Tipos de pesquisa em Educação Física Tipos de investigación en Educación Física |
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Graduado em Licenciatura em Educação Física (2009) e Especialista (Lato Sensu) em Educação Física Escolar pela Escola Superior de Educação Física da Universidade de Pernambuco, ESEF/UPE. Atualmente é aluno do curso de Mestrado em Educação Física do Programa Associado de Pós-Graduação UPE/UFPB. É professor efetivo, em regime de dedicação exclusiva, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco Campus Vitória de Santo Antão, IFPE, Vitória |
Lucas Vieira do Amaral (Brasil) |
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Resumo O presente estudo objetivou apresentar uma abordagem conceitual sobre os tipos de pesquisa utilizados na área da Educação Física. Para tal, realizamos um estudo de cunho qualitativo (NEVES, 1996), do tipo bibliográfico (GIL, 1991). Após as leituras e discussões, concluímos que a pesquisa é o principal meio para a expansão do conhecimento de qualquer campo do saber e que os tipos de pesquisa que envolve os estudos da Educação Física são ligados a abordagens teórico-metodológicas (GAMBOA, 1994) diferentes, as quais são oriundas de princípios epistemológicos também distintos que mantêm sintonia com a concepção de homem, sociedade e mundo defendida pelo pesquisador. Unitermos: Tipos. Pesquisa. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
De acordo com Gamboa (1994), em seu estudo Pesquisa em Educação Física: as inter-relações necessárias, a pesquisa científica é a forma mais qualificada de construção do conhecimento, sem ela não existe ciência.
Para Ludorf (2002), no seu artigo intitulado Panorama da pesquisa em Educação Física na década de 90: análise dos resumos de dissertações e teses, “a pesquisa é um componente fundamental para o enriquecimento e crescimento de qualquer área de estudo” (p. 03).
Segundo Paulo Freire (1999), em seu livro Pedagogia da Autonomia, não existe ensino sem pesquisa nem pesquisa sem ensino. Para o renomado autor, reconhecido internacionalmente pelo seu trabalho dedicado à educação: “sem a curiosidade que nos move, que nos inquieta, que nos insere na busca, não aprendemos nem ensinamos” (p. 35).
Compreendemos que a pesquisa é o principal meio para a produção do conhecimento, é através dela que se conhece o novo, se descobri o desconhecido, se encontra respostas para as perguntas sobre determinado assunto, soluciona-se problemas de diversos campos do saber. Assim, a pesquisa também é condição sine qua non para a qualificação do conhecimento que envolve a Educação Física.
Contudo, sabemos que a Educação Física se mostra, ao mesmo tempo, atrelada a diferentes campos do conhecimento (saúde, humanas, exatas etc.) e por isso é alvo de pesquisas de diferentes tipos, não apresentando uma tipologia de pesquisa específica e particular para o seu uso exclusivo. Por isso, este estudo se preocupou em pesquisar e apresentar quais são os tipos de pesquisa que permeiam os estudos que envolvem a Educação Física. Essa abordagem conceitual torna-se pertinente, pois, também, contribui para ampliar as discussões sobre os tipos de pesquisa em Educação Física que, a nosso ver, é pouco fomentado e disseminado.
Procedimentos metodológicos
Do ponto de vista metodológico, este estudo foi desenvolvido em uma abordagem qualitativa de pesquisa. Segundo Neves (1996) “a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao logo de seu desenvolvimento” (p. 01).
Caracteriza-se em uma pesquisa do tipo bibliográfica. De acordo com Gil (1991) “a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos” (p. 48). Contudo, Marconi e Lakatos (2006) nos alertam que “a pesquisa bibliográfica não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem, chegando a conclusões inovadoras”. (p. 71)
Quanto aos passos metodológicos traçados para a operacionalização do estudo, os quais se imbricam, nos fundamentamos em Minayo (2004). Logo, realizamos duas importantes etapas: a Fase Exploratória da Pesquisa e a Fase de Análise.
Segundo Minayo (2004), a fase exploratória da pesquisa “compreende a etapa de escolha do tópico de investigação, de delimitação do problema, de definição do objeto e dos objetivos, de construção do marco teórico conceitual [...]” (p. 89).
Por sua vez, a fase de análise corresponde ao momento em que reunimos todo o material coletado, nos debruçamos sobre ele, partimos para as cuidadosas leituras e fichamentos e, após nos apropriarmos das referências, tecemos nossas considerações.
