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Obesidade infantil, prevenção e intervenção. Uma revisão de literatura

Obesidade infantil, prevención e intervención. Revisión de la literatura

Childhood obesity, prevention and intervention. A literature review

 

*Cursando o mestrado em Educação Física na Faculdade de Ciências de Saúde

da UNIMEP. Graduado em Educacão Física (licenciatura e bacharelado)

pela FACIS/UNIMEP. É membra ativa do Núcleo de Pesquisa em Movimento (NUPEM)

**Doutora em Educação Motora pela Universidade Estadual de Campinas (FEF- UNICAMP)

onde realizou também seu mestrado e especialização. Graduada em Educação Física

pela Universidade de São Paulo (EEFEUSP). Atua nos cursos de mestrado

e graduação em Educação Física da Universidade Metodista de São Paulo,

onde coordena o Núcleo de Pesquisas em Pedagogia do Movimento (NUPEM)

e atua também no Centro de Terapia e Reabilitação Integrada Municipal, CETREIM

Prefeitura Municipal de Paulínia, SP

***Licenciada em Psicologia pela Universidade Metodista de Piracicaba. Mestrado

em Anatomia Humana pela Universidade Estadual de Campinas e Doutorado

em Anatomia/Neuroanatomia Humana pelo ICB da Universidade de São Paulo

Atualmente é Professor Associado e Pesquisador da Faculdade

de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas

Camila Bruzasco de Oliveira*

Rute Estanislava Tolocka**

Ademir de Marco***

tkiva05@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A prevalência de obesidade infantil tem aumentado em todo o mundo. O objetivo do presente artigo foi levantar na literatura especializada estudos sobre prevenção de obesidade infantil e prática de atividades físicas. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, no LILACS, SCIELO e SIBRADID, selecionando-se estudos realizados no Brasil, na última década, a partir do cruzamento dos descritores obesidade, infantil, atividade física, crescimento físico, jogos, brincar, criança e desenvolvimento infantil. Foram encontrados 40 artigos os quais foram analisados a partir de unidades temáticas. Como medida preventiva encontrou-se a realização de avaliações do estado nutricional com diferentes métodos, entre os quais bioimpedância, absorciometria de feixe duplo, Índice de Massa Corporal; Peso/Estatura, Peso/idade, dobras cutâneas e perímetros, com diferentes classificações. A atividade física é recomendada para prevenir a obesidade, porém são poucos os estudos que mostram intervenções realizadas e nenhum analisa a aplicação de programas de atividades físicas lúdicas. Mudanças no cotidiano infantil tem levado a maior ingestão de gorduras e açúcares e menor consumo de alimentos ricos em fibras e a um aumento do tempo empregado em atividades sedentárias ocasionando aumento nas taxas de obesidade. A não padronização de avaliação do estado corporal dificulta comparações entre os resultados obtidos nos diferentes estudos. Há necessidade de novos estudos que investiguem a prática de atividade física infantil priorizando o caráter lúdico das mesmas.

          Unitermos: Obesidade. Criança. Atividade física. Prevenção.

 

Abstract

          The prevalence of childhood obesity has increased around the world. The goal of this study was to find literature about prevention of childhood obesity and physical activity. The articles were found at LILACS, SCIELO and SIBRADID indexes, by selecting items from the crossing of the keywords: childhood obesity with physical activity, physical growth, games, play, child and infant development. It was found 40 articles which were analyzed in thematic units. Preventive actions included to assess nutritional status using bioelectrical impedance, dual beam absorptiometry, body mass index, weight/height, weight for age and skinfolds, with different classifications. Physical activity was recommended to prevent obesity but few studies analyzed interventions that may be done. Changes in daily life has led to higher intake of fats and sugars, lower consumption of foods rich in fiber and increased time spent in sedentary activities leading to bigger rates of obesity. The non-standardized assessment of body condition complicates comparisons among the results from different studies. Further studies that investigate playful physical activity are needed.

