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O perfil dos adolescentes usuários e não usuários de drogas 

em uma escola pública no município de Montes Claros, MG

The profile of teenagers users and non users of drugs in a public school in Montes Claros City, MG

Características de los adolescentes que consumen y no consumen drogas en una escuela pública en el municipio de Montes Claros, MG

 

*Cirurgião-dentista, Doutorando em Ciências da Saúde

Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

**Cirurgiã-dentista, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

***Enfermeiro, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

****Graduanda em Medicina, Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

*****Enfermeira, Preceptora do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde

Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

******Enfermeira, Doutora em Ciências, Tutora do Programa de Educação

pelo Trabalho para a Saúde. Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes)

(Brasil)

Danilo Cangussu Mendes*

danilocangussuodonto@yahoo.com.br

Elis Roberta Silveira Borges**

elisrsb@yahoo.com.br

Dimas Arcanjo de Oliveira***

dimasarcanjo@yahoo.com.br

Fernanda Cristhiny Cardoso****

nandacristhiny@hotmail.com

Ítala Apoliana Guimarães Amorim*****

italaguimaraes2@yahoo.com.br

Maísa Tavares de Souza Leite******

mtsiv@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A adolescência é o período em que o indivíduo fica exposto a inúmeros fatores de risco, e geralmente é nessa fase que se tem o primeiro contato com as drogas. O presente estudo teve como objetivo avaliar o uso de drogas por adolescentes e verificar possíveis associações com fatores sociodemográficos e as atividades de lazer praticadas pelos mesmos durante seu tempo livre. Trata-se de um estudo de natureza quantitativa do tipo transversal. Foram selecionados estudantes do ensino fundamental e aplicou-se um questionário de autopreenchimento, sendo que a variável dependente do estudo foi o uso de drogas no último mês. No total, 11% dos estudantes foram considerados usuários de acordo com os critérios adotados. A análise bivariada realizada por meio do teste qui-quadrado e exato de Fisher mostrou associação estatisticamente significativa entre a variável dependente uso de drogas e as independentes sexo masculino e adolescentes que trabalhavam. Além disso, o uso de drogas também esteve associado com as seguintes atividades de lazer “ir a shows musicais” e “ficar na rua em grupo”. Concluiu-se que os dados encontrados são essenciais para que a equipe da Estratégia Saúde da Família, juntamente com pais, professores e a sociedade, trabalhem esse assunto com os adolescentes, visando prevenir o consumo de drogas no território.

          Unitermos: Adolescente. Estudantes. Uso de drogas. Atividades de lazer. Atenção Primária à Saúde. Programa Saúde da Família.

 

Abstract

          The adolescence is the period that the individual is exposed to several risk factors, and generally it is the period that individuals make their first contact with drugs. This cross-sectional study aimed to evaluate the use of drugs by adolescents and to assess possible associations with sociodemographic factors and leisure activities practiced by them during their free time. The subjects of the study were 82 elementary school students that answered a self-administered questionnaire. The dependent variable of this study was the use of drugs in the last month. Overall, 11% of students were considered users according adopted criteria. Bivariate analysis performed by chi-square test and Fisher’s exact test showed statistically significant association between the dependent variable drug use and the independent variables male sex and workers adolescents. Besides, drug use had association with the following leisure activities "going to musical shows" and "stay in group on the street". The findings of this study are essential to the Family Health Strategy team, together with parents, teachers and society, to work out this issue with adolescents, aiming to prevent drug use in the territory.

          Keywords: Adolescent. Students. Drug use. Leisure activities. Primary Health Care. Family Health Program.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A adolescência, que literalmente significa “crescer dentro da maturidade”, é um período de transição entre a infância e a idade adulta, em que ocorre rápida maturação física, cognitiva, social e emocional. É difícil definir os limites precisos da adolescência, mas este período é costumeiramente visto como começando com o aparecimento gradual de características sexuais secundárias e terminando com o cessar do crescimento corporal1. Segundo a Organização Mundial da Saúde e o Ministério da Saúde, a adolescência compreende o período de 10 a 19 anos de idade2.

