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O taekwondo e sua contribuição na educação infantil: um estudo lúdico

El taekwondo y su contribución en la educación inicial: un estudio lúdico

 

Curso de Educação Física

Faculdade Metropolitana

(Brasil)

Osiel Martins Costa

Vanderlei Ferreira dos Santos

José de Arimatéia de Souza Bernaldino

Gilmar dos Santos Nascimento

Francisco Tadeu Reis de Souza

p.jrvalentim@gmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A pesquisa tem como finalidade realizar estudo de vivências que facilite o aprendizado motor das crianças, através de atividades lúdicas com os movimentos do Taekwondo, utilizando o lúdico como processo facilitador da aprendizagem de forma a tornar o Taekwondo interessante e prazeiroso. O método que atende as necessidades desta pesquisa é o indutivo, que permitiu, a partir de observações, levantamentos de determinados fatos, determinadas situações, aferir condições e situações gerais esperadas. O tipo de pesquisa é qualitativa e a população que trabalhamos foi de 98 alunos e nossa amostra selecionada sem critérios específicos, foi de 29 alunos, em termos percentuais 29,6% das crianças pesquisadas pertenciam a essa classe. Nossa pesquisa nos leva a conclusão de que a viabilidade da prática do Taekwondo enquanto desenvolvido através de atividades lúdicas para crianças que estão na Educação Infantil, mostrando que esta modalidade considerada como fomento a violência é na verdade uma ferramenta que deve ser bem utilizada na promoção do desenvolvimento da criança e que é capaz de promover vivências que irão facilitar o seu aprendizado motor, contribuindo desta forma para o desenvolvimento pleno.

          Unitermos: Taekwondo. Educação infantil. Ludicidade.

 

Artigo elaborado a partir de pesquisa de monografia de conclusão de curso.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Estudiosos e pesquisadores vivem em constantes buscas da melhor forma de promover vivências que facilitem o aprendizado motor das crianças. Essas buscas sempre indicam as manifestações lúdicas, como um processo socializador, de integração, proporcionando as crianças através destas manifestações a explorar, manipular, mexer. A recreação das crianças são comparativas em relação aos seus pares, já que cada criança age e reage de formas diferenciadas e a melhor forma de se exibir é brincando com os colegas, neste ambiente, sente-se prestigiada quando é reconhecida pela sua criatividade. A criança vive num mundo de fantasias, cores e imaginações, quando o assunto é movimento, mostra-se sempre competente para realizar os diversos gestos motores. Certamente, toda a vivência dessa fase, servirá como experiência para a vida adulta.

    Assim, ao percebermos a falta de atividades lúdicas em escolas de Educação Infantil, em Porto Velho-RO e os benefícios que essas práticas podem promover às crianças, visualiza-se que a Educação Infantil vem a oportunizar as vivências da experiência e ao mesmo tempo conhecer o Taekwondo através de atividades lúdicas.

    Nosso problema estava na habilidade de concentração das crianças, pois é sabido que entre 04 e 06 anos, se resumem a 10 minutos, portanto, para esta pesquisa partimos com o seguinte questionamento: como as atividades lúdicas podem facilitar a aprendizagem motora, tendo como referência os movimentos de uma arte marcial?

    O objetivo desta pesquisa foi realizar estudo de vivências que facilitasse o aprendizado motor das crianças, através de atividades lúdicas utilizando os movimentos do Taekwondo e os para atingir tais objetivos verificamos a utilização do lúdico como processo facilitador da aprendizagem e como tornar o Taekwondo interessante e prazeiroso.

    Ao estabelecermos os objetivos e o problema da pesquisa e para poder dar seguimento a mesma de forma a comprovações futuras, esta pesquisa apóia-se nas seguintes hipóteses: H1: Existe um tempo necessário de aprendizagem do Taekwondo lúdico de uma criança na educação infantil. H2: Os movimentos mais adequados do Taekwondo, para a faixa etária na educação infantil, são os movimentos de baixa complexidade. H3: Há brincadeiras adequadas para a faixa etária da Educação Infantil. H4: A escola realiza o lúdico durante as aulas. H5: A escola dispõe de profissionais habilitados para desenvolver atividades lúdicas.

