A concepção de lazer de idosos participantes de projetos sociais no município de Uberlândia El concepto de recreación de las personas mayores participantes de proyectos sociales en el municipio de Uberlandia |
|||
*Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Uberlândia **Orientadora. Possui mestrado em Educação pela Pontifícia UniversidadeCatólica de São Paulo e doutorado em Educação (Currículo) pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professora Associada II, da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia, e ocupa o cargo de Diretora de Extensão da Pró-Reitora de Extensão da UFU. É tutora do PET - Programa de Educação Tutorial, orientadora de discentes em Iniciação Científica - PIBIC, FAPEMIG e de PIBEG |
Talita Inácio Martins* Geni de Araújo Costa** (Brasil) |
|
|
Resumo O estudo apresentado é uma pesquisa de campo de caráter exploratório, cujo objetivo é conhecer a concepção de lazer dos idosos participantes do projeto Atividades Físicas e Recreativas para a Terceira Idade - AFRID, da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, o grupo Os Mais Vividos do Serviço Social do Comércio - SESC e Centro Educacional de Assistência Integrada - CEAI, da Prefeitura Municipal de Uberlândia. Participaram do estudo 120 idosos, sendo 40 de cada instituição escolhida para o estudo selecionado de acordo com a amostra do tipo não probabilística. Os resultados mostram que em cada instituição os idosos têm concepções diferentes de lazer, sendo que no projeto AFRID lazer está relacionado a atividades sociais e físicas, nos CEAIS lazer é participar do projeto e no SESC são atividades sociais e recreativas. Por meio da análise dos dados concluímos que participar desses projetos é um lazer para os idosos e auxilia na sua integração social. Unitermos: Lazer. Idosos. Projetos. Uberlândia.
|
|||
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 17 - Nº 168 - Mayo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
1 / 1
Introdução
De acordo com o Estatuto do idoso uma pessoa é considerada idosa com idade igual ou superior a 60 anos (BRASIL, 2003). No Brasil, 20,5 milhões de habitantes são idosos. Com 8,1% da população, as regiões mais envelhecidas do país são sudeste e sul (IBGE 2010). Em Uberlândia são 57.841 idosos (PMU, 2009).
O decréscimo do nível de atividade física com o aumento da idade cronológica, torna o sedentarismo um fator de risco de morbidade e mortalidade durante o processo de envelhecimento (MATSUDO, 2001). Com isso, o lazer pode ser um dos meios de intervenção para a melhora dessa população idosa quanto a sua qualidade de vida e bem-estar social, psicológico e fisiológico.
A atividade física está extremamente ligada ao processo de envelhecimento ativo. Devido aos benefícios proporcionados a saúde do idoso, as intervenções com vista a um estilo de vida ativo para um envelhecimento bem sucedido podem ser múltiplas. A atividade física pode ser uma das estratégias eficazes para aumentar a expectativa de vida e diminuir os anos de dependência funcional e incapacidade, a vida sedentária é prejudicial à saúde e, pelo contrário, a atividade física regular pode melhorar a qualidade de vida dos idosos (MAZO, 2008).
Quando adultos as pessoas se sobrecarregam de atividades e não lhes resta um tempo livre para a prática de atividades voltadas para o lazer. Ao envelhecer, o tempo ocioso aumenta, chega à aposentadoria, e com ela inúmeras inseguranças quanto à liberdade, convívio social, baixa auto-estima e também a qualidade dos relacionamentos interpessoais. Por meio dessas ocorrências os idosos encontram necessidade de permanecerem ativos, encontrar ações que permitam que não se sintam inferiores; ocupando o que muitos chamam, de modo equivocado, de tempo livre. Todavia quem não teve o hábito no decorrer da vida de “reservar” um tempo para o lazer, dificilmente vai exercê-lo na velhice, até mesmo conhecer o verdadeiro significado dessa prática.
A terceira idade é uma faixa etária que está gradativamente destacando-se devido ao seu aumento quantitativo. Porém, ainda recente em nossa realidade, a literatura apresenta poucos artigos que retrata as atividades de lazer para a terceira idade e considerações sobre o lazer dessas pessoas idosas. Espera-se que com este artigo as instituições que tem como público alvo a terceira idade, ao conhecer o significado de lazer para esses idosos e a importância das atividades no seu cotidiano, tenham um melhor planejamento das atividades desenvolvidas, priorizando ações que estimulem e beneficiem os idosos nos segmentos de lazer, cultura, desporto e educação, priorizando a cidadania; preparando-os para uma maturidade e uma velhice bem-sucedida. Além de contribuir para estudos futuros. Conhecer a concepção de lazer desses idosos poderá auxiliar no desenvolvimento de atividades significativas para esse grupo, pois para que a atividade seja significativa "[...] ela precisa ter algum vínculo com a identidade da pessoa." (DOLL, 2007. p.111).
