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Violência escolar e Educação Física

Violencia escolar y Educación Física

School violence and Physical Education

 

*Discente do Curso de Licenciatura e Bacharelado do Centro Universitário Moura Lacerda.

**Professor Doutor do Centro Universitário Moura Lacerda; Pesquisador, membro da equipe da USP

do Núcleo de Estudos, Ensino e Pesquisa do Programa de Assistência Primária de Saúde Escolar, PROASE

***Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, USP. Coordenadora do PROASE

(Brasil)

Polyana Cristina Garoni*

Prof. Dr. José Eduardo Costa de Oliveira**

Profa. Dra. Maria das Graças Carvalho Ferriani***

prof.zedu@usp.br

 

 

 

 

Resumo

          A violência é um fenômeno social que sempre foi e continua sendo motivo de preocupação em todas as sociedades, no mundo todo e em todos os tempos. A busca incessante por mecanismos e formas de preveni-la e/ou coibi-la, particularmente no ambiente escolar, tem sido uma preocupação constante; daí emergiu uma figura importante dentro deste contexto: a escola (EYNG et al., 2005). Objetivando conhecer e analisar como a escola, através de ações pedagógicas, específicas da disciplina de educação física, estabelece ações de enfrentamento da violência que acomete o ambiente escolar. Na presente proposta de pesquisa, recorreu-se à abordagem qualitativa para o delineamento do estudo, baseando-se, principalmente, no interesse em analisar e compreender o fenômeno da violência escolar, não vinculado apenas a dados estatísticos e quantitativos acerca deste fenômeno social (ANDRÉ, 1995). Assim, em reposta aos objetivos pospostos, constatou-se a coexistência do ambiente de aprendizagem da escola com "várias violências", entre elas, três, que emergiram como as mais típicas no ambiente pesquisado. Já em relação à proposta de conhecer e analisar, como a escola, através de ações específicas do componente curricular de Educação Física, depreendeu-se das análises que a maioria dos docentes entrevistados não possuíam qualquer estratégias de enfrentamento destas questões, e, quando vislumbavam este enfrentamento, o faziam sem qualquer orientação e/ou preparação, agindo com base em suas intuições e/ou experiências profissionais, através de ações que nem sempre surtiam o efeito desejado.

          Unitermos: Violência. Escola. Educação Física. Enfrentamento. Disciplina.

 

Resumen

          La violencia es un fenómeno social que siempre ha sido y sigue siendo una preocupación en todas las sociedades en todo el mundo y en todo momento. La búsqueda incesante de mecanismos y formas de prevenir y/o poner freno a la misma, particularmente en el ámbito escolar ha sido una preocupación constante, se ha convertido en un objetivo importante en el contexto de la escuela (EYNG et al, 2005). Con el fin de comprender y analizar cómo la escuela a través de acciones educativas, específicos de la disciplina de Educación Física, establece medidas de lucha contra la violencia que afecta el entorno escolar. En esta propuesta de investigación, se utilizó el enfoque cualitativo para el diseño del estudio, basado principalmente en el interés en el análisis y la comprensión del fenómeno de la violencia escolar, no sólo vinculados a los datos cuantitativos y estadísticos sobre este fenómeno social (ANDRÉ, 1995). Así, en respuesta a los objetivos pospuesto, no fue la coexistencia del ambiente de aprendizaje de la escuela con la "violencia", señalan tres de ellos que surgieron como los más típicos en el entorno de estudio. En cuanto a la propuesta para afrontar y como la escuela, a través de acciones concretas del plan de estudios componente de Educación Física, parece que la mayoría de los análisis de los docentes entrevistados no tenía ninguna estrategia para hacer frente a estas cuestiones, y cuando se produjo alguna situación, lo hicieron sin ningún tipo de orientación y/o preparación, actuaron según su intuición y/o experiencia profesional, a través de acciones que no siempre tienen el efecto deseado.
          Palabras clave: Violencia. Escuela. Educación Física. Peleas. Disciplina.