Características do taekwondo

    O Taekwondo é um esporte de luta que envolve movimentos corporais diversos que auxiliam no processo da aprendizagem motora. Praticado normalmente nas academias de luta, segue um processo de aprendizado no qual a repetição de movimentos coordenados são partes específicas da aula, seus praticantes são avaliados constantemente com objetivo de promover a mudança de faixa, nesta ordem: branca (10º Gub), ponteira amarela (9º Gub), amarela (8º Gub), amarela ponteira verde (7º Gub), verde (6º Gub), verde ponteira azul (5º Gub), azul (4º Gub), azul ponteira vermelha (3º Gub), vermelha (2º Gub), vermelha ponteira preta (1º Gub), preta (1º Dan).

    Kim e Silva (2000) citando Souza (1999) justificam a prática do Taekwondo pelas crianças, observando que a grande importância do período infantil pode ser destacada pela fase em que se iniciam as relações interpessoais e interambientais, portanto, quanto mais rico for o ambiente, melhores possibilidades de desenvolvimento pessoal poderão ocorrer. E, dependendo da época do amadurecimento biológico, melhor ou pior, poderá ser o entendimento da criança em relação ao estímulo, pois para diferentes momentos da vida, o nível de amadurecimento dos sistemas corporais também possui diferentes ritmos.

O taekwondo e sua utilização na escola como objeto do aprendizado motor

    A escola como ambiente educacional e, portanto de aprendizagem está sujeita as mudanças e também é uma das suas funções é provocar tais mudanças, tanto no aspecto cognitivo, quanto motor.

    Para Magil (2000) o principal motivo do aprendizado motor é aumentar a capacidade da pessoa em desempenhar com sucesso uma determinada habilidade e esse aprendizado requer o emprego coordenado de vários músculos e articulações do corpo humano. Ao aferir a aprendizagem, o professor de Educação Física deve levar em consideração o desempenho apresentado pelo aluno, sendo que as ações praticadas nesse aprendizado podem ser transferidas beneficiando outras habilidades.

    Já para Greco (1998) a aprendizagem motora é uma mudança no estado interno do indivíduo, a qual é inferida de uma melhoria, relativamente permanente no desempenho como resultado da prática. O autor define a aprendizagem motora como um reflexo de uma variação, relativamente permanente, na obra ou no potencial de execução, como resultado da prática ou de experiências anteriores.

    Com base nessas definições, poderíamos formular vários entendimentos sobre aprendizagem motora, como nosso trabalho está relacionado ao comportamento das crianças durante o processo de aprendizagem, nos parece satisfatório o utilizado por Mattos e Garcia (2006) referindo-se a individualidade presente nesse processo. A epistemologia genética constatou que o processo de aprendizagem é “individual” para o aluno, o que equivale a dizer que cada criança aprende do seu jeito e de forma diferente dos seus colegas. Apresenta formas próprias de interagir e ao construir estruturas cognitivas distintas, será desequilibrada diferentemente nas mesmas situações didáticas.

    Mattos e Neira (2006) quando enfatizam a importância do educador ao decidir sobre a realização de um movimento de driblar para a vida infantil e deseja que seus alunos aprendam as complicadas relações que o drible envolve (controle de forças, cálculo de espaço e tempo, esquema corporal etc...) poderá tornar mais interessante o aprendizado deste movimento (e dos conhecimentos nele envolvidos) com a inserção de algum jogo proveniente do universo cultural das crianças, oferecendo-lhes uma atividade relevante socialmente e adequada à faixa etária, por exemplo, um jogo próximo ao basquetebol, mas com regras e táticas mais simples a fim de Identificar a interação que favoreça ao máximo o processo de construção. Tal procedimento pode ser perfeitamente praticado nas atividades do Taekwondo em qualquer ambiente, seja em academias ou escolas.

    A abrangência pedagógica que envolve o processo, no qual os aspectos cognitivo, afetivo, social e psicomotor se fazem presentes, Mattos e Neira (2006) afirmam que ansiamos todos aqueles movimentos que as crianças fazem, inseridos em uma situação que as estimulem a pensar e planejar as suas ações: fugindo de um pegador, escalando uma montanha imaginária, e “queimando” os amigos, enfim, vivendo cada movimento não só com os músculos, nervos e tendões, mas também e, principalmente, com a manifestação se suas emoções e seu raciocínio lógico.

