Prescrição individualizada de exercícios físicos para gestante após 20 semanas de gestação: estudo de caso Prescripción individualizada de ejercicios físicos para embarazadas luego de 20 semanas de gestación: un estudio de caso Individual prescription for physical exercise to pregnant after 20 weeks of gestation: case study |
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*Pós-graduando em Prescrição Personalizada de Exercícios Personal Trainer, pela Universidade Estadual de Maringá Pr (UEM) **Doutora. Professora do Departamento de Fundamentos da Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação para a Ciência e o Ensino da Matemática pela Universidade Estadual de Maringá Pr (UEM) |
Celso da Silva* Patrícia Lessa** (Brasil) |
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Resumo O presente estudo teve como objetivo analisar os efeitos do treinamento físico na qualidade de vida de uma gestante, ela foi submetida a um programa personalizado de exercícios físicos por um período de 15 semanas, ininterruptas. Nos momentos de pré-intervenção e pós-intervenção foram mensurados: Índice de Massa Corporal (IMC), Composição Corporal e Escala Visual Analógica de Dor (EVA). Os resultados indicaram que os sintomas referentes ao período gestacional podem ser amenizados e até mesmo extinguidos por meio da prática de exercícios aeróbicos, musculação e alongamentos, além de auxiliar na manutenção do peso corporal, massa magra e percentual de gordura. Unitermos: Exercício resistido. Gestante. Personal trainer.
Abstract
The following study had as it objective the effort analysis of physical
training to the welfare of pregnant under a specific training program for a
period of 15 weeks, uninterrupted. In the moment of pre-intervention and pos -
intervention were measurable: Body mass index, body composition and Visual
Analogue Scale for Pain(VAS).The results indicated that symptoms related to
pregnancy can be minimized or even extinguished through the practice of aerobic
exercises, strength training and stretching, and assist in maintaining body
weight, lean body mass and body fat percentage.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O exercício físico já foi considerado tabu para mulheres grávidas, elas eram desestimuladas a ficar em pé, pois deviam adotar a prática sedentária em todo o período gestacional, acreditava-se que as atividades físicas pudessem prejudicar o bebê (HANLON, 1999).
Essa idéia ainda é defendida em vários contextos, tradições e colocações médicas em relação ao exercício físico durante a gravidez. Opiniões, em grande parte, moldadas mais pelas forças culturais e políticas do que propriamente pela ciência. Porém, também já é freqüente que os profissionais da saúde incentivem e encaminhem cada vez mais gestantes para o exercício físico (VALLIM, 2005).
Estudos científicos mostram que a verdade é totalmente contrária às crenças das gerações do passado (HANLON, 1999). Atividades físicas na gestação têm sido recomendada na total ausência de qualquer anormalidade, mediante avaliação médica especializada e prescrição realizada por um profissional de Educação Física. Durante uma gestação normal, mulheres praticantes de exercícios podem continuar a fazê-lo, com uma adequada prescrição para cada período gestacional (FINKELSTEIN et al., 2006).
O estímulo a atividade física é crescente em todo âmbito da saúde, e a cada dia aumenta o número de mulheres que a praticam. A gravidez, embora não seja uma doença, é um período que envolve diversas modificações no organismo materno.
Segundo Novaes e Vianna (1998), modificações significativas ocorrem no aparelho locomotor, e por isso aparecem os problemas circulatórios, posturais e músculoligamentares. Há o crescimento do útero e com isso ocorre a transformação progressiva da forma, da posição e da função dos órgãos da cavidade abdomicopélvica.
Para Artal & Wiswell (1986), a gravidez provoca na mulher alterações fisiológicas e psicológicas. Por volta da 10ª semana gestacional inicia-se o aumento do volume plasmático, que é provocada pela retenção hidrossalina. O aumento da volemia produz um aumento do fluxo cardíaco, aumentando o volume de ejeção sistólica, e, especialmente a partir do sexto mês de gravidez, ocorre um aumento da freqüência cardíaca, em torno de 10 a 15 batimentos por minuto, ocasionado pela queda da resistência periférica.