          Keywords: Obesity. Child. Physical activity. Prevention.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Mudanças estruturais nos hábitos alimentares de crianças e adolescentes ocorreram nas últimas décadas acarretando maior ingestão de gorduras e açúcares e menor consumo de alimentos ricos em fibras; estas mudanças nos hábitos alimentares tem sido associada ao aumento da prevalência de obesidade tantos nos países desenvolvidos, quanto nos países em desenvolvimento 1,2. O processo de industrialização dos alimentos tem sido apontado como um dos principais responsáveis pelo crescimento energético da dieta da maioria das populações do Ocidente.3

    Outras mudanças nos hábitos de vida diminuíram o espaço para a prática de atividade física, o que associado ao aumento tecnológico e a popularização de jogos e aparelhos eletrônicos, contribuiu para o significativo aumento do sedentarismo que por sua vez pode ocasionar a obesidade e doenças associadas, inclusive em crianças 4, 5, 6.

    Como a nutrição e a atividade física são influenciadores do desenvolvimento 7, 8 a obesidade pode interferir negativamente no desempenho motor 9,10 e pode dificultar a participação de crianças em jogos e brincadeiras, 11, 12 assim, a avaliação do estado nutricional tem sido indicada como um dos itens para estratificação de risco para a prática de atividade física e adequação de programas.13

    Conseqüências da obesidade e da inatividade física na saúde do indivíduo tornam-se aparentes na vida adulta, sendo assim estudos asseveram ser necessário estimular hábitos de vida saudáveis, afirmando que pais e escolas devem ajudar a reduzir o tempo gasto em comportamentos sedentários, propondo em suas comunidades que as refeições escolares incluam alimentos compatíveis com a saúde cardiovascular, em conjunto com as atividades físicas 5,14,15.

    A escola tem papel fundamental para desenvolver atitudes favoráveis nas crianças, sobre atividade física e nutrição, porém como as crianças passam muitas horas na escola ,sentadas em sala de aula16 a permanência nestas instituições começou a ser relacionada com a obesidade infantil 17, 18, 19, 20 tornando-se necessárias medidas preventivas dentro da escola, tais como programas especiais para crianças obesas. Para tanto urge que sejam observadas medidas preventivas e para isto é necessário que a relação obesidade infantil e a prática de atividade física seja amplamente conhecida. Assim, o objetivo do presente artigo foi levantar na literatura especializada estudos sobre prevenção de obesidade infantil e prática de atividades físicas, identificando as conseqüências da obesidade infantil para o crescimento e desenvolvimento das crianças e quais os métodos de avaliação do estado nutricional, para levantar subsídios para discussão sobre programas a serem oferecidos a esta parcela da população.

Métodos

    Trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada nos indexadores do LILACS, SCIELO e SIBRADID, de estudos realizados no Brasil e publicados em periódicos entre 1999 e 2010. A coleta de artigos encerrou-se em junho de 2010. Não foram incluídos artigos que tivessem sido publicados antes do ano de 1999; que fossem teses de mestrado ou doutorado ou livros; e que tivessem sido publicados em língua estrangeira; alguns artigos foram excluídos, pois apesar de aparecerem no cruzamento dos descritores ao analisar o resumo ele não condizia com a temática do estudo.

    A seleção dos artigos para inclusão neste estudo foi feita utilizando-se os seguintes descritores: obesidade infantil, desenvolvimento infantil, crescimento físico, atividade física, obesidade, criança, brincar e jogo. Foi feita a análise textual dos textos selecionados e a análise das seguintes unidades temáticas21: a) Conseqüências da obesidade para o desenvolvimento/crescimento infantil, b) Métodos de Avaliação da obesidade infantil, c) Prevenção à obesidade infantil e d) Programa de Atividade Física para crianças obesas.

Resultados

    Foram encontrados, 82 artigos, dos quais 26 relacionavam-se a obesidade infantil (ou obesidade e criança) e atividade física e 42 relacionavam-se a obesidade infantil e prevenção. Alguns artigos encontravam-se tanto no LILACS quanto no SCIELO, apenas um artigo estava no SIBRADID. Alguns artigos apareceram em diferentes cruzamentos.

