Crianças associam as dificuldades encontradas na aprendizagem da dança a sua deficiência visual? Los niños, ¿asocian las dificultades encontradas en el aprendizaje de la danza a su discapacidad visual? Children associate the difficulties in learning to dance to their visual impairment? |
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Graduandas do curso de Ciências da Atividade Física da Universidade de São Paulo (Brasil) |
Renata Ferreira Simone Cassoli Tatiane Cardoso |
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Resumo Buscou-se investigar se crianças deficientes visuais praticantes de balé clássico associam de alguma forma eventuais dificuldades encontradas na aprendizagem da dança à sua deficiência. Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa, constituída por entrevistas realizadas com crianças deficientes visuais congênitas e deficientes visuais adquiridas. Utilizamos como recurso metodológico a entrevista semiestruturada, subdivida em quatro categorias: 1 - Motivos para dançar, 2 - Dificuldades encontradas na dança, 3 - A sensação de dançar e 4 - Mudanças na vida cotidiana que ocorreram após o início da prática. Nos resultados não encontramos diferenças entre as entrevistas realizadas com as crianças deficientes visuais congênitas em relação às crianças deficientes visuais adquiridas. Unitermos: Crianças. Deficiência visual. Aprendizagem motora. Dança.
Abstract We sought to investigate whether blind children practicing ballet associate in any way difficulties in learning to dance to their disability. This study was characterized as a qualitative research consisting of interviews with visually impaired children congenital and acquired visually impaired. Use as a methodology to semi-structured interview subdivided into four categories: 1 - Reasons for dancing, 2 - Difficulties encountered in the dance, 3 – The feeling of dancing and 4 – Changes in everyday life that occurred after the start of practice. The results found no differences between the interviews with visually impaired children in relation to congenital blind children acquired. Keywords: Children. Visual impairment. Motor learning. Dance.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Este estudo buscou investigar se crianças deficientes visuais praticantes de balé clássico associam de alguma forma eventuais dificuldades encontradas na aprendizagem da dança à sua deficiência. A hipótese deste trabalho é que crianças deficientes visuais não associam eventuais dificuldades na prática do balé à sua deficiência visual.
A visão é sem dúvida o maior captador de imagens sensório-motoras que o ser humano possui (CAZÉ; OLIVEIRA, 2008). De acordo com a OMS existem 45 milhões de cegos e aproximadamente 135 milhões de portadores de visão subnormal no mundo. O Brasil está classificado na fase intermediária de desenvolvimento, onde se apresenta o glaucoma, tracoma e traumatismo como principais causas de cegueira.
Existem dois tipos de cegueira: a congênita e a adquirida. O primeiro tipo se refere às pessoas que já nascem sem o recurso da visão, não possuindo imagens pré-formadas, inclusive a imagem corporal de si mesma. O segundo tipo se refere às pessoas que perderam a visão em algum momento da vida por diversas causas, possuindo assim imagens mentais anteriores à deficiência. A cegueira pode ser total ou parcial, sendo que na cegueira parcial, o indivíduo apresenta uma visão subnormal.
Há muito tempo, as pessoas com algum tipo de deficiência física são condenadas a fazer parte de uma camada excluída da sociedade. As barreiras arquitetônicas e o desprezo das limitações inseriram o deficiente físico na camada inativa da sociedade, contribuindo desta forma para o seu isolamento do contexto social com relação ao trabalho, a interação social, às práticas esportivas e artístico-culturais em que se pode inserir a dança.
Segundo Viana (2005): “mais do que uma maneira de exprimir-se por meio do movimento, a dança é um modo de existir”, pois, são infinitas as possibilidades de movimento do corpo humano e esses movimentos são impulsionados por motivações interiores que brotam exteriormente através dos gestos. Quando esses gestos se relacionam intimamente com o ritmo e o espaço, os sentimentos são desenhados pela emoção e são intencionalmente expressos. Esta é uma das analogias que pode nos remeter ao significado da dança. Dança e expressão corporal estão íntima e inseparavelmente relacionados, pois, tanto na dança quanto na expressão corporal a exploração sensorial é a principal ferramenta que pode intensificar e resgatar a consciência sensorial ajudando na aquisição de maior sensibilidade física consciente, abrindo desta forma, um caminho para o potencial individual dentro de cada um (VIANNA, 2005).
