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Atividades Físicas de Aventura na Natureza: 

emoções, aventura, risco e imaginário

Actividades Física de Aventura en la Naturaleza: emociones, aventura, riesgo e imaginario

 

*Graduação em Educação Física Bacharelado – Universidade Estadual de Londrina

com experiência na área de Educação Física atuando nos seguintes temas:

AFAN/Atividades de Aventura, Mountain Bike, Cicloturismo/Viagens de Bicicleta,

Lazer na Natureza. Aluno-especial do PPG Ciências da Motricidade UNESP Rio Claro

**Graduado em Educação Física pela Escola Superior de Educação Física de Jundiaí

com especialização em Fisiologia do Exercício e Treinamento Desportivo, ambos

pela UNIFESP. Atua na área do treinamento de corrida de rua desde 1998, abrangendo

os contextos do rendimento atlético, do lazer e da qualidade de vida

***Mestrando em Ciências da Motricidade pela Universidade Estadual

Paulista UNESP Rio Claro. Graduado em Educação Física pela Universidade

Metodista de Piracicaba e integrante do GPL (Grupo de Pesquisa em Lazer)

****Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo (1998). Livre Docência

em Sociologia do Lazer e Cultura Popular pela Universidade Estadual

Paulista-UNESP (2007). Atualmente é professora adjunta da Universidade

Estadual Paulista-UNESP. Tem experiência na área de Educação, com ênfase

em Antropologia Educacional, atuando principalmente nos seguintes

temas: cultura, educação, comunidade, arte popular e corpo

Leandro Dri Manfiolete*

Marcelo Roberto Andrade Augusti**

Daniel Bidia Olmedo Tejera***

Carmen Maria Aguiar****

leandro_dri@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo tem por objetivo discorrer sobre aspectos que caracterizam as Atividades Físicas de Aventura na Natureza a partir das noções de aventura, risco e imaginário. Fez-se uma revisão bibliográfica procurando dialogar alguns autores com a temática em questão. Verificou-se que a busca pela aventura em si por meio dessas atividades suscitam emoções que levam ao indivíduo a um risco controlado em contato com paisagens distintas do cotidiano do praticante. Por fim, destaca-se que a sensibilização por meio da experiência no contexto dessas atividades suscita uma maior consideração com o outro e o ambiente vivido e presenciado. Este cenário portanto, não serve apenas como um pano de fundo, mas sim como ponto de partida para novas percepções em termos emocionais recriando um reencontro com o meio natural transformando-se numa possível volta com as próprias origens.

          Unitermos: Atividades Físicas de Aventura na Natureza. Aventura. Risco. Imaginário.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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    Com o passar do tempo e a vida cada vez mais agitada e estressante nas grandes cidades, uma parcela da população busca atividades dinâmicas e que não sejam as praticadas em academia, clubes ou algo do gênero, se distanciando um pouco do cotidiano urbano com destino a ambientes mais naturais. Por isso, indivíduos têm procurado um dos fenômenos de maior crescimento na atualidade que é a busca de atividades de aventura na natureza, seja por meio de Esportes de Aventura, Ecoturismo e claro as AFAN, podendo ser entendida, compreendida e significada sob diversos olhares.

    Para Freire (2006) estamos vivendo um momento de grandes contradições, uma vez que quanto mais a sociedade contemporânea, consumista e tecnologizante, luta pela busca do conforto, bem-estar, lucro, praticidade, estabilidade financeira, estilo de vida saudável, melhoria da qualidade de vida e liberdade, mais ela se vê aprisionada e entretida com atividades profissionais e diárias tediosas e repetitivas, pois com todo esse compromisso profissional, ligado ao campo do trabalho, não sobra ao homem energia e tempo para vivenciar situações que envolvam liberdade do eu.