Tabela 1. Número de artigos por descritores encontrados nas bases eletrônicas consultadas

Conseqüências da obesidade para o desenvolvimento/crescimento infantil

    A rápida mudança no consumo alimentar da população com uma maior ingestão de gordura, alimentos processados e com menor teor de fibras e a redução da prática de atividade física, passaram a contribuir decisivamente para o aumento dessa morbidade.22

    A obesidade é definida como um excesso de gordura corporal relacionada com a massa magra23, 24 enquanto sobrepeso recebe a definição de proporção de massa corporal maior que o desejável para aquela estatura25. Ela pode ser causada por diversos fatores, como alto consumo de alimentos calóricos, inatividade física e a permanência por longos períodos em atividades sedentárias e estar associada ao aparecimento recente de doenças como hipertensão, diabetes, dislipidemias e doenças coronarianas.26

    Há alguns fatores que predispõem as pessoas para a obesidade, como a questão genética7,8, quando um ou ambos os pais são obesos seus filhos tem mais chances de serem obesos do que os filhos de pais eutróficos. A baixa estatura da mãe isolada ou acompanhada de obesidade, associada a déficit estatural da criança pode triplicar o risco de retardo de crescimento nas crianças e relacionar-se à obesidade manifestada na fase adulta.27

    Um estudo com crianças do sul do Brasil mostrou que quando pelo menos um dos pais apresenta massa corporal acima do esperado cresce em 50% as chances do filho atingir sobrepeso também, e, se ambos os pais estiverem com medidas de massa corporal acima do esperado, os filhos tem a probabilidade de atingir o dobro da massa corporal normal para a idade.28 Porém a causa genética ainda não está bem caracterizada, pois os hábitos dos pais geralmente passam para os filhos26. A freqüência de crianças obesas pode ser maior nas famílias que tem apenas um filho.29

    Entretanto, a obesidade não é decorrente apenas desses fatores, pois além destes existe também outras causas que podem ser de natureza sócio-economicas e ou psicológicas. Não se pode e não se deve minimizar o problema da obesidade limitando suas causas22.

    A obesidade pode ser dividida em exógena e endógena, sendo a primeira resultado de um menor gasto calórico, em comparação à ingestão de alimentos calóricos. A obesidade endógena tem como causa síndromes somáticas dismórficas, ou lesões no Sistema Nervoso Central ou endocrinopatias, sendo esta última a mais recorrente, essa morbidade pode ser dividida em: 1. obesidade generalizada; 2. obesidade andróide (maçã); 3. obesidade ginóide (pêra) e 4. obesidade visceral24.

    A hiperadiposidade é preocupante pelo fato de seu tratamento estar relacionado às mudanças de comportamento alimentar, de caráter individual. Este fator diminui a continuidade do tratamento e da inserção de políticas públicas22.

    Entre as conseqüências da obesidade para o crescimento encontram-se problemas posturais, diminuição da capacidade cardio-respiratória, alterações osteoarticulares e metabólicas (diabetes mellitus tipo 2)30, 31. A obesidade pode causar problemas psicossociais como discriminação e aceitação diminuída pelos pares, isolamento e afastamento das atividades sociais e também interferir no crescimento com o surgimento da menarca precocemente, ocasionar problemas respiratórios (apnéia de sono e infecções) e cardiovasculares (hipertensão arterial).

    Outra conseqüência da obesidade relatada foi atraso no desempenho motor: crianças obesas apresentaram performances mais empobrecidas nas habilidades de equilibrar, saltar e arremessar6 . Outros estudos apontam indícios de que a massa corporal interfere na habilidade de saltar em extensão.32

Métodos de avaliação da obesidade infantil

    A obesidade pode ser detectada através de avaliação da composição corporal, existindo vários métodos para se fazer essa avaliação, como: indicadores antropométricos, medidas de volume hídrico corporal (tais como bioimpedância) e absorciometria de feixe duplo (DEXA – dual X-ray absorptiometry). Dentre esses os indicadores antropométricos os mais utilizados são: P/E (peso/estatura), IMC (Índice de Massa Corporal, também conhecido como Índice de Quetelet por ter sido idealizado por Adolphe Quetelet no século IXX), dobras cutâneas e medidas de perímetros (circunferência da cintura e relação cintura/quadril24.