    Estar na adolescência é viver uma fase em que ocorrem inúmeras mudanças que se refletem no corpo físico, pois o crescimento somático e o desenvolvimento em termos de habilidades psico-motoras se intensificam e os hormônios atuam fortemente, levando a mudanças de forma e expressão3.

    Trata-se de um período crítico na vida do indivíduo, e é justamente nessa fase, em que o grupo de amigos atinge importância social principal e os conflitos familiares atingem o pico, que as drogas entram em suas vidas, seja como uma simples experimentação seja como consumo ocasional, indevido ou abusivo4,5. A adolescência é fase em que os indivíduos ficam expostos a múltiplos fatores de risco que os tornam vulneráveis para o uso de drogas e problemas associados6.

    Fatores de risco e proteção podem ser identificados em todos os domínios da vida, e não ocorrem de forma isolada, havendo entre eles considerável variabilidade de influência. Contudo, acredita-se que o risco é maior em indivíduos que estão insatisfeitos com a qualidade de vida, apresentam saúde deficiente, não detêm informações adequadas sobre a questão de drogas, têm fácil acesso às substâncias e integração comunitária deficiente. As deficiências nas políticas de educação, segurança, assistência social, economia e saúde parecem determinar a ocorrência do uso e abuso de drogas7.

    No Brasil, desde a década de 80, o uso de drogas lícitas e ilícitas vem assumindo proporções cada vez maiores. Pesquisas recentes mostram que a idade média de início do uso/abuso do tabaco e do álcool é 13 anos2. Como o uso de drogas freqüentemente tem seu início na adolescência, torna-se importante conhecer a população exposta ao risco do abuso de drogas e agir de forma eficiente. Dessa maneira, a realização de programas para a prevenção do uso de drogas e o tratamento dos usuários deve valorizar os aspectos biopsicossociais do ser humano. Além disso, para o êxito de tais iniciativas é primordial refletir sobre os fatores que podem ser protetores para o uso de drogas, tais como bom relacionamento familiar, religiosidade e disponibilidade de informações acerca da dependência e suas conseqüências e perspectivas do futuro8.

    Neste contexto, em que foram discutidas todas as particularidades que permeiam a fase da adolescência, e levando-se em consideração que a população de indivíduos com idade entre 10 e 19 anos no Brasil é superior a 40 milhões2, faz-se necessário implementar medidas no âmbito da atenção primária à saúde para este segmento populacional, visto que, na adolescência, a promoção da saúde e a prevenção de doenças são alternativas extremamente necessárias. A partir da década de 1990, na tentativa de oferecer cuidados primários à população, é implantado no Brasil o Sistema Único de Saúde (SUS), que traria como grande marco o direito universal à saúde. Neste contexto é apresentada a Estratégia Saúde da Família (ESF), que representa o primeiro nível de contato das pessoas com os serviços de saúde. A Estratégia Saúde da Família surge no Brasil como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, de acordo com os princípios do Sistema Único de Saúde9.

    Na busca de atender aos adolescentes no que diz respeito a sua vulnerabilidade perante as várias dúvidas existentes nesta faixa etária, o desenvolvimento das atividades de educação em saúde merece ser priorizado e planejado com o objetivo de promover mudanças de comportamentos, pela adoção de práticas sistemáticas e participativas pela equipe multiprofissional da Estratégia Saúde da Família10.

    O interesse pelas diferentes atividades de lazer sofre alterações na adolescência. Nessa fase, o indivíduo quer sair sozinho com os amigos, freqüentar lugares diferentes, praticar esportes. No seu tempo livre, os adolescentes costumam realizar atividades sozinhos, com amigos ou com a própria família11. Dessa maneira, é necessário identificar quais são as atividades realizadas pelos adolescentes em seu tempo livre e verificar possíveis associações entre essas atividades e o uso de drogas.