 

Abstract

          Violence is a social phenomenon that has always been and remains a concern in all societies worldwide and at all times. The incessant search for mechanisms and ways to prevent it and / or curbing it, particularly in the school environment has been a constant concern, there has emerged an important figure in this context: the school (EYNG et al., 2005). In order to understand and analyze how the school through educational actions, specific to the discipline of physical education, establishes actions to combat the violence that affects the school environment. In this research proposal, we used the qualitative approach to the study design, based primarily on the interest in analyzing and understanding the phenomenon of school violence, not only linked to quantitative and statistical data about this social phenomenon (ANDRÉ , 1995). Thus, in response to the objectives postponed, there was the coexistence of the learning environment of the school with "several violence," including three who emerged as the most typical in the environment studied. Regarding the proposal to meet and address as the school, through specific actions of the component physical education curriculum, it appears that most of the analysis of the teachers interviewed did not have any strategies for coping with these issues, and when predicted this confrontation, they did without any guidance and / or preparation, acting on their intuition and / or professional experience, through actions that do not always have the desired effect.
          Keywords: Violence. School. Physical Education. Coping. Discipline.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A violência é um fenômeno social que sempre foi e continua sendo motivo de preocupação em todas as sociedades, no mundo todo e em todos os tempos. A busca incessante por mecanismos e formas de preveni-la e/ou coibi-la, particularmente no ambiente escolar, tem sido uma preocupação constante; daí emergiu uma figura importante dentro deste contexto: a escola (EYNG et al., 2005).

    Enquanto instituição, a escola é uma entidade social que deve educar, assim como tem ou deveria ter em suas bases os valores éticos e morais, suficientes, para nortear os comportamentos dos indivíduos dentro de uma sociedade, principalmente aqueles tidos como inadequados. Mas, em contrapartida, atualmente o que se observa é o fato dos noticiários e as pesquisas evidenciarem que a escola deixou, a muito tempo, de ser uma ilha de paz e segurança para os filhos da sociedade, conforme as expectativas inerentes de todos acerca desta instituição (EYNG et al., 2005).

    A escola contemporânea é vista como uma instituição envolvida pela violência, pela indisciplina, refletindo tensões e conflitos de grupos do seu entorno, conhecendo a dilaceração de seus processos sociais e tornando-se objeto da mídia, principalmente quando relacionada a crimes, contravenções e delinqüência juvenil.

    Ainda no cenário escolar, visualiza-se uma grande quantidade de atos de violência, quer sejam eles simbólicos ou físicos, e que perpassam pela intimidação de professores, desrespeito à diversidade e o preconceito (DEBARBIEUX et al., 2002).

    Considerada uma das instituições responsáveis pela formação de cidadãos, conscientes de seus direitos e deveres em sociedade, capazes de respeitar e conviver com a pluralidade cultural, as escolas são, atualmente, verdadeiros palcos para o caos e a intolerância, onde a violência física e psicológica permeia todos os agentes envolvidos no processo ensino/aprendizagem no Brasil e no mundo (CASTILHO, 2004).

    Em Eyng et al. (2005), observa-se uma violência que se faz presente na vida cotidiana e que ameaça, diariamente, a integridade física, psicológica e, principalmente, a dignidade humana. Para que se possa compreender este fenômeno, é preciso situá-lo num contexto social mais amplo, levando em consideração os condicionantes de grande parte da população brasileira, como a exclusão, por exemplo. É possível que a análise de tal aspecto possa levar, talvez, ao entendimento da violência como uma manifestação desta mesma civilização, que se rebela contra esse contexto da desigualdade social.

    Desta forma, o desrespeito à diversidade em pleno século XXI gera as guerras, os genocídios, as agressões a imigrantes e homossexuais, a intolerância racial e religiosa, a discriminação a portadores de patologias infecto contagiosas, como a AIDS, perpassando pela discriminação aos não inseridos nos padrões de estética e de beleza impostos pela mídia e pela cultura corporal. A intolerância estende-se aos deficientes físicos e mentais, que têm dificuldade de acesso com a mesma equidade a serviços sociais e, como resultado de todo esse processo, a violência mundial reflete-se na escola (DAÓLIO, 1995).

