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Educação Ambiental nas aulas de Educação Física: o 

desafio dos esportes de aventura como agente integrador

Educación Ambiental en las clases de Educación Física: el desafío de los deportes de aventura como agente integrador

Environmental Education in Physical Education lessons: the adventure of adventure sports as an integrating agent

 

*Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação Física

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

**Professor Doutor do Curso de Graduação

e Pós-Graduação em Educação Física da UFSC

Andrey Portela*

Sidney Ferreira Farias**

andreyportela@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Entende-se por Educação Ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente. A Educação Ambiental é um componente essencial, integral e permanente da educação, devendo estar presente, de forma articulada, em todos níveis e modalidades do processo educativo, como também ser abordada por todas as disciplinas, inclusive a Educação Física. Este processo de ensino e aprendizagem deve considerar os alunos em todas as suas dimensões. Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a abordagem da temática socioambiental na Educação Física Escolar, tendo como principal meio para isto a prática dos esportes de aventura na natureza.

          Unitermos: Educação Ambiental. Educação Física. Esportes de aventura.

 

Resumen

          Se entiende por Educación Ambiental los procesos por los cuales el individuo y la colectividad construyen valores sociales, conocimientos, habilidades y actitudes dirigidas a la conservación del medio ambiente. La Educación Ambiental es un componente esencial, integral y permanente de la educación, debiendo estar presente, de forma articulada, en todos los niveles y modalidades del proceso educativo. También debería ser abarcada en todas las asignaturas, incluso en la Educación Física. Este proceso de enseñanza debe tener en cuenta las características de los alumnos en todas sus dimensiones. Este artículo tiene como objetivo reflexionar sobre la temática socioambiental en las clases de Educación Física Escolar, teniendo como principal insumo a la práctica de los deportes de aventura.

          Unitermos: Educación Ambiental. Educación Física. Deportes de aventura.

 

Abstract

          Environmental Education is the process in which the individual and the collectivity build social values, knowledge, skills, attitudes and competences in order to preserve the environment. Environmental Education is an essential, global and permanent educational component that should be present, in an articulated manner, in every level and modality of the educational process, as well as being taught in all subjects, including Physical Education. This teaching and learning process must consider the students' characteristics as a whole. This essay aims at reflecting about the approach of socio-environmental issues in Physical Education classes at school and having the practice of adventure sports in nature as a means of achieving it.

          Keywords: Environmental Education. Physical Education. Adventure sports.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação Física como área de conhecimento e atuação, trás consigo um conteúdo formado e influenciado por um caráter histórico-cultural, evidenciando seu vínculo com o contexto onde tais conhecimentos são forjados (FENSTERSEIFER, 200-).

    As atividades desenvolvidas pela Educação Física Escolar vêm sofrendo modificações durante a história, e apresentando focos como a higiene, a disciplina, o desempenho esportivo e mais atualmente a saúde.

    Segundo Betti (2003), a Educação Física Escolar, na condição de disciplina, tem por finalidade propiciar aos alunos a apropriação crítica da cultura corporal de movimento, visando formar o cidadão que possa usufruir, compartilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais do exercício da motricidade humana. Tais afirmações se encontram também nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs.

    Segundo Marques (1993) não se ensina ou aprende coisas, mas relações estabelecidas em entendimento mútuo e expressas em conceitos, que por sua vez, são construções históricas, isto é, nunca dadas de vez, mas sempre retomadas por sujeitos em interação e movidos por interesses práticos no mundo em que vivem.

    Sendo assim, a sociedade do século XXI é cada vez mais caracterizada pelo uso intensivo do conhecimento, seja para trabalhar, conviver ou exercer a cidadania, seja para cuidar do ambiente em que se vive.

    Assistimos nas últimas décadas à ascensão da cultura corporal e esportiva como um dos fenômenos mais importantes nos meios de comunicação de massa e na economia mundial.

    O esporte é um dos fenômenos mais importantes do nosso século e deve ser analisado, criticado e transformado pela Educação Física nas diferentes dimensões. Uma das mais atuais manifestações esportivas são os chamados esportes de aventura, que, na sua maior parte, são modalidades que se caracterizam por um íntimo contato com a natureza (TAHARA et al., 2006).

    A temática ambiental também surge na sociedade contemporânea permeando vários campos do conhecimento e repercutindo de forma significativa nos propósitos da educação escolar.

    Neste sentido, freqüentemente, a Educação Ambiental – EA, é apontada como um dos principais caminhos para a formação de pessoas capazes de lidar com os problemas e conflitos socioambientais, para que estejam preparadas para a compreensão dos debates nessa questão.

