Promoção de saúde: histórico, realidade e perspectiva Promoción de la salud: historia, realidad y perspectiva Health promotion: historical facts, reality and perspective |
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*Médico do Trabalho. Mestre em promoção de Saúde Doutorando em ciências médicas, IUNIR, Argentina **Doutora em Serviço Social UNIFRAN. ***Enfermeiro do Trabalho. Doutorando em Ciências médicas, IUNIR, Argentina ****Fisioterapeuta. Mestre em promoção de saúde, UNIARAXÁ (Brasil) |
José Cerqueira Barros Júnior* Cléria Maria Lobo Bittar** José Dionísio de Paula Júnior*** Marcelo Alves Barbosa**** |
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Resumo O ambiente de trabalho é hoje o principal local de convívio das pessoas, em um sistema produtivo globalizado. Entender que o trabalho pode ser o meio do sucesso como um facilitador para o adoecimento é fundamental para a elaboração de estruturas e diretrizes multidisciplinares de gestão. Um apanhado histórico nos orienta e enfoca caminhos a seguir. Unitermos: Promoção de saúde. Saúde do trabalhador. Qualidade de vida.
Abstract The work place now a days is the main interacting ambient to people around the world. Understanding that work may increase people levels of success but indeed cause illness is important to focus multidisciplinary targets of control. An historic viewing focalize the pathways to pursuit. Keywords: Health promotion. Occupational health. Life quality.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Discorrer sobre promoção da saúde do trabalhador tem grande relevância no quadro atual, em que as atividades laborais exercem grande influência sobre o modo de viver dos indivíduos. Os trabalhadores estão inseridos em ambientes de extrema competitividade, constante inovação e mudanças, estas exigências revolucionaram o modo de vida das pessoas gerando maior estresse, estabelecendo um ritmo de vida alucinante.Esta realidade atinge uma grande parte da população, na medida em que o mercado de trabalho incorpora novos trabalhadores, e estes passam a dedicar grande parte do seu tempo para o trabalho, com jornadas diárias superior a 12 horas.
Ultimamente muito se fala sobre qualidade nas organizações, seja nos setores e departamentos. É qualidade da produção, da marca, da imagem, dos processos, dos procedimentos e das condutas que o mundo corporativo vem criando. (SANTANA, 2006).
A temática qualidade de vida se estende a levantamentos de riscos ocupacionais, do trabalho, ergonomia, questões de saúde e segurança do trabalho, carga mental, esforços repetitivos, comunicação tecnológica, psicologia do trabalho, serviço social empresarial, processos comportamentais e expectativas, portanto está embutido no conceito o esforço gerencial e a percepção das pessoas da empresa .(SANTANA, 2006).
Com o avanço da tecnologia as empresas se igualaram, e a competitividade toma novos rumos, onde o capital intelectual humano passa a ser o diferencial do processo. A gestão do conhecimento passa a fazer parte das atividades dos gestores na era do conhecimento, busca-se um ambiente inovador. Os PQV- Programas de Qualidade de vida em seus vários segmentos propiciam um ambiente favorável ao surgimento de novas idéias (FRANÇA; PILATTI, 2004).
Neste contexto de maior competitividade entre as empresas, maior exigência dos colaboradores é que se faz necessário à implementação dos Programas de Promoção da Saúde e Qualidade de vida. Na medida em que estes respondem as novas demandas geradas pelo setor ocupacional.
Nos ambientes estressantes, os funcionários tendem a sentir inseguros e sua lealdade e comprometimento em relação á empresa, por conseqüência será menor. Esse fato é extremamente nocivo ás organizações. Atualmente o diferencial competitivo consiste principalmente na satisfação e comprometimento do trabalhador .(VIEIRA; FRANÇA, 2004).
Quando o trabalhador está desmotivado e sem condições adequadas para sua tarefa toda produção está comprometida, pois não é possível dissociar a condição humana do processo, como se um não interferisse no outro. Logo, a qualidade do produto depende da qualidade das pessoas envolvidas com as atividades relacionadas aos produtos. Tornando assim o Gerenciamento de QV um instrumento importante para alcançar os objetivos da qualidade da empresa como um todo. A saúde do trabalhador depende da sua qualidade de vida no trabalho e fora dele. As condições ambientais e organizacionais em que se desenvolvem as tarefas são fundamentais para a manutenção da saúde física e mental (FISCHER; MORENO; ROTENBERG, 2004).