    A prática do Taekwondo na escola irá proporcionar nas crianças a utilização de gestos motores diversos, que poderão ser utilizados como objeto na facilitação do aprendizado motor. Nesse esporte a prática dos movimentos do corpo ativa seus músculos e articulações que por sua vez trabalham o esquema corporal: domínio corporal (equilíbrio), conhecimento corporal (partes do corpo); a lateralidade, força, precisão; orientação espacial e estruturação temporal. Os movimentos do Taekwondo servem de parâmetros avaliação dos praticantes durante a troca de faixa. Assim ao aferir o aprendizado, levamos em consideração à prática constante desta modalidade.

    Mattos e Neira (2006) se referem ao desempenho no caminho da construção do conhecimento. A realização de ações com probabilidade de satisfação só será possível àqueles que acumularam consideráveis conhecimentos sobre si, sobre o meio e sobre as inter-relações entre o indivíduo e o meio. É bastante comum à criança que se sobressai em uma determinada atividade lidar com os mesmos instrumentos em outras experiências que lhe parecem semelhantes: “ele joga bem todos os jogos” ou “ela gosta tanto de dançar”. Quando entendemos as conquistas humanas como um patrimônio cultural e o importante papel da escola na democratização das oportunidades dessa construção, percebemos a importância do professor perante a organização das atividades pedagógicas. Entretanto, a ausência de experiências formativas faz com que a criança “perca a oportunidade” de construir esse amplo leque de conhecimentos que lhe garantirá uma atuação social mais intensa e proveitosa, isto é, o exercício pleno da cidadania.

Educação Infantil

    Na Educação Infantil antes se iniciar o trabalho pedagógico há necessidade de uma organização de conteúdos, conseguidos através de planejamento pedagógico.

    Borsari (1980) ao propor conteúdos para o planejamento da Educação Física na Educação Infantil, enfatizou a importância de se determinar o objetivo que é a criança, assim, as atividades programadas devem proporcionar às crianças a oportunidade de se conhecerem, de se ambientarem e viverem novas experiências, bem como a possibilidade de experimentarem o êxito. Os valores que são almejados conduzirão ao conhecimento mútuo, ao respeito a si e aos outros, à participação, ao esforço para superar-se a si próprio.

    Gondin (2006) considera que a educação Infantil tem adquirido cada vez mais importância no Brasil. A pré-escola, especificamente, que até alguns anos atrás era vista como um lugar de mero assistencialismo é hoje considerado uma oportunidade de a criança vivenciar experiências enriquecedoras para a sua formação. Tal importância também expressa,1 quando se refere à educação Infantil como uma etapa inicial da educação básica, e em 1998, o Ministério da Educação e do Desporto lançou o referencial curricular nacional para a educação infantil, apontando alguns caminhos para a reflexão dos educadores sobre o novo papel dessa fase da vida escolar e indicando algumas alternativas para o trabalho nas instituições destinadas a crianças de 0 a 6 anos.

    Aroeira (1996) cita os fundamentos constitucionais para dizer do avanço que a pré-escola teve, quando incluída na Constituição de 1988, e apresentar a concepção de criança integral. Conceito esse que corresponde a um atendimento unificado à criança da pré-escolar num período contínuo (de 0 a 6 anos), em vez de dividir a educação em dois períodos, um assistencial, que se concentra na questão da saúde e higiene: e um pedagógico, voltado para a educação, sendo que o atendimento integral associa os dois aspectos, independentemente da faixa etária.

    O autor vê nisso o reconhecimento da educação infantil, como direito de todos, necessidade da universalização, num discurso oficial no qual já podem ser observadas idéias das condições de desenvolvimento da criança.

    A educação infantil tende a ganhar cada vez mais um sentido de equalização de oportunidades e de educação emancipatória, libertadora, em substituição às propostas tradicionais reforçadoras da submissão e da dependência de programas assistenciais.

    A Educação Infantil, em certo sentido, é uma brecha, uma ponte entre a criança e o mundo que a rodeia, um espaço-tempo prazeiroso e lúdico, de descobertas e abertura ao outro (AROEIRA, 1996).