    Embora haja similaridade entre os índices de IMC e o P/E os resultados fornecem curvas de crescimento diferenciadas porque enquanto no P/E o peso corporal aumenta com a estatura o IMC varia em função do tempo (idade)33. As medidas de dobras cutâneas demonstram baixa sensibilidade e alta especificidade. Dobras cutâneas e perímetros refletem apenas a quantidade de gordura daquele local especifico mas em função da algumas doenças metabólicas que causam maior acúmulo de gordura na região central do corpo o cálculo da distribuição regional da gordura corporal justifica-se.34

    A bioimpedância elétrica é um método que emprega condução de uma corrente elétrica de baixa intensidade através do corpo e que para ser utilizado necessita cuidados prévios tais como não comer ou beber quatro horas antes do teste, não fazer exercícios 12 horas antes do teste, urinar 30 minutos antes do teste, não consumir álcool nas 24 horas anteriores ao teste e não ter feito uso de medicamentos diuréticos nos últimos sete dias32. No DEXA dois raios X passam pelo corpo e são medidos por um detector discriminante de energia que permite avaliar massa de gordura, massa livre de gordura e massa óssea; é considerado um instrumento acurado para avaliar alterações da gordura corporal em crianças, porém é um método bem caro, pois utiliza o absorciômetro/DXA scanner, além de necessitar de pessoal altamente qualificado.35

    Diferentes classificações podem ser utilizadas a partir de referenciais antropométrico (gráficos e tabelas) que mostram valores estimados como normais para cada medida corpórea, com base em modelos matemáticos derivados da análise de dados observados em amostras de crianças avaliadas como normais e sadias.36

    Através da observação da distribuição em percentil pode-se estimar se a criança encontra-se acima ou abaixo da medida esperada para crianças de seu sexo e faixa etária. Na tabela de percentis proposta pelo Centro Nacional de Estatística em Saúde (NCHS - National Center for Health Statistics) e indicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS)37 para massa corporal e estatura um valor é considerado abaixo do esperado se for menor que o percentil 5 (P5), dentro do esperado entre o percentil 5 e 85 (P5 – P85) e acima do esperado, maior que percentil 85 (P85).

    Outra classificação também indicada pela OMS36 é feita pela distribuição do escore z (diferença entre o valor mediano estimado para aquele gênero e aquela idade) do IMC. Nela uma criança é classificada com sobrepeso quando seu escore total está entre: 1Z e 2Z38, e com obesidade quando seu escore total se apresenta acima de 2Z. Porém é preciso atentar que além das curvas propostas pela NCHS a classificação pode ser feita de acordo com tabelas construídas por outros centros de estudo. Entre as mais utilizadas no Brasil estão as curvas propostas por Cole e seus colaboradores39, a partir de curvas feitas com dados que incluíam pessoas brasileiras e ajustadas de modo a possibilitar o cálculo do escore z para obesidade e sobrepeso em diferentes idades, correspondendo ao IMC 24 kg/m² e 30 dg/m² respectivamente, na idade de 18 anos. Para a construção destas curvas foram coletados dados de seis países: Brasil, Estados Unidos, Grã Bretanha, Hong Kong, Holanda e Cingapura. Outras curvas também utilizadas são as do Centro para controle e prevenção (Centers for Disease Control and Prevention – CDC)40 e pela Força de Trabalho para Obesidade (International Obesity Task Force -IOTF)41, diferenciando-se pela população (americana ou agregando outras) e/ou concepção.

    Entre os estudos realizados com base em percentis encontra-se o que analisou crianças entre 7 e 10 anos (amostra aleatória) da cidade de Corumbá- MS, no qual foram calculadas prevalências de sobrepeso e obesidade a partir da classificação do estado nutricional determinada pela curva revisada de IMC/idade (NCHS), de acordo com os pontos de corte: baixo peso (IMC < p5), eutróficos (p5 ≤ IMC < p85), risco para sobrepeso (p85 ≤ IMC < p95) e sobrepeso (IMC ≥ p95). Os resultados apresentaram prevalência de 6,2% e 6,5% para risco de sobrepeso e sobrepeso, respectivamente, para meninas e meninos.42

    Crianças entre dois e seis anos de idade (amostra aleatória), de creches públicas e privadas da cidade de Natal – RN também foram analisadas com este protocolo sendo aponta uma prevalência de 26,5% de excesso de peso, sendo 14,1 % risco de sobrepeso e 12,4 % sobrepeso5.