1. Breves histórico da relação homem-trabalho-saúde
A relação entre o trabalho e o impacto na saúde/doença é constatada desde a Antiguidade e exacerbada com o advento da Revolução Industrial. Encarados sob a ótica Taylorista, os recursos humanos eram encarados como insumo no processo produtivo, ou seja, os funcionários eram vistos como peças de uma máquina. Só a partir de 1930, é que iniciaram pesquisas relativas as interações humanas nas organizações .(VIEIRA; FRANÇA, 2004).
As teorias da Administração criam novas ferramentas de gestão de acordo com o momento histórico, através de propostas que tem o intuito de aumentar a produção e a geração de lucro, infelizmente aquelas que visam proporcionar melhores condições de trabalho e satisfação ao trabalhador ainda deixam a desejar. O reconhecimento da influência do trabalho no modo de viver e adoecer dos indivíduos gera um desafio para os profissionais da área assistencial, em estabelecer ações eficazes que considerem a saúde em toda a sua diversidade. (SANTANA, 2006).
Nas empresas e instituições onde há trabalho em turnos contínuos decorrentes da necessidade de manutenção dos processos produtivos e/ou da prestação de serviços há usualmente múltiplos fatores de risco presentes no ambiente de trabalho. São eles de variadas naturezas, física, química, biológica, e organizacional e eles estão relacionados a uma grande variedade de perturbações física e psicossocial. Neste contexto a Promoção da Saúde surgiu ampliando os conceitos de saúde e o termo “Saúde do Trabalhador passou a ser conhecido” (FISCHER; MORENO; ROTENBERG, 2004).
O conceito de promoção da saúde no trabalho, abreviadamente PST (em inglês, workplace health promotion ou WHP) é entendido como uma abordagem integrada, pluridisciplinar, intersetorial, e custo-efetiva dos problemas de saúde da população trabalhadora, centrada no local de trabalho e dirigida tanto ao indivíduo como ao seu ambiente laboral e extra-laboral.
A promoção da Saúde moderna tem como marco inaugural o Relatório Lalonde, publicado no Canadá em 1974. Formalizando as estratégias e intervenções que buscam transformar os comportamentos individuais não saudáveis. Este relatório influenciou políticas sanitárias contemporâneas em outros países e está presente nas políticas de saúde que incorporam os conceitos de “qualidade de vida” (CARVALHO, 2005).
O enfoque da Qualidade de Vida está ligado com a motivação humana, buscando descobrir quais as necessidades do homem e o que aspira como realização de vida. Para que o homem coloque sua força transformadora em sua realização plena. (MOREIRA, 2001).
Segundo França (1997), p. 80) “Qualidade de vida no trabalho (QVT) é o conjunto das ações de uma empresa que envolve a implantação de melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho. A construção da qualidade de vida no trabalho ocorre a partir do momento que a empresa olha as pessoas como um todo, o que chamamos de enfoque biopsicossocial”.
Este enfoque representa um fator diferencial para realização de diagnósticos, campanhas, criação de serviços e implantação de projetos voltados para a preservação e desenvolvimento das pessoas, durante o trabalho na empresa. A mesma pesquisadora esclarece que “A origem do conceito vem da medicina psicossomática que propõe uma visão integrada, holística do ser humano, em oposição á abordagem cartesiana que divide o ser humano em partes”.
As escolhas inadequadas como: alimentação gordurosa, sedentarismo ou hábito de fumar, desencadeiam fatores de risco que contribuem para a doença. Mas não são somente os fatores de ordem física que afetam a saúde, mas também a falta de objetivos, não ter fé, ansiedade, problemas de relacionamento, insatisfação no trabalho e falta de lazer podem causar doenças. (SANTANA, 2006).