Dentro de um contexto que valoriza a individualidade e que busca a consciência sensório-motora de cada indivíduo, um dos métodos pelo qual a dança pode ser abordada é a dança educativa em que o processo de aquisição de habilidades específicas para dança é mais importante do que o produto final, ou seja, o desempenho ótimo. Esse método valoriza o desenvolvimento individual e não apenas o desenvolvimento padronizado dos indivíduos em que todos devem demonstrar a mesma habilidade para realizar determinado movimento.
Segundo Rengel e Mommensohn, a dança pode ser desenvolvida dentro de um processo que valorize o autoconhecimento e o engajamento na prática da criação através do movimento:
“A dança, enquanto processo de autoconhecimento (do corpo, de seus limites e de suas possibilidades) é instrumento de efetivação das relações sociais, que leva o indivíduo a experimentar novas possibilidades no plano do exercício de criação e de integração de um grupo. Ela atua como elemento transformador, pois, sem dúvida, promove em quem dela participa a aceitação de si mesmo e uma maior receptividade nos relacionamentos com os outros, mediante o envolvimento que se estabelece num trabalho prático”.
Até um tempo atrás a dança era uma atividade socialmente valorizada por ser praticada por corpos ditos perfeitos, ou seja, isentos de deficiência física e definidos conforme os padrões exigidos para o balé clássico (FREIRE, 2001), porém hoje é possível observar uma ruptura desses pré-conceitos acerca do dançarino. Atualmente, assistir a um corpo deficiente dançando suscita nas pessoas a idéia de superação e a consciência de que as atividades artístico-culturais que envolvem o movimento são para todos os corpos, pois todo corpo sempre tem um sentido a ser despertado para a construção, exploração e manifestação da sua personalidade, seja ele “deficiente” ou não.
No entanto, existem muitas abordagens que tem como propósito integrar o deficiente no contexto da dança educativa. Um dos métodos mais utilizados para a integração do individuo com necessidades especiais é a exploração da comunicação por meio do toque que possibilita o reconhecimento de si por meio do outro. Esse método foi desenvolvido por Steve Paxton na segunda metade dos anos sessenta e é denominado de Contact-Improvisation. De acordo com o Contact-improvisation os indivíduos se tocam e recebem reciprocamente informações sobre os movimentos uns dos outros possibilitando aos mesmos o desenvolvimento de aspectos importantes como a tomada de atitude, a noção de tempo, a orientação espacial, a orientação com relação ao parceiro, a melhor utilização da visão periférica e o desenvolvimento muscular.
Segundo Freire (2001):
“Um programa que busque desenvolver a educação através da dança e do movimento teria grandes chances de ser bem sucedido se atingir metas tais como: a) desenvolver por meio do movimento a consciência de um indivíduo integral: corpo, mente e emoção centralizados; b) ampliar o repertório de movimento; c) facilitar o autoconhecimento corporal por meio da interação social; d) observar e analisar o movimento, e) promover a formação estética; f) favorecer que os participantes possam opinar sobre as atividades realizadas; g) buscar técnicas propícias, levando-se em conta a singularidade de cada corpo e h) produzir conhecimento a partir da experiência e divulgar”.
A dança como atividade para pessoas com deficiência física é um trabalho relativamente recente, com pouca tradição e sem muitos documentos que ofereçam subsídios para a sua discussão (BRAGA et. al., 2002).