    Para Aroeira (1996) a Educação Infantil, deve contribuir na igualdade de condições de desenvolvimento e aprendizagem, entendendo que não se podem comparar crianças de diferentes classes sociais, pois se elas têm diferentes condições de vida, sua forma de aprendizagem também será diversa.

Importância do lúdico na Educação Infantil

    A ludicidade é um dos componentes básicos na vida do ser humano, já como afirma Huizinga (2004) o ser humano é na sua essência, um ser lúdico. Parmigiani (2002) quando em seu texto informa que “o lúdico e as atividades físicas como mediadores no processo de letramento”, ressalta a importância do lúdico e das atividades físicas nas práticas pedagógicas como mediadores do processo educacional, possibilitando o desenvolvimento de habilidades, facilitando a aprendizagem na escola, o desenvolvimento geral da criança, seu processo de interação e socialização na escola.

    Parmigiani (2002) cita a importância do lúdico, ao propor em seu trabalho, com base em referenciais teóricos de concepção sócio-histórica de linguagem, do lúdico e das atividades física, fugindo ao mecanicismo e instaurando uma prática constituidora de sujeitos.

    A necessidade da troca de experiências, da emancipação, de fugir do mecanicismo, da cópia, considerando assim que as manifestações lúdicas através da imagem, dos jogos e das brincadeiras dentro do universo escolar não possuem apenas objetivo de proporcionar aos educandos nas aulas de Educação Física, alguns momentos de recreação, mas sim, a uma prática pedagógica interdisciplinar que considera o aluno sujeito de suas ações, que cria e vivencia momento.

Aprender a ensinar através da ludicidade

    Numa abordagem mais abrangente Schwartz (2004) ressalta que o lúdico poderia, então, ser ocasião de lidar com a segurança e o incerto, o medo e a coragem, a perda e o ganho, o prazer e o desprazer, o sério e o cômico, a objetividade e subjetividade, enfim, uma oportunidade de ensinar e aprender sobre a vida, entendida como um grande jogo em que, como em todos os demais, estão presentes objetivos, regras e papéis. Sabemos que o brincar faz parte da essência da vida: todos os animais brincam.

    No caso o homem, o próprio processo de aprendizagem só ser visto como uma grande brincadeira de esconde-esconde ou de caça ao tesouro, tanto uma criança do pré-escolar brincando num tanque de areia, quanto um cientista pesquisando no laboratório de uma universidade estão lidando com sua curiosidade, com a busca do novo, que sustentam a construção de novos saberes.

    Embora com diferentes ênfases, todas as teorias do jogo e da brincadeira, desde as clássicas até as mais recentes, apontam para a importância do lúdico como o meio privilegiado de expressão e de aprendizagem infantil reconhecendo não haver nada significativo na estruturação e no desenvolvimento de uma criança que não passe pelo brincar (RODULFO, 1990).

    Schwartz (2004) propôs o brincar como veículo para resgatar nossa humanidade, para entrar em contato com a sensibilidade e com a criatividade esquecidas, para possibilitar um olhar que descubra o ridículo (no sentido de risível) da realidade que anseia pela transformação, ao mesmo tempo em que se percebe presa ao tradicional pelo medo de mudar, sujeita à mesmice, na compulsão à repetição, mesmo sabendo que a mudança é a lei da vida: as espécies que não mudaram, se extinguiram.

Metodologia da pesquisa

    A presente pesquisa foi elaborada com base na proposta universal das práticas lúdicas pelas crianças. Assim, observado a carência dessas práticas em escolas da Educação Infantil, nos propusemos a pesquisar os efeitos do Taekwondo enquanto manifestação lúdica em crianças da Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Esperança.

Método da pesquisa

    O método que utilizado nesta pesquisa foi o indutivo, que para Filho e Santos (2002) é o método que vai permitir, a partir de observações, levantamentos de determinados fatos, determinadas situações, aferir condições e situações gerais esperadas.

    O tipo de pesquisa é qualitativa, que pode se valer da relação com os pesquisados, a observação participativa é uma técnica sugerida por Richardson (1999) a proximidade com o fenômeno em estudo pode ser considerada uma vantagem.