De acordo com o American College of Obstetricians and Gynecologists (1990), na gestação o estado anabólico permanece dinâmico devido às alterações fisiológicas e ao aumento da demanda nutricional. Por esse motivo, o ganho de peso no início da gestação deve ser adquirido com cautela, já que o excesso pode acarretar no desenvolvimento de diversas enfermidades (hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesidade pós-parto, macrossomia fetal e complicações no parto). Por outro lado, a deficiência de ganho de peso pode provocar prejuízos para a gestante, no trabalho de parto e para o feto, especialmente se não há prática de atividade física regular (ARTAL, O’TOOLE, WHITE, 2003; BATISTA et al, 2003).
Segundo Jeffreys (2005), o período da gravidez é único e é onde ocorrem diversas modificações, que caso não administrada com as adequadas intervenções, o organismo pode não ser capaz de compensar o excesso de ganho de peso, a incontinência urinária ou as dores lombares resultantes.
Nesse sentido, torna-se necessário a todas as gestantes um trabalho corporal a cada trimestre de gestação, para facilitar a adequação fisiológica às alterações que ocorrem nesse período. Uma melhor capacidade cardiorrespiratória facilita a realização das atividades domésticas, uma melhoria das condições musculares e esqueléticas ajuda na adaptação às mudanças posturais e trabalho de parto. Além disso, a prática de exercícios físicos durante o período da gestação pode ter impactos positivos no sentimento de autoestima, na convivência com outras gestantes e os sentimentos de segurança e de felicidade (LEITÃO et al., 2000; CHISTOFALO, MARTINS e TUMELERO, 2003).
Diversos são os benefícios da prática de atividades físicas na gestação, compreendendo diversas áreas do organismo materno. O exercício reduz e previne as lombalgias, devido à orientação postural correta da gestante, atenuando as modificações anatômicas ocorridas durante esse período. Atuando também na redução do estresse cardiovascular, por conta de freqüências cardíacas mais baixas, maior volume de ejeção sanguínea, maior capacidade de oxigenação, menor pressão arterial, de tromboses e varizes, além redução do risco de diabetes gestacional (BATISTA et al, 2003).
Matsudo e Matsudo (2000), também destacam como benefícios biológicos para a gestante que realiza atividades físicas: menor adiposidade materna, ausência de diferenças significativas em idade gestacional, duração do parto, peso ao nascimento, tipo de parto, menor risco de parto prematuro, menor tempo de hospitalização, além de benefícios psicológicos e sociais como: melhora da autoimagem e autoestima, bem-estar, diminuição da sensação de isolamento social, diminuição da ansiedade, do estresse e do risco de depressão.
Os exercícios físicos na gravidez têm benefícios potenciais e bem orientados proporcionam uma melhor qualidade de vida durante a gestação. Exercícios resistidos de intensidade leve à moderada podem promover melhoria na resistência e flexibilidade muscular, sem aumento no risco de lesões, complicações na gestação ou implicações relativas ao peso do feto ao nascer. Além disso, a mulher passa a suportar melhor o aumento de peso e as alterações posturais decorrentes da gestação (LIMA e OLIVEIRA, 2005).
Alongamentos são indicados para promover o equilíbrio da musculatura dorso-lombar, abdominais e do assoalho pélvico, assim como exercícios respiratórios, por favorecerem uma maior consciência corporal, levam ao relaxamento e auxiliam no trabalho de parto (SANTOS, FERREIRA e NAVARRO, 2007).
São recomendados ainda para as gestantes, os exercícios que incluem a combinação de atividades aeróbicas envolvendo grandes grupamentos musculares, além de atividades que desenvolvem força de determinados músculos (CHISTOFALO, MARTINS e TUMELERO, 2003). A ativação de grandes grupos musculares propicia uma melhor utilização da glicose e aumenta simultaneamente a sensibilidade a insulina (LIMA e OLIVEIRA, 2005).
O American College of Obstetricians and Gynecologists a partir da década de 90, recomenda que a atividade física desenvolvida durante a gestação tenha por características exercícios de intensidade regular e moderada, com um programa voltado para o período gestacional em que se encontra a mulher, e as atividades centradas nas condições de saúde da gestante, na experiência em praticar exercícios físicos, na demonstração de interesse e necessidade dela (BATISTA et al, 2003).