O deficiente visual possui fontes de percepção eficientes, o que possibilita a aprendizagem motora, mesmo sem ter a visão. A criança cega só poderá apresentar dificuldades nas tarefas cognitivas e perceptivas caso não tenha obtido uma série de experiências e oportunidades de explorar o ambiente, o que reforça a importância da dança, que pode ser usada como um instrumento que possibilita a exploração e o aumento deste repertório de experiências e oportunidades por meio do sistema somatossensorial, aguçando os sentidos tátil, auditivo e cinestésico (CAZÉ; OLIVEIRA, 2008). Segundo Kara-José (1988):
“A perda da capacidade visual acarreta conseqüências adversas, em nível individual e coletivo. A cegueira dá origem a problemas psicológicos, sociais, econômicos e de qualidade de vida, pois implica na perda de autoestima, de status, em restrições ocupacionais e em conseqüente diminuição de renda, que, por sua vez, produz dificuldades de sobrevivência”.
Segundo Imamura (1965) e Wilson (1967), estudantes cegos são mais submissos, menos autoconfiantes e menos auto-suficientes quando comparados com estudantes normo-visuais.
Geralmente, as pessoas portadoras de deficiência têm dificuldades com a expressão, movimentos criativos e interpretação, características que são ainda mais acentuadas nos deficientes visuais, devido à ausência de referências do mundo visual, visto que cerca de 85% dos contatos e estímulos entre pessoas normais são feitos através da visão. Os deficientes visuais freqüentemente tem o autoconhecimento prejudicado e, com o passar do tempo, a sua expressão facial fica cada vez menos significativa, tornando necessário que os mesmos participem de atividades que possam contribuir para a aquisição e melhora destes (LIMA; ZUCHETTO, s/d).
A dança tem um papel de suma importância na vida de crianças, adolescentes e adultos, pois contribui para o desenvolvimento da competência sensório-motora que ocorre ao longo da vida (LAKOFF; JOHNSON, 1999; LLINÁS, 2002). É de extrema relevância a atuação do deficiente visual no âmbito da dança, pois, ela favorece as interações espaço/temporais e corporais, intensifica o desenvolvimento dos processos mentais, além de melhorar o equilíbrio e a postura corporal. Ademais, a dança permite a liberação de emoções e sentimentos por intermédio dos movimentos, o que possibilita uma harmonia do corpo, auxilia na auto-estima e na auto-confiança, favorecendo desta maneira, a autonomia dos deficientes visuais.
A dança é uma motivação interior que ultrapassa as limitações físicas, pois quando a emoção não pode ser transmitida pelos sentidos que possibilitam ver ou falar, ela pode ser transmitida pela expressão corporal, pela dança. O resultado deste trabalho reforça esta idéia, pois, as crianças não relacionaram nenhuma dificuldade pessoal de aprendizagem das habilidades específicas do balé ao fato de serem cegas. Elas analisaram tais dificuldades da mesma maneira que uma pessoa dita normal faria, ou seja, atribuindo as dificuldades à coordenação, equilíbrio, flexibilidade e de forma alguma à cegueira.
Meios e métodos
Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa, constituída por entrevistas realizadas com 06 crianças deficientes visuais, sendo 3 deficientes visuais congênitas e 3 deficientes visuais adquiridas, com faixas etárias entre 7 a 12 anos de idade, do sexo feminino, estudantes de balé clássico da Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini.
A coleta de dados foi feita na própria Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini, onde as crianças realizam a prática.
Utilizamos como recurso metodológico a entrevista semiestruturada, subdivida em quatro categorias: 1 - Motivos para dançar, 2 - Dificuldades encontradas na dança, 3 - A sensação de dançar e 4 - Mudanças na vida cotidiana que ocorreram após o início da prática.
As entrevistas foram gravadas, e posteriormente, transcritas com o propósito de obtermos o conteúdo integral das respostas.
Resultados
1. Motivos para dançar
A motivação é um fator intrínseco importante no processo ensino-aprendizagem da dança, pois mobiliza e impulsiona o indivíduo, levando-o a agir para alcançar os seus objetivos e a buscar soluções para resolver os problemas (CAZÉ; OLIVEIRA, 2008).
A motivação leva as pessoas a escolherem fazer algo, executar algumas tarefas com maior empenho do que outras, ou permanecer numa determinada atividade por um longo período de tempo. O motivo é um fator interno que aciona o comportamento (TRESCA; DE ROSE JR. 2000).