    Uma abordagem bastante utilizada para entender a relação entre homem e natureza destaca as transformações oriundas das idéias proclamadas com o Iluminismo (séc. XVIII). Antes dessa era, a natureza não era apenas um quadro fixo, ela era também um regulador constante. As nossas ações se incorporavam rapidamente e tudo se podia experimentar sem grandes riscos, porque os equilíbrios naturais, fracamente modificados pela intervenção do homem, logo retornavam ao seu modo original (MARINHO, 2001).

    A partir de então, a razão assume o controle da produção de conhecimento. O homem passa a ver o mundo como uma grande máquina, composta por partes isoladas, passíveis de análise, estudo e compreensão. A sensibilidade é excluída da forma científica de conhecer o mundo, assim como também se fortalecem as oposições homem/natureza, sujeito/objeto, razão/emoção. Assim o homem (representando a razão) é o senhor de todas as coisas (objetos) podendo manipulá-las, construí-las e destruí-las. O conhecimento assume um caráter pragmático e, entre outros, institui-se uma sociedade de consumo (ZIMMERMANN, 2006).

    Com esse desenvolvimento, atualmente, vivemos em um ambiente de consumo tecnológico, buscando assim sempre o melhor conforto e bem-estar esquecendo-se da vida que nos passa consumindo cada vez mais nosso tempo com serviços e tarefas para a busca desse bem-estar. Assim, não sobra tempo de se gozar do tempo livre e realizar outros tipos de atividades ou até mesmo de se expressar livre e mutuamente.

    Essa aproximação ao ambiente natural denota um sentido de aproximação do homem às suas origens indo de encontro a tudo que vemos e sentimos colaborando para um equilíbrio do homem em seu ambiente e redefinição das suas próprias capacidades reformulando muitas vezes conceitos e estilos de vida.

    Nesse contexto, as AFAN têm sido apontadas, não apenas de maneira funcional, ampliando as possibilidades de revisão em relação à mesmice vivenciada no dia-a-dia, mas também, como um elemento em si mesmo, ou seja, que apresenta um novo redimensionamento, em que o homem aprimora prazerosa e conscientemente os conteúdos desta sua relação com a natureza (FREIRE, 2006).

    Bruhns (2003) reforça que a experimentação dessas novas emoções e sensibilidades pode conduzir as pessoas a diferentes formas de percepção e de comunicação com o meio que vivem, já que deve se considerar as diversas formas das pessoas se relacionarem com a natureza, bem como suas peculiaridades, seus desafios, suas reproduções, sua resistência e sua inserção no ambiente da prática e principalmente na conscientização no seu aspecto educativo para uma nova prática.

    Assim, podem as AFAN, uma das opções lúdicas, espontâneas e prazerosas possíveis, contribuir para a reaproximação das pessoas com a natureza transformando-os em parceiros nessa aventura? Estas de certa forma contemplam a gama das necessidades “radicais” do ser humano e podem favorecer trocas importantes durante a convivência desse modo, contribuindo para que o sujeito “aventureiro” perceba-se e se conheça melhor, interagindo cada vez mais com o ambiente e seus pares numa relação harmoniosa (CAMPAGNA, 2006).

    Os indivíduos inseridos nestas atividades são movidos pelos mesmos desejos e expectativas, seja para romper com aqueles limites impostos pela sociedade ou para vivenciar criativamente os momentos de prazer, durante as AFAN, os sujeitos se reencontram e, “como parceiros” na mesma aventura que a partir disso, se expressam sob inúmeras formas e oportunidades.

    Por isso quando estas se aproximam do ambiente natural, acabam compartilhando percepções, sentimentos, emoções, linguagens subliminares comuns, agregando dessa forma valores às suas relações, conferindo coesão ao grupo, coesão esta que se inicia, instalam e se solidifica graças à diluição de barreiras naturais e pessoais facilitadoras das trocas de experiências sensíveis sobre assuntos de interesse comum, relacionados a determinadas práticas (CAMPAGNA, 2006).

    Vivências junto à natureza a partir das AFAN podem representar oportunidades de se assumir riscos controlados, característicos das vivências lúdicas, associadas aos sabores de aventura, do ineditismo, da novidade, aspectos inerentes a estas práticas, capazes de instigar novas sensações e percepções, talvez bastante diversas daquelas do cotidiano massificador e reprodutivo do cotidiano urbano (TAHARA, 2006).

