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Benefícios da implantação de um programa de ginástica laboral

Beneficios de la implantación de un programa de gimnasia laboral

Benefits of program implementation of labor gymnastics

 

*Graduação em fisioterapia pela Universidade de Passo Fundo Pós-graduação
em Fisioterapia do Trabalho pelo Colégio Brasileiro de Estudos Sistêmicos, CBES

**Possui graduação em fisioterapia pela PUC/PR. Pós-Graduação em Metodologia
do Ensino Superior pela PUC/PR e mestrado em Engenharia de Produção
com ênfase em ergonomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul

***Atualmente está realizando especialização em Atividade Física, Desempenho Motor

e Saúde pela UFSM e especialização em Biomecânica pela Universidade Feevale

Graduada em Quiropraxia pela Universidade Feevale

****Possui graduação em Educação Física Licenciatura Plena pela Universidade

Federal de Santa Maria, especialização em Aprendizagem Motora com ênfase

em Esportes Aquáticos pela Universidade Federal de Santa Maria, mestrado

em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria

com ênfase em Medidas e Avaliação/Cineantropometria e doutorado em Ciência

do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria com ênfase

em Medidas e Avaliação /Cineantropometria. Atualmente é professor adjunto

da Universidade Federal de Santa Maria

*****Possui graduação em Educação Física pela Universidade Federal

de Santa Maria (2004) e mestrado em Administração pela Universidade

Federal de Santa Maria

Cristina Lírio*
Lucy Mara Baú**
Daiane Cesca***

Luciane Sanchotene Etchepare Daronco****

Laércio André Gassen Balsan*****

laerciobalsan@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          As empresas têm voltado maior atenção à qualidade de vida dos trabalhadores, fazendo com que aumente os investimentos na implantação de programas voltados a prática de exercícios físicos. O objetivo do presente estudo foi em primeira análise caracterizar as condições de trabalho para posteriormente implantar um programa de ginástica laboral em uma usina de triagem e compostagem de resíduos sólidos, localizada em uma cidade do interior do Rio Grande do Sul - Brasil. A amostra foi formada por 17 trabalhadores com idades entre 20 e 47 anos. Os dados foram coletados através de observações diretas, filmagens, fotos, e entrevistas com os trabalhadores. Como instrumento de avaliação antes e após a aplicação da ginástica laboral foi utilizado o protocolo BR 48 de pausas e micro pausas. Esse instrumento permitiu a caracterização da população e mapeamento da dor e o desconforto dos trabalhadores. Como resultado da aplicação da ginástica laboral constatou-se que houve aumento dos índices de trabalhadores sem queixas, bem como a diminuição nos percentuais de indivíduos que sentiam dor intensa. Ficou evidente, portanto, que a ginástica laboral, é eficiente na prevenção das doenças e melhora da qualidade de vida dos trabalhadores mesmo sendo aplicada em um curto espaço de tempo.

          Unitermos: Ginástica laboral. DORT. Qualidade de vida.

 

Abstract

          Companies have turned more attention to quality of life of workers, causing increase investment in the implementation of programs aimed at physical exercise. The aim of this study was the first analysis to characterize the working conditions for later implant a labor gymnastics program at a plant for sorting and composting of solid waste, in a city located in the interior of Rio Grande do Sul – Brazil. The sample consisted of 17 workers aged between 20 and 47 years. Data were collected through direct observation, video recordings, photos, and interviews with workers. As a tool for evaluation before and after application of a labor gymnastics protocol was used 48 BR breaks and micro pauses. This instrument allowed the mapping and characterization of the pain and discomfort of workers. As a result of the implementation of labor gymnastics was found that increased rates of workers with no complaints, as well as the decrease in the percentage of people experiencing pain. It was evident; therefore, that labor gymnastics is effective in preventing disease and improving quality of life of workers even being applied in a short time.

          Keywords: Labor Gymnastics. DORT. Quality of life.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Hoje, mais do que nunca, os países procuram manter a qualidade de vida de seus cidadãos, mantendo o mercado abastecido, buscando, contudo, na reciclagem, uma maneira de não prejudicar a natureza criando programas locais e mundiais de conscientização e educação do problema (PIRES, 2002).