Os principais motivos para dançar apontados por este grupo referem-se à sua opinião sobre a prática de dança: “Eu gosto de dançar porque eu acho legal” (Samara); e à sensação vivenciada durante a prática: “Me sinto feliz dançando algumas coreografias” (Vitória).
2. Dificuldades encontradas na dança
Com relação às dificuldades, a maioria do grupo associou suas dificuldades à execução da técnica: “Equilibrio” (Samara); “Os passos são difíceis, mostra aí junta depois abre e depois fecha... Aí é meio complicado!” (Giovana); “Um Passé... Porque tem que levantar a perna e pôr a pontinha do dedo aqui!” (Mel).
Apenas duas meninas relataram opiniões diferentes das apresentadas pelo grupo, sendo uma deficiente visual congênita (Vitória) e outra deficiente visual adquirida (Raíssa). Vitória afirma que: “Ah... pra mim nenhum passo é difícil, pra mim é... se eu ensaiar eu vou conseguir né”; enquanto Raíssa expressa que: “É tudo fácil, não é tão difícil assim! Difícil é não errar na hora da apresentação, o nervosismo”.
3. A sensação de dançar
Sobre as sensações vivenciadas durante a prática da dança, apenas uma menina do grupo, deficiente visual adquirida não mencionou o sentimento “felicidade”, enquanto todas as outras citaram. Algumas meninas além de mencionarem a felicidade, também acrescentaram outras citações, tais como: “Ah... eu me sinto feliz, animada” (Vitória); e “Feliz, emocionada” (Samara). Estes depoimentos estão de acordo com o estudo realizado por Braga e colaboradores (2002) que diz que “a dança constitui formas de expressar os sentimentos: desejos, alegrias, pesares, gratidão, respeito, temor e poder”. Outras meninas, além da felicidade, também falaram sobre sensações físicas: “Sinto mais leve, tenho uma postura melhor, me sinto feliz. Quando to triste e venho dançar saiu muito feliz” (Giovana). Apenas Raissa, a única que não mencionou a felicidade, distinguindo-se do grupo, afirmou: “Eu sinto equilíbrio e eu gosto”. A dança, além de trabalhar aspectos que envolvem a construção do pensamento, a criatividade e a noção espaço-temporal, também melhora a manutenção do equilíbrio e da postura corporal (CAZÉ; OLIVEIRA, 2008).
4. Mudanças na vida cotidiana que ocorreram após o inicio da prática
De acordo com Braga e colaboradores (2002), a dança tem como objetivo melhorar qualidades físicas como esquema corporal, equilíbrio, ritmo, coordenação motora, organização espacial e flexibilidade, além de favorecer a percepção corporal, o desenvolvimento físico, motor, neurológico e intelectual. Lima e Zuchetto concordam com Braga e colaboradores, pois afirmam que a dança pode contribuir para o desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo do deficiente visual, sendo que no aspecto cognitivo, a dança favorece o desenvolvimento da criatividade e memorização; no aspecto motor, o desenvolvimento das habilidades físicas básicas com destaque para o ritmo, equilíbrio, coordenação e flexibilidade, bem como as percepções cinestésicas como o esquema corporal, lateralidade e organização espacial e os sentidos sensoriais, principalmente a audição e o tato.
O grupo descreveu que as mudanças oriundas da prática de dança se referem às capacidades cognitivas e coordenativas. Samara disse que: “Hum... postura, direção, coordenação, postura... isso” melhorou após o início de sua prática, enquanto Mel afirma “Sim, a minha escola. As lições”, se referindo à melhora de seu desempenho escolar.
Apenas Vitória preferiu falar sobre as mudanças que ocorreram nas aulas de balé: “Ah... Mudou... Eu agora estou fazendo os passos né, um pouco mais melhor, né... to aprendendo cada vez mais que eu venho aqui”; enquanto Talía mencionou uma mudança de comportamento, ao declarar que: “Eu fiquei mais esforçada, aprendi a gostar mais de exercícios”.
De todo o grupo, Raíssa, deficiente visual adquirida foi a única que afirmou não ter havido mudança nenhuma em sua vida após o início de sua prática: “Não mudou nada, tá tudo igual”.