    Estes mesmo sentimentos (de intolerância) estão presentes no cotidiano escolar; observados no dia-a-dia de professores e alunos, nos mais diversos níveis de ensino, do público ao privado, do ensino fundamental ao universitário, e, inclusive, atingindo, também, a pós-graduação (CASTILHO, 2004).

    A violência escolar também constitui um importante fator que, contemporaneamente, acomete principalmente professores, levando-os ao abandono da carreira docente, além de distúrbios psicossomáticos e familiares, pois, muitas vezes, a violência vai além da sala de aula, envolvendo outros ambientes da escola, como por exemplo: a cozinha, os banheiros e vestiários, a biblioteca, o estacionamento dos veículos de professores e funcionários e etc. (REGO, 1998).

    Diante disto, fica evidente que a violência escolar deixou de ser um evento ocasional e particular no dia-a-dia de educadores e educandos do ensino público e privado brasileiros, pois, se revela também nos comentários homofóbicos, no trote universitário, na chacota (vítimas do bullying), nas humilhações, na intolerância, especialmente a religiosa, nas agressões físicas e psicológicas e na indiscriminação (FERRIANI, 1997).

    Ainda para Rego (1998), na escola pública, a depredação dos bens patrimoniais revela-se como uma das primeiras formas de manifestação da violência, pois, os alunos quando se rebelam, enxergam os automóveis de professores e funcionários como parte do patrimônio público (espaço escolar); sendo nestes, a primeira forma de agredir e demonstrar seus descontentamentos.

    O mesmo autor apresenta que a violência dentro da sala de aula é a principal responsável por inviabilizar o processo ensino-aprendizagem contemporâneo, e que torna impotentes educadores, orientadores, diretores e agentes de saúde diantes do problema.

    Aquino (1996) e Rego (1998) concordam ao relatarem que o fenômeno da violência constitui atualmente um dos maiores obstáculos pedagógicos, nos diferentes níveis de ensino, por interferir diretamente no processo ensino-aprendizagem, evidenciando tanto as dificuldades do professor para ensinar, quanto à dos alunos em aprender; assim como é um dos fatores mais evidentes do processo de exclusão social que a criança brasileira conhece desde seus primeiros anos de convivência em sociedade.

    Segundo Castilho (2001), a escola de hoje é uma das instituições que mais perpetua a discriminação e a intolerância, pois os especialistas em educação falam acerca das dificuldades em se esclarecer professores e demais agentes escolares acerca destes comportamentos inadequados, pois, essa problemática parece esbarrar em outra, dentre os maiores obstáculos didático-pedagógicos da educação contemporânea: a formação de professores e demais agentes escolares.

    A problemática da violência escolar, a partir do final do século XX e início do século XXI, ganhou irrefutável relevância na mídia mundial, principalmente em função da abundância de estudos acerca do tema em países da Europa, mais especificamente a França, entre os anos de 1992 a 1996.

    Debardieux (1996) evidencia em seus achados um incremento de crimes e delitos que, em sua maioria, são oriundos do ambiente escolar, o que chama a atenção da mídia para este fenômeno.

    Contextualizando a partir deste ponto a questão da violência escolar no cenário específico do município de Ribeirão Preto/SP, Matiuzo (2007) traz dados coletados junto a Policia Militar, mostrando que o índice de adolescentes, menores de 18 anos de idade, envolvidos em ocorrências policiais aumentou entre os anos de 2006 e 2007 no referido município.

    No ano de 2006, especificamente, o nível de envolvimento dos adolescentes em crimes era de 30% do total das ocorrências, e, após o final do ano de 2007, verificou-se que esses números subiram para 50% do total das ocorrências policiais.