No Brasil, somente na década de quarenta os problemas causados pelo trabalho começaram a ser observados e relatados. Em 1943 com a criação do Código de Leis Trabalhistas houve a regulamentação do trabalho, nesta época buscou-se legitimar os instrumentos para melhorar os programas para os trabalhadores. A primeira Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador em 1986 representou um espaço político de relevância no sentido de discutir a responsabilidade civil e criminal dos empregadores por condições insalubres de trabalho (LACAZ, 1997).
Os estudos relativos ao tema Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) iniciaram-se a partir da década de 50 com objetivo de tornar as atividades menos penosas. Este novo enfoque parte de uma concepção ampliada, afirmando que paz, educação, habitação, alimentação, renda, justiça social e equidade são fatores determinantes da qualidade de vida. Historicamente, a atenção ao trabalhador, obteve destaque durante a primeira Conferência Internacional de Saúde, em 1986, Ottawa – Canadá, que culminou em uma carta que sugere aos serviços de saúde uma ampliação do enfoque curativo e clínico e do fortalecimento de ações que considere o ser humano de forma integral (CARVALHO, 2005).
Surge então um conceito de saúde, resultante dos fatores sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais e biológicos. Onde a organização do trabalho deveria contribuir para a constituição de uma sociedade mais saudável. Gerando condições de vida e trabalho seguras e satisfatórias. A Conferência conclama todos os países interessados a juntar esforços para implementar estes propósitos (CARVALHO, 2005).
A partir dessa nova visão holística, onde o ser humano é visto como um todo, composto por interfaces, biológicas, psicológica e social que reagem simultaneamente aos estímulos recebidos. A esfera biológica refere-se a características físicas, como o metabolismo ou vulnerabilidade dos órgãos herdadas ou adquiridas no decorrer da vida. A esfera psicológica envolve as características que formam a personalidade de cada indivíduo. A esfera social relaciona os aspectos culturais como valores, crenças e os papéis no trabalho e na família. (FRANÇA; PILATTI, 2004).
A ênfase na saúde do trabalhador extrapola questões como redução de peso, controle de hipertensão, acompanhamento de colesterol, e engloba outras questões relacionadas.
O reconhecimento internacional da Promoção da Saúde fica evidente quando constatamos nos últimos 25 anos, foram realizadas cinco Conferências Internacionais patrocinadas pela Organização Mundial da Saúde, OMS que estabeleceu que a saúde não éseja apenas a ausência de doença, mas o completo bem estar biopsicossocial (CARVALHO, 2005).
2. Evolução histórica da saúde e trabalho: a realidade brasileira
No Brasil, até a década de 1960 os pesquisadores da área de saúde ocupacional não consideravam a necessidade de avaliar as condições de vida dos trabalhadores e em que medidas estas estavam associadas ao trabalho (FISCHER; MORENO; ROSENBERG, 2004).
Nos anos 70, com o advento da perda de competitividade das empresas norte-americanas para as organizações japonesas, o conceito de (QVT) ressurgiu com força nos EUA, onde as organizações buscariam programas de produtividade através da valorização do colaborador. (VIEIRA, 2002).
No contexto do trabalho esta abordagem pode ser associada á ética da condição humana. Esta ética busca desde a identificação, eliminação e neutralização ou controle de riscos ocupacionais observáveis no ambiente físico, padrões de relações de trabalho, carga física e mental requerida para atividade, implicações políticas e ideológicas, dinâmica da liderança empresarial e do poder formal até o significado do trabalho em si, relacionamento e satisfação (FRANÇA, 2004).
Na década de 1970 algumas empresas multinacionais ofereciam benefícios á época como assistência médica, transporte e planos de aposentadoria integral etc. Nos anos de 1980 iniciaram-se de forma sistemática as discussões dos programas de saúde do trabalhador, inicialmente nas instituições de saúde, universidades, institutos de pesquisa e sindicatos de trabalhadores e posteriormente nas empresas (FISCHER; PILATTI; ROSENBERG, 2004).
A corrente da PST fundamentou no Brasil a oitava Conferência Nacional de Saúde em 1986, influenciou a criação do SUS e posteriormente, em 1988 a Constituição, que regulamenta as ações do Trabalho.
