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O esporte nas aulas de Educação Física: 

uma problemática na prática dos docentes

El deporte en las clases de Educación Física: una problemática en la práctica de los docentes

 

Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado

em Educação Física. Universidade Federal do Paraná

Centro de Pesquisa em Exercício e Esporte

da Universidade Federal do Paraná

Rafael Vieira Martins

rafa_rvm@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O esporte ao longo do tempo se tornou um fenômeno de grandes proporções sociais ganhando grande espaço principalmente no âmbito escolar. Por longa data, e se estendendo até os dias de hoje, as aulas de Educação Física passaram se destinar apenas para as práticas esportivas. Com isso grande parte dos profissionais da área se utilizaram apenas dos esportes como conteúdo hegemônico a ser trabalhado nos espaços escolares. Diante a esta problemática, o presente ensaio tem por objetivo realizar alguns apontamentos a cerca da Educação Física no âmbito escolar, bem como a forma com que grande parte dos professores tratam o esporte dentro deste espaço de ensino.

          Unitermos: Educação Física. Esporte. Professor de Educação Física.

 

Abstract
          Sports over time have become a major social phenomenon, which have been gaining wide area mainly in the school. Since long time, and extending to the present day, physical education classes have been intended only for sports. Thus, much of professionals have been used to working only with sports as hegemonic content in school spaces. On this issue, this paper aims to make some comments about physical education in schools, as well as the way that most teachers have been treating the sport in this area of education.

          Keywords: Physical Education. Sport. Physical Education Teacher.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Existe um grande reconhecimento dos profissionais da Educação Física quanto ao considerável prestígio que o esporte adquiriu ao longo do tempo. Este fenômeno passou a fazer parte de vários perímetros sociais a partir do século XX. Tendo em seu histórico, a dedicação, a dominação dos limites, a obediência às regras e outros aspectos que lhe são peculiares, o esporte foi e ainda é visto como uma ferramenta poderosa de superação tanto no âmbito social como no âmbito profissional (BETTI, 1999; BRACHT, 2000; BASSANI, TORRI e VAZ, 2003).

    Diversas são as formas de observar e interpretar o esporte. Para Tubino (2002), o esporte pode ser visto sob três óticas diferentes: esporte-educação, que tem como meta o caráter formativo; esporte-participação, na qual sua finalidade é o bem estar e participação do praticante; esporte-performance, objetivando o rendimento dentro de uma obediência rígida às regras e aos códigos existentes para cada modalidade esportiva.

    Com tal destaque, o esporte, com o passar do tempo e de forma natural, se fez presente nos espaços escolares e por conseqüência dentro das aulas de Educação Física (BARROSO e DARIDO, 2006).

    Podemos encontrar quase que de forma absoluta este fenômeno social presente nas aulas de Educação Física nas escolas contemporâneas. Obviamente é uma tradição vetusta presente desde o início do século passado e que não deve ser rejeitado enquanto conteúdo escolar, mas com certeza ressignificado e traduzido para um linguajar educacional referente a valores e ideologias inerentes do próprio fenômeno esportivo (BRACHT, 2000; BARROSO e DARIDO, 2006). Desta forma, o profissional da Educação Física passa a ter papel preponderante na utilização do esporte sob a ótica da educação e como conteúdo presente na Educação Física escolar, pois passa a ser o principal responsável, através da sua relevante prática pedagógica, a propiciar elementos que contribuam para a formação integral dos seus alunos. Entretanto, o esporte como conteúdo nas aulas de Educação Física é trabalhado sem nenhuma contextualização e sem uma construção de um senso crítico sobre suas diferentes manifestações (BETTI, 1999).

    Assim, o presente ensaio tem por objetivo realizar alguns apontamentos a cerca da Educação Física no âmbito escolar, bem como a forma com que grande parte dos professores tratam o esporte dentro deste espaço de ensino.

A Educação Física na escola

    Falar de Educação Física é falar de uma cultura corporal construída ao longo do tempo. Como afirma Daolio (1996): a Educação Física se constitui numa área de conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas ligadas ao corpo e ao movimento criado pelos homens ao longo da sua história: os jogos, as ginásticas, as lutas, as danças e os esportes.

    Dentro desta perspectiva de cultura corporal e acreditando que no espaço escolar estão presentes diferentes formas de saberes e que os mesmos são transmitidos por diferentes metodologias e conteúdos, a Educação Física como matéria obrigatória dentro do ensino básico, se encontra possibilitada em contribuir com esses saberes a serem lecionados. Entretanto, ao longo dos anos a sociedade, e por consequência os próprios professores da área, têm visto a Educação Física no âmbito escolar como uma prática corporal que deve se limitar apenas ao ensino do fenômeno esportivo como esporte rendimento (BARROSO e DARIDO, 2006; SANTOS e NISTA-PICCOLO, 2011).