    A própria Policia Militar, afirmou a autora, não possuir dados acerca das principais causas que incidiram no aumento do percentual de jovens envolvidos com a criminalidade.

    Acredita-se, no entanto, que haja uma percepção, por parte dos criminosos maiores de idade, que visualizam no envolvimento dos menores nos crimes, uma perspectiva maior de impunidade, sendo, portanto, mais conveniente a eles responsabilizá-los, caso sejam pegos e/ou denunciados, o que incentiva a entrada, cada vez mais precoce, naquilo que se considera hoje a universidade do crime (MATIUZO, 2007).

    Corroborando com as afirmações acima, e também respondendo a algumas das questões que emergiram com os dados da autora supracitada, Tavares (2008) revela que, quer sejam brancos, pardos, negros, bem vestidos ou não, muitos dos matriculados em escolas no município de Ribeirão Preto/SP, (onde, entre 2007 e 2008, cresceu de 91 para 238 o número de casos de menores encaminhados pela justiça à Fundação CASA em função do comércio de drogas), parecem vislumbrar, segundo o autor, nesse tipo de delito – o tráfico – uma forma de ascensão social.

    Ratificando esses achados, e, segundo dados de um estudo realizado pelo Observatório de Violência e Práticas Exemplares da USP/Ribeirão Preto, que se baseou em estatísticas oferecidas pelo NAI do mesmo município supracitado, do total de 426 jovens acolhidos pela instituição em 2007, 218 eram brancos e 208 eram negros (KODATO, 2008).

    Neste mesmo cenário, Castro (2008) em seu artigo, afirma que cerca de 20% das escolas públicas do mesmo município encontram-se atualmente em condições de vulnerabilidade em relação a dois fatores importantes, sendo eles:

    Primeiro, o tráfico de drogas e a violência escolar, pois, ainda baseando-se em dados do mesmo Observatório de Violência anteriormente citado, particularmente a questão das drogas no ambiente escolar acomete os usuários e demais envolvidos à margem do processo ensino/aprendizagem.

    E, segundo, culminando na emersão dos chamados analfabetos funcionais nas salas de aula, pois o tráfico de drogas no ambiente escolar configura-se como o início dos comportamentos violentos entre os alunos, levando-os a atitudes inadequadas, tais como: danos ao patrimônio público e privado, desrespeito às autoridades escolares e pequenos furtos, finalizando na evasão escolar.

    Corroborando com essas afirmações e com a contextualização da violência escolar em Ribeirão Preto/SP, uma professora de língua portuguesa de 37 anos de idade, relatou a um jornal municipal que foi agredida na data de 20 de fevereiro de 2008, no mesmo município, com socos e pontapés por um aluno de 14 anos de idade, pertencente à sétima série do ensino fundamental de uma escola estadual.

    De acordo com o relato da professora à polícia, o aluno a ofendeu verbalmente após ter sido repreendido por atrapalhar o bom andamento da aula e por ter sido solicitada a sua retirada da sala, escoltado por um inspetor de alunos. Apos isto, o aluno, na saída, desprendeu-se da escolta e desferiu dois socos no rosto da referida professora que, na tentativa de fugir da agressão, tentou correr, mas foi derrubada, e o aluno ainda desferiu-lhe chutes na altura do estômago (JORNAL DOS PROFESSORES, 2008).

    Concomitantemente, outros achados também revelam dados que ratificam os resultados anteriormente descritos, pois, segundo relatos oficiais são inúmeras as ocorrências acerca da violência, principalmente quando verificados junto aos sindicatos de professores municipais e estaduais da referida região, que demonstram que os docentes, assim como, os demais pares envolvidos no ambiente escolar, parecem evidenciar uma possível internalização e uma conseqüente aceitação destes comportamentos indesejados, tomando-os como inerentes ao cotidiano escolar.

    Segundo a APEOESP (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de são Paulo), a violência parece realmente fazer parte do cotidiano das escolas, especialmente aquelas que atendem a uma clientela de maior carência estrutural e familiar (MATIUZO, 2006).