População e amostra

    A Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental Esperança, local da pesquisa é uma escola simples da periferia, ocupa as dependências da sede do Clube das Mães, Idosos e Crianças do Bairro Esperança da Comunidade, situado à Avenida Mamoré, 4968, na cidade de Porto Velho e faz parte do complexo comunitário esportivo, com uma área de cerca de 200 m², possui posto de saúde, quadra de esportes coberta, campo de futebol, pista de atletismo, praça de alimentação e uma escola de ensino fundamental. A sede do clube dispõe de (três) 03 salas de aula para a Educação Infantil, uma sala para cursos de informática, pequena pátio coberto, banheiros, depósito, cozinha, escritório e diretoria, numa área murada com cerca de 20 m², sem urbanização. O complexo é mantido pelo município, a título precário, na área de esportes, possui escolinhas de futebol e futsal. A escola é administrada com dificuldade, carente de muitos recursos, porém dotada de profissionais capazes de cumprir a missão de educar, possui 98 alunos distribuídos entre jardim e alfabetização (1ª Série), com idade entre 04 e 06 anos, trabalhamos com a 1ª Série C, 2º turno, com 29 alunos, sendo 16 masculinos e 13 femininos, idade média de 06 anos.

    Nossa população, portanto, foi de 98 alunos e a amostra aleatória simples, selecionada sem critérios específicos, foi de 29 alunos, em termos percentuais 29,6% das crianças pesquisadas pertenciam a essa classe.

Coleta de dados

    Durante o período de coleta de dados, relatamos todo o cotidiano escolar, pois tudo era motivo de anotação, o comportamento antes, durante e após cada encontro, deslocamentos até a quadra de esportes, a chegada ao local, o posicionamento na quadra, o alongamento e aquecimento de forma lúdica, a parte específica, à volta a calma, o retorno à sala de aula e outros, como o interesse o desinteresse, a obediência, as desavenças, as brigas, as mudanças estratégicas no conteúdo da aula, etc. A pesquisa foi realizada no ano de 2006 com 28 encontros, em que aplicamos brincadeiras infantis e gestos do Taekwondo, previamente selecionados, transmitidos com a preocupação de promover o prazeiroso, utilizando para isso, a técnica de imitação, o espelho e o faz de conta que foram os principais mecanismos de comunicação e que facilitaram a pesquisa.

    Os encontros foram realizadas as terças e quinta feiras das 15:40 as 17:00h, com duração de 01:20h contados a partir do deslocamento até a quadra e retorno a sala de aula. O tempo para o seu desenvolvimento era assim distribuído: alongamento/aquecimento lúdico (10 minutos); atividade lúdica (30 minutos); volta a calma (5 minutos).

Análise, interpretação e discussão dos dados

    Nossa pesquisa na escola Esperança começou no dia 1o. de junho do ano de 2006, quando aproveitamos o final do semestre para observar durante 04 dias a rotina das crianças na escola. As crianças passavam a maioria (90%) do tempo na sala de aula, eram salas pequenas e quentes. No intervalo de aula, com duração de 30 minutos, as crianças aproveitavam para lanchar e brincar, tinham que ser rápidos nessa prática, pois o tempo era curto, único momento que saiam juntos da sala. Com o lanche servido pela escola, sentavam-se na calçada do pequeno pátio ou dentro da sala de aula. Após o lanche, eram liberados para brincar, era como se ligassem as tomadas deles para a grande competição e demonstração de corrida, saltos, lutas, tombos, etc..., ficavam à vontade brincando pelo pátio. Eram poucos os que não entravam nessa correria. O tempo não era suficiente para tanta energia disponível, tal disposição para a brincadeira era tanto, que ao retornarem para a sala de aula, ainda por alguns instantes, inventavam formas de se exibir uns para os outros, hora subindo nas carteiras ou brincando de perseguição por entre as carteiras, só cessando depois de intensa intervenção das professoras.

    Era o mês das festas juninas e acompanhamos dois ensaios das crianças e vimos a dificuldade das professoras em fazer com que realizassem as coreografias das danças, pois pareciam de fácil execução, porém os alunos demonstravam embaraço e pouca empolgação por essa prática.