    Atualmente, a EA consolida uma das principais ênfases de propostas curriculares e associa-se à formação da cidadania, considerada uma das principais tendências crescentemente incentivadas no decorrer das últimas décadas (LAYRARGUES, 1999; CHAO, 2004).

    O tema meio ambiente, incluído nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs, pretende contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos a decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade local e global (BRASIL, 1998).

    De acordo com o artigo 2 da lei nº 9.795 de 27/04/1999, a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

    Sendo assim, a partir da temática ambiental e do próprio processo de educação ambiental, somados ao fenômeno esportivo como algo que legitima a Educação Física, surge as seguintes questões: é possível trabalhar educação ambiental nas aulas de Educação Física? Qual o potencial da prática dos esportes de aventura como agente integrador da Educação Física Escolar com a temática EA? Como organizar este ensino de modo a garantir um processo de construção de conhecimento de modo prazeroso, criativo e não-autoritário? Que estratégias e conteúdos utilizar para que o aluno não seja mero reprodutor de movimentos estereotipados, e passe a ser um consciente cidadão do mundo?

    Muitas vezes nos sentimos impotentes frente à realidade escolar, devido, entre outros fatores, à falta de uma proposta de trabalho, onde, para Ibri (1992) apud Betti (2007), aprendizagem é o processo de aquisição de conceitos e de modificação de condutas.

    Considerando as afirmações iniciais e as questões apresentadas, este ensaio tem como objetivo gerar uma reflexão sobre a relação da temática ambiental e seu processo educacional com os conteúdos da Educação Física Escolar, em particular com os esportes de aventura.

    Tal reflexão justifica-se tanto por uma atual tendência de prática destes esportes, como pela necessidade de abordar a temática socioambiental na disciplina Educação Física, diante de um contexto onde a formação desses professores possivelmente não contemple tal realidade.

Educação Ambiental e Educação Física

    Ao constatar que o homem é um componente da natureza, possuindo os mesmos elementos em sua composição física, sendo que a diferença está na sua capacidade de pensar e interferir nos processos, surge uma reflexão da relação homem com o meio ambiente, especialmente no que diz respeito à forma de retirar o seu sustento e buscar a satisfação de suas necessidades, o que tem modificado suas atitudes ao longo dos últimos anos.

    Houve um aumento significativo da consciência sobre os limites da natureza, uma vez que, depois de tanta degradação em todos os países, o homem tem buscado conhecer mais sobre o meio ambiente para respeitar seus limites.

    Os primeiros movimentos considerando a contribuição do processo educativo relacionados à questão ambiental ocorreram em meados da década de 60.

    Para Dias (1992), a expressão "Educação Ambiental" teria surgido durante um encontro de educadores na conferência de Keele, na Inglaterra em 1965. Segundo o autor, educação ambiental implica em consciência a respeito dos processos socioambientais emergentes, sendo importante a participação dos cidadãos na tomada de decisões e a transformação dos métodos de pesquisa e formação a partir de uma ótica holística e enfoques interdisciplinares.

    Portanto, a Educação Ambiental foi identificada como um elemento crítico para a promoção de um novo modelo de desenvolvimento, dada a sua natureza interdisciplinar, polifacetada e holística, reunindo os elementos necessários para contribuir decisivamente com a promoção das mudanças de rota que a humanidade carece (CHAO, 2004; DIAS, 2003).

    A Educação Ambiental é um processo por meio do qual as pessoas aprendem como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade. Busca desenvolver nas pessoas conhecimentos, compreensão, habilidades e motivação para adquirir valores, mentalidades e atitudes necessárias para lidar com questões ou problemas ambientais e, além disso, encontrar soluções sustentáveis para esses problemas.

    Mesmo assim, vários autores apresentam questões como: Qual é a verdadeira contribuição da EA no enfrentamento da degradação ambiental? Qual é a correlação existente entre o aumento da consciência ecológica e a diminuição da degradação ambiental? A EA influencia no controle da crise ambiental? Caso sim, como e quando?

    Apesar destas e de muitas outras questões permanecerem sem respostas, a tendência da inclusão da dimensão ambiental na Educação, conquistando todos os espaços pedagógicos disponíveis na estrutura educacional, tem como premissa básica a crença cristalizada de que a educação ambiental atua numa relação causal e linear entre o aumento de uma consciência ecológica e a diminuição da degradação ambiental, mesmo ainda não possuindo base científica consistente.