    A mesma autora, ao ouvir os docentes envolvidos nestes acontecimentos, relatou que eles reclamaram, principalmente, da falta de funcionários nas escolas, especialmente inspetores de alunos, ausência esta tida como um dos maiores empecilhos na coibição das ações de violência em horários como o do recreio, nas trocas de salas de aulas e nas entradas e saídas dos alunos das Unidades de Ensino (UE's).

    Outros fatores que também foram relatados pelos docentes como potencializadores da violência escolar, são: salas de aulas superlotadas, sucateamento dos prédios públicos, baixa autoestima de professores e alunos, falta de acompanhamento especializado aos alunos que apresentam comportamento violento. Faltam assistentes sociais, psicólogos e demais agentes de saúde, tanto no que diz respeito ao apoio direto ao aluno, assim como, aos seus familiares, conforme assevera Matiuzo (2006).

    Considerando o que foi exposto ate aqui, a violência escolar contextualizada no município de Ribeirão Preto/SP mostra-se em manifestações tão plurais como aquelas que encontramos no cenário nacional, como por exemplo, os casos de roubos, furtos, tráfico de drogas no interior das escolas, o bullying, as agressões físicas e verbais entre os alunos, e também, entre os discentes e docentes. Manifestações estas que parecem alicerçados na falta de formação adequada de professores para lidar com esta problemática e na falta de políticas educacionais que visem a amenização desses aspectos.

    Encontram-se salas de aula super lotadas e o sucateamento de recursos diversos nas escolas públicas, como materiais didáticos, os prédios, a falta de acompanhamento especializado para questões psicológicas e de apoio aos familiares, docentes e discentes, envolvidos nos casos graves de violência escolar. Falta, principalmente, uma rede de apoio ao trabalho escolar nos processos de enfretamento da violência, como a ação do conselho tutelar, da ronda escolar, e da própria família.

    Outra face da violência escolar, ou, pelo menos, uma de suas molas propulsoras, é o tráfico de drogas no interior das unidades de ensino de Ribeirão Preto/SP. No segundo semestre letivo de 2008, o CONSEG, entidade que promove ações de prevenção ao uso de drogas e bebidas alcoólicas entre estudantes na região central do referido município, decidiu solicitar ao Estado a instalação de câmeras de monitoramento no interior de algumas escolas ribeirãopretanas, sob a alegação de que alguns alunos vendiam drogas e praticavam pequenos furtos na região central da cidade.

    Ainda nesta mesma região, estudavam 2.769 alunos e como já existiam outras câmeras em funcionamento, já foram flagrados estudantes comprando e consumindo drogas de um guardador de carros que escondia os entorpecentes no interior de uma lixeira, além de gravações que revelaram o uso de cocaína por alunos das escolas centrais em plena luz do dia (YAMADA, 2008).

    A mesma autora ainda informa que a policia militar registrou, no segundo semestre de 2008, 11 ocorrências de tráfico de drogas nas escolas do centro de Ribeirão Preto. Um dos casos mais graves foi com um aluno da quinta série do ensino fundamental, de 11 anos, que era um dos principais comercializadores de drogas na referida região.

    Seria necessária, então, uma intervenção urgente das autoridades competentes com ações que pudessem minimizar esta problemática, e, sendo assim, o presente trabalho espera poder contribuir como ferramenta de orientação aos professores, pais, alunos, especialistas em comportamento humano e demais cidadãos, acerca dos problemas relacionados à violência que acomete o ambiente escolar e todo o seu entorno.

    Pelo exposto ate aqui, justifica-se a necessidade da presente investigação direcionar seu olhar a problemática da violência escolar, definida aqui, portanto, como a temática que norteou o presente estudo, assim como, de uma maior e mais profunda reflexão acerca deste fenômeno mediante o processo de integração das ações dos gestores e das unidades de ensino, lógica de funcionamento para com as manifestações de violência e seu enfrentamento no ambiente pesquisado.

