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Treinamento concorrente: uma revisão de literatura

El entrenamiento concurrente: una revisión de la literatura

Concurrent training a literature review

 

*Pós-graduando em Estudos avançados em Psicologia Transpessoal Unipaz-Sul, SPEI

Graduado em educação física pela Escola de Educação Física da UFRGS

Educador Físico do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) Sapucaia do Sul, RS

**Graduado em educação física pela Escola de Educação Física da UFRGS

(Brasil)

Diogo Silveira Heredia y Antunes*

diogosha@hotmail.com

Luiz Ricardo Castro de Souza**

luizcastrooss@ibest.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O treinamento simultâneo de força e Resistência aeróbica, chamado de treinamento concorrente é importante tanto para atletas de determinadas modalidades, como para a promoção de saúde. Estudos têm sido feitos sobre as interferências destes treinamentos avaliando diversos aspectos. Não há consenso na literatura quanto à interferência ou não durante o treinamento concorrentes devido a diferentes resultados encontrados por diferentes autores. O objetivo desse estudo é fazer uma revisão de literatura abordando os principais tópicos relacionados ao treinamento concorrente e discutindo o porquê das diferenças nos resultados encontrados nas pesquisas e cuidados que devem ser tomados ao planejar um treino concorrente.

          Unitermos: Treinamento concorrente. Treinamento de força. Treinamento de resistência.

 

Abstract

          The simultaneously strength and endurance training, called concurrent training, is important for athletes and for the development of health. Many studies have been done about the interferences in the strength or endurance development during concurrent training, but there is no consensus in the literature about these topics. Different results have been found in different researches. The goal of this study is to make a review in the literature, discussing the main topics related to concurrent raining, why different researches have found different results and some precautions that should be taken to plan a concurrent train program.

          Keywords: Concurrent training. Strength training. Resistance training. Endurance training.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O desenvolvimento da força e da resistência aeróbica são fatores importantes tanto para atletas de determinados esportes quanto para promoção da saúde, sendo amplamente utilizado, por exemplo, nas academias. O objetivo desse estudo é fazer uma revisão de literatura abordando os principais tópicos relacionados ao treinamento concorrente (TC), discutindo o porquê das diferenças nos resultados encontrados nestas pesquisas e cuidados que devem ser tomados ao planejar tal treinamento, buscando maximizar os resultados.

    Diversos estudos têm sido realizados investigando as influências do treino concorrente de força e resistência (DOLEZAL e POTTEIGER 1998; LEVERITT et. al. 1999; DOCHERTY e SPORER. 2000; BELL et al., 2000; McCARTHY et al. 2002; HÄKKINEN et.al. 2003; HAWLEY 2009). Estes estudos têm comparado os treinos de força (TF), de resistência aeróbica (TA) e treinamento simultâneo de força e resistência (TC), avaliando os efeitos na força Muscular, na ativação muscular, na hipertrofia, nos hormônios circulantes, na taxa metabólica basal, na composição corporal e na capacidade aeróbica.

    Existem controvérsias na literatura quanto à interferência ou não do TA em relação ao TF. Alguns estudos colocam que os ganhos de força, quando realizado TC são inferiores aos ganhos do TF (DOLEZAL e POTTEIGER 1998; BELL et al., 2000). Outros Colocam que não há interferência nos ganhos de força com o TC (MCCARTHY et al., 2002; HÄKKINEN et.al. 2003).

Efeitos na força muscular

    A influência negativa nos ganhos de força, observada em algumas pesquisas é conhecida como efeito de interferência e pode estar relacionada com a faixa de intensidade que o treino é realizado e com os diferentes protocolos de treino utilizado, onde há variação no período de treinamento (variando entre 7 e 20 semanas) (DOCHERTY e SPORER, 2002), com volume, freqüência semanal e tipos de TF e TA, além do nível inicial de treino dos sujeitos (McCARTHY et al. 2002).

    Alguns mecanismos têm sido apontados como responsáveis por esta interferência. Entre estes, componentes neurais, baixo conteúdo glicogênio, transformação de fibra, overtraining e interferência no turnover protéico (CADORE, 2009).

    Bell et. al. (2000) realizou um estudo com 45 indivíduos (homens e mulheres) divididos em 3 grupos. Um grupo realizou TF 3x por semana outro TR 3x por semana e o ultimo TC 6x por semana. Durante 12 semanas. Encontraram um maior ganho de força nos indivíduos que realizaram TF em relação aos outros grupos. Os mesmos resultados foram encontrados por Dolezal e Potteiger (1998), em estudo realizado com 30 homens fisicamente ativos durante 10 semanas de treinamento com a mesma freqüência semanal que o estudo de Bell et. al. (2000).