    Outro estudo, com o mesmo procedimento para classificação e cálculo da prevalência de obesidade e sobrepeso, analisou crianças entre seis e 19 anos (amostra não aleatória, de classe social média e alta) de Salvador, BA e constatou alta prevalência (11,9% e 5,2%), de sobrepeso e obesidade no grupo em geral, porém não apresentou os resultados sobre o estado nutricional por gênero.43

    Um estudo com crianças da cidade de São Paulo, utilizou para classificação do estado nutricional das crianças as curvas de percentis do Índice IMC/idade porém, conforme padrão de referência do Multicentre Growth Study (MGC), classificando como sobrepeso valores de percentis entre ≥ 85 e < 97 e para a obesidade valores > 97. Foram estudadas crianças entre sete e 13 anos (amostra aleatória); foi encontrada alta prevalência (20,8%, 16,4%,21,1% e 12,3%) para sobrepeso e obesidade, masculino e feminino respectivamente.44

    Foram encontrados também estudos utilizando a distribuição em escores z. Um deles, analisou crianças de Porto Velho – RO calculando índices P/E expressos em unidades de desvio-padrão (Z-escore) em relação ao padrão de referência, onde os pontos de corte adotados foram: desnutrição: abaixo de –1 escore Z; eutrofia: entre –1,00 e +1,00 escores Z; sobrepeso: entre 1 e 2 escores Z; obesidade: acima de 2 escores Z. Em relação apenas ao P/E, 86,0% das crianças foram classificadas com eutróficas, 4,0% desnutridas, 7,0% com sobrepeso e 3,0% obesas.45

    Utilizando este mesmo sistema de classificação um estudo comparando crianças entre 7 e 14 anos, nas cidades de Florianópolis SC e de Pelotas RS (amostra acidental) apontou taxas de sobrepeso de 6% a 9%46. Ainda com este sistema de avaliação crianças de escolas particulares (classe média e alta, amostra não aleatória) entre dois e cinco anos de idade da cidade de Recife- PE foram analisadas, encontrando-se índices de 22,6% e 11,3% para sobrepeso e obesidade, respectivamente19. E em Uberaba- MG, análise de crianças entre 5 e 15 anos, de uma escola vinculada à Universidade (amostra intencional) apontou índice de sobrepeso foi de 11,79% e a de obesidade, 13,53%, sem diferença significativa entre os sexos e faixas etárias.47

    Também foram observadas crianças de uma comunidade indígena em Terena – MS48, onde quase todas (97,1%) crianças menores de cinco anos foram avaliadas; a prevalência de obesidade foi de 5%, dos quais 6,4% no sexo masculino e 3,8% no feminino, destaca-se que a razão entre a prevalência de desnutrição e a obesidade infantil foi acima de três desnutridos para um obeso. Os autores investigaram a ligação de condicionantes ambientais para o estado nutricional, relacionando-os a baixa renda, baixa escolaridade.

    Ainda com os indicadores de P/E e comparação de curvas do NCHS um outro estudo49 encontrou crianças de quatro a seis anos (amostra intencional) na cidade Campinas – SP, deslocamento de frequências para a direita tanto de meninos quanto de meninas em relação a curva normal, com um número alto de valores z acima de 4,0. A maior parte do grupo estava dentro dos limites de peso e altura, mas foi dispersão das freqüências para o grupo feminino em seu valor máximo a 1,5 de desvio padrão acima da média da normal para peso, altura e relação peso/altura. Os autores sugeriram que havia indícios de tendência à exacerbada à obesidade, mas não foram apresentadas estimativas de prevalência dos estados nutricionais.

    Outra pesquisa, com crianças entre 11 e 13 anos de idade (amostra aleatória) de Capão da Canoa RS28 analisou índices de IMC, porém os pontos de corte para classificação de sobrepeso e de obesidade, foram os propostos por Cole e seus colaboradores. O resultado apontou 21,3% crianças com tendência de sobrepeso e 3,5% obesas, sendo que a tendência de adolescentes obesos se mostrou maior nas escolas particulares, indicando que a obesidade pode evoluir mais rapidamente em indivíduos de classe alta.