    Essa fase preliminar da pesquisa destinou-se a observação indireta, nos possibilitou delimitar nossa amostra com a escolha aleatória da turma a ser pesquisada, selecionar as brincadeiras e os gestos de Taekwondo apropriados para a faixa etária de 06 anos, média de idade da turma. Dividimos a pesquisa em três fases: 1a Fase: Adaptação, destinada à realização de gestos corporais aleatórios que possam assemelhar-se aos aplicados no Taekwondo e apresentação de 04 jogos lúdicos; 2a Fase: Fixação, destinada à realização de 05 gestos motores utilizados nas formas simuladas de ataque e defesa com o reforço de 04 jogos lúdicos e 3a Fase: Aplicação, destinada ao aprendizado de movimentos coordenados de ataque e defesa em 04 direções e de 04 jogos lúdicos, cada fase com 09 encontros.

    Nosso primeiro encontro, fase de adaptação, se deu no dia 22 de agosto, como estava previsto, fizemos nossa apresentação individual na sala de aula, houve pouco interesse dos alunos, foi uma apresentação simples de dois minutos, logo seguimos para a quadra de esportes dentro do complexo comunitário, afastado cerca de 200 metros da escola. Quando chegamos à quadra, ocorreu uma debandada geral, com certa dificuldade, conseguimos colocá-los em linha para início das atividades, era visível a vontade deles em querer explorar o local.

    Assim que conseguimos um pouco de atenção, começamos o aquecimento lúdico, com a técnica do espelho, fazendo com que alguns realizassem gestos com os braços para cima, para baixo, para os lados, inclinando o tronco, girando, pulando no mesmo lugar, à frente, trás, agachando, sentando, pedalando, circundando pés, braços, andando pela quadra, correndo aleatoriamente. Depois de aquecidos, reunimos no centro da quadra para o ensaio da brincadeira, coelho fora da toca, foi um pouco desastroso, porém com persistência conseguimos formar algumas tocas, logo percebemos a falta de interesse, mudamos para o cabo de guerra, não conseguimos organizar os grupos devidamente, decidimos que puxassem cada um a sua maneira, hora de pular corda, péssimo resultado também, insistimos, e logo mudamos para passagem do grupo em linha de um lado para o outro, com a corda balançando, tentamos um pouco e logo começaram a dispersar e para encerrar o primeiro encontro realizamos a guerra de bolinhas de papel, também feita de forma aleatória, todos participaram.

    Avaliamos aquele primeiro encontro de forma positiva, pois pareceu natural o comportamento apresentado pelas crianças, uma vez ser o primeiro encontro, a turma era muito ativa, queriam conhecer melhor o local, explorar aquele novo ambiente, sabíamos que a partir daí tínhamos um grande desafio pela frente, portanto era necessário determinação para se alcançar o objetivo.

    Seguiram-se mais encontros, foram 27 no total, as atividades aplicadas seguiram esta ordem: 1. Aquecimento e alongamento lúdico, com a técnica do espelho e imitação; 2. Atividade principal, no qual eram realizadas as brincadeiras e os gestos de Taekwondo; 3. Volta à calma, relaxamento, respirar, cantar.

    As brincadeiras apresentadas foram: espelho, fazer a bola, pular corda, cabo de guerra, montanha russa, formar grupos, coelho na toca, guerra de bolinha, cadeirinha, raposa e os pintinhos, teia de aranha, queimada, rouba- bandeira, vôlei de bolão, desequilíbrio, galo de briga, pique e revezamento.

    Os movimentos básicos do Taekwondo incluíram, defesas com os braços, alto, baixo, médio ou na nomenclatura taekwondista, are, olgul e montom maki; e movimentos em 04 direções, que é uma coreografia na qual são realizados chutes frontais, a cada dois chutes com pernas alternadas, muda-se de direção, girando no mesmo lugar em sentido horário, no total são 08 chutes, divididos em 04 etapas, sendo esse o porquê da técnica (04 direções).

    Nos primeiros encontros as crianças apresentaram diferentes comportamentos frente às atividades, que foram evoluindo de forma positiva a cada novo encontro, de forma geral, havia pouca obediência e falta atenção nas atividades, dessa forma tínhamos que ser rápidos nas ações pois dispunham no máximo de 10 minutos de atenção. Dispersar, ignorar o que estava acontecendo eram comportamentos comuns entre elas, porém, em 06 crianças daquele grupo, esses comportamentos eram constantes, tentavam com isso, chamar atenção dos demais, pareciam os lideres da turma, que agora tinham suas lideranças ameaçadas e tentavam do seu jeito reverter o quadro, outros realmente eram tímidos, precisaram ser desapertados e viver essa nova experiência.

