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Treinamento de força em crianças e 

adolescentes: estudos específicos e diretrizes de treino

Strength training in children and adolescents: specific studies and training guidelines

 

*Mestres pelo Programa de Pós-Graduação

em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH)

Escola Superior de Educação Física (EsEF)

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

**Doutores pelo Programa de Pós-Graduação

em Ciências do Movimento Humano (PPGCMH)

Escola Superior de Educação Física (EsEF)

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

(Brasil)

Andrea Silveira da Fontoura*

deafontoura@globo.com

Rafael Abeche Generosi*

rafaelgenerosi@hotmail.com

Marcelo Cardoso**

mcardoso@ufrgs.br

Ronei Silveira Pinto**

ronei.pinto@ufrgs.br

 

 

 

 

Resumo

          Em conjunto com outras capacidades físicas, a força muscular é essencial para a execução de praticamente todas as formas de movimentos corporais voltados para o desempenho esportivo, para as atividades físicas da vida diária, atividades de lazer, danças, jogos, lutas. Neste sentido, os mais diferentes indivíduos devem ter uma capacidade de produção de força muscular adequadamente desenvolvida, inclusive as crianças e adolescentes por se encontrarem ainda em processo de crescimento e desenvolvimento. O presente estudo de revisão de literatura se propõe a apresentar e discutir os resultados de estudos científicos que tiveram como objetivo investigar o treino de força em crianças e adolescentes. Para tal foram consultadas as bases de dados Sport Discus e PUBMED, e artigos originais e de revisão publicados entre os anos de 1979 e 2009, que continham as expressões: strength and resistance training, children, obeses, pre pubescents and pubescents, and detraining. Ainda, propomos a elaboração de uma síntese de algumas diretrizes de treino estabelecidas por diferentes entidades internacionais de respaldo científico, motivando e constituindo um material de auxílio pedagógico na língua portuguesa brasileira para o professor de educação física escolar elaborar, planejar e orientar o treino de força nas suas aulas.

          Unitermos: Treino. Força. Diretrizes. Jovens.

 

Abstract

          Together with other physical abilities, muscle strength is essential for the implementation of practically all forms of bodily movements toward sport performance for the physical activities of daily living, leisure activities, dances, games and fights. In that sense, the more different individuals must have a production capacity of muscle strength adequately developed, including children and adolescents are still in the process of growth and development. The study of literature review is to present and discuss the results of scientific studies that were aimed to investigate the strength training in children and adolescents. To this end, we consulted the databases PUBMED and Sport Discus and the original and rewiew articles published between the years 1979 and 2009, using the expression, strength and resistance training, children, obeses, pre pubescent and pubescents, and detraining. Still, we propose to prepare a summary of some training guidelines established by different international entities of scientific support, motivating and being a material support in Portuguese Brazilian language to teaching physical education teacher prepare, plan and guide the strength training into their lessons.

          Keywords: Training. Strength. Guidelines. Youth.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A força muscular é descrita como um importante componente da aptidão física, e em conjunto com outras capacidades físicas como a aptidão cardiorrespiratória, flexibilidade, velocidade, agilidade e coordenação, a força muscular é essencial para a execução de uma grande diversidade de movimentos corporais (Blimkie, 1992; AAP,2008; BASES, 2004; ACSM, 2005; Faigenbaum, 2007; Behm et al., 2008).

    Nas décadas de 70 e 80 a prescrição de exercícios para crianças e adolescentes se restringia a exercícios aeróbicos, como caminhadas e natação e atividades esportivas (Faigenbaum, et al, 2001), sendo que o treinamento de força não fazia parte da prescrição, porque se acreditava que esse tipo de exercício pudesse trazer prejuízos à saúde e integridade da criança e adolescente (Rians, et al, 1987; Dowshen, 2001). Já na década de 90, diferentes entidades científicas internacionais como a Canadian Society for Exercise Physiology (CSEP), a British Association of Sport and Exercise Science (BASES), o American College of Sports Medicine (ACSM), a American Academy of Pediatric (AAP), a National Strength and Conditioning Association (NSCA), passam a recomendar o treinamento planejado, sistematizado e orientado para desenvolver a capacidade de força muscular de crianças e jovens. Estas entidades consideram a força muscular como fundamental não somente para aqueles que têm por objetivo o desempenho esportivo, mas também, para aqueles indivíduos que buscam o controle de alguns problemas ósteo-articulares, neuro-musculares, cardiovasculares, a manutenção do bom estado de saúde e educação para a promoção da saúde.

