Somatotipo do atleta estudantil brasileiro de handebol, voleibol, basquetebol e futsal Somatotipo del atleta estudiantil brasileño de balonmano, voleibol, basquetbol y futsal |
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Faculdade de Educação Física Laboratório de Fisiologia do Exercício - CENESP – UnB Universidade de Brasília (Brasil) |
Jônatas de Oliveira Santos Suellen Vaz Nasser Guilherme Eckhardt Molina Keila Elizabeth Fontana |
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Resumo A somatotipia segundo o método de Heath & Carter ainda é objeto de estudo pela sua facilidade de aplicação, precisão e importância na classificação da composição corporal e aptidão física de diversas populações. O objetivo deste estudo foi determinar o somatotipo de atletas estudantis brasileiros de 2001, nos desportos handebol, voleibol, futsal e basquetebol e compará-los a resultados publicados em duas décadas anteriores (1996 e 1981). Foram avaliados 207 atletas masculinos, participantes das Olimpíadas Colegiais de 2001 com idade variando de 14 a 17 anos. Foram analisadas: massa corporal (MC), estatura, os componentes do somatotipo e sua distância de dispersão (DDS). Os dados foram plotados em gráficos comparativos e somatocartas para as três décadas. Os resultados entre as modalidades e gêneros foram comparados por ANOVA (one way). A MC e estatura mostraram-se maiores para basquetebol e voleibol, determinando maiores valores de ectomorfia para essas modalidades. O basquetebol e o handebol foram classificados como ectomorfo-mesomorfo, já o voleibol ectomorfo-endomorfo. A maior mesomorfia foi obtida pelos atletas de futsal, classificados como mesomorfo-ectomorfo. A DDS mostrou que os atletas estudantis de 2001 apresentaram maior endomorfia comparada aos de 1996 e 1981 em todas as modalidades analisadas. A mesomorfia decresceu no voleibol e no handebol em 2001 e 1996 quando comparados aos resultados de 1981. No futsal e handebol a ectomorfia aumentou no decorrer das décadas. O somatotipo na faixa etária estudada refletiu as constantes alterações maturacionais que ocorrem no pico de crescimento desses atletas colegiais, demonstrando ganhos de adiposidade no decorrer de três décadas, decréscimo da mesomorfia no voleibol e no handebol e uma tendência a maior ganho da ectomorfia no futsal e handebol. O grande desenvolvimento tecnológico atual juntamente com uma alimentação inadequada em relação à décadas anteriores e outros fatores associados, como a diminuição do nível de atividade física, contribuem para uma caracterização de um maior grau de adiposidade. Unitermos: Somatotipo. Atleta estudantil. Handebol. Voleibol. Basquetebol. Futsal.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
As medidas corporais influenciam a aptidão física, são importantes para a análise completa de um indivíduo, seja ele atleta ou não e são indicadores importantes na caracterização da composição corporal de uma população, pois fornece informações, ligada ao crescimento, desenvolvimento, envelhecimento. Pela facilidade de aplicação e precisão comprovada foi utilizada a metodologia de classificação do tipo físico segundo a metodologia do somatotipo antropométrico de Heath & Carter (1967) como base fundamental do estudo.
A somatotipia começou por estudos de Sheldon em 1940 e sua definição é a descrição numérica da configuração morfológica de um indivíduo (CARTER, 1972). O estudo da somatotipia foi incrementado e melhorado por Heath & Carter (1967) que aperfeiçoaram essa técnica para suprir deficiências e inadequações, modificando o sistema proposto por Sheldon. Até hoje, a somatotipia é objeto de estudo pela sua importância na classificação das variáveis corporais (PERES et al, 1983; CHAOUACHI et al, 2005).
O somatotipo de Heath & Carter está relacionado à traços fenótipos influenciados pela hereditariedade, alimentação e outros fatores externos a que cada indivíduo é exposto (LEVANDOSKI et al, 2007), e é expresso em uma série de três numerais dispostos sempre na mesma ordem, onde o primeiro componente refere-se à endomorfia, caracterizada pela gordura corporal, o segundo a mesomorfia, que reflete a musculatura e estrutura óssea e o terceiro a ectomorfia, que estabelece relação entre altura e massa corporal (CARTER, 1972).
Foram analisados os somatotipos dos esportistas estudantis brasileiros nos anos de 1981, 1996 e 2001, permitindo assim, por meio de análise transversal, verificar a tendência do tipo físico ao longo de duas décadas. O objetivo do presente estudo consistiu em determinar o somatotipo de atletas escolares estudantis de 2001 e comparar os resultados com estudos já realizados em 1996 e 1981 nas modalidades handebol, voleibol, futsal e basquetebol e tentar identificar possíveis variações somatotipológicas entre as modalidades no decorrer do tempo (décadas).