    A Lei nº 6.938/81 (BRASIL, 1981), que institui a Política Nacional de Meio Ambiente no seu artigo 2, inciso X, que trata da EA, atesta a necessidade de promover a EA a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.

    A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988), no seu capítulo VI, artigo 225, inciso VI, que trata da EA, também afirma que se deve promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.

    Finalmente, a Lei no 9.795/99 (BRASIL, 1999), que institui a Política Nacional de EA, em seu artigo 2, afirma que a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal.

    Quanto a educação formal, a EA também deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas.

    Com isso, fica destacado a necessidade da inclusão da dimensão ambiental na Educação, em todos os espaços pedagógicos disponíveis, estando implícito nesse pressuposto, a premissa do aumento da consciência ecológica através da EA.

    Mas, como poderemos discutir a questão ambiental em cada área de conhecimento, respeitando a tendência da inclusão da dimensão ambiental de forma transversal na grade curricular? Ou seja, como cada área de conhecimento pode contribuir para uma discussão da questão ambiental? Como a dimensão ambiental vai entrar no currículo da História, da Geografia, da Biologia, da Matemática, da Sociologia, da Educação Física?

    Muito se tem pesquisado a respeito da implementação deste tema no currículo escolar. Quanto à abordagem deste na Educação Física Escolar, percebe-se a escassez e, portanto, a necessidade de pesquisas que venham a contribuir para o aprofundamento relativo à Educação Ambiental na Educação Física Escolar.

    Para reflexão, podemos partir de algumas questões como: O lugar ocupado pela EA na disciplina de Educação Física contribui para a construção de conhecimentos ambientais? Os conhecimentos construídos através das aulas de Educação Física promovem mudanças de atitudes com relação à preservação ambiental? Qual conotação curricular os professores que ministram a disciplina de Educação Física, atribuem à EA? Como organizar o planejamento para promover a inclusão da EA no currículo escolar? E como o professor de Educação Física integra seu trabalho com o dos professores de outras disciplinas e com o currículo escolar como um todo?

    De acordo com Rodrigues e Darido (2006), mesmo com a divulgação dos Parâmetros Curriculares Nacionais brasileiros sobre necessidade de se trabalhar a temática relacionada ao Meio Ambiente nas aulas de Educação Física, essas temáticas ainda não são recorrentes.

    Segundo os PCNs, a principal função do trabalho com o tema Meio Ambiente é contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade sócio-ambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem estar de cada ser humano na sociedade local e global, desenvolvendo nos alunos uma postura crítica diante da realidade e das informações veiculadas pela mídia ou trazidas da rua.

    Como aponta Medina (2000), a introdução da dimensão ambiental no sistema educacional exige um novo modelo de professor. A formação e a continuação do mesmo, é a chave da mudança que se propõe, tanto pelos novos papéis que os professores terão que desempenhar no seu trabalho, como pela necessidade de que sejam os agentes transformadores de sua própria prática.

    Em muitos casos, a EA ainda é praticada de modo artesanal, sem profissionalismo, isto é, muito em nível de sentimento do professor, com pouca ou nenhuma formação em termos de capacitação e de recursos.

    A mudança pedagógica exige compreensão sólida da natureza do conhecimento que se deseja constituir, pois professores não abrem mão do que estão ensinando enquanto acreditarem que a ciência é um conjunto de verdades descoberta por cientistas, e que o importante é memorizá-los (MALDANER, 2000 apud FENSTERSEIFER, 200-).

    Para Caparroz e Bracht (2007), o professor de Educação Física deve ser autor de sua prática e não um mero reprodutor do que foi pensado por outros. O professor deve construir sua prática com referências em ações/experiências e em reflexões/teorias, desde que esse processo se dê de maneira autônoma e crítica, indicando a importância de uma formação inicial e continuada, além de bem estruturada, em Educação Ambiental, que ajude o professor na reflexão de sua ação, tanto prática quanto teórica.

    A Educação Física Escolar deve levar os alunos a se perceberem integrantes, dependentes e agentes transformadores do ambiente, identificando seus elementos e as interações entre eles, contribuindo ativamente para a melhoria do meio ambiente, buscando ampliar de uma visão biológica, para dimensões afetivas, cognitivas e socioculturais.

