Breves considerações sobre o desenvolvimento do voleibol brasileiro Breves consideraciones sobre el desarrollo del voleibol brasileño Brief considerations on the development of Brazilian volleyball |
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Doutor em Biologia Funcional e Molecular Departamento de Bioquímica, Instituto de Biologia Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP |
Joaquim Maria Ferreira Antunes Neto (Brasil) |
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Resumo O desenvolvimento do voleibol brasileiro é fruto de um processo organizacional jamais visto na história do esporte do país. Por meio de um projeto integrado, considerando quesitos físico-estruturais e de suporte ao treinamento e detecção de talentos, todas as seleções brasileiras de voleibol possuem resultados de relevância no cenário internacional. O objetivo deste trabalho é apresentar, também, como houve evolução, sobretudo, na proximidade das características antropométricas dos atletas das seleções de base em relação às seleções adultas. Unitermos: Voleibol. Treinamento. Antropometria. Desempenho. Organização esportiva.
Abstract The development of the Brazilian volleyball is the result of an organizational process unprecedented in the history of sport in the country. Through an integrated design, considering physical and structural supports and strategies for training and detection of talents, all Brazilian volleyball teams have relevance in results in international competitions. The aim of this work is also to present the progress especially in proximity of anthropometric characteristics of athletes, considering the junior/youth and adult teams. Keywords: Volleyball. Training. Anthropometry. Performance. Sports organization.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Confederação Brasileira de Voleibol (CBV) é a entidade esportiva autorizada pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB) a desenvolver e incentivar a prática do voleibol competitivo no Brasil. Especificamente para as categorias menores, além da participação nas competições internacionais, a CBV justifica o investimento pela necessidade de descoberta de talentos para os clubes e também para as seleções brasileiras adultas (Anfilo, Shigunov, 2004). Nos últimos anos, todas as categorias representativas da CBV, tanto das equipes masculinas e femininas, destacaram-se em campeonatos sul-americanos, pan-americanos, mundiais e Jogos Olímpicos. Os resultados têm a ver com aspectos relativos à organização dos centros de treinamento e assistência profissional aos atletas, bem como a estruturação de equipes técnicas supervisoras para detecção e suporte dos novos talentos.
No dia 10 de outubro de 2001, a Confederação Brasileira de Voleibol deu o saque inicial para um projeto inédito no mundo do voleibol, com a parceria do Governo Federal, do Ministério de Esportes e Turismo e da Prefeitura de Saquarema, o lançamento do projeto do Centro de Desenvolvimento de Voleibol – Saquarema. Em 25 de agosto de 2003, uma grande festa marcou a inauguração do centro, construído em uma área de 108 mil m². O objetivo principal do complexo é concentrar em um só local todas as instalações e equipamentos necessários para o treinamento de equipes esportivas, tendo em vista a formação, o desenvolvimento e a reciclagem de recursos humanos. O Centro de Desenvolvimento de Voleibol – Saquarema também tem como objetivo otimizar o programa de treinamento das seleções brasileiras em todas as suas categorias, promovendo uma maior integração entre as comissões técnicas e possibilitando uma maior interação entre os planejamentos. O projeto conta ainda com atendimento ao público por meio de ações sociais em suas dependências, além de promover cursos de formação e reciclagem de árbitros, treinadores, dirigentes e profissionais do esporte (Confederação Brasileira de Voleibol, 2012).
Também são disponibilizados recursos materiais apropriados à realização de cursos, pesquisas e seminários. Entre as dependências do Centro de Desenvolvimento de Voleibol – Saquarema, os atletas e comissões técnicas têm à sua disposição: capacidade de hotelaria para até 173 leitos; acesso internet wi-fi com cobertura em todo o complexo; 4 quadras indoor de duplas que podem virar 8 quadras de treinamentos; 4 quadras para vôlei de praia; 2 campos de futebol; 1 campo society e um campo de grama natural com dimensões oficiais; 2 quadras de tênis; 1 piscina semi-olímpica; 1 piscina infantil; 800 m2 de sala de musculação e fisioterapia; sala médica equipada para avaliação física; sala de pesquisa com equipamentos modernos para preparação física; sauna seca e sauna a vapor; 2 espaços para hidromassagens; auditório com capacidade para até 300 pessoas com todos os equipamentos áudio-visuais necessários; restaurante; museu do vôlei; sala de televisão; salão de jogos; barcos a remo; estacionamento; bureau de impressão de merchandising (Confederação Brasileira de Voleibol, 2012).