    Para Pimentel (2006) essa busca pela prática corporal no meio ambiente natural possui interesses diversos, entre eles podemos elencar: necessidade de sobrevivência (a caça, por exemplo), rituais de passagem (iniciação de neófitos), higienismo e nacionalismo (comuns no escoteirismo), contracultura (movimento de negação da sociedade de consumo: neo-rurais, hippies), estilo de vida (desde campistas até modismos fomentados pelo mercado), tratamento (terapias baseadas no desafio), treinamento empresarial (dinâmicas de recursos humanos de empresas) e relação hedonista com a natureza (senti-la, provocá-la e, reciprocamente, ser incitado por ela).

    As AFAN se configuram onde a natureza é utilizada como denominador comum, respondendo a opções atreladas a vários fatores, como a aquisição de imagens através da compra de um sistema de signos (estilo de vida envolvendo aventura, desafio, risco, natureza) sendo explorada no imaginário do indivíduo sob várias formas e sentidos.

    Outro aspecto que é evocado nessas atividades é a aventura. O que é aventura? Na etimologia da palavra, remete a acontecimento (do latim adventura), ou seja, o que rompe a rotina dos dias e provoca o espanto, a surpresa, o memorável. A partir do sentido etimológico dessa palavra, pode-se compreender que a imaginação humana incita o homem a se aventurar, remetendo aos acontecimentos, à história, imprimindo sentido às ações a serem executadas (COSTA, 2000).

    A imaginação humana adota o mundo como provocação concreta, solicitando a intervenção ativa e modificadora do homem; é a faculdade de formar imagens que ultrapassam e cantam a realidade. E o homem que se dispõe a isso, a transformar impossíveis em possíveis, realiza aventuras e para realizá-las, esse homem precisa antes de tudo sonhar, cantar seus desejos e reunir condições para cantar mais que sua vida; por isso a imaginação e a aventura acompanham o homem por toda sua existência (COSTA, 2000).

    Agora, do ponto de vista ontológico, a aventura se apresenta como inerente à natureza, sendo identificável em todas as culturas e épocas. Do ponto de vista da condição humana, esta se mostra como algo especificamente cultural/histórico, havendo épocas típicas de um espírito aventureiro e outras em que o espírito mergulha em si mesmo, reaparecendo renovado (COSTA, 2000).

    O aventureiro trata o incalculável da vida de maneira idêntica ao indivíduo que não desbrava lugares desconhecidos, levando a um comportamento parecido de situações calculáveis, pois mistificar a aventura e fazê-la ter significado é uma questão de imprimir sentido, já que a vivência é que transforma o episódio em acontecimento, de fato em verdadeira aventura. Este aventureiro cava nas condições existentes alguma situação, ou seja, ele é capaz de autocontrolar-se o suficiente para esperar e poder captar racionalmente a oportunidade que a intuição lhe diz ser a mais eficiente (COSTA, 2000).

    Esta aventura flui pelos caminhos subjetivos da imaginação, conduzindo seu portador a produções imaginárias fantásticas no qual a energia proveniente da natureza muito contribui para a fusão do sujeito com o mundo, encaminhando os praticantes a um modo de vida especial, a vivência da paixão por aquilo que acredita (COSTA, 2000).

    A aventura em si possui um caráter mágico no imaginário humano, apresentada como um mundo de imagens que se auto-organiza sob a forma de um sistema, constituindo-se como espaço único de liberdade que define a aventura humana que é por ela que o homem se mostra e interage com o mundo revelando um sentido além do qual se representa. Por isso, todos carregam dentro de si o desejo de desbravar, desprenderem-se e “voar” com liberdade, mas as máscaras sociais da cultura e do modo de educação que nos envolve, cultiva, em partes, esse desejo, fincando-lhes os pés na terra, pois ousada, a aventura se apresenta sempre carregada de risco e de incerteza (COSTA, 2000).