    Atualmente, o treinamento de força é amplamente indicado para crianças e adolescentes, praticantes ou não de esportes, na tentativa de melhorar sua condição física geral, incrementando os níveis de força e com isso melhorando suas habilidades na rotina esportiva, nas atividades de vida diárias, nas atividades recreacionais, na rotina escolar, entre outras (Benjamin & Glow, 2003), além dos benefícios observados na composição corporal (Yu, et al., 2005; McGuigan et al., 2009; Sgro et al., 2009), capacidade cardiorrespiratória (Weltman et al, 1986), lipídeos sanguíneos (Sung et al, 2002), aspectos psicológicos (Holloway et al., 1988). Além disso, muitos estudos têm voltado suas pesquisas para públicos especiais, como crianças e adolescentes obesos (Faigenbaum, 2009; Yu et al., 2005; McGuigan et al, 2009; Sgro et al, 2009); crianças portadores de transtorno de desenvolvimento da coordenação (DCD) (Kaufman & Schiling, 2007) e também crianças queimadas (queimaduras graves de grande profundidade) (Suman et al., 2001) , em que foram observados resultados muito positivos com o treino de força.

    Desta forma, o objetivo da presente revisão de literatura é discutir os diversos estudos sobre treinamento de força em crianças e jovens, assim como promover a discussão frente à escolha do treino de força para crianças e adolescentes obesos, como uma alternativa de exercício seguro e eficaz para esse público, assim como propor a elaboração de uma síntese de algumas diretrizes de treino estabelecidas por diferentes entidades de respaldo científico internacional.

    Para a elaboração deste trabalho foram consultadas as bases de dados Sport Discus e PUBMED. Foram selecionados artigos originais e de revisão publicados entre os anos de 1979 e 2009, que continham as expressões: strength and resistance training, children, obeses pré pubescents and pubescents, detraining.

Desenvolvimento

Adaptações ao treinamento de força muscular em crianças e adolescentes

    Diferentes estudos foram conduzidos com o intuito de investigar os fenômenos envolvidos nos mecanismos de ganhos de força e nas adaptações do treino de força muscular em indivíduos mais jovens (Weltman et al., 1986).

    A criança apresenta limitações importantes em relação à síntese protéica, sobretudo em pré-púbere, e essas limitações podem interferir nas respostas de força, ou seja, os ganhos de força seriam devido prioritariamente a adaptações neurais. A secreção de testosterona pelas gônadas é determinante para a síntese muscular e parece ocorrer em pequenas quantidades na criança, quer em situações normais ou após a realização de exercícios de força, dificultando dessa forma o aumento transversal do músculo pelo estímulo de treinamento (Fahey et al., 1979; Tsolakis et al., 2004). Já em púberes submetidos ao treino de força, o aumento da força se dá tanto a nível morfológico quanto neural. No estudo de Fry et al.,(1993) os autores ressaltaram que somente após dois anos de exposição ao treinamento de força, a concentração de testosterona sérica em púberes incrementa de forma significativa, o que limita severamente a hipertrofia muscular nos períodos iniciais de treinamento e atribui às adaptações neurais o mecanismo principal que explica os incrementos na força muscular.

Diferentes tipos de treinamento de força

    Em 1980, autores observaram um aumento significativo na força máxima isométrica de meninos pré-púberes submetidos a treino isométrico (Nielsen et al., 1980). Em 1986, pesquisadores avaliaram os efeitos de um programa de treinamento sobre a força isocinética máxima em 80 meninos (n=30 pré-púberes, n=30 púberes e n=20 pós-púberes) divididos em grupo experimental e controle. O grupo experimental treinou durante nove semanas nos exercícios extensão e flexão de joelhos e cotovelos, executando séries de 12 repetições a 50%, 75% e 100% de 10 repetições máximas (10-RM). No grupo experimental, as forças de flexão e extensão do cotovelo aumentaram em média 16,1% e 19,4%, respectivamente, enquanto o aumento médio das forças de flexão e extensão do joelho foi de 12,3% e 26,4 %, respectivamente, já no grupo controle nenhuma alteração significativa foi observada (Pfeiffer & Francis, 1986).