Neste sentido, a procura por meios mais eficientes e personalizados de treinamento corporal é recorrente entre pessoas com necessidades especiais e/ou condições privilegiadas, levando à emergência do profissional conhecido como personal trainer.
O treinamento personalizado, segundo Santos et. al. (2006), se fundamentaria, a exemplo do alto rendimento nos princípios científicos do treinamento, mais especialmente em dois aspectos: individualidade biológica e especificidade do treinamento. Segundo esse mesmo autor, o trabalho do personal training, visa a obter o máximo de resultados com o mínimo de riscos, é necessário deter conhecimento sobre as características biológicas do cliente, de modo a dotar-lhe de um treinamento que seja específico para suas necessidades.
Sendo assim, em relação à atividade física para gestantes, é fundamental um acompanhamento personalizado, pois o período gestacional humano compreende diversas mudanças corporais, no qual a gestante sofre adaptações fisiológicas, psicológicas e anatômicas.
Diante do exposto é que se baseia a intenção desta investigação. Analisar os efeitos do treinamento físico para a qualidade de vida de uma gestante, que foi submetida a um programa personalizado de exercícios físicos (aeróbicos, musculação e alongamentos) por um período de 15 semanas, ininterruptas de treinamento.
Procedimentos metodológicos
Trata-se de um estudo de caso, Segundo Ribeiro et. al. (2002, p. 88), o estudo de caso se caracteriza como “técnica que permite analisar em profundidade por um período de tempo um indivíduo, uma família, um grupo ou um evento”. Nesse estudo foi desenvolvida uma pesquisa com uma gestante de 22 anos praticante de exercícios físicos, residente em Maringá, Pr, com 20 semanas de gestação, acompanhada de pré-natal, e liberação médica possuindo condições de saúde para se submeter à prescrição personalizada de exercícios físicos.
Após esclarecer os objetivos do estudo, seu anonimato e o direito de desligar-se do mesmo a qualquer momento em que a desejasse, e mediante assinatura da gestante ao termo de consentimento e aprovação pelo comitê de ética da Universidade Estadual de Maringá (UEM), sob o n. CAAE – 0078.0.093.000-10 deu-se entrada no estudo com entrevista semi-estruturada para identificar de forma compartilhada as necessidades e interesses da gestante. Aplicação da Escala Visual Analógica de Dor (EVA) a cada uma semana de treinamento. Avaliação física; verificando as medidas periféricas; peso e altura, o índice de massa corporal (IMC), composição corporal, a partir das medidas das dobras cutâneas, (GUEDES, 1985). Todos os testes foram utilizados nos momentos, pré-intervenção e pós-intervenção de 15 semanas, já durante a intervenção, houve controle por meio da escala de esforço percebido (Escala de Borg) (BORG, 1998), aferição da pressão arterial e freqüência cardíaca e Escala Visual Analógica de Dor (EVA).
Para alcançar os objetivos propostos nesta pesquisa foi elaborado um programa composto de exercícios aeróbicos, musculação e alongamentos, sendo três sessões semanais, com duração de 1 hora cada em dias alternados por um período de 15 semanas, ininterruptas de treinamento.