    Surgiu, dessa maneira, a empresa socialmente responsável, que recicla o lixo, trata seus efluentes para que agrida o menos possível a natureza e ajuda a comunidade com os resultados obtidos por sua reciclagem (PIRES, 2002).

    No entanto, sabe-se que a grande maioria da população ainda não está consciente da importância da separação do lixo na sua origem. Assim, as usinas se vêem na situação de preparar o lixo que não é segregado na sua origem, mantendo dessa forma estações de triagem. Esse processo pode ser manual ou mecânico ou ainda conjunto como ocorre na maioria das usinas de lixo implantadas no Brasil (SILVA, 2000).

    Além disso, é fato facilmente constatável que mais e mais trabalhadores se queixam de uma rotina de trabalho, de uma subutilização de suas potencialidades e talentos, e de condições de trabalho inadequadas. Esses problemas ligados à insatisfação no trabalho têm conseqüências que geram um aumento de absenteísmo, uma diminuição do rendimento, uma rotatividade de mão de obra mais elevada, reclamações e greves mais numerosas, tendo um efeito marcante sobre a saúde mental e física dos trabalhadores (FERNADES, 1996). Segundo Barbatini (1990), quando alguns desses problemas estão presentes no local de trabalho, há perda de produção e altos gastos com afastamentos médicos.

    Conforme Oliveira (2002), Moreira (2001) e Brandão (2005), os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho são as doenças ocupacionais que mais acometem a saúde do trabalhador de forma epidêmica nas últimas décadas, e, constituem-se como um problema de saúde pública, com repercussões sociais e econômicas.

    Segundo a Norma Técnica do INSS sobre DORT, Lesões por Esforços Repetitivos (LER) é uma 'síndrome clínica', caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não por alterações objetivas. São as afecções de músculos, tendões, fáscias, ligamentos e nervos, isoladas ou combinadas, com ou sem degeneração dos tecidos (NAKACHINA, 2003).

    Conforme Barbosa (2002) e Nakachina (2003), os principais fatores que levam às doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho - DORTS é força excessiva, repetitividade, postura inadequada, compressão, vibração mecânica e predisposição.

    De acordo com Quilter (1998) tais distúrbios osteomusculares podem apresentar-se como fadiga, fraqueza, sentimento de peso, tremores, dormência, formigamento, articulações enrijecidas, dificuldade ao executar movimentos precisos e necessidade de automassagem freqüente.

    O combate desses problemas passa obrigatoriamente pela prática regular de atividade física. Contudo, a ginástica laboral vem sendo um recurso utilizado na promoção de qualidade de vida, permitindo o descanso e a recuperação muscular do trabalhador (POLITO, 2002; ZILI, 2002; OLIVEIRA, 2006).

    Lima (2004) conceitua a ginástica laboral como a prática de exercícios, realizada coletivamente durante a jornada de trabalho, prescrita de acordo com a função exercida, tendo como finalidade a prevenção de doenças ocupacionais, promovendo o bem estar individual, por intermédio da consciência corporal: conhecer, amar e estimular o seu próprio corpo.

    A ginástica laboral são exercícios efetuados no próprio local de trabalho, em sessões que variam de 10 a 15 minutos, tendo como principais objetivos a prevenção das doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho e a diminuição do estresse, através de exercícios de alongamento e relaxamento. Esta atividade pode ser realizada antes (preparatória), durante ou após (compensatória) a jornada de trabalho (MICHELS, 2001; CARVALHO, 2003, BERGAMASCHI, 2003).

    A ginástica laboral teve a primeira publicação em 1925, na Polônia, cujo exemplo foi seguido por russos e holandeses. Após a Segunda Guerra Mundial, o hábito foi difundido por todo o Japão. A partir dos anos 70 a prática da atividade física no trabalho começou a ser difundida no Brasil. A fábrica de tecidos Bangú foi a pioneira e após o Banco do Brasil com a Associação Atlética do Banco do Brasil (REVISTA CONFEF, 2004).

    De acordo com Sharkey (1998), a atividade física durante o expediente de trabalho tem a importante tarefa de prevenção, das DORTS, bem como do sedentarismo, diminuindo os riscos de invalidez decorrentes do ofício ou de se aposentarem precocemente devido às doenças.