    Treinando por nove semanas, entre 50% e 100% do 1-RM, 18 meninos e meninas pré-púberes com idade entre 10 e 11 anos, apresentaram aumento médio de 42,9% na força isométrica na flexão e extensão do joelho e de flexão e extensão dos ombros, enquanto o controle aumentou em média 9,5% nesses mesmos grupos. O grupo experimental aumentou a flexibilidade em 4,5%, enquanto o controle apresentou um aumento de 3,6%. O estudo concluiu que tanto os meninos como as meninas pré-púberes aumentaram a força muscular, sendo que não houve comprometimento da capacidade de flexibilidade (Sewal & Micheli, 1986).

    Apesar de crianças pré-púberes não apresentarem aumentos significativos na massa muscular após exposição ao treinamento de força, pode-se observar grandes aumentos na força muscular isométrica, isocinética e também dinâmica isotônica, o que pode fazer desse tipo de exercício um aliado na prescrição de exercícios para essa população.

    Utilizando um treinamento dinâmico durante oito semanas (65 a 100% do 1-RM, três séries), meninos púberes (n=11; 12,6 anos) aumentaram a força de 5-RM em 52,3% no agachamento, 19,6% no supino e 26% na flexão de cotovelo, não observando mudanças no grupo controle (Sailors & Berg, 1987).

    Observa-se que os estudos apresentam uma certa divergência nos períodos de treinamento (8-9 a 20 semanas), bem como no modelo de treino utilizado, o que dificulta as comparações entre os resultados. Mas, o treinamento de força se mostra bastante efetivo tanto para aumentos no desempenho de força muscular quanto também na melhora de outras variáveis que são fundamentais no desenvolvimento físico das crianças e adolescentes, como a flexibilidade e composição corporal, fazendo desse tipo de exercício uma boa opção, assim como a combinação dele com outras formas de exercício.

    Em um programa de treino de força isocinética (30°/s e 90°/s, 3x/sem, 30 minutos por sessão, por 14 semanas), observou-se aumento de 36,6% e 38% na força isocinética de extensão de joelhos e flexão de cotovelo, respectivamente, em 32 meninos pré púberes e púberes (seis a 11 anos), nos quais foi também encontrado um aumento de 10,4% no salto vertical (Weltman et al., 1986). Mais uma vez pode-se observar a transferência dos resultados obtidos com o treinamento de força para variáveis de desempenho atlético, como os saltos, os quais são amplamente utilizados nas atividades recreativas e esportivas dessa população.

    Onze meninos e quatro meninas com 10,8±0,4 anos de idade participaram de um treino dinâmico de força durante oito semanas (de duas a três séries de seis repetições). Foram observados aumentos na força de 6-RM de 53,5% na extensão de joelho e de 41,1% no supino, enquanto que no grupo controle (três meninos e seis meninas de 10,0±0,4 anos) não foi observado aumento da força (Faigenbaum et al., 1996). Nesse estudo, os grupos foram semelhantes em relação aos níveis inicias de força, e também nenhuma das crianças havia participado de um programa semelhante antes do estudo, o que torna os grupos semelhantes em relação à experiência prévia, facilitando e dando mais credibilidade à interpretação dos resultados. Em outro estudo, meninos pré-púberes e púberes apresentaram em média um aumento de 88,9% na flexão de cotovelo e de 36,1% na extensão de joelhos, respectivamente, após um treinamento de 12 semanas, desenvolvido três vezes por semana, 12 a 15 repetições, 50 a 80% 1-RM (Meyer et al, 1998).

Intensidade, volume e freqüência de treino

    No final da década de 90 e início dos anos 2000, alguns estudos buscaram comparar tipos de treinamento de força diferentes, em relação à intensidade, volume e freqüência semanal. Tendo em vista que essas variáveis são de extrema importância nos resultados de força, faz-se necessário buscar ainda mais conhecimento a respeito dessas diferentes variáveis que interferem nos ganhos de força.