A nova Constituição e a Lei Orgânica da Saúde de 1990 (LOAS) devolvem ao Ministério do Trabalho o poder de intervenção nos setores de trabalho, resgatam a prevenção de riscos decorrentes de fatores ambientais e definem promoção da saúde como um conjunto de ações desenvolvidas pela população, pelas autoridades sanitárias, bem como por outros setores produtivos, com foco no desenvolvimento e investimentos para uma vida saudável (LACAZ, 1997).
A década de 90 foi marcada por grande diversidade cultural, novas formas produtivas e reestruturações administrativas nas organizações culminam “em novos modelos de gestão de pessoas” (FISCHER; MORENO; ROSENBERG, 2004).
Nesta década, temas relativos ás condições de trabalho passam a ser amplamente discutidos e difundidos no meio empresarial. Fatores como a maior conscientização social e ambiental, maior rigor legislativo, cumprimento de normas de qualidade, fidelidade do trabalhador, questões de segurança, saúde e stress, globalização, tecnologia entre outros, desencadearam uma grande demanda relativa a qualidade de vida na sociedade pós-industrial .(VIEIRA; FRANÇA, 2004).
Naquele período segundo Albuquerque (1992) as novas políticas de Gestão de Pessoas deveriam estar voltadas á obtenção de resultados na questão da produtividade. O discurso da produtividade coloca o homem como meio para o trabalho onde este é visto como uma peça para o alcance máximo e a todo custo de melhores resultados.
Após os processos de downsing reestruturação e reengenharia que marcaram todos os anos 90, nota-se atualmente, que as pessoas têm trabalhado cada vez mais, e por extensão tem tido menos tempo para si mesmas . (VEIGA, 2004 Apud VASCONCELOS 2001).
Com a abertura do mercado brasileiro, no início da década de 90, as empresas nacionais começam a estudar, e posteriormente implantar os programas de QVT em virtude da entrada das multinacionais mais competitivas no Brasil. (VIEIRA; FRANÇA, 2002).
Além da concorrência segundo FERNANDES (1996), o maior rigor do Governo Federal através do Programa Nacional de Qualidade-PNQ exigiu que as empresas implantassem modelos que aumentassem a produção através da qualidade de seus processos.
LACAZ (1997) comenta que é: “(...) inadmissível falar em qualidade do produto sem tocar na qualidade dos ambientes e condições de trabalho, o que seria sobremaneira auxiliado pela democratização das relações sociais nos locais de trabalho.”
A legislação atual constitui um marco importante para aproximação da promoção em saúde servindo de inspiração para práticas transformadoras das condições de vida e do trabalho, agregando-os ao processo de produção das empresas (FISCHER; MORENO; ROSENBERG, 2004).
As organizações começam a entender a importância de oferecer benefícios, especialmente aqueles de forma espontânea aos seus funcionários, o que não limitam mais os garantidos por lei, ampliando a qualidade de vida dos trabalhadores. (SANTANA, 2006).
Assim como é necessário que os processos produtivos estejam sobre controle, que a matéria-prima insumos e peças em processos estejam em conformidade com as especificações técnicas que sejam seguidos todos os procedimentos de produção, é necessário à capacitação e envolvimento das pessoas que vão realizar todas essas tarefas.
Durante a década de 1990, temas relativos ás condições de trabalho passam a ser amplamente discutidos e difundidos no meio empresarial. Fatores como a maior conscientização social e ambiental, maior rigor legislativo, cumprimento de normas de qualidade, fidelidade do trabalhador, questões de segurança, saúde e estresse, globalização, tecnologia entre outros, desencadearam uma grande demanda relativa a qualidade de vida na sociedade pós-industrial .(VIEIRA; FRANÇA, 2004).
3. Qualidade de vida e trabalho
A Organização Mundial de Saúde (OMS) define a Qualidade de Vida como: “(...) a percepção do indivíduo de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.”
A QVT atualmente procura resgatar a humanização do ambiente da empresa, como CAVALCANTI (2001, p.14) denomina Inteligência Empresarial:
A tecnologia, no fundo iguala as empresas, as pessoas é que fazem a diferença. E a
nova economia exige uma nova forma de gestão, tanto de pessoas quanto da tecnologia.Não mais aquela empresa hierarquizada, onde manda quem pode e obedece quem tem juízo, mas aquela que valorize a criatividade e o compartilhamento de idéias, uma empresa que aprende com seus colaboradores parceiros e clientes.