    A indisciplina, as brigas e desavenças também marcaram os encontros iniciais. A partir do 4º encontro fomos percebendo pequenas mudanças de comportamento, a participação, motivação eram visíveis, as brigas e desavenças foram diminuindo. Ao final de cada encontro queriam saber quando seria o próximo.

    A pesquisa continuava e promovemos três encontros em situações diferentes, o primeiro realizado no pátio da escola, envolveu 04 crianças e 02 adolescentes praticantes de Taekwondo, uma forma de conhecerem o comportamento, os materiais utilizados nas práticas do esporte e as habilidades desses praticantes foi num final de semana, as crianças estavam um pouco inibidas, as atividades seguiram os mesmos procedimentos lúdicos já conhecidos, porém com a participação de crianças do Taekwondo que também auxiliavam nas atividades, orientando ou demonstrando os gestos e brincadeiras, o um menor número de alunos presentes, possibilitou melhor rendimento e atenção nas atividades desenvolvidas; o segundo encontro realizado na quadra de esportes do complexo municipal, foi com as crianças duas turmas de alfabetização do período da tarde, da própria escola, com idade média de 05 anos, já conhecida por eles, nesse encontro, tiveram oportunidade de mostrar as brincadeiras e gestos do Taekwondo que aprenderam, aos colegas convidados, e juntos passaram uma tarde brincando e mostrando a satisfação daquele momento.

    Não foi difícil contagiar as turmas convidadas, as professoras que se faziam presentes, relataram o quanto seus alunos estavam felizes com as atividades, inclusive aqueles mais tímidos que brincaram pra valer; num terceiro encontro, no mês de outubro quando a turma estava iniciando a 3ª fase da pesquisa, com um boa assimilação dos aspectos sociais que os encontros promoviam, decidimos dividir o grupo em dois sub-grupos, com auxilio da professora da turma, formamos os grupos, que foram realizar atividades em diferentes partes da quadra, foi mais fácil trabalhar assim, porém o entusiasmo da turma foi menor, eles sentiram falta do grupo.

    As atividades praticadas durante a pesquisa nos possibilitaram registrar e selecionar comportamentos, que nos deram a noção de como foi o processo evolutivo das crianças em razão dessas atividades, que assim descrevemos: a participação das crianças, começou de forma desinteressada, pouca participação, foram melhorando aos poucos, passaram a sugerir brincadeiras ou repeti-las, os desligados, tímidos e rebeldes foram se interessando aos poucos, a vontade de explorar o ambiente desapareceu, as atividades eram mais atrativas, finalmente a alegria se tornou uma constante durante os encontros; disciplina, era uma turma que se mostrava pouco obediente, temperamental, agressiva, que aos poucos foram se socializando, as atividades possibilitaram isso, passaram a mostrar que tinham sentimentos, que eram capazes de se arrepender, de sentir-se tristes.

    Fato marcante observado é que nunca pronunciaram um só palavrão durante os encontros; comportamento observado por terceiro, foi relatado pela professora, que as atividades mudaram o comportamento da turma, tornaram-se mais calmos, e dedicados as tarefas escolares e três crianças que não se relacionavam com as demais, passaram a sorrir, conversar e brincar: o lúdico, foi de extrema importância para a turma, não temos dúvida de que a atividade realizada de forma lúdica, sem cobrança de acertos, motiva a participação, extravasa energia e estimula a fantasia, confirmando assim a necessidade que a criança tem de brincar e que também se aprende brincando; entendimento das atividades, a cada nova tarefa apresentada houve a dificuldade no entendimento principalmente quando precisava formar grupos, tarefas que pareciam simples, as vezes, levava um tempo para serem realizada, foi ocorrendo uma adaptação, melhorando o interesse, a participação e o comportamento frente a tarefa apresentada; o Taekwondo, a forma lúdica como foi apresentado, facilitou o seu entendimento e não era pretensão ensinar a luta e sim os gestos que possibilitassem a sua prática futura.