Metodologia
O total de 207 atletas estudantis, masculinos, participantes das Olimpíadas Colegiais de 2001, nas modalidades de handebol, voleibol, basquetebol e futsal, foi avaliado pela equipe do Laboratório da Rede CENESP – UnB.
A massa corporal foi determinada em uma balança da marca Toledo, com precisão de 50 gramas e a estatura através de um antropômetro de madeira com precisão de meio centímetro. A mensuração das dobras cutâneas foi realizada pelo mesmo avaliador por meio do compasso de dobras (Cescorf, Snock Proof.) com precisão de 0,1 mm. Foram realizadas três medidas não consecutivas da mesma dobra cutânea somente quando a diferença entre a primeira e a segunda medida foi maior que 5%. As medidas foram realizadas sempre do lado direito do avaliado, de acordo com recomendação do Comitê de Antropometria do Grupo de Alimento e Nutrição do Conselho Nacional de Pesquisa (USA) e do Comitê Internacional de Padronização dos Testes de Aptidão Física.
As dobras cutâneas (tríceps, subescapular, supraespinhal e perna) seguiram padronizações de Carter (1972). Antigamente a dobra cutânea suprailíaca era utilizada para cálculo do componente endomorfo, porém, de acordo com o referencial descrito por Lohman (1992) a dobra cutânea supraespinhal corresponde à descrição da antiga dobra suprailíaca.
Os perímetros foram realizados por uma fita metálica flexível (Sanny, Starrett 2m) com precisão de 0,1 mm e os diâmetros por paquímetro (TKK, Japão), também com precisão de 0,1 mm. Ambas as medidas foram realizadas uma única vez. As medidas de perímetros do braço tenso e perna seguiram a padronização de Carter (1972).
Os componentes foram calculados de acordo com a metodologia de Heath & Carter (1967) e os resultados foram estratificados por modalidade em somatocartas e comparados com resultados de estudos do Indesp (1997) relativos ao ano de 1996 (238 participantes dos Jogos da Juventude) e de Perez et al (1983) com referência a avaliação de 1981 (181 atletas estudantis participantes dos Jogos Estudantis Brasileiros) nas modalidades handebol, voleibol, basquetebol, e futsal. O futsal não possui dados de 1981. A padronização das medidas antropométricas foi analisada nas três avaliações, e por ser mantida, permitiu a utilização dos dados na comparação entre as décadas.
A análise descritiva dos dados foi realizada por meio de média e desvio padrão. Os dados foram plotados em gráficos de barras e somatocarta permitindo que a distância de dispersão do somatotipo (DDS) fosse analisada conforme proposto por Ross & Wilson (1973). Analise de variância (one way) foi utilizada para comparar os dados de 2001 por modalidade. O programa SPSS, versão 13.0 foi utilizado para processar a análise estatística com nível de significância de p<0,05.
Resultados e discussão
Os resultados obtidos dos atletas estudantis de 2001 encontram-se na Tabela 1, onde 207 atletas com idade 16,7 ± 0,8 anos foram submetidos à avaliação antropométrica.
A massa corporal e a estatura foram maiores para o basquetebol e voleibol, determinando maiores valores para ectomorfia, porém, não elevou significativamente a endomorfia para essas modalidades. O basquetebol e o handebol foram classificados como ectomorfo-mesomorfo, já o voleibol ectomorfo-endomorfo, provavelmente pelo fato do ganho de massa muscular ser menor nessa faixa etária determinando predomínio da linearidade corporal. A mesomorfia foi maior nos atletas de futsal, que foram classificados como mesomorfo-ectomorfo.
Tabela 1. Variáveis antropométricas e somatotipo dos atletas estudantis de 2001 por modalidade
Quando comparados pela análise de variância (Anova) os atletas estudantis de 2001 apresentaram a massa corporal significativamente diferente entre as modalidades basquetebol x handebol (p=0,000), basquetebol x futsal (p=0,000) e voleibol x futsal (p=0,000). Desta forma, apenas as modalidades de basquetebol e voleibol não diferiram (p=0,105). A estatura apresentou diferença significativa entre: basquetebol x handebol (p=0,000), basquetebol x futsal (p=0,000), voleibol x futsal (p=0,000), voleibol x handebol (p=0,019), handebol x futsal (p=0,020). Quanto ao somatotipo, somente o futsal x voleibol diferiram significativamente no que se refere a mesomorfia (p=0,018).