    Docherty e Sponder (2000) fazem algumas colocações para tentar explicar a influência negativa no ganho de força no TC. Uma delas é a hipótese crônica, que propõe que os músculos não podem se adaptar metabolicamente ou morfologicamente ao TC devido às diferentes exigências metabólicas. Outra é a hipótese aguda, que coloca que o desenvolvimento da força é comprometido devido à fadiga resultante do TR.

    Aparentemente, a interferência na força ocorre principalmente quando um grande volume de treinamento é realizado em ambas as modalidades, como demonstrado por (KRAEMER et al., 1995) bem como ocorre quando ambas são realizadas no mesmo dia (SALE et al., 1990).

    Docherty e Sponder (2000) colocam que há maior interferência quando atletas realizam treinamento aeróbico de alta intensidade e treinamento de força entre 8 e 12 repetições máximas. Estes mesmos autores sugerem que o TF durante o TC seja realizado com séries de 3 a 6 repetições, pois as adaptações deste modelo de treino podem levar a uma menor interferência.

    O TC de curta duração (7 a 10 semanas) promove incrementos em vários aspectos relacionados à força, no entanto, treinamentos mais longos podem levar a um elevado estado catabólico diminuindo a hipertrofia e comprometendo o desenvolvimento da força (BELL et al., 2000)

    Por outro lado existem estudos que não demonstram nenhuma diferença entre o aumento de força decorrente do TF realizado com e sem o TC. (MCCARTHY et al., 2002; HÄKKINEN et.al. 2003).

Efeitos na ativação muscular

    Os fatores relacionados ao aumento da força muscular são adaptações no sistema nervoso (McCARTHY et al.,2002), mudanças no padrão de ativação muscular (avaliados através do sinal EMG), decorrentes do aumento do número de unidades motoras recrutadas e aumento da freqüência de ativação (CADORE, 2009).

    Em estudo realizado por McCarthy et al. (2002), com 30 sujeitos sedentárias saudáveis do sexo masculino divididos em um dos três grupos (TF, TR ou TC), com duração de 10 semanas, treinando 3 vezes por semana, não foram encontrados indícios que há interferência no desenvolvimento da força no TC seja relacionado à ativação Neural.

    Na pesquisa realizada por Häkkinen et.al. (2003), com 27 homens, treinando duas vezes por semana (TF) ou quatro vezes (TC), com duração de 21 semanas houve foi encontrado um aumento do sinal da eletro miografia (EMG) nos grupos que realizaram TF e TC e um aumento na força rápida (primeiros 500ms) apenas dos sujeitos no grupo que treinava força, não ocorrendo com o grupo com TC.

Efeitos na hipertrofia

    Com relação à hipertrofia, também não há consenso na literatura. Períodos acima de 10 semanas podem promover uma menor hipertrofia devido a um elevado estado catabólico (BELL et al. 2000). Esta menor hipertrofia durante TC também é comentada por Hawley (2009).

    No estudo de McCarthy et al. (2002) o TC não prejudicou a magnitude da hipertrofia comparado aos sujeitos que realizaram TF os mesmos resultados foram encontrados por Häkkinen et.al. (2003). Segundo estes autores, se o volume e freqüência de treino forem baixos não haverá interferência na hipertrofia, mesmo o tempo de treino ultrapassando 10 semanas.

Efeitos na área e subtipo de fibras musculares

    Outro aspecto que aparenta ser influenciado por diferentes tipos de treinos são as transformações dos diferentes subtipos de fibras musculares. Como mostram Bell et al. (2000), a área das fibras tipo I e II aumentaram após 6 e 12 semanas de TF, no entanto, durante TC somente aumentaram as de tipo II após 12 semanas.

Efeitos nos hormônios circulantes

    No estudo de Bell et. al (2000) não foram encontrados alterações nos níveis de testosterona ou GH em nenhum grupo, mas houve um aumento na concentração de Cortisol na urina de mulheres do grupo realizando TC após 12 semanas de treino.

Efeitos na taxa metabólica basal

    Conforme estudo realizado por Dolezal e Potteiger, (1998) com 30 homens saudáveis que participaram do programa de treinamento de 10 semanas divididos em TR (3 vezes por semana), TF (3 vezes por semana) e TC (6 vezes por semana), conclui que não houve diferenças significativas entre os grupos nos valores pré-treino. No entanto os grupos realizaram TF e TC mostraram aumento significativo na taxa metabólica basal após treino, enquanto o grupo TR teve uma diminuição significativa.

Efeitos na composição corporal

    Dolezal e Potteiger, (1998) concluíram que o TF obteve aumento na taxa metabólica de repouso e TA diminuição da massa gorda, já o TC teve os benefícios obtidos por ambos os grupos, sendo o programa de treino mais efetivo quando a perda de peso é desejada.