1ª semana |
Exercício aeróbio: 30 minutos caminhada, mais alongamento membros superiores e inferiores 5 exercícios com 3 repetições cada. |
2ª semana |
Exercício aeróbio: 30 minutos caminhada, mais alongamento membros superiores e inferiores 5 exercícios com 3 repetições cada. |
3ª semana |
Exercício aeróbio: 35 minutos caminhada, mais alongamento membros superiores e inferiores 5 exercícios com 3 repetições cada. |
4ª semana |
Exercício aeróbio: 35 minutos caminhada, mais alongamento membros superiores e inferiores 5 exercícios com 3 repetições cada. |
5ª semana |
Exercício aeróbio: 35 minutos caminhada, mais musculação 3 séries de 10 repetições para membros superiores; (remada alta, rosca direta halteres, tríceps puley, e remada sentada) e membros inferiores; cadeira abdutora, adutora, flexor caneleira e panturrilha aparelho. (carga: leve a moderada) |
6ª semana |
Exercício aeróbio: 35 minutos caminhada, mais musculação 3 séries de 10 repetições para membros superiores; (remada alta, rosca direta halteres, tríceps puley e remada sentada) e membros inferiores; cadeira abdutora, adutora, flexor caneleira e panturrilha aparelho. (carga: leve a moderada) |
7ª semana |
Exercício aeróbio: 30 minutos caminhada, mais musculação 3 séries de 10 repetições para membros superiores; (remada alta, rosca direta halteres, tríceps puley, e remada sentada) e membros inferiores; cadeira abdutora, adutora, flexor caneleira e panturrilha aparelho. (carga: leve a moderada) |
8ª semana |
Exercício aeróbio: 30 minutos caminhada, mais musculação 3 séries de 10 repetições para membros superiores; (remada alta, rosca direta halteres, tríceps puley, e remada sentada) e membros inferiores; cadeira abdutora, adutora, flexor caneleira e panturrilha aparelho. (carga: leve a moderada) |
9ª semana |
Exercício aeróbio: 30 minutos caminhada, mais musculação 3 séries de 10 repetições para membros superiores; (remada alta, rosca direta halteres, tríceps puley, e remada sentada) e membros inferiores; cadeira abdutora, adutora, flexor caneleira e panturrilha aparelho. (carga: leve a moderada) |
10ª semana |
Exercício aeróbio: 20 minutos bicicleta estacionária mais musculação 3 séries de 10 repetições para membros superiores; (remada alta, rosca direta halteres, tríceps puley, e remada sentada) e membros inferiores; cadeira abdutora, adutora, flexor caneleira e panturrilha aparelho. (carga: leve a moderada) Alongamento, membros superiores e inferiores 10 exercícios com 3 repetições cada. |
11ª semana |
Exercício aeróbio: 20 minutos bicicleta estacionária, mais alongamento membros superiores e inferiores 10 exercícios com 3 repetições cada. |
12ª semana |
Exercício aeróbio: 20 minutos bicicleta estacionária, mais alongamento membros superiores e inferiores 10 exercícios com 3 repetições cada. |
13ª semana |
Exercício aeróbio: 20 minutos bicicleta estacionária, mais alongamento membros superiores e inferiores 10 exercícios com 3 repetições cada.
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14ª semana |
Exercício aeróbio: 20 minutos bicicleta estacionária, mais alongamento membros superiores e inferiores 10 exercícios com 3 repetições cada. |
15ª semana |
Alongamento membros superiores e inferiores 10 exercícios com 3 repetições cada. |
Desenvolvemos nosso programa de treinamento através da análise e interpretação de dados obtidos em testes realizados nos momentos de pré-intervenção e recomendações da literatura atual em relação ao tema da pesquisa. Apesar de existirem muitos estudos atuais que tratam do tema, ainda não existe um programa bem elaborado de exercícios físicos para as mulheres em seu período gestacional. Para esse estudo, investigamos as propostas de exercícios que melhor suprissem as necessidades da gestante enquanto mulher, atendendo a seus anseios, dúvidas e vontades. Direcionamos o programa de atividades físicas de acordo com o as necessidades da gestante, considerando o período gestacional em que se ela se encontrava, com atividades centradas em suas condições de saúde, sua experiência em praticar exercícios físicos e em sua demonstração de interesse.
Durante as sessões de treinamento foram necessárias algumas precauções como: temperatura ambiente, o calçado utilizado, aquecimento e esfriamento corporal, a hidratação e, especialmente, a exaustão e a fadiga da gestante, monitoramento da freqüência cardíaca e pressão arterial. Tendo como referencial a literatura atual optamos por três sessões semanais com duração de 60 minutos cada, em que a intensidade do exercício não excedesse freqüência cardíaca de 140 (bpm) respeitando os limites indicados para a idade da gestante.
Foram avaliadas as variáveis relacionadas à composição corporal, queixas e mudanças fisiológicas utilizando estatísticas descritivas e analíticas. O estudo descritivo é aquele que permite ao pesquisador observar, descrever e classificar um determinado fenômeno, esclarecendo sua predominância e características (POLIT; HUNGLER, 1995).
Resultados e discussão
A tabela 1, apresentada a seguir, é resultado de uma entrevista semiestruturada na qual a gestante foi questionada sobre queixas, dores, mudanças fisiológicas e psicológicas do período gestacional em que se encontrava. Obtivemos as seguintes respostas: queixas de dores (região lombar, virilha, pernas, pés, câimbras e cansaço físico), mudanças fisiológicas (vontade de urinar freqüente) e psicológicas (stress).