    Um grupo de meninos e meninas pré-púberes (n=15) treinou duas vezes por semana, por oito semanas com baixas repetições (8,7±2,9 rep.) e alta carga , e o outro grupo (n=16) com altas repetições (13,1±6,2 rep.) e carga moderada, além de um grupo controle (n=12). No primeiro grupo, houve um aumento de 31% na extensão de joelho e de 16% no supino, enquanto o segundo grupo ganhou 40,9% e 16%, respectivamente. Foi registrado maior aumento de força no grupo que treinou com carga moderada e altas repetições, para membros inferiores (Faigenbaum et al., 1999). Esse estudo pode levar a interpretações errôneas, devido ao fato do desvio padrão entre as repetições ser elevado: caso sejam comparados os números de repetições entre os dois grupos (8,7±2,9 reps. e 13,1±6,2 reps), observa-se que eles não diferem (p=0,016), ou seja, efetivamente não se pode afirmar que o grupo que realizou o treino com carga moderada e altas repetições obteve melhores resultados. Pode-se também destacar nesse estudo que, mesmo a amostra tendo passado por uma sessão introdutória de treinamento, para familiarização, talvez não tenha sido suficiente, o que poderia explicar tanta variação nas repetições realizadas.

    Os mesmos autores, em 2001, compararam diferentes sobrecargas e repetições em meninos e meninas pré-púberes (8,1±1,6 anos) durante um período de oito semanas. Um grupo (n=15) treinou no supino uma série de 6-8 repetições com carga intensa, o segundo grupo (n=16) treinou também no supino uma série de 13-15 repetições com carga moderada, e um terceiro grupo (n=12) treinou no supino uma série de 6-8 repetições com carga intensa e o mesmo número de repetições para arremesso de medicine ball, e por fim, o grupo quatro (n=11) treinou uma série de 13-15 repetições o arremesso de medicine ball, e ainda um grupo controle (n=12). Todas as crianças do estudo eram destreinadas. Ao final do treinamento, somente os grupos três e quatro apresentaram aumento na média da força resistente (RML) e máxima de membros superiores (Faigenbaum et al., 2001). Os autores concluíram que optar por prescrição com elevado número de repetições é favorável na fase inicial do treinamento, e à medida que o processo de treino avança, a opção por cargas maiores é mais vantajosa. Deve-se destacar que a progressão de carga em qualquer tipo de treinamento é fundamental para promover adaptações cada vez mais específicas e que é bastante difícil determinar a relação mais adequada entre carga e número de repetições, tendo em vista que optar por um ou outro depende da treinabilidade, do objetivo e das adaptações do executante do treinamento.

    Avaliando diferentes freqüências de treinamento, ou seja, treinamento desenvolvido uma e duas vezes por semana, um estudo realizado em 21 meninas e 34 meninos entre sete e 12 anos de idade, submetidos a treino dinâmico de oito semanas, observou resultados bem expressivos na força de crianças. As crianças foram divididas em dois grupos: um que treinou uma vez por semana, com série simples, 10 a 15 reps, para 12 exercícios (equipamentos); o grupo dois que treinou de 2x/sem nos mesmos padrões. O grupo dois apresentou melhores resultados de 1-RM de supino, em que foi observado um incremento de 11,5% e de 24,7% na pressão de pernas, comparado com o grupo de 1x/sem, que aumentou 4,4% no supino e 14,2% na pressão de pernas. O grupo controle (n=13) não apresentou mudanças significativas (Faigenbaum et al., 2002). Cabe ressaltar que a freqüência semanal, ou seja, o número de vezes que um indivíduo é submetido ao treino constitui-se um dos componentes mais importantes do treinamento físico, e espera-se que uma sessão semanal seja menos eficiente que duas vezes na semana, em função também de que o volume é fundamental em fases inicias de treino e, principalmente, para indivíduos destreinados como no caso de referido estudo. Portanto, para resultados mais expressivos e duradouros a freqüência de treino parece ser também determinante para crianças e adolescentes.

    Outras duas variáveis parecem ser importantes também na prescrição do treino de força para esse público: a duração do treino e o tipo de ação muscular (isométrica e dinâmica). Oito semanas de treinamento já apresentam resultados significativos na força em crianças e o treinamento dinâmico parece ser o mais utilizado nos diferentes estudos, o que se aproxima muitos dos eventos diários de uma criança.