    A partir da classificação - IOTF uma amostra representativa de crianças e adolescentes entre sete e 18 anos de idade município de Apucarana, PR, foi analisada, sendo encontrado os valores de 24,7% e 5,9% , respectivamente para o gênero feminino, enquanto que o masculino apresentou 21,9% e 4,1%. Os resultados foram considerados mais elevados que outros municípios brasileiros mas com semelhança na comparação com cidades de países desenvolvidos41.

    A comparação entre o IMC e a porcentagem de gordura corporal (verificada através de bioimpedância elétrica) revelou diferença estatisticamente significante entre estas variáveis em um estudo que analisou meninos (amostra aleatória) entre 9-15 anos de idade da cidade de Presidente Prudente50. Os autores alertaram que o IMC, embora seja a medida mais utilizada como indicadora de gordura corporal tem limitações para indicar o estado nutricional corretamente. Eles encontraram também associação entre obesidade, inatividade física e fraca performance no teste de flexibilidade

    Houve ainda um estudo51 feito em uma creche do município de São Paulo, com 29 crianças entre 2 e 6 anos de idade (amostra intencional) que apresentou prevalência de 24% de obesidade e 17% de sobrepeso, porém embora indicasse que o critério de classificação fosse o de Waterlow, não especificou se o índice calculado referia-se a P/E ou E/I (estatura por idade).

Prevenção à obesidade infantil

    As estratégias de prevenção da obesidade devem começar em tenra idade, pois vários estudos têm mostrado que crianças obesas têm mais chances de se tornarem adultos obesos41, 44, 52.

    O papel dos pais na prevenção da obesidade é de fundamental importância para a diminuição da tendência da obesidade42, pois é a partir deles que se iniciam os primeiros estímulos ambientais que irão moldar os hábitos diários das crianças. Entre os hábitos que precisam ser alterados estão: melhoria na alimentação, prática constante de atividade física, diminuição de atividade fisicamente passivas (televisão, computador, vídeo-game, entre outras coisas) 8, 53, 54. Na alimentação da criança é sugerida a introdução de frutas e vegetais e a diminuição da ingesta de alimentos calóricos, gorduras saturadas, alimentos processados, entre outros, os quais aumentam a porcentagem de gordura43.

    A amamentação auxilia na prevenção da obesidade, quanto mais tempo a criança foi amamentada pela mãe menos chance ela tem de apresentar obesidade; isso é explicado pelos fatores bioativos que há no leite e que podem modular o metabolismo energético, consequentemente as crianças podem ser mais ativas e menos propensa ocorrência de obesidade22,48,54 É importante notar também que a desnutrição pregressa em ambientes precários também pode levar a obesidade na vida adulta.55

    A prática de atividades física é eficaz para a prevenção da obesidade, pois atua na regulação do balanço energético, influencia na distribuição da massa corporal, preserva e mantém a massa magra e promove perda de massa corporal22, auxilia no combate ao sedentarismo e na prevenção de doenças crônico-degenerativas que aparecem em pessoas obesas, tais como o câncer de colon, a hipertensão, doenças cardíacas entre outras38.

    Foi evidenciado que a prática de atividade física aeróbia, associada à dieta hipocalórica (DH) pode promover aumento da lipoproteína de alta-densidade colesterol (HDL-C), independente do valor basal, em crianças obesas quando comparado à DH isoladamente, e que a DH isoladamente ou associada a exercício aeróbio reduz o colesterol total e lipoproteína de baixa-densidade colesterol(LDL-C) quando estes estão em níveis acima do valor normal, em crianças obesas.56

    Através do uso de questionários sobre prática de atividade física e avaliações antropométricas para observação de estado nutricional, os resultados de diferentes estudos8,22,28,41,48 apontam que crianças mais ativas podem apresentar menor valor de IMC e menor percentual de gordura no corpo.

    Porém, mudanças em hábitos no cotidiano infantil estão provocando aumento na prática de atividades sedentárias; fatores tais como aumento da violência, inserção das mães no mercado de trabalho e ingresso cada vez mais precoce das crianças nas instituições de ensino infantil podem diminuir o tempo e o espaço da criança brincar, com isso, elas passam a maior parte do tempo em frente dos televisores e/ou computadores ou jogando vídeo-game, entre outras atividades sedentárias.57

    Quanto mais progridem na idade cronológica, mais as crianças passam a despender mais tempo em frente à TV. Crianças obesas, em sua maioria são pessoas que passam mais tempo em frente à televisão, confirmando que a diminuição das atividades fisicamente passivas é uma importante estratégia na prevenção da obesidade43.