    Quanto aos conteúdos trabalhados na Educação Física Escolar, segundo Rodrigues e Darido (2006), podem ser temas e possibilidades de trabalho nas aulas de Educação Física que abordem a temática ambiental: o meio ambiente, a temperatura e aulas de Educação Física; Educação Física, lazer e espaço natural; Espaços disponíveis para as aulas de Educação Física; Saúde e natureza; Esportes de aventura e o meio ambiente, entre outros.

Esportes de aventura e Educação Ambiental

    Na sociedade contemporânea tem se assistido o cultivo de atividades corporais praticadas em espaços abertos, ao ar livre, em ambientes naturais. São exemplos dessa valorização a prática de modalidades esportivas como o surf, o montanhismo, o mountain bike, as caminhadas ecológicas, o mergulho, o rafting, o vôo livre, entre outras atividades de lazer e/ou esportivas praticadas na natureza.

    Tal tendência pode ser evidenciada pela crescente busca dos esportes de aventura, o que pode carregar valores que retratam uma nova dimensão do relacionamento homem-natureza, e um novo potencial educacional (RODRIGUES; DARIDO, 2006; INÁCIO, 2006).

    Em oposição à vertente institucionalizada do esporte espetáculo em que preponderam as práticas mecanizadas, a eficácia do rendimento corporal e a produção de bens e serviços, os esportes de aventura buscam, segundo Costa (2000), resgatar os valores de beleza, auto-realização, liberdade, cooperação e solidariedade.

    Além disso, os esportes de aventura, sobretudo aqueles realizados junto à natureza, representam mais uma possibilidade de aproximação entre o indivíduo e o meio ambiente, devido à interação com os elementos naturais (TAHARA et al., 2006; MARINHO, 2004).

    Desta forma, é necessário então, um olhar mais cuidadoso em relação à inserção dos esportes de aventura nos conteúdos da Educação Física Escolar, e suas influências tanto na cultura corporal de movimento, como também no processo de Educação Ambiental.

    Para Maroun e Vieira (2007); Vaquera (2005), esse enfoque pode representar um grande diferencial, pois desperta a percepção dos alunos para o fato de que os seres humanos são parte integrante do meio ambiente, contribuindo para a compreensão de como suas ações interferem na natureza.

    Acompanhando o projeto pedagógico de cada escola, as aulas de Educação Física devem incluir a dimensão da EA no seu trabalho cotidiano, utilizando tanto os espaços da escola como das áreas próximas, tais como parques, praças e praias, espaços possíveis para as práticas de aventura e/ou da natureza.

    Porém, se por um lado pode-se lançar um olhar positivo em relação a interação do homem com a natureza através da prática dos esportes de aventura, por outro este processo merece atenção, pois o crescente surgimento de modalidades esportivas que utilizam o meio natural para a sua prática, associado ao aumento do número de praticantes, resulta em uma exploração maior dos fatores ambientais envolvidos no desenvolvimento dessas atividades (MAROUN; VIEIRA, 2007; SALUSTIANO et al., 2007; LEITE; CAETANO, 2004).

    O que é um alerta, pois se atualmente os esportes de aventura são vistos positivamente pela sociedade pelos benefícios advindos de sua prática, esse conceito poderá ser modificado a partir do momento que associarem o esporte como um dos responsáveis pela degradação das áreas naturais, onde, esta maior proximidade com o ambiente natural, também pode ter conseqüências como a poluição sonora, visual e ambiental.

    Ainda, Marinho (2001; 2004) e Inácio et al. (2005a; 2005b), acrescentam que as atividades esportivas realizadas em ambientes naturais podem proporcionar uma visão reduzida da natureza e, neste caso, a proteção ambiental parece ser irrelevante. Costa (1998) afirma que, embora divulguem que as práticas junto à natureza são preservacionistas, ainda sim há o risco de haver um desequilíbrio nos ecossistemas devido à construção de infra-estruturas de apoio à sua realização.

    Para que isso seja modificado é essencial que os profissionais de Educação Física, juntamente com professores/profissionais das diversas áreas, estejam discutindo esta temática. Para que não aconteça uma degradação descontrolada do ambiente é preciso aprofundar essas questões, exigir um planejamento adequado das atividades esportivas realizadas em meio natural, visando a prevenção, minimização ou eliminação das possibilidades de ocorrência de danos ambientais.

Considerações finais

     Como vimos, a questão ambiental é foco de grandes preocupações na atualidade. O ser humano é o único no planeta capaz de destruir a natureza, esquecendo-se que a vida no planeta só foi possível devido à harmonia dos elementos naturais.