    Quer seja pela ginástica, pelos jogos, pelas lutas, pelas danças e até mesmo pelos esportes, a missão da Educação Física, através do seu profissional, é buscar com afinco a melhor condição para transmitir os conhecimentos e os valores humanos, contribuindo de sobremaneira para a formação do aluno como cidadão sociopolítico, preparando-o para conviver com as mais distintas culturas e capaz de compreender e mudar a sociedade em que o mesmo se inclui (COLETIVO DE AUTORES, 1992; BARROSO e DARIDO, 2006).

O professor de Educação Física e o esporte na escola

    Trajar o esporte com um novo significado dentro da escola não se trata de uma tarefa com simples realização, muito pelo contrário, estamos falando de uma tradição historicamente construída e que faz parte do imaginário da sociedade e principalmente dos próprios alunos, que o tratam como um fenômeno baseado em resultados (alto rendimento) ou até mesmo a realização da sua prática apenas pela prática. Podemos observar este acontecimento em uma pesquisa feita por Caviglioli (1976), afirmando que aproximadamente 80% dos alunos entrevistados consideram a Educação Física sob uma ótica esportiva.

    Tal número com certeza se estende para os tempos atuais tendo em vista dois aspectos importantes: o primeiro deles diz respeito ao grande comércio esportivo que se criou ao longo do tempo e que se faz presente diariamente na mídia e por conseqüência no cotidiano e nos lares das pessoas; e o segundo o professor de Educação Física e a sua atuação nos espaços escolares.

    O professor que trata e que faz o uso dos saberes da Educação Física dentro do espaço escolar é o principal intermediador das diversas possibilidades de intervenções quer seja corporal, social, ou até mesmo cultural, advindas e existentes da própria Educação Física escolar. No espaço escolar se faz necessário um resgate sobre os valores que aforem os aspectos do coletivo sobre o individual no esporte, e que acima de tudo privilegiem o sentimento de solidariedade durante a sua prática (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

    A prática esportiva é tratada por um número considerável de professores como a própria Educação Física, ou seja, estes professores lecionam aulas que podemos denominar como “aulas de esportes” (futebol, handebol, voleibol e basquetebol) e não da Educação Física propriamente dita, com seus inúmeros e importantes conteúdos (BETTI, 1999).

    Como nos mostra Kunz (1989): O esporte passou a ser o conteúdo hegemônico da Educação Física. Sentidos tais como o expressivo, o criativo e o comunicativo, que se manifestam em outras atividades de movimento, não são explorados quando o conteúdo escolar é apenas o esportivo.

    Um dos fatores que contribuem para o ensino apenas do esporte e a negação de outros conteúdos da Educação Física escolar, é de que o professor sente-se seguro em aplicar aquilo que ele já vivenciou por diversas vezes. Não podemos negar que dentro dos cursos superiores de Educação Física pode-se encontrar diversos acadêmicos que optaram por este cargo profissional, justamente porque já tiveram uma vasta experiência na área esportiva ou porque ainda acham que a Educação Física é o ensino dos esportes. Além disso, é comum encontrar na grade curricular de diversos cursos de Educação Física os mais variados esportes como conteúdo. Desta forma, pode-se justificar a presença constante do esporte no espaço escolar, mesmo que o professor não tenha sido um exímio praticante de determinada modalidade, pois o simples fato deste professor vivenciar a prática esportiva por diversas vezes enquanto acadêmico, o faz sentir minimamente preparado para trabalhar com tal conteúdo em suas aulas na escola (ALVES, 2007). Ora, se este pensamento vem desde as áreas acadêmicas porque os alunos deixariam de querer praticar apenas esportes nas aulas de Educação Física?

    Esta concepção de Educação Física com o ensino apenas do esporte, se estende por longa data é verdade, mas em hipótese nenhuma deve ser um fator limitante para aqueles professores que iniciam suas carreiras na área sem se quer ter vivenciado uma prática esportiva. Muito pelo contrário, espera-se desses profissionais atitudes arrojadas e inovadoras para a abordagem da Educação Física no âmbito escolar.