O objetivo deste estudo é mostrar como as categorias de base do voleibol brasileiro, masculino e feminino, do ponto de vista antropométrico, confrontam-se com as equipes adultas. Tal confronto tornou-se possível em virtude da organização regida, em todos os aspectos, pela CBV, em prol da detecção de talentos. Isso permite visualizar que o Brasil, reconhecido pela versatilidade de seus jogadores, prepara-se para o novo contexto mundial: atletas altos, porém talentosos.
Metodologia
Sujeitos. Foram analisados a estatura (metro), idade e títulos obtidos pelas seleções brasileiras de voleibol de base nos últimos anos. Os dados foram obtidos por análise dos atletas pertencentes ao quadro da CBV (Confederação Brasileira de Voleibol, 2012). Quanto à idade, obtivemos:
Tabela 1. Idade (média±desvio padrão) das seleções brasileiras de voleibol.
Análises estatísticas: Os gráficos foram realizados pelo programa Origin 6.0 e o tratamento estatístico por meio do programa GraphPad Instat® (San Diego, CA). Utilizamos o teste ANOVA para amostras pareadas e, como pós-teste, foi adotado o teste de Tukey. Valores de P < 0.05 foram considerados significativos. O teste de correlação foi predito pelo coeficiente de correlação de Pearson.
Resultados
Figura 1. Estatura (metro; média±desvio-padrão) das seleções femininas adulta, juvenil, infanto-juvenil e infantil,
conforme dados informados pela Confederação Brasileira de Voleibol (n=12 para cada seleção analisada)
A Figura 1 apresenta média±desvio-padrão da estatura das 12 jogadoras mais altas pertencentes a cada seleção (no caso da seleção adulta, considerou-se as jogadoras convocados da última Copa do Mundo). Não se levou em consideração a estatura das líberos. Os resultados obtidos foram: seleção adulta (1,858±0,046 metro) seleção juvenil (1,855±0,037 metro); seleção infanto-juvenil (1,854±0,034 metro); seleção infantil (1,842±0,046 metro). Não houve diferença significativa entre as seleções (p>0.05).
Figura 2. Estatura (metro; média±desvio-padrão) das seleções masculinas adulta, juvenil, infanto-juvenil e infantil,
conforme dados informados pela Confederação Brasileira de Voleibol (n=12 para cada seleção analisada)
A Figura 2 apresenta média±desvio-padrão da estatura dos 12 jogadores mais altos pertencentes a cada seleção (no caso da seleção adulta, considerou-se os jogadores convocados da última Copa do Mundo). Não se levou em consideração a estatura dos líberos. Os resultados obtidos foram: seleção adulta (1,992±0,074 metro) seleção juvenil (2,00±0,036 metros); seleção infanto-juvenil (1,976±0,049 metro); seleção infantil (1,965±0,030 metro). Não houve diferença significativa entre as seleções (p>0.05).
Tabela 2. Resultados das seleções brasileiras femininas de voleibol em competições internacionais
na última década (para as seleções adultas consideramos as duas últimas competições)
Se levarmos em consideração outras competições importantes, tais como Copa do Mundo, World Grand Prix, Copa dos Campeões, Final Four, Jogos Pan-Americanos e Montreaux Volley Master, a seleção brasileira adulta aparece, na maioria dos torneios, ocupando posições no pódio.
Tabela 3. Resultados das seleções brasileiras masculinas de voleibol em competições internacionais
na última década (para as seleções adultas consideramos as duas últimas competições)
Se levarmos em consideração outras competições importantes, tais como Copa do Mundo, Liga Mundial, Copa dos Campeões, Copa América e Jogos Pan-Americanos, a seleção brasileira adulta aparece, na maioria dos torneios, ocupando posições no pódio.
Discussão
Em estudo voltado para análise da categoria infanto-juvenil masculina, Anfilo e Shigunov (2004) verificaram que a comissão técnica seguia critérios rígidos e coerentes de acordo com os parâmetros internacionais já estabelecidos: levar em conta a estatura do atleta, capacidade de salto, velocidade de deslocamento e condição técnica. O estudo citado ainda observou que além dos fatores antropométricos, condicionantes, técnico-coordenativos, tático-cognitivos e psicológicos, os atletas convocados para o Campeonato Mundial da Juventude, em 2004, também foram escolhidos por capacidade de liderança, espírito de equipe, coragem e determinação. Tais características e atitudes parecem prevalecer para a formação de todas as equipes de base. Os dados das Tabelas 2 e 3, referentes aos resultados em competições internacionais, mostram que as seleções de base já possuem o mesmo padrão vitorioso que as seleções adultas têm apresentado nas últimas duas décadas.