    Um estudo avaliou a força de 1-RM após 12 semanas de treino dinâmico, 3x/sem, três séries de 12 a 15 repetições, em meninos pré-púberes (n=7). A amostra apresentou aumento de 78% e 67% na força de 1-RM de extensão de joelhos e flexão de cotovelos, respectivamente. O grupo controle (n=7) não apresentou alterações nos níveis de força (Fontoura et al., 2004). Se pode observar é que o treinamento dinâmico isotônico parece trazer resultados maiores nos ganhos de força, quando comparados ao treino isométrico e isocinético, muito provavelmente por ser esta uma forma de manifestação da força utilizada nas atividades de vida diária.

Comparação entre Membros Superiores e Inferiores

    As diferenças entre os ganhos de força nos membros superiores e inferiores (Pfeiffer e& Francis 1986; Weltman et al., 1986; Meyer et al., 1998) deve-se à diferença de treinabilidade entre os segmentos, ou seja, segmentos menos expostos ao movimento, seriam mais suscetíveis aos ganhos de força (Blimkie, 1992). Os membros superiores não seriam expostos diariamente às mesmas exigências musculares que os membros inferiores (caminhada, por exemplo) e essa maior exposição dos membros inferiores poderia decorrer em incrementos menores de força muscular em resposta ao treino de força comparativamente aos membros superiores. Ainda assim, alguns estudos reportam maiores incrementos na força de membros inferiores em resposta ao treino de força (Behm et al., 2008; Faigenbaum et al., 1996; Faigenbaum et al., 1999; Faigenbaum et al., 2002; Fontoura et al., 2004).

    Pode-se inferir que é difícil a comparação entre estudos devido à variabilidade metodológica observada nos programas de treino, e o que também poderia intervir nos resultados são os diferentes estágios maturacionais os quais a amostra se encontra. Cabe salientar que embora os programas de treinamento de força sejam diversificados, os ganhos de força nessa população têm sido sempre evidenciados.

O treinamento de força e práticas específicas

    Avaliando adolescentes entre 12-15 anos de idade praticantes de futebol, um grupo de pesquisadores verificou que após 16 semanas de treinamento de força associado ao futebol, houve aumento na força de 1-RM quando comparados os indivíduos que apenas continuaram a sua pratica esportiva (Christou, 2006), ou seja, o treino de força pode ajudar na preparação física de adolescentes praticantes de modalidades esportivas específicas.

    O treinamento de força pode ser desenvolvido em qualquer espaço físico, porém em escolas é menos comum de observar essa prática. Um estudo envolvendo meninos (10-14 anos, n=230; EXP n=131 e CON n=99) em que o objetivo foi verificar a eficácia de um programa de treinamento de força de 12 semanas nas aulas de Educação Física, observou uma melhora significativa nos testes de força nos meninos do grupo experimental, o que não ocorreu no grupo controle (Braga, 2007). Os resultados mostraram que o programa de treinamento de força dentro do ambiente escolar foi eficaz para aumento da força máxima, explosiva e de resistência no grupo experimental.

Treinamento de força muscular em crianças e adolescentes obesos e com sobrepeso

    O treinamento de força em crianças e jovens obesos e com sobrepeso parece ter muitas vantagens: por ter menos impacto axial pode reduzir o número de lesões no sistema músculo-esquelético e articular, e também, por ter uma característica intermitente, pode ser de mais fácil adesão e permanência desse público (Watts et al., 2005). O fato da criança e o jovem obeso terem maiores dimensões corporais (“mais forte”) comparados às não obesas, também pode facilitar a adesão dos obesos ao treinamento de força (Watts et al., 2005), assim como o treinamento de força favorece a manutenção da massa magra (Goran et al., 2000).

    Cabe destacar aqui, que o objetivo desta revisão não é eleger o treinamento de força como a única e melhor forma de prescrição para crianças e jovens obesas, e sim destacar os benefícios dessa prática e informar os leitores e, desta forma terem ciência da segurança e eficácia do treino de força para esta população. Além disso, cabe ressaltar que a associação do treino de força a outros tipos de exercício, como o aeróbico, possibilitam incrementos significativos da força muscular, bem como alterações benéficas na composição corporal e metabolismo basal (Treuth et al., 1998; Schneider & Meyer, 2007).