    O presente estudo teve com objetivo avaliar o uso de drogas entre adolescentes e verificar possíveis associações com variáveis sociodemográficas e atividades de lazer praticadas por esses adolescentes no uso do tempo livre.

Metodologia

    Este artigo tem sua origem em uma das atividades acadêmicas do Programa de Educação pelo trabalho para a Saúde (PET-Saúde) que está sendo desenvolvido em uma unidade da Estratégia Saúde da Família de Montes Claros-MG.

    A presente investigação trata-se de um estudo de natureza quantitativa do tipo transversal. Os indivíduos selecionados para pesquisa foram adolescentes de 11 a 19 anos de idade que estavam cursando o ensino fundamental em uma escola da rede pública de ensino na cidade de Montes Claros-MG. Os critérios de inclusão foram: ter idade entre 10 e 19 anos; estar regularmente matriculado na escola; aceitar participar da pesquisa tendo o termo de consentimento assinado pelo próprio adolescente ou pelo responsável (no caso de menores de 18 anos). Foram excluídos da pesquisa os adolescentes ausentes na escola nos dias da coleta de dados, os que não levaram o termo de consentimento devidamente assinado e aqueles que por vontade própria se recusaram a participar. Ao final, dos 290 estudantes na faixa etária de interesse, 82 foram selecionados para a pesquisa.

    Após a aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (parecer CEP, 1524/2009), da autorização da direção da escola e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido por parte dos estudantes ou responsáveis, iniciou-se a coleta de dados. Os alunos que aceitaram participar do estudo responderam ao questionário, individualmente e em sala de aula. O anonimato com relação aos questionários foi garantido aos alunos.

    A coleta de dados envolveu três questionários, buscando-se obter informações sobre aspectos sociodemográficos, atividades de lazer no tempo livre e triagem quanto ao uso e abuso de substâncias. O primeiro questionário utilizado foi o levantamento do perfil sociodemográfico, tendo sido utilizado um questionário composto por 15 questões fechadas, abordando dados gerais dos participantes e dados relativos à organização familiar dos mesmos. O segundo instrumento foi baseado no questionário desenvolvido por Cursino (1999)12 e abordou as atividades de lazer que os adolescentes praticavam no uso do tempo livre. Por fim, para a triagem do uso de álcool e/ou drogas entre os adolescentes foi utilizado como questionário, uma versão brasileira do DUSI (Drug Use Screening Inventory)13, composta por uma tabela que investiga a freqüência de uso de álcool e/ou drogas no último mês, seguida por 15 perguntas que abordam problemas associados ao uso de substâncias, como por exemplo desejo, compulsão ou “fissura” (“craving”), sintomas de tolerância e/ou abstinência ou comportamentos de risco como envolvimento em acidentes sob os efeitos de álcool ou outras drogas (área 1 do DUSI - uso de substâncias). As questões do DUSI são respondidas com “SIM” ou “NÃO”, sendo que as respostas afirmativas equivalem à presença de problemas.

    A variável dependente do estudo foi uso de drogas no último mês, sendo as categorias definidas em usuário e não usuário. Foram considerados usuários no último mês os adolescentes que mencionaram ter usado álcool três ou mais vezes no ultimo mês e/ou que haviam usado qualquer droga ilícita e/ou que apresentaram três ou mais respostas afirmativas na área “Uso de substâncias” do DUSI (área 1 do DUSI). De acordo com estudo prévio, este ponto de corte apresenta 72% de sensibilidade e 97% de especificidade na classificação de usuários versus não usuários ou usuários ocasionais14. Foram considerados não usuários no último mês os adolescentes que mencionaram consumo de álcool inferior a duas vezes nos últimos 30 dias e não apresentaram consumo de outras drogas nos últimos 30 dias, e/ou apresentaram no máximo duas respostas afirmativas na área de “uso de substâncias” do DUSI.

