Saúde e estresse em professores em Educação Física Salud y estrés en profesores de Educación Física Health and stress in teachers of Physical Education |
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*Mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas, UFPel Professor da Prefeitura Municipal de Bagé, RS. Técnico Administrativo em Educação da Universidade Federal do Pampa, UNIPAMPA **Doutor em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS. Professor da Universidade Federal de Pelotas, UFPel ***Graduada em Educação Física pela Universidade da Região da Campanha, URCAMP. Acadêmica de Farmácia e Bioquímica da Universidade da Região da Campanha, URCAMP |
Marcio Neres dos Santos* Alexandre Carriconde Marques** Idelci Jardim Nunes*** (Brasil) |
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Resumo Nos últimos anos a saúde dos professores tem sofrido inúmeros prejuízos, que por vezes decorrem da sua própria atuação profissional, limitando sua capacidade de trabalho e afetando sua qualidade de vida e bem-estar. O objetivo desse estudo foi verificar a associação entre percepção de saúde geral e de estresse entre professores de educação física da rede de ensino de Bagé (RS, Brasil) e as relações dessas variáveis com indicadores de estilo de vida. Na análise empregou-se estatística descritiva e associação bivariada por correlação de Spearman. A maioria do grupo apresentou percepção de saúde positiva, mas o nível de estresse foi moderado. Percepção de saúde e de estresse relacionaram-se inversamente e nenhuma dessas variáveis esteve associada com os indicadores de estilo de vida. Unitermos: Saúde. Estresse. Professores em Educação Física.
Abstract In recent years teacher's health has suffered numerous losses, which often derive from their own professional work, limiting their ability to work and affecting their quality of life and well-being. The aim of this study was to investigate the association between perception of general health and stress among physical education teachers of the school of Bage (RS, Brazil) and the relationship of these variables with indicators of lifestyle. In the analysis we used descriptive statistics and bivariate association by Spearman correlation. Most of the group had a perception of health positive, but the stress level was moderate. Perception of health and stress were inversely related and none of these variables were associated with indicators of lifestyle. Keywords: Health. Stress. Teachers of Physical Education.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A condição de saúde é um aspecto fundamental para qualquer indivíduo, independentemente de suas características individuais, sociais ou econômicas. O estilo e a qualidade de vida também são aspectos importantes e intimamente relacionados com a condição de saúde do sujeito, influenciando e sendo influenciados por ela. No contexto do trabalhador, uma condição desfavorável de saúde física ou mental pode limitar consideravelmente sua capacidade laboral e a produtividade.
No campo da educação, observa-se uma piora nas condições de saúde física e mental dos professores nas últimas décadas. As características e condições de trabalho impostas aos indivíduos têm sido apontadas como o principal fator para o surgimento deste quadro (CRUZ, LEMOS, 2005; GASPARINI et al., 2005; GARRIDO, 2005). Tais comprometimentos promovem um impacto negativo sobre o desempenho profissional dos docentes e podem, inclusive, prejudicar o aprendizado dos alunos (KOHEN, 2005). Em alguns casos estes problemas de saúde podem ocasionar o afastamento dos docentes de suas atividades no trabalho (GASPARINI et al., 2005) e, em situações extremas, até provocar a aposentadoria antecipada (MAGUIRE, O'CONNEL, 2007; WEBER, LEDERER, 2006).
Entre os aspectos de saúde mais afetados entre os professores os estudos destacam a saúde mental e o bem-estar psicológico (CRUZ, LEMOS, 2005; GARRIDO, 2005). Além do significativo aumento desses casos nos últimos anos na categoria, os estudos mostram que esses aspectos são apontados pelos docentes como os principais fatores para o adoecimento e incapacitação ao trabalho (GARRIDO, 2005; EMSLEY et al., 2009). Diante disso, o objetivo deste estudo foi investigar a percepção de saúde geral e de estresse mental entre os professores de Educação Física da rede municipal de educação de Bagé, RS, Brasil.