Para mensurar a intensidade das queixas, dores, mudanças fisiológicas e psicológicas, foi utilizada semanalmente a Escala Visual Analógica de Dor (EVA) que, segundo Ludington e Dexter (1998), consiste em uma linha horizontal ou vertical de dez centímetros, numerados com o ponto inicial zero e final dez, em que o zero representa ausência de dor e a marca dez uma dor incapacitante. Depois de apresentada a escala, o paciente marcava na linha o local que ele considera representar a intensidade da sua dor; posteriormente utiliza-se uma régua para numerar a marca realizada pelo paciente, obtendo-se assim uma resposta numérica para dor (figura 1).
Figura 1. Escala Visual Analógica
Os dados referentes à graduação da dor estão indicados na seguinte tabela 1:
Tabela 1. Escala visual analógica da dor – divisão em semanas
Ao analisarmos a escala visual analógica da dor, realizada semanalmente, verificamos que houve uma melhora nos aspectos referentes a queixas de dores (região lombar, virilha, pernas, pés, e cansaço físico), fisiológico (vontade de urinar freqüente) e psicológico (stress). Observa-se, portanto que houve apenas um aspecto (câimbras) em que não obtivemos melhora.
Na análise da dor (EVA), foi observado inicialmente o valor de 5 a 8 cm em quase todos os aspectos, que indica uma dor de moderada para severa. Após 10 sessões de treinamento, o valor da dor na EVA foi de zero, indicando ausência de dor, na região lombar, virilha, pernas e pés. Já no que se refere à freqüência urinária, stress e cansaço físico os valores ficaram abaixo de 5 cm, apontando dor de moderada para leve. Durante as 15 semanas de treinamento pudemos notar que dentro da escala da dor a queixa referente às câimbras não obtivemos melhora significativa.
Evidenciamos que as queixas, dores, mudanças fisiológicas e psicológicas do período gestacional em que se encontrava a gestante, podem ser amenizadas e até mesmo extinguidas através de um programa realizado regularmente.
Otto (1984) orienta que a atividade física seja composta de exercícios de flexibilidade, aeróbicos e de fortalecimento muscular de abdômen e assoalho pélvico, regiões que sofrem mais com a sobrecarga decorrente do aumento de tamanho e de peso do útero gravídico. Hanlon (1999) acrescenta ainda a esse grupo a musculatura da região lombar. Os exercícios de flexibilidade visam o relaxamento muscular, principalmente da região pélvica que, associado aos exercícios de fortalecimento, visam não só a saúde muscular da região, como também promover a consciência da contração e relaxamento para o momento do parto (OTTO, 1984; MIRANDA e ABRANTES, 1986).
Os exercícios de força muscular também são essenciais às gestantes. Segundo Leitão e colaboradores (2000), um dos principais benefícios deste tipo de treinamento é auxiliar na manutenção da massa magra, enfatizando-se exercícios que contemplem os grandes grupos musculares. Para o autor, duas séries de oito a dez repetições, realizadas de duas a três vezes por semana, utilizando uma intensidade de aproximadamente 60% de uma repetição máxima, são suficientes para a obtenção de resultados satisfatórios. Sempre se recomenda a realização de exercícios de alongamento acompanhando as sessões de exercícios aeróbicos e de força. Porém, é necessário ter uma cautela maior na prescrição de tal prática. Como na prescrição de outros exercícios, deve-se analisar todo o histórico da mulher grávida e prescrever exercícios leves com cargas moderadas, de acordo com o ritmo que ela já fazia antes, evitando sempre que o exercício a leve a fadiga e a exaustão.
Os resultados encontrados na tabela 2 nos mostram que a prática de exercícios aeróbicos acompanhando as sessões de exercícios de força podem auxiliar na manutenção do peso corporal, massa magra e % de gordura durante o período gestacional.