    Segundo PEGADO (1990), algumas empresas experimentam resultados frustrantes em seus programas de exercícios porque os orientadores do programa não estavam preparados para conduzir adequadamente a ginástica laboral.

    Foi pelos motivos citados acima que o presente estudo buscou identificar as queixas de dor e desconforto antes a após a implantação de um programa de ginástica laboral em usina de triagem e compostagem de resíduos sólidos. Dentro dessa perspectiva, o desenvolvimento do presente estudo se deu por meio de uma pesquisa exploratória quase experimental desenhada como antes-depois sem grupo controle cujo caso foi uma usina de triagem e compostagem de resíduos.

Referencial teórico

    O mercado atual prioriza a diminuição dos custos e um aumento da produtividade. Para isso, introduz novas formas de organização, novas tecnologias e equipamentos, o que faz com que os trabalhadores fiquem cada vez mais limitados a movimentos repetitivos (MORAES, ALEXANDRE e GUIRARDELLO, 1999).

    Candotti, Stroschein e Noll (2011) citam vários estudos (PASTRE et al., 2007; SOARES, ASSUNÇÃO e LIMA, 2006; MUROFUSE e MARZIALE, 2001; FERNANDES; ASSUNÇÃO e CARVALHO, 2010; PICOLOTO e SILVEIRA, 2008) que têm demonstrado que movimentos repetitivos, longas jornadas de trabalho e mobiliário inadequado, os quais resultam em alta prevalência de lombalgia e problemas posturais. A atividade física vem se demonstrando uma grande aliada na prevenção das doenças ocupacionais (POLITO, 2002). Além disso, diminui o processo degenerativo, provocado pelo envelhecimento garantindo maior longevidade com maior qualidade de vida (NAHAS, 2001).

    Atentas a isso, algumas empresas brasileiras estão introduzindo a Ginástica Laboral como uma das ferramentas para promover o bem estar de seus funcionários (MARTINS e DUARTE, 2000). MARTINS e MICHELS (2001) apud GRANDE et al., (2001) ressaltam que, no Brasil, uma das formas mais utilizadas de intervenção no trabalho, com intuito de prevenção de doenças e promoção da saúde do trabalhador é a Ginástica Laboral.

    A Ginástica Laboral tem por objetivo a diminuição do número de acidentes de trabalho, a prevenção de doenças causadas por traumas cumulativos, a prevenção da fadiga muscular, a correção da postura corporal, o aumento da disposição do funcionário e uma maior integração entre os funcionários (DIAS, 1994). A prática da Ginástica Laboral proporciona benefícios ao empresário que lucra com a diminuição do absenteísmo e com o aumento da produtividade. Enquanto que, o empregado recebe melhorias em sua qualidade de vida (MARTINS e DUARTE, 2000).

    A Ginástica Laboral consiste em exercícios realizados no próprio local de trabalho, atuando de forma preventiva e terapêutica. São exercícios leves e de curta duração (DIAS, 1994; GUERRA, 1997).

    Deve ser praticada de forma voluntária durante o próprio expediente de trabalho (LEITE, 1995) e sem levar o trabalhador ao cansaço enfatizando o alongamento e a compensação das estruturas musculares envolvidas nas tarefas ocupacionais diárias (GUERRA, 1997). Além dos efeitos físicos, a Ginástica Laboral promove melhorias relacionadas ao aspecto social e psicológico do indivíduo, uma vez que, promove a descontração, a melhora do relacionamento interpessoal e um aumento da auto-estima (CAÑETE, 1996).

    Segundo Zilli (2002), a Ginástica Laboral pode ser classificada de acordo com seu horário de aplicação em: preparatória ou de aquecimento, compensatória e relaxamento.

    A Ginástica Laboral Preparatória ou de Aquecimento ocorre no início da jornada de trabalho e tem por objetivo preparar o corpo para o trabalho (ZILLI, 2002), ativando a circulação e o aparelho respiratório, além de preparar as estruturas musculares (PADÃO e MONTEIRO, 1992). Tem a duração aproximada de 10 a 12 minutos e inclui exercícios de coordenação, equilíbrio, concentração, flexibilidade e resistência muscular (ZILLI, 2002), fazendo com que os colaboradores fiquem menos suscetíveis a lesões (PADÃO e MONTEIRO, 1992). Monteiro (1993) ressalta que a maioria dos acidentes ocorre nas primeiras horas de trabalho, devido à sonolência e falta de preparo muscular.