A partir dessa idéia surge a necessidade científica e social de realizar este estudo, cujo objetivo foi conhecer a concepção de lazer dos idosos participantes do projeto Atividades Físicas e Recreativas para a Terceira Idade - AFRID da Universidade Federal de Uberlândia - UFU, do grupo Os Mais Vividos do Serviço Social do Comércio - SESC e do Centro Educacional de Assistência Integrada – CEAI da Prefeitura Municipal de Uberlândia - PMU. Mais especificamente, buscam verificar quais atividades seriam consideradas lazer para esses idosos; além de comparar a concepção de lazer dos idosos das três instituições estudadas para verificar se existia semelhanças ou diferenças.
Métodos
Para o desenvolvimento da pesquisa todos os locais foram comunicados, formalmente, sobre a pesquisa e uma carta de autorização foi assinada pelos responsáveis legais das Instituições participantes da pesquisa. Os sujeitos foram informados sobre a garantia da privacidade e sigilo das informações e que os resultados obtidos seriam divulgados em reuniões e trabalhos científicos. Todos os participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido.
Esta pesquisa, de natureza qualitativa, desenvolveu-se em duas grandes etapas, sendo a primeira referente a uma revisão bibliográfica com as concepções de lazer existentes na literatura, o envelhecimento e os espaços de lazer estudados. A segunda, relativa a uma pesquisa exploratória, utilizando como instrumento um questionário estruturado com sete questões, abertas, fechadas e mistas. Na elaboração do questionário foi levado em consideração uma didática clara e objetiva para que não houvesse dúvidas e que, o público alvo tivesse a interpretação coerente, visando atingir o objetivo geral da pesquisa.
A população do estudo foi representada pelos idosos cadastrados em três projetos sociais do município de Uberlândia, MG. Estes foram escolhidos intencionalmente pelo número de idosos que atendiam e por oferecerem programas de atividade física para esta população. Os dados foram coletados no período de março a abril de 2011.
Para os idosos de baixa escolaridade (com dificuldades de leitura e compreensão), os questionários foram respondidos em forma de entrevista, coletando as informações por meio do registro escrito. Este procedimento possibilitou repetir e esclarecer as questões para os idosos, ofereceu aprofundamento para avaliar atitudes e condutas, além da captura de subjetividades inseridas no discurso dos entrevistados.
A amostra foi do tipo não-probalilística e os critérios adotados foram: 1) ter 60 anos ou mais; 2) ambos os sexos; 3) participar de qualquer das atividades oferecidas nas instituições escolhidas para o estudo; 4) ter autonomia plena; 5) querer participar da pesquisa. Dessa forma, a amostra foi composta por 120 idosos, sendo: 40 do projeto AFRID, 40 do SESC e 10 para cada uma das quatro unidades CEAIS existentes no município.
O processo de análise e interpretação dos dados coletados foi qualitativo - quantitativo. Para análise das respostas da questão número dois do questionário “O que é lazer para você?” foi levantado o engajamento dessa amostra em diferentes atividades sociais e de lazer, considerando as atividades que os idosos mencionaram no questionário piloto aplicado, sendo classificadas em:
Atividades Cognitivas (A.C)
Atividades Físicas (A.F)
Atividades Sociais (A.S)
Atividades Produtivas (A.P)
Atividades Recreativas (A.R)
Participar do Projeto (P)
Resultados
Tabela 1. Principais resultados da pesquisa. (Uberlândia, MG, 2011)
No AFRID vinte e nove idosos (72%) relataram que a melhor atividade é a hidroginástica; seis (15%) disseram que são todas aquelas as quais eles participam no projeto; e cinco (13%) escolheram a musculação sendo a melhor atividade que eles participam. Para a 38% dos participantes dos CEAIS não existe a melhor atividade em especifico, para eles todas as quais eles participam são as melhores. A segunda mais votada como a preferida dos idosos foi a hidroginástica, com 17%. No SESC 37% dos idosos participantes acham a dança a melhor atividade. Isso deve-se a grande participação desta população nos bailes organizados pelo grupo Os Mais Vividos. Para 30%, a hidroginástica é a segunda melhor atividade para essa população.
Para a maioria dos idosos que participam do AFRID (28%), lazer está relacionado com atividades sociais, tais como: viajar; participar de grupos; passear com amigos e/ou familiares; pescar; conversar com os colegas de projeto, entre outras. Para 26%, o lazer está relacionado com atividades físicas. Neste caso, as mais citadas foram: nadar, caminhar, fazer hidroginástica, ginástica, musculação e todas aquelas que estão relacionadas com a saúde física. Apenas uma idosa relatou não ter lazer. Explicou que participa do projeto devido à oportunidade, e realiza as atividades por recomendações médicas.