    Uma pesquisa relacionou o nível de atividade física de alunos de escolas públicas com o estado nutricional, os dados obtidos apontaram que as crianças do estudo permaneciam a maior parte do tempo, quando não estavam na escola, em frente à televisão ou em atividades de baixo gasto energético e que as crianças que se apresentavam com obesidade, em sua maioria não praticavam esportes fora da instituição de ensino33. Crianças que realizam atividades físicas durante a semana têm um gasto energético maior do que aquelas que não o fazem e tem menor probabilidade de desenvolver a obesidade; quanto mais tempo as crianças despendem assistindo televisão maior a chance de desenvolver obesidade31,58.

Programa de atividade física para crianças obesas

    O estilo de vida sedentário durante a infância e adolescência mostra-se contínuo até a fase adulta e, quanto mais se avança na idade, mais difícil se torna a mudança dos hábitos arraigados25. Uma criança deve praticar atividade física de acordo com seus limites e para isso a Educação Física tem um papel importante no sentido de conscientizar os alunos a respeito de como realizar atividades físicas compatíveis com suas estruturas biológicas e idades a fim de prevenir e tratar a obesidade45.

    É indicado23 que professores de Educação Física, tendo em vista o aumento gradativo da obesidade na população, dediquem pelo menos 30 minutos da aula para atividades de movimentação intensa, ensinando ao mesmo tempo para as crianças a importância da prática de exercícios em outros locais e de maneira constante.

    Apenas um dos estudos relatou intervenção com programa de atividades físicas, no qual foram oferecidas três sessões semanais com caminhada, corrida, bicicleta e jogos lúdicos, o qual associado com dieta hipocalórica reduziu o colesterol total e a lipoproteína de baixa-densidade colesterol de crianças obesas, porem não foi descrito como tais atividades foram realizadas56. Um ensaio propõe-se observar a intervenção, porém o estudo ainda não está concluído59. O único estudo que incluía o brincar infantil, observou cinco crianças obesas em algumas sessões de terapia, associando esta atividade com aplicação de técnicas projetivas, sem especificar como, com quem ou com o que a criança brincava, mas relatou dificuldade das crianças em criar, simbolizar e brincar que geravam sentimentos de solidão e abandono12.

Discussão

    Embora a literatura sobre obesidade infantil apresente quantidade significativa de estudos no Brasil, na última década foram poucos os que se referiram a relação entre esta ocorrência e a prática de atividade física e menos ainda os que analisaram seus efeitos sobre o crescimento físico ou sobre o desenvolvimento motor das crianças. Por outro lado, a maioria dos estudos classificam o estado nutricional das crianças indicando altas taxas de prevalência desta ocorrência e necessidade de prática de atividade física.

    Apenas um apresentou avaliação de estado nutricional a partir de medidas de bioimpedância48 e nenhum utilizou o sistema DEXA, sendo que a maioria utilizou métodos antropométricos com cálculo de IMC e P/E.

    Estes estudos não fornecem um panorama sobre o estado nutricional das crianças brasileiras, porque além de terem sido feitos em cidades com características diferentes, analisaram diferentes faixas etárias, nem sempre tinham amostras representativas e utilizaram metodologias diferentes. Por exemplo, cinco deles classificaram o estado nutricional a partir de percentis de valores de IMC em amostras aleatórias5,28,42,43,41 porém as curvas de comparação variaram (curva do IOTF, curvas revisadas da NCHS, curva do MGC, curvas de Cole et al); outros dois usaram as curvas de IMC mas as amostras não eram representativas43,52; três observaram o escore z para P/E em amostras intencionais19,47,49 e três com amostras aleatórias45,46,48 e um outro com escore z para IMC em amostra aleatória27. O uso de diferentes propostas de classificações dificulta comparação de resultados, além disto, existe estudos comparando resultados com diferentes sistemas e encontraram diferenças importantes entre eles nas prevalências obtidas40, 60, 61.

    Outro problema é que o uso de percentis individuais para análise de grupos tem sido desaconselhado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, por se tratar de uma ordenação de valores, o que pode resultar em tratamento aritmético de média e variabilidade do parâmetro prejudicado34.