    A Ginástica Laboral Compensatória é realizada durante a jornada de trabalho e tem por objetivo prevenir a fadiga, pois compensa as tensões musculares adquiridas pelo uso excessivo ou inadequado de algum músculo e atua de forma a prevenir a fadiga (ZILLI, 2002). Essa ginástica é muito importante, pois quebra a rotina prevenindo acidentes de trabalho (PIGOZZI, 2000).

    A Ginástica de Relaxamento é realizada no final da jornada de trabalho e tem por finalidade a redução de tensões físicas e psíquicas adquiridas durante o trabalho. Nessa fase, são realizados alongamentos, exercícios respiratórios e meditação (ZILLI, 2002).

    A autora ainda ensina que a Ginástica Laboral também pode ser classificada quanto ao seu objetivo em: Corretiva ou Postura, e de Compensação.

    De acordo com a autora, a Ginástica Laboral Corretiva visa fortalecer os músculos menos utilizados e alongar os músculos mais sobrecarregados a fim de equilibrar os agonistas e antagonistas. Já a Ginástica Laboral de Compensação utiliza-se de exercícios para compensar as posturas estáticas ou unilaterais, melhorando a postura dos praticantes e evitando a fadiga muscular do trabalhador.

    Muitas empresas tem se beneficiado com a Ginástica Laboral. Dias (1994), exemplifica com o caso da fábrica de Tintas Renner, na qual a Ginástica Laboral produziu uma diminuição da procura ambulatorial, diminuição do índice de absenteísmo, aumento da disposição para o trabalho, diminuição dos problemas com o sindicato decorrentes de reclamações sobre doenças profissionais, melhoria das dores articulares/musculares e melhoria do relacionamento interpessoal. Em um estudo desenvolvido por Martins e Duarte (2000) também foi verificado diversos benefícios advindos da Ginástica laboral. Os autores encontraram melhoria significante do percentual de gordura, pressão arterial e flexibilidade. Esses resultados foram decorrentes de apenas quatro meses de Ginástica Laboral executada durante o período de quinze minutos, realizada três vezes por semana.

    De mesmo modo, Militão (2001) demonstrou que a ginástica laboral, quando orientada diretamente pelo professor de educação física, reduz significativamente as dores nas costas, de cabeça, nos ombros e pescoço, nos membros superiores e inferiores. Diminuiu também o desânimo, a falta de disposição, insônia e irritabilidade e, por conseguinte, melhora a qualidade de vida.

Método

    Essa foi uma pesquisa de campo, que procede à observação de fatos e fenômenos exatamente como ocorrem no real, com base numa fundamentação teórica, objetivando compreender e explicar o problema pesquisado (MARCONI e LAKATOS, 1996).

    Este estudo caracteriza-se como sendo exploratório quase experimental desenhado como antes-depois sem grupo controle. Triviños (1987) reforça afirmando que o estudo descritivo visa expor com precisão fatos e fenômenos. Além disso, descreve relações entre variáveis (GIL, 2002), sem ter o dever de explicar os fenômenos estudados, embora essa descrição sirva de base para tal explicação (VERGARA, 2006).

    No que se refere à estratégia de pesquisa, utilizou-se o estudo de caso, o qual, de acordo com Yin (2006), objetiva a investigação de um fenômeno dentro de seu contexto de vida real. A implantação da ginástica laboral foi realizada em uma usina de triagem e compostagem de resíduo sólidos, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul. A usina é de responsabilidade de um consórcio intermunicipal ao qual pertencem nove municípios. Atende 60 mil habitantes com uma quantidade de 25 toneladas de resíduos por dia.

    Na usina trabalham 28 funcionários, sendo que 20 são do sexo masculino e 8 do sexo feminino, com idades entre 20 a 47 anos. Dentre os 28 trabalhadores, 17 aceitaram participar voluntariamente do estudo. Dessa forma, a ginástica laboral foi aplicada como instrumento de análise a 65% da população.