Para os idosos que frequentam os CEAIS lazer é participar do projeto (38%). Eles descreveram que participar das atividades e ir até uma unidade CEAI proporciona lazer e lá, eles podem conhecer novas pessoas, fazer novas amizades, esquecer dos problemas e/ou conversar com os amigos.
Os idosos entrevistados do SESC lazer está relacionado com atividades sociais (20%) e atividades recreativas (17%). Algumas mencionadas por eles foram: passear, viajar, ver televisão, ir ao cinema, sair com amigos.
Duas idosas descreveram o que é lazer para elas:
“É tudo de bom, pois proporciona um bem estar e muita saúde” (M. 67 anos).
“Toda atividade recreativa que se faz com satisfação” (S. 76 anos).
Considerações finais
Ao passo que sabemos que o assunto discutido durante todo esse trabalho não foi esgotado, por meio dos dados apresentados, podemos apresentar conclusões.
Sendo assim, percebemos a importância dos projetos propostos pelo AFRID, CEAIS e SESC para a terceira idade, pois para muitos desses idosos a participação nos eventos promovidos pelos projetos é mais um ato de lazer do que propriamente uma atividade física. E atividades de lazer para tais idosos proporcionam inúmeros benefícios, tanto sociais, quanto cognitivos, físicos, mentais e produtivos. Às vezes, observa-se dificuldades por parte desses idosos a se inserirem nos projetos disponíveis na cidade de Uberlândia, todavia, quando eles começam a participar percebem a importância e a diferença que a sua participação faz na interação com os outros participantes e para consigo mesmo.
Por meio da pesquisa, podemos perceber que há diferença na concepção de lazer por meio das instituições promotoras dos projetos analisados. Para os idosos do projeto AFRID lazer está relacionado a atividades sociais e físicas, talvez por este projeto apresentar atividades voltadas para área física e recreativa, e, consequentemente, proporcionar aos idosos uma integração grupal, ou seja, uma relação social; para esse grupo a hidroginástica foi apontada como a atividade preferida.
Em oposição a essa concepção de lazer, para os idosos do projeto desenvolvido pelos CEAIS o lazer é concebidocomo toda atividade relacionada ao projeto, ou seja, lazer para eles é participar dos CEAIS. Nota-se, no entanto, diferenças de uma unidade para outra. Tanto que cada unidade tem o foco em uma atividade diferente. Por exemplo, apenas nos CEAI II e VI há piscina e por isso oferecem a modalidade hidroginástica. Os idosos integrantes dos projetos da unidade I - CEAI Brasil apontaram como a melhor atividade a ginástica, do CEAI II – Laranjeiras, a hidroginástica, do CEAI III – Luizote, a alfabetização e no CEAI IV – Guarani, o baile foi considerado a melhor atividade.
Para os idosos do grupo Os Mais Vividos do SESC atividades sociais e recreativas são vistas como lazer para a terceira idade, que participa frequentemente do projeto. Para esse grupo, a dança é a melhor atividade que o projeto oferece. A ocorrência de duas vezes semanal do baile para os idosos, justifica a predileção e proporciona o bem-estar e um bom relacionamento social entre os idosos.
Por meio de todos os dados apresentados durante este trabalho, percebemos que os idosos, sejam eles participantes do projeto AFRID, dos CEAIS ou de “Os Mais Vividos” do SESC, indicam o projeto ao qual fazem parte para conhecidos e isso demonstra a satisfação e o contentamento desse público na participação ativa nas atividades propostas por suas entidades. Essa relação aprovada satisfatoriamente pelos integrantes dos projetos marca a interação dos idosos que muitas vezes se sentem excluídos da sociedade e/ou onipotentes perante as situações e limitações do dia-a-dia. Ou seja, os projetos aqui contextualizados têm fundamental importância na vida dessas pessoas, seja social, física ou psíquica. Percebe-se uma melhora da autoestima e sentimento de capacidade e que a vida não termina nos 60 anos, apenas inicia-se uma nova fase, de descobertas e superações.
Referências
DOLL, J. Educação, cultura e lazer: perspectivas da velhice bem-sucedida: In NERI, A. L. (Org.). Idosos no Brasil: vivências, desafios e expectativas na terceira idade. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, Edições SESC. SP, 2007. P. 119 à 123.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo 2010. Disponível em http://www.ibge.gov.br
MATSUDO, Sandra Marecha et al. Atividade física e envelhecimento: aspectos epidemiológicos. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.7, n.1, Niterói, 2001.
MAZO, G. Z. Atividade física, qualidade de vida e envelhecimento. Porto Alegre: Sulina, 2008.
Portal da Prefeitura Municipal de Uberlândia. Disponível em http://www.uberlandia.mg.gov.br.
ROCHA, E. G. Estatuto do idoso: um avanço legal. Revista da UFG, v. 5, n. 2, dez 2003.
Outros artigos em Portugués
Búsqueda personalizada
|
|
EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 168 | Buenos Aires,
Mayo de 2012 |