    Combinando treinamento de força e dieta entre 900 e 1200 kcal, um estudo verificou resultados mais satisfatórios em 41 meninos e meninas pré púberes (grupo 1) que treinaram nesse padrão, do que apenas aqueles que fizeram somente a dieta (grupo 2 n=41). Esse estudo teve a duração total de 36 semanas. As seis primeiras semanas os sujeitos do grupo 1 treinaram igualmente, e após 2 semanas de fase intermediária, um subgrupo (n=22) continuou treinando por mais 28 semanas e outro subgrupo (n=19) parou de treinar. A densidade mineral aumentou ao longo do tempo em ambos os grupos, mas de forma mais expressiva (3,9%) no grupo que treinou do que no grupo que não treinou (2,9%). Na segunda fase do treinamento o grupo que parou de treinar aumentou significativamente o percentual de gordura e diminuiu a massa corporal magra, e o grupo que continuou treinando diminuiu o percentual de gordura e aumentou a massa corporal magra. Com esses resultados os autores concluíram que programas de treino baseados na força apresentam modestos, mas significativas melhoras na composição corporal e densidade mineral óssea de meninos e meninas pré-púberes obesos (Yu et al., 2005).

    Já em um programa desenvolvido por oito semanas, 3x/semana, em 26 meninas e 22 meninos, entre sete e 12 anos, todos com sobrepeso e/ou obesidade, foi observado um aumento na força de 1-RM de agachamento de 74% (22,7±8,7 kg para 38,8±16,1), aumento no número de repetições 85% (27±4,0 para 5,0±4,8) no teste de apoio, aumento na altura do salto vertical de 8%, redução de 2,6% no % de gordura e aumento de 5,3% na massa corporal magra (McGuigan et al., 2009). Porém, este estudo não apresentou um grupo controle, o que se faz necessário em estudos que avaliam resultados de programas de treino de força.

    Um estudo avaliou três diferentes durações de treinamento de força (8, 16 e 24 semanas, grupos: G8, G16 e G24) em meninos e meninas pré-púberes (sete a 12 anos), foi observado um aumento na massa magra nos três grupos, em media 5,9% de aumento; diminuiu a massa gorda em media 6,9% e o G24 diminuiu mais a massa gorda; o % de gordura reduziu em media 6,3%. O índice de massa corporal não se alterou em nenhum dos grupos. A densidade mineral óssea apresentou aumentos nos grupos G16 (4,9%) e no G24 (2%) o G8 não apresentou alterações significativas. O salto vertical melhorou nos grupos G16 e G24 apenas. Os autores concluem que oito semanas parece ser suficiente para alterar algumas variáveis avaliadas, e que um período de treinamento de força mais longo pode promover mudanças mais significativas na composição corporal e força (Sgro et al., 2009).

    O treinamento de força pode ser uma ferramenta adequada tanto para reduzir a gordura corporal, quanto para ganhos de massa magra, principalmente em púberes. Além dos benefícios do treinamento de força já mencionados, pode-se também inferir que incluir a criança e o jovem obeso em programas de treinamento de força já o torna mais ativo, facilitando suas atividades funcionais diárias, entre outros (Schneider & Meyer, 2007).

Destreinamento de força em crianças e jovens

    Estudos que avaliam o período de destreinamento (o destreinamento caracteriza-se pela interrupção total do treinamento) são limitados e bastante recentes, principalmente em crianças (Blimkie, 1992). Foram encontrados dois estudos (Faigenbaum et al., 1996; Fontoura et al., 2004) que avaliaram esse período em crianças e adolescentes.

    Avaliando oito semanas de destreinamento foi observada uma redução na força de 6-RM de supino de 19,3% e na extensão de joelho, de 28,1%, e essa redução foi mais evidente nas primeiras quatro semanas (Faigenbaum et al., 1996).