Conclusão

    Quando nos propusemos realizar esta pesquisa, consideramos a necessidade de práticas lúdicas realizadas por crianças na Educação Infantil, práticas que verificamos que são ausentes em algumas escolas da cidade de Porto Velho-RO. Este fato nos possibilitou a contribuir, oferecendo as crianças possibilidades de viverem uma experiência motora capaz de provocar mudanças no seu comportamento e servir de base de conhecimento para o resto da vida.

    Realizamos no desenvolver da pesquisa um trabalho de forma lúdica que possibilitou o desenvolvimento motor das crianças, utilizando para isso o Taekwondo e as brincadeiras, como ferramentas para essa prática.

    Nosso objetivo foi alcançado ao realizarmos um estudo de vivências que veio a facilitar o aprendizado motor das crianças da Educação Infantil, através de atividades lúdicas utilizando os movimentos do Taekwondo. Tal objetivo foi alcançado, quando comprovamos ao final da pesquisa, mudanças significativas no comportamento das crianças, em que as práticas lúdicas foram responsáveis por tal resultado.

    Nosso problema estava na habilidade de concentração das crianças, pois é sabido que entre 04 e 06 anos, sua concentração se resume a 10 minutos, portanto, como as atividades lúdicas poderiam facilitar a aprendizagem motora, tendo como referência os movimentos de uma arte marcial ? A resposta veio da diversidade de práticas lúdicas apresentadas, da nossa disposição em participar, de se envolver com as práticas, de motivar a criança a todo instante, de administrar os imprevistos surgidos de forma dinâmica. Acreditamos que esses procedimentos possibilitaram a ampliação desse tempo, que em alguns encontros superou a expectativa, pois à medida que as crianças melhoravam seu aprendizado através das brincadeiras e dos movimentos de Taekwondo de forma lúdica, percebíamos o interesse deles por mais atividades, em média, esse tempo, no final da pesquisa oscilava em torno de 25 a 30 minutos.

    Ao respondermos nossas hipóteses, as consideramos verdadeiras, já que em H1: Existe um tempo necessário de aprendizagem do Taekwondo lúdico de uma criança na educação infantil, foi comprovado quando observamos que o comportamento individual das crianças nos indicou que na educação infantil, ela pode levar um certo tempo para a aprendizagem do Taekwondo, pois nessa fase, a criança aprende de forma individual, da sua maneira, considerando as experiências motoras e o interesse pela tarefa; em H2: Os movimentos mais adequados do Taekwondo, para a faixa etária na educação infantil, são os movimentos de baixa complexidade, verificamos que os movimentos mais adequados do Taekwondo, para a faixa etária na educação infantil, seguramente devem ser os movimentos básicos que são de baixa complexidade e que aplicados de maneira lúdica, facilitarão o aprendizado; em H3: Há brincadeiras adequadas para a faixa etária da Educação Infantil, observamos que as brincadeiras mais adequadas para essa faixa etária, serão aquelas com regras simples e flexíveis, de fácil execução e entendimento; em H4: escola realiza o lúdico durante as aulas verificamos que a hipótese é falsa já que a escola não realiza atividades lúdicas, nesta pesquisa mostramos a necessidade que as crianças têm dessa prática como forma de socialização e educação e em H5: A escola dispõe de profissionais habilitados para desenvolver atividades lúdicas, mostramos também que esta hipótese é considerada falsa já que a escola não possui profissional habilitado para desenvolver atividades lúdicas. A direção da escola, em razão dos benefícios que a pesquisa proporcionou nas crianças, viu a grande necessidade desse profissional na escola.

    Conclui-se, portanto, pela viabilidade da prática do Taekwondo enquanto desenvolvido através de atividades lúdicas para crianças que estão na Educação Infantil, mostrando que esta modalidade considerada como fomento a violência é na verdade uma ferramenta que deve ser bem utilizada na promoção do desenvolvimento da criança e que é capaz de promover vivências que irão facilitar o seu aprendizado, contribuindo desta forma para o desenvolvimento pleno.

Nota

  1. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, 1996.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 167 | Buenos Aires, Abril de 2012
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