    Os dados foram analisados através do programa estatístico SPSS® (SPSS Inc., Chicago, IL, USA), versão 15.0 para Windows®. Primeiramente realizou-se a estatística descritiva dos dados. Posteriormente foi conduzida a análise bivariada para identificar possíveis associações entre a variável categórica uso de drogas no último mês e as demais variáveis sociodemográficas do estudo bem como aquelas relativas ao uso do tempo livre. O nível de significância estatística considerado foi fixado em 95% (p<0,05).

Resultados

    Os indivíduos participantes da presente pesquisa foram 82 adolescentes. A média de idade foi de 13 anos (±1.422), sendo a idade mínima de 11 anos e a máxima de 19. Os dados sociodemográficos e demais aspectos pertinentes para a caracterização dos indivíduos encontram-se listados na tabela 1. O perfil dessa população pode ser caracterizado da seguinte forma: adolescentes jovens (primeira metade da fase da adolescência) de baixa renda, não exercendo atividade laboral, vivendo com os pais e com bom relacionamento familiar. Com relação ao uso de drogas, 11% dos adolescentes (n=9) foram considerados como usuários no último mês seguindo a classificação do DUSI.

Tabela 1. Caracterização sócio-demográfica dos adolescentes de uma escola pública do município de Montes Claros-MG no ano 2009.

    A tabela 2 mostra a análise bivariada entre a variável dependente uso de drogas e as variáveis sociodemográficas. Observou-se diferença estatisticamente significativa entre a variável dependente e sexo do adolescente (p=0.021), com predominância de usuários de drogas no sexo masculino. Verificou-se também associação estatisticamente significativa com a variável trabalho, sendo que houve maior porcentagem de usuários entre os que exercem alguma atividade laboral, seja ela, em meio período, período integral ou somente “bicos”, ou seja, trabalho informal e ocasional.

Tabela 2. Análise bivariada entre variáveis sócio-demográficas e uso de drogas no último mês 

entre adolescentes de uma escola pública do município de Montes Claros-MG no ano 2009.

    Na tabela 3 estão listadas as atividades de interesse dos alunos no tempo livre, bem como a participação ou interesse em grupos de aprendizagem.

Tabela 3. Atividades dos adolescentes de uma escola pública do município de Montes Claros-MG no uso do tempo livre no ano 2009

    A tabela 4 mostra a análise bivariada entre uso de drogas e as atividades de lazer praticadas no uso do tempo livre. Associações estatisticamente significativas foram encontradas para as seguintes atividades: ir a shows musicais (p=0.045) e ficar na rua em grupo (0.006).

Tabela 4. Análise bivariada entre atividades de lazer e uso de drogas entre adolescentes de uma escola pública do município de Montes Claros-MG no ano 2009

Discussão

    A adolescência é um período de exposição e vulnerabilidade ao consumo de substâncias, época em que ocorre freqüentemente sua experimentação15. O abuso dessas substâncias aumenta o risco de uma série de problemas sociais e de saúde, como doenças sexualmente transmissíveis, gravidez indesejada, acidentes de trânsito, problemas comportamentais e violência16.

    Fatores de risco e proteção associados ao uso de drogas são citados na literatura, sendo considerados como fatores de risco o envolvimento parental ou familiar em consumo de substâncias psicoativas, não ser criado por ambos os pais, baixa percepção de apoio dos pais, ausência de prática religiosa, menor freqüência na prática de esportes; e configurados como fatores de proteção a confiança depositada nos pais e pares, menos conflitos e tentativas de separação na família, o envolvimento religioso e expectativas educacionais. São também citados os fatores sociodemográficos, tais como sexo, idade e classe social15.

    Em relação aos aspectos sociodemográficos, no presente estudo o uso de drogas mostrou-se maior no sexo masculino, resultado semelhante ao encontrado em vários estudos8,17,18,19. Alguns autores não observaram uma diferença tão significativa quanto à predominância de uso em relação aos sexos, mas notaram diferenças quanto ao tipo de droga, sendo maior o uso de drogas ilícitas no sexo masculino e os medicamentos sem autorização médica, como tranqüilizantes e anorexígenos pelos adolescentes do sexo feminino15,20. Em outro estudo21 não foram observadas diferenças entre os sexos no uso de drogas em geral (exceto tabaco e álcool) em nenhum tipo de uso ou categoria de usuário ou tipo de escola (pública ou privada), sugerindo uma tendência de equilíbrio entre os sexos associada possivelmente às mudanças socioculturais.