Efeitos na capacidade aeróbica

    Diversos estudos relatam que o TC não afeta os ganhos na capacidade aeróbica, quando comparado ao aeróbio isolado (BELL et al., 2000; McCARTHY et al. 2002; DOCHERTY e SPORER. 2000, MIKKOLA et. al. 2007).

    No entanto Chtara et. al (2005) coloca que o treinamento de força em circuito realizado imediatamente após o treinamento de resistência na mesma sessão (TR + TF) produziu uma maior melhora no tempo de prova e na capacidade aeróbica do que o inverso, ou que cada um dos programas de treinamento realizados separadamente.

    Nelson et. al. (1990) em estudo realizado com catorze homens destreinados, treinando quatro vezes por semana, divididos em três grupos (TR, TF ou TC), com duração de 20 semanas, relataram que na segunda metade deste período o aumento do VO2 máx. foi menor no grupo realizando TC. Mas cabe ressaltar que os testes de VO2 max. foram realizados em esteira e o treinamento em bicicleta, o que pode ter comprometido o resultado do estudo.

Conclusões

    Diferentes pesquisas mostraram interferências no desenvolvimento da força durante o TC, levando a necessidade de que sejam realizados mais estudos, para compreender melhor os fatores que levam a elas. Podendo assim auxiliar os profissionais a planejarem seus treinos maximizando os ganhos de seus alunos ou atletas durante este tipo de treinamento.

    A partir da revisão feita neste estudo podemos concluir que alguns cuidados relacionados à aplicação do TC devem ser tomados para que haja uma menor interferência e conseqüentemente maiores ganhos do praticante.

    É de fundamental importância preconizar os objetivos do praticante, se desenvolvimento da força, desenvolvimento da resistência aeróbica ou ambos, temos que considerar também o nível de treinamento deste individuo e o rendimento que este deseja alcançar. Isto irá definir a estrutura do treinamento a ser realizado, a relação volume e intensidade do TF e do TR durante o TC, visando uma menor interferência e um ganho maior da valência física alvo do sujeito.

Referências

  • BELL G.J.; SYROTUIK D.; MARTIN T.P.; BURMHAM R. QUINNEY H.A. Effect of concurrent strength and endurance training on skeletal muscle properties and hormone concentrations in humans. Eur J. Appl. Physiol. 81:418-427. 2000.

  • CADORE E. L. Efeitos do Treinamento Concorrente na Força e Ativação muscular, Capacidade Aeróbica e em Hormônios Esteróides em Homens Idosos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Educação Física, Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Programa de Mestrado 2009.

  • CHTARA M, CHAMARI K., CHAOUACHI M., CHAOUACHI A, KOUBAA D., FEKI Y., MILLET G. P., AMRI M. Effects of intra-session concurrent endurance and strength training sequence on aerobic performance and capacity. Br J Sports Med 2005; 39:555–560.

  • DOCHERTY D.; SPORER B. A Proposed Model for Examining the Interference Phenomenon between Concurrent aerobic and Strength Training. Sports Med. Dec: 30 (6): 385-394. 2000.

  • DOLEZAL B. A.; POTTEIGER J. A. Concurrent resistance and endurance training influence basal metabolic rate in nondieting individuals J Appl Physiol 85: 695-700, 1998.

  • HÄKKINEN, K.; ALEN, M.; KRANER, W.J.; GOROSTIAGA, E.; IZQUIERDO, M.; RUSKO, H.; MIKKOLA, J.; HÄKKINEN, A.; VALKEINEN, H.; KAARAKAINEN, E.; ROMU, S.; EROLA, V.; AHTIAINEN, J.; PAAVOLAINEN, L. Neuromuscular adaptations during concurrent strength and endurance training versus strength training. J. Appl. Physiol. 89:42-52, 2003.

  • HAWLEY J. A. Molecular responses to strength and endurance training: Are they incompatible? Appl. Physiol. Nutr. Metab. 34:355-361. 2009.

  • LEVERITT, M.; ABERNETHY, P.J.; BARRY, B. K.; LOGAN, P. Concurrent Strength and Endurance Training. Sports Med. Dec. 28 (6) 413_427. 1999.

  • MCARTHY, J.P.; POZNIAK, M.A. AGRE, J.C.; Neuromuscular adaptations to concurrent strength and endurance training. Med. Sci. Sports Exc. 34 (3): 511-519. 2002.

  • MIKKOLA J.; RUSKO H.; NUMMELA A.; POLLARI T.; HÄKKINEN K. Concurrent Endurance and Explosive Type Strength Training Improves Neuromuscular and Anaerobic Characteristics in Young Distance Runners J. Sports Med. 28:602-611. 2007.

  • NELSON, A.G. ARNALL, D.A. LOY S.F. Consequences of combining strength and endurance training regimens. Phys Ther; 70: 287-94. 1990.

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