Tabela 2. Comparativo: composição corporal (peso, massa magra, % gordura) índice de massa corporal (IMC), pré-intervenção e pós-intervenção
Até o início da intervenção, de acordo com entrevista semiestruturada, a gestante tinha um adicional de peso corporal de 2 (kg), já no início da intervenção a gestante e encontrava-se com 52 (kg) e no final com 56 (kg). Podemos observar que a pesquisa mostrou como a atividade física, aliada ao monitoramento nutricional, auxilia para que a gestante não ganhe muito peso.
Podemos perceber ainda que durante a intervenção houve aumento da massa magra de (kg) 39,36 para 44,17 (kg) e diminuição do % de gordura de 24,81 (kg) para 21,83 (kg).
De acordo com Artal et. al. (2003), durante a gestação as exigências calóricas devem considerar o peso atual da gestante e o tipo de atividade física exercida. Para mulheres eutróficas, recomenda-se um adicional de 300 kcal diárias a partir do segundo trimestre de gestação, principalmente de carboidratos, refletindo num ganho ponderal total em torno de 12,5 quilos (CASTRO et al, 2006).
Não obstante, com o desenvolvimento do feto, há um aumento do apetite, sendo necessário maior controle do ganho de peso e, nesse momento, a atividade física entra como um fator preponderante, pois quando combinados, nutrição e exercícios, eles contribuem com o monitoramento nutricional, auxiliando no controle do ganho de peso, possibilitando um retorno mais rápido ao peso de antes do período de gestação, melhorando a qualidade de vida tanto da mãe quanto do feto, que é diretamente atingido pela atitude da mãe (CHISTÓFALO, TUMELERO, 2003).
Estudos têm demonstrado que, durante a gravidez, ocorre um incremento de ganho de peso, e caso esse peso em excesso não seja controlado e termine não sendo eliminado ao final da gravidez, conseqüências prejudiciais à saúde podem ocorrer (JEFFREYS, 2005).
Considerações finais
Evidenciamos nesse estudo que as queixas, dores, mudanças fisiológicas e psicológicas do período gestacional em que se encontrava a gestante, podem ser amenizadas, e até mesmo extinguidas, por meio da prática de exercícios aeróbicos, exercícios de força e alongamentos. Já a prática de exercícios aeróbicos acompanhando as sessões de exercícios de força pode auxiliar na manutenção do peso corporal, massa magra e % de gordura durante o período gestacional.
Os resultados obtidos por meio do programa de treinamento individualizado foram satisfatórios, pois a gestante teve suas queixas e dores reduzidas, além da manutenção do peso corporal, massa magra e % de gordura. Entre as queixas e dores apontadas no início do programa, não obtivemos melhora significativa em apenas um aspecto (câimbras).
Ressaltamos que, para a manutenção do peso é necessário monitoramento nutricional para que as gestantes não o ganhem em excesso, possibilitando um retorno mais rápido ao número apresentado no período pré-gestacional. Assim, a gestante fisicamente ativa propicia melhoras tanto para a saúde da mãe quanto do feto.
Pode-se perceber que a prática de atividades físicas representa uma importante forma de promover benefícios às gestantes, sendo esses, de ordem física, psicológica e social, visando à promoção saúde e qualidade de vida.
Embora já se reconheça a contribuição da prática da atividade física regular e orientada durante a gestação, ainda não existe consenso no estabelecimento da conduta ideal para ela. Não se encontrou na literatura revista, qualquer tipo de padronização de atividade recomendadas por órgãos especializados.
Porém, faz-se necessário a realização de outros estudos com o objetivo de analisar de forma mais aprofundada os efeitos da musculação no período gestacional, visto que a prática da musculação, quando prescrita adequadamente, não prejudica o desenvolvimento do feto e muito menos induz a ocorrência de abortos espontâneos, como muitas mulheres temem, isso só ressalta sua importância na manutenção da saúde materna e do bem estar do feto.
Sendo assim, é importante destacar que todo exercício deve ser feito de forma personalizada, levando em consideração cada gravidez, sua prática consentida pelo obstetra e acompanhada por um profissional de Educação Física. A gestante não deve ultrapassar seus limites, pois o período gestacional humano compreende diversas mudanças corporais, no qual a gestante sofre adaptações fisiológicas, psicológicas e anatômicas. Assim acreditamos que a prática de atividade física deve ser incentivada antes, durante e após a gestação.
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