    Nessa perspectiva, há uma tendência natural para que o aventureiro aventure-se a competir com a natureza, a desafiá-la e a exteriorizar atitudes de enfrentamento, visando levar vantagens sobre ela. Longe de compartilhar com ela, o homem busca sobrepor-se a ela e, dessa forma, não evidencia em suas atitudes e comportamentos nenhuma “pista” de co-responsabilidade pelo seu destino. Ao contrário, o que se observa é uma relação do tipo predatória, onde as desvantagens de um são obtidas a partir das desvantagens do outro (MARINHO, 2001).

    Esta relação de competição e “sobrevivência” perante a natureza Le Breton (2006) afirma ser a chave do sucesso no contexto da sociedade contemporânea, sendo perfeitamente lógico na vontade de fazer suas provas, de só contar consigo próprio. As AFAN se alimentam da vontade de um corpo a corpo com a natureza onde somente os recursos pessoais estão em jogo no qual o individualismo contemporâneo encontra-se num terreno privilegiado: o homem sozinho diante da imensidão do mundo, na purificação das pressões e facilidades da vida em sociedade conferindo assim um valor à ação realizada.

    Para o autor, tudo o que se passa pelo corpo é valorizado (a resistência, o esforço, a luta, o suor, a força) são experiências que repousam no imaginário do contexto social, reduzindo os “sobreviventes” aos seus próprios recursos, levando ao limite a figura do individualismo. Com isso, o laço social se reduz a um grupo de amigos unidos nos mesmo esforços para conseguir atingir os objetivos; um pequeno grupo caloroso e solidário substitui o anonimato e a pressão social, compartilhando o sonho de um mundo diferente em que o lugar de cada um é marcado por sua tarefa, em que o reconhecimento mútuo está na base do cotidiano.

    Devido à crescente demanda social, as AFAN representam, numa sociedade pós-industrial, urbanizada e tecnológica, a ruptura dos padrões estabelecidos no ambiente não-urbano (a natureza) para recuperá-los logo depois no momento das práticas devido à sensibilidade causado pelo outro ambiente em que se está.

    O desequilíbrio e a inversão corporal constituem-se no paradigma do inovador, do temido e do admirado (quase do proibido), sendo o processo e não a meta o que se pretende. A viagem resultante é o produto de um desejo de quebra que busca experiências novas e prazerosas, passíveis de explicação (surge a partir daí o conceito de aventura) que propiciam o autoconhecimento corpóreo e incrementam o reconhecimento pessoal, a segurança e a auto-estima (BÉTRAN, 2003).

    Na sociedade atual, o risco é uma incerteza e indica a probabilidade do resultado de uma conduta, pois do ponto de vista da sociedade ocidental, a organização social e cultural visa controlar os perigos que possam prejudicar seus membros. A sociedade globalizada, preocupada em perseguir o risco, multiplica programas de prevenção e de controle, ao passo que as práticas individuais voltam-se a exposição voluntária de si no qual o risco calculado impõe-se como uma noção existencial para se pensar nas atitudes praticadas (COSTA, 2000).

    O indivíduo que mora em uma grande cidade e que em seu tempo fora do trabalho e das obrigações sociais e familiares procura pelas AFAN, toma a incerteza perante o risco incutida em seu imaginário, manifestando-se sob uma forma positiva de certeza da capacidade de alcançar o objetivo, porém, esta incerteza é do tipo cognitiva e motivadora aliada à tensão específica, elaborada como um desafio de desbravar, reconhecer as rotas do caminho percorrido, vencendo as distancias e desfrutando da beleza das paisagens naturais (COSTA, 2000).

    Toda prática das AFAN está associada ao risco e a incerteza. Algumas o fazem de forma lúdica calculando rigorosamente suas probabilidades, jogando com o desafio da própria existência, pois a experiência adquirida em ação logo após a prática leva a uma futura aquisição das técnicas, minimizando as possibilidades de acidentes incluídas num campo em que estas atividades podem ser controladas pelos atores sociais, porém, é a incerteza que os faz desafiá-la e resgatá-la constantemente (COSTA, 2000).