    Quanto à idade, enquanto na literatura observa-se um consumo crescente de drogas em relação ao aumento da faixa etária15,16,21,22, a associação encontrada neste não foi estatisticamente significativa. Já em outra investigação23, o que chamou a atenção foi o início precoce no consumo de bebidas alcoólicas, mostrando que 12% dos entrevistados já haviam consumido bebidas alcoólicas no último mês, e a porcentagem aumentou para 20,2 aos 13 anos. Considerando a variável classe social e neste caso tomando-se como referência a renda, a relação classe social mais alta e maior uso de drogas, tão confirmada nas pesquisas inclusive de alguns dos estudos citados acima, não foi encontrada no presente estudo. Silva, Pavani, Moraes e Chiaravalloti-Neto (2006)8 criticam a associação comum entre pobreza, criminalidade e uso de drogas, principalmente pela mídia. Como relata o próprio autor, tais relações não foram encontradas no seu estudo, comprovando-se no seu estudo apenas a associação entre tráfico de drogas e violência. Guimarães, Godinho, Cruz, Kappann e Tosta-Junior (2004)22, num estudo comparando escolas públicas e privadas, observaram maior prevalência de uso de drogas nas escolas particulares, corroborando com o estudo de Silva, Pavani, Moraes e Chiaravalloti-Neto (2006)8, o que pode estar ligado à condição social, cuja disponibilidade de recursos financeiros facilitaria a aquisição. Contrapõe a esses estudos o de Souza e Silveira-Filho (2007)18, que apontou o maior uso recente de tabaco em adolescentes trabalhadores de famílias de níveis menos favorecidos (C+D+E).

    A questão da estrutura familiar é tradicionalmente enfatizada ao se estudar o consumo de drogas em adolescentes. O mau relacionamento entre pais e dos pais com seus filhos estão relacionados ao maior consumo24. No presente estudo, entretanto, essa associação não foi estatisticamente significativa.

    Ao se considerar a variável trabalho, a diferença significativa encontrada condiz com os resultados obtidos na literatura18,24. Justifica-se esta associação pela disponibilidade financeira decorrente de receber um salário, possibilitando ao adolescente adquirir drogas; os padrões de socialização associados ao mundo adulto a partir do momento que os adolescentes entram em contato com pessoas que fazem uso de drogas lícitas e ilícitas; o estresse devido à responsabilidade de assumir funções de um adulto; a falta de compromisso do estudante com a escola levando-o a trabalhar e usar alguma substância psicoativa18.

    O fato de ter seu tempo fora da escola ocupado, mas em uma atividade possivelmente pouco gratificante, atuaria antes como um fator propiciador para o uso de drogas, contrariando essa crença tão estabelecida na sociedade de que o tempo livre facilitaria esse uso. Dessa forma, reflexão deve deslocar-se do fazer versus não fazer para a do como fazer, analisando a qualidade do impacto de diferentes formas de trabalho sobre o jovem24.