    Para tanto, também foi necessária a procura pela fundamentação teórica, específica e suficiente, e que fornecesse os subsídios mínimos e necessários acerca do referido objeto de estudo, e, visando potencializar as ações aqui propostas, inicialmente definiu-se o pólo epistemológico acerca da definição de violência, no qual o autor fundamentou-se, assim como, os sujeitos e os espaços sociais envolvidos na investigação.

Objetivos

    Face ao exposto no capítulo anterior, fica evidenciada a necessidade da investigação, assim como, uma melhor compreensão de alguns aspectos no momento de conhecer e analisar os determinantes da violência escolar, bem como os processos de enfrentamento pedagógico desta problemática, e, portanto, formulou-se os seguintes objetivos:

Metodologia

    A presente pesquisa, que é fruto do fomento do Programa de Iniciação Científica do Centro Universitário Mouta Lacerda/2011, recorreu-se à abordagem qualitativa para o delineamento do estudo, baseando-se, principalmente, no interesse em analisar e compreender o fenômeno da violência escolar, não vinculado apenas a dados estatísticos e quantitativos acerca deste fenômeno social (ANDRÉ, 1995).

    Essa mesma abordagem, segundo Minayo; Deslandes e Gomes (2007), visam uma maior proximidade do pesquisador para com a realidade que se quer conhecer, investigar e analisar, sendo ela capaz de aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos, processos específicos de grupos, mais ou menos delimitados em extensão, e capazes de serem atingidos de forma mais intensa, sendo aquela capaz de incorporar a questão do significado e da intenção, como inerentes aos atos, relações e às estruturas sociais, visando a transformação e a construção humana significativas.

    Também é na abordagem qualitativa que se tem a possibilidade de responder a questões muito particulares, sendo que, nas ciências sociais e na saúde, elas ocupam-se com um nível determinado da realidade, que não pode e não deve ser quantificado, trabalhando em sua essência com o universo dos significados, assim como dos motivos, das necessidades, dos valores, das atitudes e crenças, como sendo um conjunto de fenômenos humanos e que são entendidos como parte de uma realidade social, devendo, em princípio, dar conta tanto das relações que constituem a base estrutural do estudo, assim como das representações sociais que, por características inerentes represam a vivência dessas mesmas relações experimentadas – principalmente pelos atores - assim como as significações que se atribui as suas próprias ações (MINAYO, 1996).

    Este estudo foi configurado, também, como pesquisa estratégica, possibilitando entender à realidade e adequá-la aos objetivos propostos, pois, esta modalidade baseia-se em teorias oriundas das ciências sociais, tendo como finalidade principal lançar luz sobre determinados aspectos de uma realidade, utilizando-se de instrumentos básicos de qualquer pesquisa, tanto no que diz respeito aos aspectos teóricos, como os metodológicos, porém, almejando a ação como finalidade primária, portanto, adequada segundo ponto de vista do autor do presente trabalho. (ANDRÉ e LÜDKE, 1995).

    Assim, visando potencializar as chances de alcançar os resultados esperados, alguns procedimentos foram utilizados, sendo eles: a) a documentação indireta (pesquisa bibliográfica); b) a documentação direta (entrevista formal), pois o estudo qualitativo prevê maior flexibilização, capacidade de reflexão e de interação do pesquisador com os sujeitos e, portanto, direcionando ao processo de comunicação entre os sujeitos, estabelecendo estratégias e procedimentos que permitem considerar as experiências do ponto de vista do informador (ANDRÉ, 1995).

    No caso especifico da pesquisa bibliográfica, ela foi realizada acerca dos temas - violência escolar; gestão escolar e formação de professores - em livros, textos, periódicos especializados em educação e saúde pública, artigos científicos, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado, anais de congressos, simpósios, conferências e de materiais (eletrônicos) coletados pela Internet, de onde foram extraídos os conteúdos, sintetizados, prevalecendo às opiniões dos autores.