Os componentes somatotipológicos das três décadas foram plotados em gráficos de barras por modalidade para facilitar a comparação (Figura 1). A comparação limitou-se a análise gráfica em função da disponibilidade apenas das médias e desvios padrões dos dados. A mesomorfia decresceu nas modalidades de handebol e voleibol, comparando os anos 1981-1996, 1996-2001 e 1981-2001, onde as colunas representam a média obtida para cada variável e a barra de erro o desvio padrão correspondente. A endomorfia aumentou em todas as modalidades ao longo do tempo (1981 a 2001). Esse aumento de adiposidade pode ser devido ao menor nível de atividade física praticada decorrente das facilidades tecnológicas (escada rolante, controle remoto, vidro elétrico, videogames, computadores) em detrimento das práticas corporais que faziam parte do dia-a-dia das pessoas. Esse fato está relacionado ao processo recente de mudança cultural e sua respectiva adaptação à evolução tecnológica.
Todos esses aparatos e equipamentos da vida moderna tendem a promover facilidades operacionais que de alguma forma impedem a movimentação e o gasto de energia corporal, provocando a acomodação e facilitação de tarefas que levam ao sedentarismo. O estilo de vida dos pais também influencia diretamente na composição corporal dos filhos, onde adolescentes com percentual de gordura menor apresentam pais com melhor estilo de vida (PETROSKI & PELEGRINI, 2009).
Figura 1. Componentes somatotipológicos das três décadas por modalidade esportiva
A Figura 2 mostra a somatocarta, que é a representação dos três componentes (endomorfia, mesomorfia e ectomorfia) através de um gráfico bidimensional. A somatocarta facilita a análise da composição corporal, pois em apenas um ponto discrimina a conformação morfológica presente, utilizando os três componentes. Valores elevados de endomorfia promovem o deslocamento do ponto para a esquerda do gráfico, valores altos de mesomorfia alteram o ponto para a parte superior do gráfico e valores elevados de ectomorfia promovem o deslocamento do ponto para a direita do gráfico.
Na análise comparativa dos valores de cada modalidade entre os diferentes anos (1981, 1996 e 2001) foi utilizada a distância de dispersão do somatotipo (DDS) proposto por Ross & Wilson (1973). A interpretação da significância do DDS é o valor empírico de duas unidades, ou seja, para valores de DDS inferiores a dois considera-se que a diferença não é significativa ao passo que valores acima de dois representam somatotipos significativamente diferentes. Este método é proposto por Hebbelinck et al (1975) e foi utilizado por vários autores em diversos países (VIVOLO et al, 1980; BRACHT et al, 1982; CALDEIRA et al, 1979; GOMES & ARAÚJO, 1980; GUEDES, 1982).
Quando comparado o somatotipo por modalidade ao longo das décadas, os atletas estudantis de handebol e voleibol de 1996, não podem ser considerados semelhantes aos atletas de 2001 (DDS= 2,34 e 2,09, respectivamente), o mesmo acontece na comparação dos atletas de handebol e voleibol de 1981 com 2001 (DDS= 3,29 e 2,88, respectivamente). Esses valores demonstram que o somatotipo dessas modalidades se modificou cada vez mais ao passar dos anos (décadas), aumentando a endomorfia e diminuindo a mesomorfia.
Figura 2. Somatocarta dos atletas estudantis masculinos por modalidade e década
Os atletas de basquetebol diferiram significativamente entre 1981 e 1996 (DDS = 2,45), porém, o mesmo não aconteceu de 1981 para 2001, os somatotipos não foram significativamente diferentes, mas mostraram tendência (DDS=1,71). A endomorfia prevaleceu em 2001, comparada às demais datas. Já o somatotipo do futsal, modalidade eminentemente masculina, não diferiu de 1996 para 2001 (SDD= 1,02).
A DDS mostrou que os atletas estudantis de 2001 apresentaram maior endomorfia em todas as modalidades analisadas. A mesomorfia apresentou decréscimo no voleibol e no handebol em 1996 e 2001 quando comparados aos resultados de 1981. No futsal e handebol a ectomorfia aumentou no decorrer das décadas, por ser um componente que descreve a linearidade, pode ter valores mais elevados nesta faixa etária, devido à puberdade e conseqüente fase de estirão principalmente nos atletas do gênero masculino.
Conclusão
O somatotipo dos atletas estudantis brasileiros de 2001 apresentou maiores valores de ectomorfia para basquetebol e voleibol. O basquetebol e o handebol foram classificados como ectomorfo-mesomorfo, já o voleibol ectomorfo-endomorfo. O maior valor de mesomorfia foi nos atletas de futsal, que foram classificados como mesomorfo-ectomorfo. O somatotipo dos atletas no decorrer das décadas refletiu as constantes alterações maturacionais que ocorrem no pico de crescimento na faixa etária estudada, demonstrando ganhos de adiposidade. O nível de atividade física programada, o estilo de vida dos pais e o grande desenvolvimento tecnológico atual podem justificar a influência de um comportamento menos ativo e o aumento do primeiro componente da somatotipia (endomorfia) nas modalidades esportivas aqui estudadas ao longo do tempo.
Referências
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