Tipos de pesquisa em Educação Física
No Brasil, as pesquisas em Educação Física aumentaram significativamente após o fim do regime militar, com a volta dos estudiosos exilados do país. Bem como, um dos fatores que impulsionou o aumento da produção científica na área foi, segundo Ludorf (2002), a criação dos cursos de pós-graduação Stricto Sensu na forma de mestrado e doutorado em Educação Física na década de 1980, sendo a Universidade de São Paulo (USP) a pioneira.
Os tipos de pesquisa em Educação Física advêm de diferentes tipos de abordagens teórico-metodológicas (GAMBOA, 1994) que, por sua vez, fazem referência a princípios epistemológicos distintos.
Segundo Gamboa (1994), uma das referências nos estudos epistemológicos da Educação Física, os tipos de pesquisa em Educação Física estão encaixados em três grandes abordagens teórico-metodológicas, sendo elas: Empírico-Analítica, Fenomenológico-Hermenêutica e Crítico-Dialética.
Na abordagem empírico-analítica, os estudos que envolvem a Educação Física versam sobre habilidades motoras, capacidades físicas (resistência, flexibilidade, força, velocidade etc.), alto rendimento esportivo, saúde, performance humana, análise biomecânica do movimento humano, melhoria da qualidade de vida do indivíduo etc. Sua base é biologicista, funda-se em critérios antropométricos e fisiológicos para classificar os indivíduos. Coaduna com o cartesianismo, seu princípio epistemológico é o positivismo. Para Ludorf (2002), subsidiado por Faria Junior (1987), os tipos de pesquisas em Educação Física que aparecem nesta abordagem são: pesquisa experimental, survey, estudos correlacionais, meta-análise e estudo de caso. Estes tipos de pesquisa são de natureza quantitativa.
Thomas e Nelson (2002), com seu livro Métodos de pesquisa em atividade física, nos ajudam a explicar brevemente os tipos de pesquisa que são utilizados em Educação Física que acabamos de descrever:
A pesquisa experimental é um tipo de pesquisa que manipula as variáveis na intenção de estabelecer uma relação de causa-efeito.
Survey é um tipo de pesquisa que visa determinar informações sobre práticas ou opiniões atuais de uma população específica.
Pesquisa correlacional é um tipo de pesquisa que explora as possíveis relações entre as variáveis, exceto a relação de causa-efeito. Nessa pesquisa não há a manipulação de variáveis. Ela precede a pesquisa experimental.
Meta-análise é um tipo de revisão de literatura de metodologia e quantificação definidas de resultados de várias pesquisas para estabelecer um padrão métrico que permite a aplicação de técnicas estatísticas para viabilizar análises.
Estudo de caso é um tipo de pesquisa que investiga um caso (fenômeno ou situação) em profundidade para obter uma ampla compreensão, a qual poderá contribuir para explicar casos similares.
De acordo com Gamboa (1994), as pesquisas em Educação Física que são oriundas da abordagem teórico-metodológica Fenomenológica-Hermenêutica estudam o corpo humano enquanto um instrumento de interação cheio de sentidos e significados, percebem o movimento humano como linguagem, discutem corporeidade, o lúdico. Superam o pensamento fragmentado e o dualismo corpo-mente, matéria-espírito, que, segundo Gamboa (1994), está presente nas pesquisas empírico-analíticas. Seu princípio epistemológico está na fenomenologia. Ludorf (2002), com base em Faria Junior (1987), nos afirma que as pesquisas que envolvem a Educação Física e que se enquadram nessa abordagem são: pesquisa documental, revisão de literatura, pesquisa histórica, pesquisa filosófica e estudos comparativos. Tais pesquisas aparecem na perspectiva qualitativa.
A pesquisa documental se assemelha a pesquisa bibliográfica, porém sua fonte advém de documentos que ainda não receberam tratamento, documentos originais.
O estudo comparativo é um tipo de pesquisa que visa comparar duas ou mais realidades ou fenômenos, identificando suas aproximações e distanciamentos e, por fim, apresentam considerações.
Revisão de literatura é um tipo de pesquisa que realiza um levantamento recente da produção científica num tópico particular. Envolve análise, avaliação e integração da literatura publicada. (THOMAS e NELSON, 2002)
Pesquisa histórica é um tipo de pesquisa que é realizada com base em um evento que já tenha ocorrido, utiliza-se de métodos descritivos e analíticos. (THOMAS e NELSON, 2002).
