress que, no quadro da repressão global estável e harmoniosa característica das sociedades complexas, se verifica entre os indivíduos.

    Pudemos observar em várias batalhas que sentimentos como raiva, medo, e alegria são vividos intensamente pelos indivíduos que estão duelando e que as agressões verbais e por meio de gestos geram uma tensão, onde o indivíduo experimenta uma sensação de euforia.

    Posteriormente entrevistamos o integrante Lenart do grupo Manifesto Sonoro e podemos dizer que o lazer para ele está ligado ao sentimento de prazer que o rapper sente ao cantar.

    “É. Tipo chegar né, agrada. É um lazer. É prazeroso, é bom, muito bom”. (LENART).

    A atividade de rapper é entendida nesse caso como lazer e que propicia prazer e, segundo Gutierrez (2001) o lazer possui uma característica essencial imutável que é a busca do prazer.

    No contexto do Hip-Hop gospel entrevistamos o integrante Sergio do Grupo Nação Jesus Salva e o rap para ele é uma atividade que não é considerada de lazer, pois para ele o verdadeiro lazer esta em ajudar o próximo. O prazer, nesse sentido, está ligado ao ato de transformação que a religião pode fazer na vida de uma pessoa, e ainda revela que a ajuda do Sergio nessa transformação é que lhe confere prazer e não o rap em si. Então, as atividades, dentro dos quatro elementos do Hip-Hop, nesse caso o rap, podem ser de lazer e conferir prazer, mas delimitado o contexto da intenção do depoente em realizar essa atividade.

    Em Elias e Dunning (1992, p. 147) quando os autores falam sobre as rotinas do tempo livre essa atividade do Sergio como membro da igreja é considerada:

  • 2) Actividades intermediarias de tempo que servem, principalmente,a necessidades de formação e, ou também, autosatisfação e autodesenvolvimento.

  • a) Trabalho particular (isto é, não profissional) voluntário para outros, por exemplo, participação em questões locais, eleições igreja e actividades de caridade;

    O que demonstra que não necessariamente essa atividade deve ser considerada lazer. A análise que fazemos dessa entrevista é que a atividade de Rapper que o Integrante Sergio desenvolve esta dentro da lógica Gospel, o que significa dizer que há um contexto por trás das suas apresentações, pois ele desenvolve essa atividade como instrumento para atrair as pessoas para a Igreja, para os ensinamentos Bíblicos.

    Os dois próximos entrevistados (Gafanhoto e Zero Meia) fazem parte do grupo Federação Repúbli-k. Para o Zero Meia o rap como forma de lazer demonstra que essa é uma atividade realizada no tempo livre que gera prazer e faz com que o integrante se sinta bem, como por exemplo, compor músicas e reunir pessoas para falar sobre Rap, esta relacionada com o aspecto do tempo livre classificada por Elias e Dunning (1992) como atividades de lazer puras ou simplesmente sociáveis. Nesse caso, seriam as atividades de lazer comunitário, relativamente informal onde o integrante participa de eventos, e reuniões com outros indivíduos.

    Já para o Gafanhoto o lazer está em sentir prazer e se divertir fazendo o rap. Contudo ele nos diz que é uma atividade que ele desenvolve como trabalho, desenvolvendo as batidas e as bases das músicas do seu Grupo de Rap. Na lógica do tempo livre em Elias e Dunning (1992) podem ser classificadas como atividades intermediárias de tempo livre que servem para satisfazer necessidades de formação ou de autosatisfação e autodesenvolvimento. Na subdivisão dessas atividades podemos dizer que esse trabalho de montar as batidas esta voltado para o trabalho particular, para si mesmo.

    O próximo sujeito dessa pesquisa expôs o rap como forma de lazer, mas também como uma forma de empreender: "Eu vejo o Hip-Hop e o rap como forma de lazer, como você também pode empreender nessa área”. Podemos dizer que essa afirmação se deve ao fato desse integrante trabalhar em uma loja que vende produtos e artigos voltados à cultura Hip-Hop.

    Embora, até então, todos os entrevistados tivessem respondido que o rap poderia ser uma atividade de lazer o integrante Igor nos revela que para ele o rap não é lazer. Esse integrante faz parte do Movimento Hip-Hop Gospel, e é também a partir das vivências dele na Igreja que percebemos que o rap para ele assumem algumas dimensões do contexto religioso. Esse integrante nos relatou que o rap para ele é uma atividade que não pode ser de lazer porque não é brincadeira, o rap deve ser levado a sério, as pessoas devem se empenhar.

    O que percebemos, nesse sentido, foi que o rap para ele é uma ferramenta para regenerar as pessoas, devido ao trabalho que ele desenvolve como rapper na igreja.

Considerações finais

    O viés eliasiano sobre lazer pressupõe uma quebra em relação à dicotomia entre lazer e trabalho o que nos levou a compreender o lazer de outra maneira. O aspecto do tempo livre, o lazer mimético e o lazer que gera prazer foram as categorias teóricas escolhidas por nós para analisar as entrevistas. Essas categorias deram suporte e auxiliaram na compreensão dos integrantes sobre o rap enquanto lazer e em que sentido.

    Sendo assim, podemos dizer que o rap é para a maioria dos entrevistados atividades de lazer que proporcionam prazer, mas devemos observar que cada integrante interpreta o rap como lazer que gera prazer devido as suas posições dentro do Movimento Hip-Hop.

    As noções de lazer presentes na prática do rap, levando em consideração os conceitos presentes na teoria Elisiana evidenciam que em todos os casos, exceto um, as atividades desenvolvidas não são de lazer e sim de tempo livre. Também devemos observar que a dicotomia lazer e trabalho está evidente na falas desses sujeitos.

Notas

  1. Catártico palavra que deriva do termo catarse, que diz respeito a termos médicos em relação com o expulsar de substâncias nocivas do corpo.

  2. ELIAS; DUNNING. Em busca da excitação. 1992, p. 146, 147, 148.

  3. Breakbeat é uma vertente musical do estilo eletrônico.

  4. Fonte: COSTA. Sara Maria Guimarães Maia. O papel da dança na (sub) cultura Hip Hop. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14546/2/O%20papel%20da%20dan%C3%A7a%20na%20subcultura%20hip%20hop.pdf Acesso em: 07 07 2010.

Referencias

  • COSTA. Sara Maria Guimarães Maia. O papel da dança na (sub) cultura Hip Hop. 2008. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14546/2/O%20papel%20da%20dan%C3%A7a%20na%20subcultura%20hip%20hop.pdf

  • ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992.

  • ELIAS, Norbert. O processo civilizador: formação do Estado e Civilização. Rio de Janeiro : Jorge Zahar, 1994. V. 2.

  • ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Lisboa: Edições 70, 1999.

  • STOPPA, Edmur Antonio. “Ta ligado mano”: o Hip Hop como lazer e busca da cidadania, 1999. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/diaadia/diadia/arquivos/File/conteudo/artigos_teses/EDUCACAO_FISICA/teses/Stoppa.pdf Acesso em 20 07 2010.

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