Materiais e métodos
Realizou-se em 2010 um estudo transversal junto à rede municipal de educação de Bagé, Rio Grande do Sul, Brasil. Conforme dados do município, a rede contava com 59 escolas (54 na zona urbana e cinco na zona rural). Todas as escolas e seus respectivos professores de educação física foram convidados a participar do estudo, sendo excluídos apenas aqueles professores cedidos para outras secretarias municipais ou para outras instituições do município ou fora dele, os professores afastados do trabalho e os professores estagiários.
Foram enviadas cartas de apresentação da pesquisa a todas as escolas e posteriormente as escolas da zona urbana foram visitadas para a entrega dos formulários. Para as escolas da zona rural todos os procedimentos foram realizados pelo sistema de transporte escolar municipal. Os formulários eram deixados com um dos membros da direção para que fossem distribuídos aos professores, sendo preenchidos e devolvidos à escola no prazo de aproximadamente uma semana. Após, as escolas foram revisitadas para o recolhimento dos instrumentos.
O formulário de obtenção de dados era anônimo auto aplicado e dividido em blocos abrangendo informações (1) demográficas, (2) de trabalho, e (3) de saúde e estilo de vida. As variáveis demográficas consideradas foram gênero, idade, cor da pele, estado civil, número de dependentes econômicos e classe econômica, medida pelo critério da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2010). As variáveis relacionadas ao trabalho compreenderam o nível de formação acadêmica, tempo de docência no município, carga horária de trabalho semanal, turnos trabalhados, absenteísmo no último ano e possuir outra ocupação remunerada (diferente da docência pelo município). O bloco sobre os indicadores de saúde e estilo de vida avaliou a percepção geral de saúde, o nível de atividade física através da versão curta do Questionário Internacional de Atividades Físicas (IPAQ, 2010) e considerando como ativos aqueles com 150 minutos ou mais de atividade física semanal (HASKELL et al., 2007), o estado nutricional pelo Índice de Massa (IMC) em kg/m2, e o relato de consumo de álcool, tabagismo e nível de pressão arterial. O estresse foi avaliado pelo instrumento Perceived Stress Scale (COHEN et al., 1983) adaptado, que mede a percepção do indivíduo sobre eventos estressores na vida em geral nos últimos trinta dias. A percepção de estresse foi considerada baixa ≤1º quartil, moderada entre 2º e 3º quartis e elevada ≥4º quartil, semelhante a outros estudos (REIS, 2005).
As informações foram digitadas em um banco de dados criado no software EpiData e realizada a análise dos dados no software estatístico SPSS. Os procedimentos incluíram a estatística descritiva e análise de associação pelo índice de correlação de Spearman, considerando como significante o valor p<0,05. Os indivíduos foram instruídos a ler e assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido anexo ao questionário, o qual trazia informações gerais sobre o estudo e confirmava a participação voluntária dos indivíduos. O desenvolvimento do estudo seguiu a Resolução n◦ 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovado por parecer (protocolo n◦ 132/2010) pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola Superior de Educação Física da Universidade Federal de Pelotas.
Resultados e discussão
Após a consideração dos critérios de exclusão e coleta dos formulários a amostra contou com 17 indivíduos, sendo 70,0% mulheres (n=12), e a idade média foi de 38±8,8 anos. O grupo foi predominantemente de cor branca (76,5%), casado (64,7%), sem dependentes econômicos (47,1%) e da classe econômica B (70,6%). Essas características sócio demográficas são semelhantes às observadas em outros estudos envolvendo professores da rede publica no Brasil (SANTOS, 2006; BOTH et al., 2007; MADUREIRA et al., 2003). Quanto ao trabalho, 52,9% não possui outra ocupação remunerada, 68,8% atua no município por dez anos ou menos, 52,9% trabalha mais de 20h semanais, sendo 76,6% somente durante os turnos diários (manhã/tarde) e o absenteísmo ocorreu em 52,9% da amostra. A formação acadêmica de 82,4% dos professores é em nível de pós-graduação.