    Após a aprovação do estudo pelo comitê de ética do grupo CBES de Porto Alegre, e o preenchimento do termo de consentimento livre e esclarecido, foram realizadas entrevistas com os trabalhadores, supervisores, gerência, observações diretas e filmagem do posto de trabalho com o objetivo de compreender o sistema organizacional da empresa e quais eram as estruturas corporais mais exigidas durante a jornada de trabalho.

    Como método de avaliação antes e após a implantação da ginástica laboral foi utilizado o Protocolo BR- 48 (Análise de Pausas e Micro Pausas) que compreende dados sobre idade, sexo, tempo de função, jornada de trabalho, realização de rodízio, qualidade do sono, postura para dormir, atividade de lazer entre outras.

    O Protocolo BR 48 também compreende um mapa corporal dividido em segmentos e tem por objetivo mapear o desenvolvimento de desconforto e dor dos trabalhadores. São classificados o grau de dor muscular, sendo 0 (sem dor) até 7 (dor intensa).

    As sessões da ginástica laboral foram realizadas durante o período de dois meses, sendo aplicadas quatro vezes por semana, durante 10 minutos, no inicio da jornada de trabalho.

    O protocolo de exercícios foi baseado em quatro etapas: aquecimento, alongamentos musculares, relaxamento e atividades lúdicas. As aulas foram realizadas no pátio da usina e acompanhadas de fundo musical.

    Os dados obtidos a partir do BR – 48 foram organizados e analisados estatisticamente em planilha Excel. Foram realizadas a estatísticas descritivas comparando os resultados antes/depois.

Resultados

    A amostra foi constituída por 17 membros, com idade variando entre 20 e 47 anos, sendo 65% do sexo masculino e 35% do sexo feminino.

    De acordo com o sistema organizacional da empresa, a jornada de trabalho é de 8 horas diárias, iniciando às 8 horas e terminando às 17 horas, com intervalo para almoço das 12 às 13 horas.

    Uma questão deveras importante são as pausas destinadas ao restabelecimento das forças do trabalhador. No entanto, a única pausa que está acontecendo é o intervalo do almoço. Grandjean (1998) ressalta que as pausas regulares são importantes para reabilitar o organismo do excessivo exercício exigido pela atividade realizada no ambiente de trabalho.

    Durante toda a jornada de trabalho, os funcionários realizam suas atividades em pé e em postura estática fazendo movimentos repetitivos em ciclos menores que 30 segundos. Segundo Grandjean (1998), a posição em pé é a de maior dispêndio de energia e de maior sobrecarga sobre as estruturas de sustentação do corpo, aumentando o peso sobre a região lombo sacra, possibilitando dessa forma o aparecimento de lombalgias, hérnias e varizes.

    Moreira e Carvalho (2001) relatam que nenhuma postura é suficientemente adequada para ser mantida confortavelmente por longos períodos, podendo ocasionar sobrecarga estática sobre os músculos e outros tecidos e, conseqüentemente, causar dor e desconforto.

    Quando indagados sobre atividade física, 71% dos entrevistados praticavam algum tipo de atividade uma, duas, três ou mais vezes por semana. Segundo Pinto (1997), um mínimo de atividade física traz um grande benefício para a saúde. Sharkey (1998) afirma que a falta de atividade física é considerada um fator de risco determinante para a saúde das pessoas. De acordo com Achour Jr. (1995), somente a prática dos exercícios físicos não seria suficiente, o importante, é que estes sejam feitos de forma correta, para poderem trazer benefício, pois, do contrário, podem trazer, inclusive, prejuízo.

    Com relação à qualidade de sono foi verificado que 83% dormiam bem e 17% tinham uma qualidade de sono ruim. Os distúrbios do sono podem acarretar comprometimento do desempenho profissional, perturbações do humor, acidentes do trabalho, aumento da incidência de doenças cardiovasculares e hipertensão arterial sistêmica (DINGES, 1994).

Quanto à preferência de postura para dormir 18 % dormiam de barriga para cima, 6% de barriga para baixo e 76% dormiam de lado. De acordo com Aldi (2008), o decúbito lateral e o dorsal são as melhores posturas para dormir.