A QVT de acordo com CHIAVENATO (1999) “representa em que graus os membros da organização são capazes de satisfazer suas necessidades pessoais através do seu trabalho na organização”.O autor ainda destaca a importância da satisfação com o trabalho executado, as possibilidades de futuro na organização, o reconhecimento pelos resultados alcançados; o salário recebido; os benefícios auferidos; o relacionamento humano dentro do grupo sendo o ambiente físico e psicológico a liberdade e responsabilidade de decidir as possibilidades.
Quadro I. Categorias conceituais de qualidade de vida no trabalho
Fonte: FERNANDES (1996)
Os programas de promoção á saúde e qualidade de vida têm impacto direto sobre alguns indicadores utilizados com freqüência no setor ocupacional para avaliarem o estado de saúde da população trabalhadora, um deles é o absenteísmo.
Absenteísmo é a ausência temporária do trabalho, devido a diversos fatores, como: doença, acidentes, licenças dentre outras causas. Isto é, a soma dos períodos em que os empregados encontram-se fora das organizações. (SILVA; MARZIALE, 2003).
O custo do absenteísmo por causa de doença é, via de regra, maior que o salário pago ao trabalhador doente que deixou de comparecer. Se não há substitutos com mesmo nível disponíveis, as implicações para a produtividade são maiores.
Outro aspecto importante a ser considerado é que as causas do absenteísmo nem sempre estão no trabalhador, mas na organização que apresenta supervisão deficiente, repetitividade das tarefas, desmotivação e condições precárias do ambiente de trabalho. O número insuficiente de recursos humanos pode contribuir para elevar o índice de absenteísmo, como conseqüência da sobrecarga .(SILVA; MARZIALE, 2003).
No Brasil as despesas aumentaram 31,8% com o auxílio doença; por outro lado, o índice de absenteísmo por doença osteomuscular vem decrescendo nos últimos 20 anos e aumentando o índice, devido às doenças psíquicas. Esse fato está relacionado com o medo do desemprego e, ainda, ao crescente stress dentro das instituições. Aliado a esses fatores percebe-se que o colaborador nunca se sentiu tão instável em seu emprego. Privatizações, fusões, terceirizações, demissões criam um sentimento de insegurança que interfere de forma negativa.Cada vez mais a empresa deverá investir em seus talentos internos com intuito de desenvolver e reter seus colaboradores .(VIEIRA; FRANÇA, 2004).
De acordo com o International Stress Management Association, os oito países com maiores números de pessoas estressadas são: Japão (70%); Brasil (30%); China (24%); Estados Unidos (20%); Israel (18%); Alemanha (16%); França (14%) e Hong Kong (12%).
No Brasil, três em cada dez brasileiros apresentam problemas devido ao estresse no trabalho. torna-se oportuno adotar nas empresas, programas que visem a qualidade de vida do trabalhador que possam atuar sobre os determinantes destes efeitos indesejáveis na relação trabalho e saúde.
Segundo Dejours (1992:136), as pressões decorrentes das organizações de trabalho são potencialmente desestabilizadoras para a saúde mental do trabalhador. Ele explica a “organização de trabalho” através da divisão do trabalho ou o modo operário descrito como de fato ocorre e associa a idéia de repartição, de responsabilidades, hierarquia e controle.
Surge então um novo paradigma ocupacional que evidencia que o modelo biomédico centrado nos sintomas não consegue modificar os condicionantes do processo que leva os trabalhadores à vulnerabilidade e ao adoecimento. Ampliando assim a responsabilidade dos profissionais da área ocupacional de construir a intersetorialidade.
Nesse sentido, ocorreu um avanço e, atualmente, as ações de Saúde do Trabalhador possuem como característica, o potencial integrador das ações epidemiológicas, sanitárias com outras áreas de conhecimento dentro das empresas como o meio ambiente, nutrição, recursos humanos, serviço social.