    Segundo Minayo (2006), é neste tipo de abordagem, desenvolvida com base em material já elaborado, que permite ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia se pesquisar diretamente, particularmente quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço.

    Sobre as entrevistas, as questões da mesma foram elaboradas de forma semiestruturada, previamente agendadas com os atores sociais; posteriormente foram gravadas e transcritas, compostas por um conjunto de perguntas destinadas a conhecer e analisar, como a escola, através de ações pedagógicas, especificas da disciplina de educação física, estabelece ações de enfrentamento da violência que acomete o ambiente escolar.

    Para Minayo; Deslandes e Gomes (2007), a entrevista perfaz uma das estratégias mais utilizadas dentro dos processos de pesquisa de campo, sendo ela, sobretudo, uma conversa a dois, e/ou entre vários interlocutores, sempre realizada por iniciativa do próprio pesquisador, que por sua vez, deve ter por finalidade levantar informações pertinentes para um determinado objeto de pesquisa.

    No caso específico da modalidade conhecida como - semiestruturada – utilizada no presente estudo, os mesmos autores asseveram ser nesta modalidade aquela que combina, concomitantemente, perguntas fechadas e perguntas abertas, sendo que o entrevistado, por sua vez, tem a possibilidade de discorrer e argumentar sobre o próprio tema, sem que necessariamente tenha que se prender apenas às questões que foram formuladas.

    Os sujeitos de Pesquisa, e, segundo Bardin (1977); Minayo; Deslandes e Gomes (2007), a definição amostral em uma pesquisa qualitativa não se encontra vinculada à representatividade numérica, ou seja, neste tipo de abordagem metodológica preconiza-se a amostra capaz de indicar as irregularidades presentes nos enunciados, quer fossem eles escritos, falados ou observados, assim como que pudesse apontar suas peculiaridades, direcionando a atenção diretamente para o aprofundamento da compreensão do problema de pesquisa, e não com a generalização.

    Considera-se o fato de o cenário das UE's pesquisadas ser composto por uma complexa pluralidade de atores sociais, tanto no que diz respeito a seus perfis, assim como em suas funções, inerentes ou não no processo de auxílio à própria escola na minimização da violência.

    Desse modo, o recorte será composto pelo total de dez professores de educação física, representantes das também nove UE's pesquisadas, principalmente, pelo fato de se acreditar que a disciplina de mencionada funciona, ou deveria funcionar, como uma importante ferramenta pedagógica nos processos de enfrentamento do fenômeno da violência escolar, em face de maior aceitação de seus conteúdos, bem como pela diversidade de intervenções e espaços de aprendizagem.

    A Análise de dados encontrados, utilizou-se a técnica de Análise de Conteúdo, modalidade de Análise Temática, que de acordo com Bardin (1977) e Minayo (1996) é fundamentada no tema, o qual pode ser representado graficamente através da palavra, frase e resumo, além do fato de se definir tema como a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado, segundo certos critérios relativos à teoria e que serviu de guia à leitura.

    A Análise Temática de um determinado texto resume-se em descobrir os núcleos de sentidos que fazem parte da comunicação, estudam a tendência, valores, opiniões, atitudes cuja presença tem alguma representação para o objeto definido (MINAYO, 1996).

    Para Minayo, Deslandes e Gomes (2007), a análise de conteúdo também é aquela que perfaz um conjunto de técnicas de análise de comunicações, que objetiva através de procedimentos sistemáticos descrever o conteúdo das mensagens, dos indicadores, quer sejam eles qualitativos e/ou quantitativos, permitindo a inferência de conhecimentos, que sejam relativos às condições de produção e recepção destas mesmas mensagens, sendo que os mesmos autores asseveram que esta modalidade de análise pode ser subdividida de várias maneiras, sendo elas:

    Primeiro, a análise de avaliação ou representacional, que se presta a medir as atitudes do próprio locutor, quanto aos objetos de que fala, considerando-se a que linguagem representa e reflete quem a utiliza. Segundo, a análise de expressão, que trabalha com indicadores que visem à inferência formal; e numa terceira, a análise de anunciação, que por sua vez costuma ser utilizada para se analisar entrevistas com características abertas, trabalhando com as condições de produção da palavra, como a análise das estruturas gramaticais, a lógica da organização dos discursos; além da análise das figuras de retórica, e, por fim, a análise temática, que consiste no conceito central do tema, objetivando descobrir os núcleos do sentido que compõe a comunicação e cuja presença, assim como sua freqüência de aparição, pode significar algo para o objetivo analítico eleito pelo pesquisador (MINAYO; DESLANDE E GOMES, 2007).

    No que tange aos procedimentos éticos para a realização a mesma foi norteada pelos procedimentos estabelecidos pelas recomendações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A pesquisa também foi previamente cadastrada no SISNEP – Sistema Nacional de Ética em Pesquisa – nº 421198; área de conhecimento 4.00 – ciências da saúde – Educação Física – Nível: diagnóstico; grupo III.

    Em relação aos sujeitos de pesquisa, foi utilizado um TCLE – Termos de Consentimento Livre e Esclarecido, alertando-os de todas as bases que norteavam a investigação, assim como, da importância e dos riscos da participação de cada um, onde, uma via ficou em posse do pesquisador, e outra em poder dos sujeitos do estudo.

Resultados

    Em reposta aos objetivos pospostos, constatou-se a coexistência do ambiente de aprendizagem da escola com "várias violências", entre elas, três, que emergiram como as mais típicas no ambiente pesquisado. Já em relação à proposta de conhecer e analisar, como a escola, através de ações específicas do componente curricular de Educação Física, depreendeu-se das análises que a maioria dos docentes entrevistados não possuiam qualquer estratégias de enfrentamento destas questões, e, quando vislumbavam este enfrentamento, o faziam sem qualquer orientação e/ou preparação, agindo com base em suas intuições e/ou experiências profissionais, através de ações que nem sempre surtiam o efeito desejado.

Conclusões

    Assim conclui-se que que propostas de enfrentamento da violência, elaboradas pelas escolas - não foram observadas com o final das análises - quer fossem elas de cunho pedagógico, administrativo, político ou social.

    Após o termino das análises realizadas, pode-se afirma que, tais dificuldades relacionaram-se, de forma direta, com as bases de suas formações, pois, os resultados evidenciaram que os professores pesquisados, constituíam-se apenas docentes com pouca, ou quase nenhuma experiência com situações de enfrentamento da violência escolar, portanto, incapacitados de mediar com eficácia as relações conflituosas que se dão no ambiente escolar.

    Sendo assim, outras atitudes educacionais que vão de encontro aos objetivos de uma comunidade escolar, a exemplo de professores ausentes, horários de aulas desapropriados, salas super lotadas, falta de prática de atividade física, pois, essa última, especificamente, influencia diretamente no extravasamento da energia do jovem que, se não liberada, acaba por canalizar-se para caminhos inadequados, como no caso das manifestações de violência e indisciplina escolares (OLIVEIRA, 2004).

    Portanto, mediante a tudo o que foi exposto, verifica-se que existem saídas para estas problemáticas aqui levantadas, quer sejam através de investigações científicas, como no caso da presente pesquisa, ou na promoção de congressos, encontros, na formação de grupos de estudos da violência, que envolvam especialistas em educação e saúde, mas também toda a sociedade, buscando nestas bases teóricas e práticas, respostas para a minimização e o enfrentamento direto das manifestações de violência.

    Outra proposta que se faz consiste na abertura de um canal de comunicação entre estas entidades interessadas neste fenômeno social, pois, se observa o quão algumas poucas atitudes em prol destes aspectos são tomadas, assim como, se encontram isoladas de políticas públicas e da iniciativa privada.

Referencias bibliográficas

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