    Outro aspecto que contribui para tal problematização é a não formação continuada do professorado após a conclusão do nível superior. Os professores de Educação Física, em sua grande parte, costumam acomodar-se perante algumas situações. Uma delas diz respeito às escolas que já possuem algumas culturas educacionais estabelecidas (e neste contexto citamos o ensino apenas do esporte), assim, os professores preferem continuar com o que foi pré-estabelecido, mesmo que a partir desta decisão estejam contrapondo-se aos princípios do ensino da Educação Física no espaço escolar (ALVES, 2007).

    Mas que conteúdos são esses que legitimam a Educação Física escolar? Não se trata de um ensaio que traz quais são e de como devem ser aplicadas às diversas práticas corporais durante as aulas. Mas, deve-se testificar que o professor que consegue dentro de suas aulas, utilizar-se de questões culturais e sociais para, a partir destas, colaborar com educação de seus alunos, com certeza estará desempenhando seu papel de educador com uma primazia apreciável. Além disso, o professor deve dentro dos seus limites propiciar um ensino que invista na formação do ser humano como um todo (BRACHT, 2000; BRACHT, 2003; BARROSO e DARIDO, 2006).

    Os saberes utilizados e transmitidos na Educação Física, através de seus diversos conteúdos, devem facultar ao indivíduo, que destes saberes se apropria, as mínimas condições de entender e intervir dentro da sociedade em que se insere (BARROSO e DARIDO, 2006).

    O próprio esporte pode certamente ir de encontro com as necessidades educacionais dos alunos. Sendo tratado de forma dinâmica e que possibilite passar pela compreensão e transformação do aluno, o esporte não só pode como deve ser trabalhado dentro das aulas de Educação Física (BRACHT, 2000; BARROSO e DARIDO, 2006).

    Refletir cotidianamente sobre sua ação docente, a fim de fomentar e justificar a importância da utilização do esporte como um meio para se chegar à educação, é um dos primeiros e mais importantes passos que um professor de Educação Física deve efetivar durante suas aulas (SILVA, 2004; SANTOS e NISTA-PICCOLO, 2011).

Considerações finais

    O esporte é sim um conteúdo da Educação Física escolar, mas está longe de ser o único. Portanto, é a partir do olhar do professor que se encontra a possibilidade de mudança deste paradigma presente no universo educacional.

    O professor como principal intermediador deste conteúdo na escola, não deve priorizar o ensino do esporte com um fim em si mesmo, mas sim, utilizar-se do esporte como um meio para se chegar à educação e formação do aluno.

    Desta forma, este professor estará justificando e valorizando a real significância da presença do esporte na escola, além é claro, de poder transferir esta atitude para os demais conteúdos existentes na Educação Física escolar. Certamente com estas atitudes arguciosas o professor fará jus ao seu verdadeiro e indispensável papel de educador.

Referências bibliográficas

  • ALVES, U. S. Não ao sedentarismo, sim à saúde: contribuições da Educação Física escolar e dos esportes. O Mundo da Saúde, v. 31; n4; p. 464-469; 2007.

  • BARROSO, A. L. R. DARIDO, S. C. Escola, Educação Física e esporte: possibilidades pedagógicas. Revista Brasileira de Educação Física, Esporte, Lazer e Dança. v. 1; n. 4; p. 101-114; 2006.

  • BASSANI, J. B. TORRI, D. VAZ, A. F. Sobre a presença do esporte na escola: paradoxos e ambigüidades. Revista Movimento. v. 09; n. 2; p. 89-112; 2003.

  • BETTI, I. C. R. Esporte na escola: mas é só isso, professor? Motriz. v. 1, n. 1; p.25-31; 1999.

  • BRACHT, V. Esporte na escola e esporte de rendimento. Revista Movimento. v. 6, n. 12; p. 14-24; 2000.

  • BRACHT, V. A política de esporte escolar no Brasil: a pseudovalorização da Educação Física. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. v. 24; n. 3; p. 87-101; 2003.

  • CAVIGLIOLI, B. Sport et adolescents. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin, 1976.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

  • DAOLIO, J. Educação física escolar: em busca da pluralidade. Revista Paulista de Educação Física. supl. 2; p. 40-42; 1996.

  • KUNZ, E. O esporte enquanto fator determinante da Educação Física. Contexto e Educação. v.15; p.63-73; 1989.

  • SANTOS, M. A. G. N. NISTA-PICCOLO, V. L. O esporte e o ensino médio: a visão dos professores de Educação Física da rede pública. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte. v. 25; n. 1; p. 65-78; 2011.

  • SILVA, A, W. O esporte enquanto elemento educacional. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 10, N° 79; 2004. http://www.efdeportes.com/efd79/esporte.htm

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