Albuquerque (1992) também afirma que outras ciências e campos de estudo estudos influenciaram o estudo de QVT. Destaca-se: saúde, ecologia, ergonomia, psicologia, sociologia, economia, administração e engenharia.
As modificações dos processos de trabalho em nível macro (terceirização da economia) e micro (automação e informatização), acrescentados à eliminação dos riscos das antigas condições de trabalho, provocam um deslocamento do perfil de morbidade causada pelo trabalho: as doenças profissionais ocasionadas por acidentes graves tendem a desaparecer, surgindo uma nova preocupação com as doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, distúrbios mentais, câncer, estresse, entre outras (MENDES, 1991).
Desloca-se, assim, a vocação ocupacional, passando então a se ocupar da “promoção de saúde”, cuja estratégia principal é, através da educação, modificar o comportamento das pessoas (MENDES, 1991).
Corrobora-se a idéia de investir em QVT, algumas organizações já conseguem contabilizar os números desse investimento. No Brasil, a cada um real (R$1,00) investido em segmentos da indústria automotiva houve seis reais (R$6,00) de retorno. Em setores de telefonia, a relação está um para três e ainda existem outros onde a relação é de um para dois e meio. Relatos americanos comprovam que há uma economia de cinco dólares para cada dólar investido em QVT e programas de saúde, além da diminuição de 26% de gastos com assistência médica e 30% com reabilitação, segundo dados extraídos da Associação Brasileira de Qualidade de Vida.
Os fatores qualidade, competitividade aliados à produtividade influirão de maneira decisiva na mudança de visão e valorização do capital humano nas organizações.As preocupações com o bem estar do trabalhador e desenvolvimento da medicina preventiva tendem a evoluir . (FRANÇA; PILATTI, 2004).
A ênfase da QVT está na pessoa, o capital intelectual, isto é, o conhecimento de cada um compartilhado se torna o ativo mais importante da empresa, tudo isso com os olhos apontados para lucratividade. Esse investimento atua prevenindo 80% dos problemas de afastamentos, absenteísmo, presenteísmo, doenças do trabalho, acidentes entre outros (FRANÇA; PILATTI, 2004).
São muitos os benefícios da QVT: redução do absenteísmo, redução da rotatividade, atitude favorável em relação às demandas da empresa, redução da fadiga, integração social, promoção da saúde e segurança e aumento da produtividade.
As empresas socialmente responsáveis e verdadeiramente empenhadas na qualidade de vida dos seus funcionários são eleitas como bons lugares para se trabalhar, segundo divulgação das revistas especializadas na área da administração e negócios. (SANTANA, 2006).
Este quadro tem gerado nas empresas uma nova visão, sendo que algumas já apresentam projetos direcionados para manutenção da saúde. Isto inclui: reeducação postural global RPG, massagens, ioga, ginástica laboral, alimentação balanceada, palestras motivacionais, etc. Os programas que visam á qualidade de vida estão se tornando parte integrante da cultura das organizações que buscam destaque no mercado empresarial. Contudo, menos de 5% das empresas oferecem estes tipos de programas.
A maioria das empresas brasileiras não possui programas específicos para seus funcionários, apesar destes investimentos terem mostrado múltiplos benefícios, conforme o os resultados das empresas que já o desenvolvem.
Vale ressaltar que o desafio imaginado pelos seus idealizadores persiste, isto é, tornar o QVT numa ferramenta gerencial efetiva e não mais um modismo, como tantos outros que vem e vão.E esse desafio torna-se instigante, neste momento em que nos vemos a volta com uma rotina diária cada vez mais desgastante e massacrante.Quando se pensava que os seres humanos poderiam realmente desfrutar do rápido progresso alcançado em várias ciências, paradoxalmente o que temos visto é o trabalho como um fim em si mesmo.A qualidade de vida não é modismo, mas uma nova realidade ancorada a área de saúde e recursos humanos. A construção de uma nova realidade organizacional permeada pelas visões ética, política e psicossociais. (SANTANA, 2006).