    Essa reflexão sobre a qualidade das atividades realizadas pelo adolescente é também válida para a temática do lazer e importante quando se fala de drogas. Estudo realizado por Pratta e Santos (2007)11 comparou as possíveis relações entre lazer e uso de substâncias psicoativas na adolescência, e chegou aos seguintes resultados: “ir à Igreja ou serviço religioso”, “praticar esportes” e “sair com a família” foram mais freqüentes entre os adolescentes não-usuários, enquanto atividades como “freqüentar clubes/praias”, “sair com amigos” e “freqüentar bares” foram pontuadas como sendo mais comumente realizadas por adolescentes usuários. Em relação ao álcool, os achados deste estudo evidenciam que, como fatores facilitadores do seu uso na vida, foram identificados “assistir televisão”, “sair com amigos”, “namorar” e “freqüentar bares”. Já em relação ao tabaco, fatores como “sair com os amigos” e “não praticar esportes” foram relacionados a uma maior probabilidade de uso desta substância na vida. Tal estudo levanta a questão de que a influência negativa de amigos e da televisão, os lugares freqüentados e a não prática de esportes sejam fatores de risco para o uso de drogas, o que justificaria os resultados. É importante salientar que esse estudo não anula os aspectos positivos de boas amizades e de determinadas mídias. As associações mais significativas encontradas, no presente estudo, foram com as variáveis “ficar na rua em grupo” e “ir a shows musicais” como atividades preferidas entre os usuários, justificadas talvez pela influência negativa de alguns amigos e pela maior acesso a drogas lícitas ou ilícitas no ambiente de um show musical, semelhante ao relatado na literatura11.

    Ainda com relação à mídia, a pouca disponibilidade de opções de lazer faz da televisão uma das principais atividades realizadas pelos adolescentes, dado esse verificado também no presente estudo, fazendo com que a mesma assuma extrema importância tanto como formadora de opiniões, assim como ao exercer forte influência nos hábitos dos adolescentes. Ao tratar desse assunto, Romera (2009)25 salienta que a mídia promove enorme polêmica ao abordar questões relativas às substâncias ilícitas (crack, cocaína e maconha) ao mesmo tempo em que mantém uma posição bastante compassiva em relação às substâncias lícitas, de modo a formar uma opinião pública carregada de mitos sobre drogas ilícitas e muita permissividade com o álcool e o tabaco. A autora reforça essa visão ao observar que as peças publicitárias veiculadas na mídia televisiva, especialmente aquelas desenvolvidas para as marcas de cerveja, são especialistas em estabelecer, de forma implícita, uma estreita relação entre a vivência de determinados conteúdos do lazer, sociais, físico esportivos, turísticos, especialmente voltados ao público jovem (o encontro do final de semana, a festa, a praia, as viagens, o barzinho, a balada, o churrasco com os amigos) e o consumo de bebidas alcoólicas.

    Após a exposição de todos esses fatores associados ao uso de drogas na adolescência, percebe-se uma causa multifatorial deste problema, o que, aliás, é consenso entre grande parte dos pesquisadores. Desse modo, entende-se que o consumo e a dependência de drogas são fenômenos bastante complexos que não podem ser reduzidos a uma faceta da dimensão biológica, psicológica ou social24

    A presente pesquisa apresenta limitações com relação ao tamanho amostral, uma vez que alguns fatores impediram um número maior de participantes. Dentre esses fatores, podemos citar as recusas em responder o questionário, a falta do termo de consentimento devidamente assinado pelo adolescente ou responsável e ainda a presença de questionários com preenchimento incorreto ou em branco. Além disso, existem as limitações próprias dos estudos transversais, como a coleta de dados em um ponto específico do tempo e a dificuldade em se estabelecer inferências causais. Apesar disso, a presente pesquisa revela dados consistentes com a literatura e apresenta relevância em nível local no que tange a adoção de políticas públicas para essa população específica.

Conclusão

    Os dados obtidos no presente estudo evidenciaram alguns aspectos importantes a serem trabalhados nas estratégias de prevenção ao uso e abuso de drogas para os adolescentes. O significativo número de adolescentes participantes desta pesquisa que fazem uso de algum tipo de droga torna essencial que a equipe multiprofissional da Estratégia Saúde da Família aborde esse assunto na escola, sensibilizando os adolescentes para as causas e conseqüências do problema. Neste sentido, destaca-se a importância da atenção primária como forma de atender os adolescentes, visto que nesta faixa etária as ações preventivas são de grande relevância, enfocando as ações de prevenção ao uso e abuso de drogas. Vale ressaltar que o meio escolar é um ambiente educacional e social adequado para se trabalhar conhecimentos e mudança de comportamento.

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