    Segundo Marcelino (2003), o lazer é visto como fruto da sociedade urbano industrial e, dialeticamente incide sobre ela, como gerador de novos valores que ampliem o universo das manifestações do brinquedo, jogo, festa, recreação, prazer propiciado, descanso, divertimento, desenvolvimento social e pessoal. Foi verificado que 85% dos trabalhadores da usina tinham atividade de lazer.

    Na tabela 1, são demonstrados as dores e/ou desconfortos que os funcionários sentiam nos doze meses anteriores ao início da Ginástica Laboral:

Tabela 1. Dores e desconfortos nos 12 meses anteriores

    A partir daí, são apresentados os Gráficos 1 e 2 para melhor visualizar a comparação dos dados sobre possíveis sintomas de dores, antes e após o período da ginástica laboral, os quais passamos a constar:

Gráfico 1. Intensidade de Dor antes do programa da ginástica laboral

 

Gráfico 2. Intensidade da dor após realizar as atividades de ginástica laboral

    Podemos observar graficamente, que houve um aumento nos índices sem dor, em praticamente todos os itens em análise, bem como uma diminuição nos percentuais de indivíduos que sentiam dor intensa.

    Entretanto, para elucidarmos ainda mais os resultados, podemos visualizar o Gráfico 1, que é parte integrante deste artigo, e mostra os resultados de forma individualizada, ou seja, a análise foi verticalizada, e cada item foi analisado separadamente, antes e após o experimento, onde destacamos o seguinte:

    Houve uma diminuição do percentual de indivíduos, em praticamente todos os itens analisados, no que tange a sem dor, isso significa que a pratica de Ginástica Laboral realizada surtiu efeito, ao passo que diminuiu o percentual dos funcionários que sentiam dor leve, moderada ou intensa. Esses resultados vão ao encontro dos resultados trazidos por Militão (2001) que demonstrou que a ginástica laboral, quando orientada diretamente pelo professor de educação física, reduz significativamente as dores nas costas, de cabeça, nos ombros e pescoço, nos membros superiores e inferiores. Diminuiu também o desânimo, a falta de disposição, insônia e irritabilidade, e, por conseguinte melhora a qualidade de vida. Em seu estudo o autor encontrou que a Ginástica Laboral contribuiu de maneira significativa para adoção de hábitos alimentares mais saudáveis e para um sono mais tranqüilo. Em outro estudo realizado com costureiras de um hospital universitário Moraes, Alexandre e Guirardello (1999), concluíram que alterações do ambiente e posto de trabalho associado à adoção de exercícios supervisionados, orientações posturais gerais e modificações da organização do trabalho, podem aliviar as queixas relacionadas ao sistema músculo-esquelético.

Conclusão

    Através da análise dos resultados pode-se concluir que o programa de ginástica laboral é considerado um exercício eficaz para diminuir a dor e o desconforto e prevenir as doenças relacionadas ao trabalho, e assim, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores.

    Segundo Pinto (2003) e Dias (1994) os benefícios da ginástica laboral é algo incontestável, promovendo a redução de acidentes de trabalho, integração entre os funcionários, aumento da auto-estima, do desempenho e da produtividade.

    Uma questão deveras importante são as pausas destinadas ao restabelecimento das forças do trabalhador. No entanto, a única pausa que está acontecendo é o intervalo do almoço. De acordo com Grandjean (1998), as pausas são importantes para reabilitar o organismo do excessivo esforço exigido pela atividade realizada no ambiente de trabalho.

    Os resultados desta pesquisa corroboraram com os resultados obtidos por outros estudos, ao passo que constatou-se que houve aumento dos índices de trabalhadores sem queixas, bem como a diminuição nos percentuais de indivíduos que sentiam dor intensa. Ficou evidente, portanto, que a ginástica laboral, é eficiente na prevenção das doenças e melhora da qualidade de vida dos trabalhadores mesmo sendo aplicada em um curto espaço de tempo.

    Como limitações a pesquisa não apresenta grupo controle e medidas clínicas antes do início da prática da Ginástica Laboral. Ainda como o tempo de aplicação da atividade preventiva foi curto e a amostra pequena vê-se a necessidade de aprofundar este estudo para melhor apreciação científica dos resultados.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 168 | Buenos Aires, Mayo de 2012  
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