Pesquisa filosófica é um tipo de pesquisa caracterizada pela investigação crítica, estuda os fatos e sintetiza as variáreis para aplicar em um determinado modelo teórico. (THOMAS e NELSON, 2002)
Já na abordagem crítico-dialética, as pesquisas que envolvem a Educação Física entendem o homem enquanto um sujeito social transformador da realidade, motivado por interesses emancipatórios. Sua base epistemológica é o materialismo histórico e a filosofia da Práxis (GAMBOA, 1994). Para Ludorf (2002), apropriando-se de Faria Junior (1987), os tipos de pesquisa em Educação Física que se situam nessa abordagem são: a pesquisa-ação, a pesquisa participante e a pesquisa etnográfica. Pesquisas estas de natureza qualitativa.
Segundo Thiollent (1986), uma das grandes autoridades no assunto, em seu livro Metodologia da Pesquisa-ação, a pesquisa-ação é realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo, no qual pesquisador e participantes estão inseridos de forma cooperativa ou participativa.
De acordo com Grossi (1981), em seu estudo Mina de Morro Velho: a extração do homem, uma história de experiência operária, a pesquisa participante é um processo no qual a comunidade participa na análise de sua própria realidade, com o objetivo de transformar a realidade social em que os participantes oprimidos se encontram.
Já a pesquisa etnográfica ou ethnográfica é orginária da antropologia. Para Wielewicki (2001), em seu estudo Pesquisa etnográfica como contribuição discursiva, a pesquisa etnográfica investiga o que as pessoas fazem em determinados ambientes (como por exemplo: a sala de aula) e, ainda, estuda os resultados das interações entre elas.
Ludorf (2002) constatou em seu estudo que a maioria das pesquisas em Educação Física são de abordagem teórico-metodológica empírico-analítica, seguidas pelas pesquisas de abordagem fenomenológico-hermenêutica, as quais apresentam grande expressividade e, por fim, ficam as pesquisas de abordagem crítico-dialética que ainda se configuram como as pesquisas de menor quantitativo.
Considerações finais
Concluímos que a pesquisa é extremamente importante para a Educação Física, pois através dela contribuiremos para a qualificação, reconhecimento e ampliação de saberes da nossa área. Entendemos que os tipos de pesquisa que envolvem os estudos da Educação Física (pesquisa experimental, estudo de caso, survey, estudos correlacionais, meta-análise, revisão de literatura, pesquisa documental, estudo comparativo, pesquisa histórica, pesquisa filosófica, pesquisa-ação, pesquisa participante e pesquisa etnográfica) são coerentes com abordagens teórico-metodológicas (GAMBOA, 1994) diferentes (empírico-analítica, fenomenológico-hermenêutica e crítico-dialética), as quais são oriundas de princípios epistemológicos também distintos (positivismo, fenomenologia e materialismo histórico) que mantêm sintonia com a concepção de homem, sociedade e mundo defendida pelo pesquisador. Portanto, ao fazer ciência em Educação Física, o pesquisador deverá utilizar um tipo de pesquisa compatível com o seu objeto de estudo e procedimentos teórico-metodológicos que pretende se subsidiar, pois só assim realizará uma pesquisa com coerência metodológica.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes Necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
GAMBOA, Silvio Sanchez. Pesquisa em Educação Física: as inter-relações necessárias. Rev. Motrivivência, Pesquisa em Educação Física - n. 5,6 e 7. Dez. 1994. p. 34-46.
GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 3º Ed. São Paulo: Atlas, 1991.
GROSSI, Yonne de Souza. Mina de Morro Velho: a extração do homem, uma história de experiência operária: São Paulo: Paz e Terra, 1981.
LÜDORF, Sílvia Maria Agatti. Panorama da pesquisa em educação física da década de 90: análise dos resumos de dissertações e teses. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v. 13, n. 2, p. 19-25, 2. sem. 2002.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. 6º Ed. São Paulo: Atlas, 2006.
MINAYO, Maria Cecília. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8º Ed. São Paulo: Hucitec, 2004.
NEVES, José Luis. Pesquisa qualitativa: características, usos e possibilidades. Caderno de pesquisas em administração, São Paulo, v. 1, nº 3, 2º Sem./1996.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 7. ed. São Paulo: Cortez, 1996.
THOMAS, J.R.; NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3 ed. Porto Alegre, Artmed Editora, 2002.
WIELEWICKI, Vera H. G. A pesquisa etnográfica como construção discursiva. Maringá, 2001.
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