    A partir desse contexto Le Breton (2006) diz que toda tomada de risco contém uma parte mais ou menos lúcida de vontade, de confiança em si mesmo que a distingue da cegueira pura e simples ou de uma vontade afirmada de morrer. Esta supõe uma avaliação dos próprios recursos daquele que se apressa a se lançar na ação, um cálculo, mesmo que intuitivo, da probabilidade do sucesso, pois esta situação vem da hipótese de um destino favorável, de um poder particular, já que um de seus componentes está no sentimento de que uma ordem se desenha no seio do incalculável, que este não é absolutamente inacessível á inteligência do indivíduo.

    A reserva de prazer pelas emoções vividas, o contato com um mundo fenomenal o “autorizam” a enfrentar/desfrutar dos limites, reencontrando fortes sensações nas AFAN, jogando com a incerteza e o risco, da mesma forma que procura no resto da vida.

    Excluindo o momento da aventura, o indivíduo deve estar protegido com toda a segurança a que tem direito, pois parece tratar-se de um deslize do profano da vida pacata, segura, confortável, protegida pelos regulamentos sociais, buscando ao sagrado de uma vida que a luta e o sacrifício desembocam num êxtase, numa busca interior do sujeito pelo gozo das atividades de risco enfrentando a morte, ainda que simbólica, construindo uma sensação de renascimento de suas funções biológicas e psicológicas que o bem-estar se apresenta representando uma saudável condição de realização pessoal (COSTA, 2008).

    Assim, percebe-se que as AFAN surgem de uma alternativa do mundo contemporâneo como uma prática corporal sucinta de emoções não vistas e vivenciadas habitualmente, levando o indivíduo a um aparente distanciamento do meio urbano e da sua realidade junto com seus problemas, desfrutando de momentos que serão recordados constantemente no imaginário podendo até estas experiências ser incorporadas ao seu cotidiano.

    Com o aumento da devastação das áreas naturais e as condições insalubres, percebe-se um apelo em cuidado maior com o meio ambiente por meio de discursos emocionados e isolados, mas que cada vez ganham mais força por meio da reciclagem, conservação de matas, rios e mares. Esse mundo emocionado virou uma tendência em contraposição à aceleração das informações emergidas pelas conseqüentes mudanças frenéticas na vida da população.

    Para Machado (2006) esse mundo emocionado refere-se à busca incessante do homem por momentos, ações e experiências que fujam da superficialidade e representem algo de mais profundo aos valores atuais servindo como agentes potenciais de mudanças qualitativas no universo humano.

    Lacruz (2000) em seu trabalho relatou algumas emoções vividas pelos praticantes durante as atividades das AFAN como o temor que é a angústia ao enfrentamento de situações dotadas de incerteza, o medo provocado somente por perigos reais e palpáveis e também aos perigos imaginados; o risco descrito como uma percepção pessoal atribuído como uma situação perigosa enfrentada, sentindo próxima a possibilidade de existir algum dano, provocando doses de insegurança e incerteza.

    Já o risco controlado é uma sensação de risco que se encontra mitigada pela confiança empregada na tecnologia, no material empregado pela atividade em si, ou até mesmo na confiança das próprias possibilidades e conhecimento de suas limitações. A partir do risco controlado, têm-se o desligamento da atividade evocando uma situação de fortes emoções, pois percebe-se o risco à uma clara tensão na atividade, produzindo um alívio, uma distensão e relaxamento provocado pelo término da prática induzida por uma situação previamente vivida que vindo a partir daí a serenidade ao contínuo enfrentamento do risco moldando atitudes de calma ante situações vivenciadas como extremas (LACRUZ, 2000).

    As emoções vividas nas diversas fases da vida do indivíduo, o significado de tudo, a intensidade vivida em cada momento, pode ter participação efetiva no desenvolvimento da percepção refletida no comportamento de suas ações gerais, ao mesmo passo que ele se depara com variadas situações, mudadas através de várias atitudes sensibilizadas.