    Após 12 semanas de destreinamento em meninos pré-púberes não foi observada redução significativa nos valores absolutos de força de membros inferiores e superiores (26,2±12,9 para 19,6±11,2 kg na extensão de joelhos e de 7,9±4,1 kg para 6,5±3,0 kg na flexão de cotovelo p>0,05). A redução após o período de destreino foi significativa apenas quando os valores foram corrigidos pela massa corporal magra e pela massa corporal total, mas apenas na extensão de joelhos (Fontoura et al., 2004).

    Podemos entender que em crianças pré-púberes, o desenvolvimento natural pode amenizar a perda de força, entendemos também que existem algumas lacunas que devem ser melhor esclarecidas em relação ao período de destreinamento, principalmente em crianças.

Diretrizes para o treino de força em crianças e adolescentes

    A seguir, são apresentadas as normativas recomendadas pelas entidades: Sociedade Canadense de Fisiologia do Exercício (Behm et al., 2008), o Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2005), a Associação Britânica de Ciências do Esporte e Exercício (BASES, 2004), a Academia Americana de Pediatria (AAP, 2008) e National Strength and Conditioning Association (NSCA)(Faigenbaum et al., 2009).

  • Acompanhamento e controle por profissionais qualificados e os programas precisam estar atentos à especificidade do seu planejamento e prescrição, de acordo com cada indivíduo. Devem atender ao nível maturacional;

  • Deve-se atentar aos possíveis efeitos do “overtraining” ou sobrecarga de treinamento; ter regras simples, exercícios pouco complexos;

  • Todos os objetivos devem estar bem estabelecidos bem como as perspectivas de incremento de força muscular, priorizar a correta execução.

  • Aquecimento, com a realização de exercícios dinâmicos com duração entre cinco-10 minutos (Faigenbaum et al., 2009); a AAP (2008) recomenda de 10-15 minutos de aquecimento, e resfriamento e alongamentos ao final;

  • Para iniciantes uma freqüência não superior a três vezes por semana, evitar dias consecutivos. A AAP (2008) recomenda que o programa seja de no mínimo oito semanas e não devem exceder a execução de 8-12 exercícios por aula, sendo que estes exercícios devem trabalhar os membros superiores e inferiores de forma integrada, assim como exercícios específicos para abdominais e dorsais;

  • Para indivíduos pouco experientes deve-se planejar a prática de 1-2 séries por exercício (Behm et al., 2008), a intensidade deste trabalho não deve exceder os 60% da capacidade máxima nas primeiras sessões para facilitar o aprendizado da técnica do movimento. A NCSA (Faigenbaum et al., 2009) recomenda de uma a três séries e a AAP (2008) recomenda de duas a três séries.

  • A Sociedade Canadense de Fisiologia do Exercício (Behm et al., 2006) propõe a utilização de carga de 60% do 1-RM de oito a 15 repetições; já a NCSA (Faigenbaum et al., 2009) propõe cargas referentes a seis a 15 repetições; a AAP (2008) recomenda de oito a 15 repetições.

  • A NCSA (Faigenbaum et al., 2009) recomenda que as cargas sejam moduladas ao longo do treinamento entre cinco e 10%, e que respeite a individualidade das crianças e que em cada sessão de treino os profissionais devem ouvir atentamente as necessidades dos mesmos; assim como instruir nos cuidados com nutrição, hidratação e sono; recomenda de uma a três séries de três a seis repetições de exercícios de potência para membros superiores e inferiores;

  • A aptidão cardiorrespiratória, coordenação e agilidade, devem ser priorizadas em conjunto com a capacidade de força dentro de um programa de treinamento;

  • A avaliação da força muscular deve ser específica e sistemática;

  • O programa deve oportunizar à criança e ao adolescente o conhecimento do seu próprio corpo, a descoberta do seu corpo; não somente o desenvolvimento da capacidade de força muscular.

Conclusões

    Com os pressupostos teóricos apresentados no presente estudo conclui-se que o treinamento de força muscular pode ser praticado por crianças e adolescentes, meninos e meninas objetivando-se o desempenho esportivo ou a educação para a promoção da saúde, e deve ser prescrito observando as diretrizes especializadas.

    Ressalta-se ainda a importância da continuidade de estudos relativos ao treino de força direcionado a crianças e jovens, sobretudo dentro do ambiente escolar.

Referências bibliográficas

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