Ainda considerando fatores físicos, Carter e Heath (1990) e Duquet e Carter (1996) sugerem que o somatotipo ideal varia de acordo com o desporto e função desempenhada. Apesar da estatura e tipo físico não serem os únicos elementos necessários para a escolha de um atleta, eles podem representar importantes pré-requisitos para se atingir o sucesso em um determinado esporte. Da mesma forma, Gualdi-Russo e Zaccarigni (2001) assumem que as características antropométricas de um atleta podem predizer, de certa forma, o seu nível de performance, ao mesmo tempo que podem determinar o tipo físico mais apropriado para um esporte específico. Complementando, a análise do somatotipo poderia fornecer um quadro descritivo das características antropométricas de um atleta voltado para o rendimento (Zary, 2004).
Medina (2000), no início do processo vitorioso do voleibol brasileiro, relatou que a modalidade revela-se eficiente ao congregar em sua práxis um conjunto de ações técnicas, táticas e motoras que levava seu também a um desenvolvimento social. Tais instâncias são geradas não só em suas bases práticas, mas também pelo conhecimento teórico e sendo que, ambos, empirismo e teoria, determinavam uma melhor performance ao atleta.
Percebe-se claramente que a efetiva organização técnico-estrutural do voleibol brasileiro reflete nos resultados obtidos pelas categorias de base, tornando-as referências mundiais tais como as seleções adultas. A médio-prazo, o Brasil conseguiu, pelo fato desta organização, disponibilizar as mesmas condições de treinamento e preparação para todas as suas seleções. Diferente do que se observa para o Futebol, onde os resultados das seleções femininas são frutos da sorte e do acaso, pois há uma política restrita organizacional voltada para as categorias masculinas, o voleibol permitiu que os avanços em tecnologia do treinamento desportivo fossem socializados para todas as suas seleções.
Fator importante é observado no quesito antropométrico (Figuras 1 e 2), pois não há diferença significativa estatística entre quaisquer seleções, da base ao adulto. A média de estatura das seleções adultas masculina e feminina é de 1,858±0,046 metro e 1,992±0,074 metro, respectivamente; vendo as estaturas das seleções menores, infantil, (feminina = 1,842±0,046 metro; masculina = 1,965±0,030 metro), fica evidente que em prazo mínimo tais atletas superarão as estaturas das seleções adultas. Considera-se, aqui, que os atletas infantis situam-se no ápice do pico do processo de crescimento e desenvolvimento (15-16 anos), o que confirma nossa premissa. Esta mesma análise já é realidade, sobretudo, para a categoria masculina, pois a média de estatura da equipe juvenil (2,00±0,036 metros) já supera a da equipe adulta. No feminino, as seleções infanto-juvenil e juvenil possuem a mesma média de estatura da seleção adulta, que é de 1,85 metro. Há de ressaltar, por fim, que as seleções infantis são formadas e concebidas em programas de detecção de talentos. Poucas são as competições para esta categoria do ponto de vista internacional, mas no Brasil elas passam a conviver com a estrutura e rotina que logo serão delegadas a ela.
Considerações finais
O padrão de qualidade e excelência nas estruturas de treinamento da CBV revelou-se um modelo vitorioso, colocando no mesmo patamar de rendimento e conquistas todas as suas seleções, das categorias de base à adulta, seja no masculino e no feminino. Considerando os esportes coletivos no Brasil, este é o único modelo implantado e que, curiosamente, não se expande para as demais modalidades. O que se espera é que com os Jogos Olímpicos do Rio, em 2016, onde milhões de reais deverão ser investidos nas diversas modalidades esportivas, bem como o momento econômico favorável do Brasil, os dirigentes esportivos, em geral, levem em consideração o projeto adotado pelo voleibol.
Referências bibliográficas
ANFILO MA, SHIGUNOV V. Reflexões sobre o processo de seleção e preparação de equipes: o caso da seleção brasileira masculina de voleibol infanto-juvenil. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, v.06, n. 01, p. 17-25, 2004.
CARTER JEL, HEATH BH. Somatotyping: development and applications. Melksham: Cambridge University Press, 1990.
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE VOLEIBOL (2012). Disponível em: www.cbv.com.br.
DUQUET W, CARTER JEL. Kineantropometry and exercise physiology laboratory manual. London: E & FN Spon, 1996.
GUALDI-RUSSO E, ZACCAGNI L. Somatotype, role and performance in elite volleyball players. Journal of Sports Medicine and Physical Fitness, v. 41, p. 256-262, 2001.
MEDINA MF. Identificação dos perfis genético e somatotípico que caracterizam atletas de voleibol masculino adulto de alto rendimento no Brasil. 2000. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Universidade Castelo Branco.
ZARY JCF, SALLES NETTO JI, FERNANDES FILHO J, OLYNTHO J. Perfil somatotípico dos atletas de voleibol masculino do Brasil participantes dos Jogos Olímpicos de Atenas – 2004. Revista de Educação Física, n. 129, p. 37-40, 2004.
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