    Nesse sentido Chao (1999) nos mostra o conceito de auto-realização, de caráter subjetivo, variável a cada personalidade, porém, sabe-se que as pessoas auto-realizadas participam de uma causa exterior a si mesma, trabalham em algo com devoção, algo bastante precioso para elas, trabalham em algo denominado ”valores do ser”, já que no momento de vivência plena, esta é presenciada de forma desinteressada por meio da concentração e absorção total do momento.

    Com a vida cada vez mais agitada e o indivíduo acumulando muitas funções ocupando uma grande parte do seu tempo a dedicar-se ao trabalho, deixando de despender um tempo valioso para vivenciar outras situações fora da sua rotina. Na contramão dessa tendência algumas pessoas criam formas para ampliar sua visão de mundo, mudando valores e desmistificando paradigmas, fornecendo condições qualitativas de alteração do processo, priorizando ações de acordo com seus valores e necessidades. Nesse sentido, mostra-se a necessidade de vivenciar práticas emocionalmente estimulantes, para a melhora da percepção individual e das suas relações interpessoais no cotidiano, levando em conta tanto o contexto social como o pessoal (MACHADO, 2006).

    O ambiente natural, lugar onde se insere as AFAN, propicia o enriquecimento das habilidades sensíveis e emocionais, haja vista que se propicia maiores interações entre o ser humano e a natureza, valorizando a percepção por meio do desenvolvimento das potencialidades táteis, auditivas e olfativas, proporcionando sensações de pertencimento a algo grande, maior ao que é vivido habitualmente, requerendo assim um senso de responsabilidade e afetividade com os demais elementos da vida, diferente do meio urbano que se privilegia a visão, agilidade e o distanciamento entre as pessoas (MACHADO, 2006).

    Outro elemento visto como possibilidade de sensibilização e experimentação é encontrado ante situações de risco controlado, favorecendo dessa forma, o desenvolvimento da confiança em si próprio e no outro, por meio da superação de obstáculos e extrapolação de limites físicos e psicológicos (BRUNHS, 2003).

    Essa busca por novas sensações e emoções deve-se a apuração do sentido visual do ser humano no seu contexto, e nisto, mostra-se a supremacia da visão perante aos outros sentidos remetendo a carência de experiências ricas em emoções significativas.

    O ser humano sente a necessidade de experimentar práticas sensíveis repleta de emoções que estimulem o desenvolvimento do indivíduo como agente de sua cultura, surgindo daí a possibilidade das AFAN serem práticas que englobam todas estas vivências devidas às suas características e elementos, evidenciando a perspectiva de liberdade de opção e o mais importante, a sensibilização humana junto à espontaneidade (MACHADO, 2006).

    Marinho (2003) salienta este aspecto emocional, argumentando que as pessoas se sentem atraídas e motivadas pela busca destas emoções e pela aventura e que procuram o envolvimento com práticas alternativas e criativas de manifestação no tempo livre fora das obrigações profissionais e pessoais, tais como as AFAN, que requerem o meio natural como cenário principal para sua realização.

    Este cenário não ser apenas um pano de fundo, mas sim como ponto de partida para novas percepções em termos emocionais recriando um reencontro com o meio natural transformando-se numa possível volta com as próprias origens. Indo ao encontro desse meio natural, Marinho (2006) ressalta que as AFAN, na maioria das vezes, são praticadas em grupos, dos quais fazem parte, pessoas com diferentes modos de vida que em comum, possuem uma relação com o meio natural e, até mesmo, a descoberta de sentimentos possíveis de serem vividos em conjunto; vivem-se assim um prazer e emoções compartilhadas de certa forma, algumas diferenças que serão apagas por um sentimento coletivo. Talvez, esta característica peculiar, faça das AFANs, uma reação à realidade atual, repleta de efemeridade e superficialidade, surgindo como uma forte e criativa expressão dos diferentes grupos sociais.

Referências

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