4. Desafios em saúde do trabalhador
Segundo Albuquerque (1992), “existe uma grande distância entre o discurso e a prática”. Filosoficamente todo mundo acha importante a implantação de programas de QVT, mas na prática prevalece o imediatismo. E os investimentos de médio em longo prazo são esquecidos. Tudo está por fazer. A maioria dos programas tem origem nas atividades de segurança e saúde do trabalho e muitos nem sequer se associam a programas de qualidade total ou de melhoria do clima organizacional.
Outro desafio está relacionado à necessidade de uma força de trabalho saudável, motivada e preparada para a extrema competição atualmente existente, de modo a atender a demanda da empresa. O modelo empresarial do século 21 está baseado em indivíduos saudáveis, melhores lucros, maior, e mais rápido, retorno dos investimentos (SILVA, 2003).
Conclusão
Desenvolver habilidades pessoais para viver a vida é um objetivo central. Para que as estratégias de Promoção a Saúde dos Trabalhadores se efetivem, faz-se necessário a conscientização e preparação dos gestores bem como dos profissionais que irão exercê-la.
A demanda multidisciplinar no envolvimento da solução para o problema é fundamental e o envolvimento das inúmeras esferas é mandatório, sem o qual o sucesso é inatingível.
Segundo Albuquerque (1992), “existe uma grande distância entre o discurso e a prática”. Filosoficamente todo mundo acha importante a implantação de programas de QVT, mas na prática prevalece o imediatismo. E os investimentos de médio e longo prazos são esquecidos. Tudo está por fazer. A maioria dos programas tem origem nas atividades de segurança e saúde do trabalho e muitos nem sequer se associam a programas de qualidade total ou de melhoria do clima organizacional.
A saúde do trabalhador tem, além dos desafios, o rompimento com a concepção hegemônica que saúde e doença estão relacionadas a um agente específico ou a um grupo de fatores de risco presentes no ambiente. Este desafio insere-se principalmente, onde os trabalhadores encontram-se expostos a muitos riscos, trabalham em turnos e convivem com várias situações geradoras de ansiedade.
Outro desafio está relacionado à necessidade de uma força de trabalho saudável, motivada e preparada para a extrema competição atualmente existente, de modo a atender a demanda da empresa. O modelo empresarial do século 21 está baseado em indivíduos saudáveis, melhores lucros, maior, e mais rápido, retorno dos investimentos (SILVA, 2003).
Referências
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CARVALHO, S. R. Saúde Coletiva: sujeito e mudança. São Paulo: Hucitec, 2005.174 p.
CAVALCANTI, Elmano Pontes. Inteligência empresarial e o sucesso nos negócios. In.: Revista de práticas administrativas, Maringá, ano 1, v. 1, p.58, set./out. 2004.
CHIAVENATO, I. Gestão de pessoas: o novo papel dos recursos humanos nas organizações. Rio de Janeiro: Campus, 1999. p. 391.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho. Cortez-Oboré, São Paulo, 1992.
FERNANDES, Eda Conte. Qualidade de vida no trabalho: como medir para melhorar. 2. ed. Salvador/BA: Casa da Qualidade, 1996. 115p.
FISCHER, F. M.; MORENO, C. R. C.; ROTENBERG, L. Trabalho em Turnos e Noturno: na sociedade 24 horas. São Paulo: Atheneu, 2004. 238 p
FRANÇA, N. R.; PILATTI, L. A Gestão de qualidade de vida no trabalho (GQVT) : modelos que os líderes e gestores podem utilizar para propiciar uma melhor qualidade de vida no trabalho. XI SIMPEP, São Paulo, 8 nov.2004.
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LACAZ, F. A. C. Saúde dos trabalhadores: cenários e desafios. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.13, n. 2, p. 2-11, 1997.
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SILVA, Z. P.; JUNIOR, I. F. B.; SANTANA, M. C. Saúde do trabalhador no âmbito municipal. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, vol.17, n.1, jan/mar.2003.
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VIEIRA, A. C. G.; FRANÇA, A. C. L. Um breve histórico sobre a atividade gestão de pessoas e os fatores críticos da gestão de qualidade de vida no trabalho em entidades estudantis. Ensaio RH, VII SEMAD, São Paulo, 2004.
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