Considerações finais
Quando elaboramos o questionário para entrevistar as crianças deficientes visuais tínhamos estrategicamente o objetivo de não tocar no aspecto da deficiência visual para verificar se elas espontaneamente tocariam nesse ponto, para desta forma, conseguirmos avaliar se a deficiência visual encontrava-se à frente das sensações e dificuldades encontradas por estas crianças na dança. A resposta que obtivemos foi muito satisfatória, pois, percebemos claramente que as crianças não se sentem limitadas pela deficiência visual e que elas são capazes de sentir e realizar ações que expressem os seus sentimentos de maneira tão competente quanto uma criança não deficiente. Talvez se tivéssemos citado a deficiência visual durante as entrevistas elas poderiam se sentir diferentes porque estaríamos percebendo elas com diferença, por isso as questionamos da forma que questionaríamos crianças não deficientes, ficando claro o aspecto de que muitas vezes “nos vemos no espelho dos outros”, ou seja, nos enxergamos de acordo com a imagem que as outras pessoas nos transmitem de nós mesmos e para o deficiente a percepção do outro tem uma influência muito forte na sua motivação e auto-estima, desta forma, tentamos não invadir a percepção que a criança tinha da dança com relação a si mesma.
De acordo com os resultados, os principais motivos que levam as crianças deste grupo a dançarem são as sensações vivenciadas durante a prática e as suas opiniões sobre o que é dançar, quando afirmam, por exemplo, que “dançar é legal”.
As dificuldades apontadas pelo grupo referem-se à execução da técnica, sendo que apenas duas crianças discordaram desta opinião. A primeira criança deficiente visual congênita disse que a técnica não era difícil, visto que se ensaiasse seria capaz de realizá-la, e a segunda criança deficiente visual adquirida afirmou que a maior dificuldade não é a execução da técnica, mais sim não cometer erros durante a apresentação por causa do nervosismo.
Durante a dança, as crianças relataram sentirem emoções, enquanto apenas uma criança deficiente visual adquirida mencionou uma sensação física, no caso, o equilíbrio.
O grupo descreveu que as mudanças na vida cotidiana que ocorreram após o inicio da prática se referem às capacidades cognitivas e coordenativas, enquanto somente uma criança deficiente visual adquirida afirmou que não houve nenhuma mudança.
Durante a realização das entrevistas, nenhuma criança citou a sua condição de deficiente visual em nenhuma das categorias citadas acima. Não encontramos diferenças entre as entrevistas realizadas com as crianças deficientes visuais congênitas em relação às crianças deficientes visuais adquiridas. Apenas uma criança deficiente visual adquirida relatou respostas diferentes das demais em três das quatro categorias. Acreditamos que o motivo de suas respostas serem controversas às das outras crianças pode estar relacionado à sua idade, uma vez que esta possuindo 7 anos de idade foi a criança mais jovem a ser entrevistada, enquanto o restante do grupo era composto por crianças com faixas etárias entre 10 a 12 anos de idade.
Talvez, diferenças significativas poderiam ter sido encontradas nas entrevistas se as crianças deficientes visuais adquiridas tivessem iniciado a prática de dança antes de perderem a visão, podendo assim associar a sua vivência anterior à atual e apontar as dificuldades conseqüentes deste episódio, o que não é o caso deste estudo, em que todas iniciaram a prática já sem a visão.
Tivemos a oportunidade de assistir o ensaio das crianças deficientes visuais com crianças não deficientes e percebemos que todas elas, deficientes visuais ou não tinham os gestos e os padrões de movimento do balé muito similares, e que a motivação das deficientes visuais parecia ser até maior comparado às não deficientes, o que nos permite inferir que as crianças deficientes visuais não associam sua deficiência às dificuldades encontradas durante a dança, e que sua percepção quanto a esta prática não é influenciada pela sua deficiência, confirmando-se então, a hipótese deste trabalho.
Agradecimentos
Agradecemos à Associação de Ballet e Artes para Cegos Fernanda Bianchini, por ter nos recebido e apoiado a realização desta pesquisa.
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