As maiores prevalências de percepção de saúde (gráfico 1) foram nas categorias muito boa e ótima, cada uma com 29,4% dos indivíduos. Nota-se ainda que nenhum indivíduo relatasse a percepção de sua saúde como ruim. O escore médio obtido no instrumento de avaliação do estresse foi 14,9±7,3 pontos e o estresse elevado (≥4º quartil) foi de 20,7 pontos. No estudo de Reis (2005), com professores universitários, o escore médio de estresse foi 17,17±7,4 e no estresse elevado foi de 22 pontos. Comparando, os valores encontrados neste estudo são inferiores e demonstram um menor nível de estresse em relação aos apresentados pelos docentes universitários. A percepção de estresse mental (gráfico 2) foi elevada para 37,4% dos indivíduos, enquanto entre docentes universitários essa prevalência foi de 24,5% (REIS, 2005).
Gráfico 1. Prevalência de saúde percebida dos professores de educação física de Bagé, RS, Brasil
Gráfico 2. Prevalência de estresse percebido dos professores de educação física de Bagé, RS, Brasil.
A tabela 1 apresenta a prevalência dos indicadores de estilo de vida entre os professores avaliados. A maioria dos indivíduos (92,9%) foi considerada fisicamente ativa. Este um dado muito superior ao de outros estudos com professores brasileiros que variam de 48 a 70% (PETROSKI, 2005; SANTOS, 2006). O consumo de álcool foi relatado por 53,3% dos indivíduos, enquanto o tabagismo foi de somente 6,3%. A prevalência de consumo de álcool encontrada foi menor do que os 65 a 75% observados na literatura (CHANG et al., 2007; REIS, 2005), entretanto, mais da metade dos indivíduos relataram o consumo de bebidas alcoólicas devendo-se manter cautela no uso desta substância. O uso de tabaco observado foi bastante reduzido e é similar aos 5-18% observados na literatura (REYNOLDS et al., 2004; LAUNAY et al., 2010), isso demonstra conscientização e a adoção de bons hábitos dos sujeitos frente ao consumo de tabaco. O excesso de peso foi presente em 52,9% da amostra e o nível de pressão arterial elevado em 12,5%. O excesso de peso (sobrepeso + obesidade) responde, exclusivamente, por 4,8% das mortes na população mundial o que representou 2,8 milhões de óbitos em 2004 (WHO, 2009). Além disso, o excesso de peso está fortemente relacionado com a hipertensão arterial que foi o principal fator de riso único de morte em 2004, respondendo por 7,5 milhões (12,8%) de mortes em todo o mundo (WHO, 2009). Diante disso, deve-se ter atenção aos dados encontrados neste estudo, pois mais da metade dos docentes apresentou excesso de peso e um a cada dez indivíduos relatou ser hipertenso.
Tabela 1. Prevalência dos indicadores de estilo de vida dos professores de educação física de Bagé, RS, Brasil
A associação entre percepção de saúde e de estresse foi inversa (r=-0,506) e significativa (p=0,45). Isto revela que quanto maior o escore obtido na escala de estresse, caracterizando um estresse elevado, mais negativa foi a autoavaliação de saúde, e vice-versa. Por outro lado, não foram encontradas associações entre as variáveis indicadoras de estilo de vida com a percepção de saúde e de estresse (tabela 2). Entretanto, identificou-se um relacionamento inverso entre a percepção de saúde com o IMC e o nível de pressão arterial. Do mesmo modo, a percepção de estresse relacionou-se inversamente com o consumo de álcool, tabagismo e nível de pressão arterial.
Tabela 2. Correlação (r) entre percepção de saúde e de estresse com variáveis de estilo de vida (EV) dos professores de educação física de Bagé, RS, Brasil
Conclusão
De forma geral o grupo de professores avaliado apresentou uma percepção de saúde positiva. Em contrapartida, o nível de estresse percebido foi moderado e a prevalência de nível de estresse elevado foi alta comparado aos dados disponíveis na literatura. A percepção de saúde e de estresse estiveram inversamente associadas, demonstrando importância mútua e íntima relação desses fatores. Os indivíduos ainda apresentaram um perfil favorável quanto aos indicadores de estilo de vida, atentando apenas para o excesso de peso que esteve presente em pouco mais da metade da amostra. Não houve associações entre a percepção de saúde e de estresse com os indicadores de estilo de vida.
Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISAS (ABEP). Critério de Classificação Econômica Brasil. 2010.
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