    A EA é enfocada nos PCNs no sentido de fortalecer sua prática, seja pela sua aplicabilidade na instituição escolar, seja pelo estímulo onde diferentes profissionais da área educacional percebam que não é possível conceber uma educação comprometida com a continuidade da vida humana desacompanhada de sua dimensão ambiental.

    Portanto, segundo Sousa (2007), a EA seria um processo que tem o papel de desenvolver uma população consciente, preocupada com o meio ambiente e com os problemas que lhe são associados. Uma população dotada de conhecimentos, habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção dos novos.

    De acordo com essa definição, várias questões estão envolvidas nessa temática, não apenas as ligadas à problemática do ambiente natural, mas também o bem estar no meio urbano, envolvendo o destino do lixo, a reciclagem, o problema da água, a preservação da cultura para que gerações futuras possam desfrutá-las.

    Afinal de contas, apenas uma consciência ecológica genuína é objeto único da educação ambiental? Apenas a dimensão moral apresenta condições de proteger a natureza? Apenas a motivação ecocêntrica deve ser considerada eficaz para a proteção ambiental?

    Para Freire (1982), educar-se é conscientizar-se, e que "conscientização" significa desvelamento crítico das instâncias de dominação existentes na realidade e transformação dessa mesma realidade rumo a uma sociedade sem opressores nem oprimidos.

    Nesse contexto, o papel da Educação Física como um dos veículos de Educação Ambiental é significativo e urgente, pois deve considerar o homem como parte do meio ambiente, ou seja, não basta se preocupar apenas em catar latinhas de alumínio e reciclar, substituir os combustíveis fósseis por combustíveis renováveis. É preciso perceber também os problemas sociais além da degradação ambiental, como a questão da fome, da má distribuição de renda, das doenças e da intolerância humana, entre outros.

    Para resolver os problemas ambientais, é necessário mais do que separar o lixo para reciclagem ou fechar a torneira enquanto se escova os dentes. Refletir sobre o nosso comportamento e as relações que temos com a natureza e com as pessoas também é parte fundamental desse processo.

    Sendo assim, a temática ambiental sendo abordada nas aulas de Educação Física Escolar através dos esportes de aventura praticados na natureza, consiste num mútuo conscientizar-se, feito de reflexão e ação, visando a construção dessa ordem socioambiental sustentável, lembrando que, segundo Savater (2000), não se pode ensinar nada se nem o professor acredita na verdade do que está ensinando e que é verdadeiramente importante sabe-lo.

    Este indivíduo denominado “professor” é permeado por sua história de vida, suas emoções, seu corpo e personalidade, pela cultura e por seus pensamentos como educador, que tem como um de seu objetivos mostrar aos alunos que, através da Educação Física e da escola, ele irá construir conhecimentos importantes para sua vida.

    Fica claro que muito mais importante do que impor aos professores de Educação Física a abordagem da temática ambiental em suas aulas, é a necessidade de formar (como também a continuidade desta formação) tais professores com conteúdos práticos e teóricos adequados para sua atuação docente, dando subsídios para que os mesmos possam modificar e/ou adaptar suas aulas conforme as necessidades ou particularidades do seu espaço de ação.

    Acredito na possibilidade de se trabalhar os conteúdos da EA nas aulas de Educação Física, porém, é necessário uma maior atenção, e porque não, o desenvolvimento de propostas que embasem melhor esta prática, garantindo o aprendizado dos alunos de maneira prazerosa e crítica. Está reflexão deve partir de todos os espaços educacionais, porém, parte das universidades a maior responsabilidade de pensar sobre a formação dos futuros professores e sobre os meios para esses professores formarem cidadãos que interagem com o meio ambiente.

    Os esportes de aventura como conteúdo abordado nas aulas de Educação Física Escolar, apresentam um grande potencial para que o professor faça seus alunos perceberem de maneira crítica a relação homem e natureza. Este potencial nasce de maneira favorecida pelo fato destes esportes colocarem os indivíduos em contato com a natureza e por estes tomarem consciência de que este espaço natural pode ser usufruído de maneira responsável e prazerosa.

    É claro que se torna ingênuo o fato de pensar que apenas a prática dos esportes de aventura junto à natureza, por si só, é suficiente para a compreensão das questões ambientais. Embora exista entre os praticantes um envolvimento com as questões ambientais, o que determinará o nível reflexivo sobre uma ou outra questão é a reflexão crítica e atenta realizada pelos indivíduos e estimulada pelos professores de Educação Física, na busca de uma melhor qualidade de vida e de um meio ambiente mais equilibrado.

Referências

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