    Acrescente-se também que os resultados de estudos com base em curvas dadas por IMC são frágeis pois elas apenas representam que na comparação entre um grupo (experimental) e outro (teórico – dado pelas tabelas) um grupo tem tendência diferente possuindo maior contingente de pessoas com valores mais elevados e não indicam necessariamente sobrepeso ou obesidade62, além disto nem o P/E, nem o IMC distinguem o excesso de peso devido ao aumento de tecido.63

    Todos estes fatores apontam para a necessidade urgente da comunidade científica brasileira em discutir melhor os parâmetros de avaliação da composição corporal, para que os resultados de estudo possam vir a revelar melhor o perfil da população.

    Conquanto vários estudos mostraram relação entre a prática de atividade física e a prevenção da obesidade, havendo concordância de que o aumento do sedentarismo pode levar a obesidade bem como a outras patologias associadas, os mecanismos pelos quais esta prática auxilia no equilíbrio metabólico ainda são pouco conhecidos. Esta prática tem sido avaliada por meio de questionários muitas vezes não padronizados, dificultando a comparação dos dados dos diferentes estudos e em sua maioria estes instrumentos de avaliação não foram validados ainda e tem como limitação principal a memória dos entrevistados, especialmente quando se refere a crianças pequenas, que por ficarem cada vez menos com os pais, tem hábitos diários por eles pouco conhecidos.

    Embora haja consenso que a atividade física auxilia na prevenção à obesidade, as estratégias para intervenção com programas de atividades físicas são pouco estudadas. Isto também foi observado em outros estudos de revisão sobre a prática de atividade física e obesidade64 que mostraram que em períodos anteriores e também fora do Brasil, são poucas as pesquisas que avaliaram especificamente o efeito do exercício no tratamento da obesidade e raras as que tem dados de seguimentos a longo prazo e entre elas existem resultados contraditórios44. Nesta revisão de literatura, de dois estudos encontrados sobre programas de atividades físicas, um não informou como foram feitas as atividades, nem como elas foram avaliadas e o outro apresentou apenas um ensaio, sem resultados e sem detalhes de como a avaliação destas atividades será realizada.

    Fica clara a necessidade de novos estudos sobre padronização da avaliação do estado nutricional, pois verificou-se a existência de vários métodos de análise do estado nutricional infantil, com predomínio do uso de medidas antropométricas e cálculo de IMC, mas com diferentes bases estatísticas de comparação, sendo este índice frágil porque não revela necessariamente a gordura corporal nem distingue excesso de peso devido ao aumento de tecido. Além disto, os estudos tem amostras diferentes, nem sempre representativas. Sendo assim, os diferentes estudos não permitem ainda pontos de convergência que clarifiquem o panorama sobre a prevalência de obesidade infantil no Brasil.

    Observa-se também que mudanças no cotidiano infantil tem gerado maior ingestão de gorduras e açúcares e menor consumo de alimentos ricos em fibras que em conseqüência podem aumentar os casos de sobrepeso e obesidade sendo necessário mudanças destes hábitos introduzindo-se dietas menos calórica. Houve também aumento do tempo gasto em atividades fisicamente passivas com o conseqüente aumento nas taxas de obesidade, porém os instrumentos para avaliar estas mudanças também variam de estudo para estudo e na sua maioria compõem-se por questionários não padronizados.

    Verificou-se que poucos são os estudos que intervém na prevenção da obesidade com a adoção de programas de atividades físicas, a maioria dos estudos apenas analisa a quantidade de horas destinadas para essas atividades, alguns estudos se estendem um pouco mais e recomendam atividades fisicamente ativas e, raras são as pesquisas que investigam a atividade física com obesos; quase nada é escrito sobre brincadeiras e jogos lúdicos os quais poderiam proporcionar para a criança mais prazer e motivação para que estas não interrompam o processo de prevenção à obesidade.

Referências bibliográficas

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Financiamento: CNPq

Contribuição dos autores:

  1. Tolocka – pesquisa bibliográfica, síntese dos achados, responsável pela correspondência.

  2. Oliveira - pesquisa bibliográfica.

  3. De Marco – revisão final.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 167 | Buenos Aires, Abril de 2012
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