Nível socioeconômico e grau de escolaridade: relação com as oportunidades para o desenvolvimento infantil Nivel socioeconómico y grado de escolaridade: relación con las oportunidades para el desarrollo infantil |
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*Fisioterapeuta formada pela Universidade de Passo Fundo, RS **Acadêmica Fisioterapia Universidade de Passo Fundo. Bolsista PIBIC/UPF ***Docente mestre da Faculdade de Fisioterapia da Universidade de Passo Fundo Estudo realizado na Universidade de Passo Fundo, RS (Brasil) |
Kellen Cristine Chiarentin* Eluisa Cadore* Amanda Sachetti** Sheila Gemelli de Oliveira*** Janaína Cardoso Costa Schiavinato*** |
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Resumo Há na literatura um consenso sobre a influência dos estímulos ambientais no desenvolvimento motor das crianças. O presente estudo tem como objetivo analisar as oportunidades para o desenvolvimento motor em ambientes domésticos de diferentes níveis socioeconômicos de 30 crianças freqüentadoras de uma creche municipal localizada na cidade de Marau-RS. Os dados do estudo foram colhidos a partir das respostas ao questionário Affordances in the Home Environment for Motor Development (AHEMD, 18-42 meses). Para a analise dos dados foi usado o teste ANOVA onde houve diferença significativa entre os grupos do questionário. Os resultados do estudo mostram uma prevalência de inadequação das estruturas arquitetônicas das residências e a inexistência de materiais que estimulem a motricidade grossa e motricidade fina das crianças. Os resultados obtidos no estudo estão diretamente ligados ao grau de escolaridade e renda mensal dos pais entrevistados no período de abril a maio de 2011. Unitermos: Ambiente. Desenvolvimento infantil. Classe social.
Abstract There is a consensus in the literature on the influence of environmental stimuli on the motor development of children. The present study aims to analyze the opportunities for motor development in homes of different socioeconomic status in 30 children attending a local nursery in the city of Marau-RS. The study data were collected from the questionnaire responses Affordances in the Home Environment for Motor Development (AHEMD, 18-42 months). For data analysis ANOVA test was used where there was significant difference between groups in the questionnaire. The study results show a prevalence of inadequate architectural structures of homes and the lack of materials that encourage fine motor and gross motor skills of children. The results obtained in this study are directly related to educational level and monthly income of the parents interviewed in the period from April to May 2011. Keywords: Environment. Child development. Social class.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente existe um consenso sobre desenvolvimento humano, que afirma que o mesmo se dá a partir de uma constante interação das características do individuo com o ambiente em que se encontram inseridos. Segundo RODRIGUES (2007), os aspectos individuais e as características socioeconômicas e culturais contextualizadas pelo ambiente, bem como as tarefas que são realizadas nos diferentes contextos, são determinantes no processo de desenvolvimento motor.
O ambiente no qual a criança está inserida é importante para seu desenvolvimento físico, quanto mais experiências motora a criança vivenciar, maior e melhor será o seu repertorio motor. Diferenças no desenvolvimento motor em crianças provenientes de diferentes níveis socioeconômicos têm sido analisadas em pesquisas (MARTINS e SYMANSKI, 2004). As quais têm mostrado relevante enfatizar que as posições socioeconômicas e o nível de escolaridade dos pais juntamente com os diversos ambientes proporcionados através destas, interferem significativamente no desenvolvimento motor infantil. As crianças as quais a famílias podem oportunizar praticas de tarefas especificas, conseqüentemente repercutirá positivamente no seu desenvolvimento motor.
Segundo HAYWOOD (2004), dentre as principais causas de atraso motor encontram-se: baixas condições sócio-econômicas, nível educacional precário dos pais, baixo peso ao nascer, distúrbios cardiovasculares, respiratórios e neurológicos, infecções neonatais, desnutrição e prematuridade. Quanto maior o número de fatores de risco atuante, maior será a possibilidade do comprometimento do desenvolvimento da criança.
O desenvolvimento motor é considerado como um processo sequencial contínuo e relacionado à idade cronológica, pelo qual o ser humano adquire uma enorme quantidade de habilidades motoras, as quais progridem de movimentos simples e desorganizados para a execução de habilidades altamente organizadas e complexas (GOLDBERG 2002).
Entende-se, assim, que tão importante quanto à organização estrutural do ambiente físico e a presença de um agente mediador que facilite o processo de desenvolvimento. Segundo BRONFENBRENNER (2000), agente mediador e todo aquele individuo: criança ou adulto, dotado de conhecimento ou experiência em uma dada tarefa que ao estabelecer uma relação e capaz de promover o desenvolvimento de outro individuo.
GOBBI (2003) e LIMA (2001) afirmam que fatores como o nível sócio econômico, grau de escolaridade, a tipologia dos espaços existentes nas casas, os tipos de solos, a variedade de brinquedos e objetos, a roupa que usa a presença ou não de irmãos, as praticas dos parentes ou de pessoas que vivem no ambiente da criança, entre outros, constituem fatores intervenientes nas oportunidades que conferem desafios ao individuo em desenvolvimento.
Partindo do conceito utilizado por RODRIGUES e GABBARD (2007), para denominar as oportunidades que conferem desafios ao individuo em desenvolvimento, as ações promovidas em resposta aos estímulos podem subsidiar a formação do repertorio motor da criança e, considerando as disparidades socioeconômicas presentes no município de Marau, Rio Grande do Sul, o presente estudo teve por objetivo comparar a relação entre nível sócio econômico, grau de escolaridade com o desenvolvimento motor de crianças entre 18 e 42 meses através do questionário Affordances in the home Environment for Motor Development (AHEMD), disponível no endereço eletrônico (http://www.ese.ipvc.pt/dmh/AHEMD/ahemd.htm).
Método
Esta pesquisa se caracteriza como sendo um estudo descritivo, transversal, prospectivo e de campo. Constitui-se de uma amostra com 30 crianças entre 18 a 42 meses, de ambos os sexos (18 do sexo feminino e 12 do sexo masculino), de diferentes níveis socioeconômicos, que freqüentavam uma creche municipal e que residiam na cidade de Marau- RS. O contato inicial com os entrevistados se deu através de uma reunião onde foi dada uma explicação em relação ao questionário, deixando o responsável ciente da liberdade de escolha entra participar ou não da pesquisa. Durante os meses de abril e maio do ano de 2011, no horário de saída dos alunos da creche (17h30min às 18h00min) os examinadores aplicaram o questionário aos representantes legais das crianças, de forma clara e objetiva, não estipulando tempo de respostas. O instrumento utilizado para avaliar o nível de oportunidades para o desenvolvimento motor das crianças foi o questionário Affordances in the Home Enviroment for Motor Development (AHEMD) 18-42 meses. Trata-se de um questionário que foi validado para o Brasil em 2009; possui a parte inicial destinada à identificação das características da criança e da família, e 67 perguntas relacionadas ao ambiente familiar, sendo dividido em cinco sub-escalas: espaço exterior, espaço interior, variedade de estimulação, material de motricidade fina e material de motricidade grossa. Após a aplicação do questionário, os dados coletados foram introduzidos e classificados com o auxílio de uma aplicação do programa Microsoft Excel (AHEMD Calculador VPBETA1. 5.xls), construído pelos idealizadores do Projeto AHEMD e disponibilizado no endereço eletrônico (http://www.ese.ipvc.pt/dmh/AHEMD/ahemd.htm).
Para melhor comparação e a fim de verificar possíveis influências do fator econômico sobre aspectos relacionados ao desenvolvimento motor das crianças, o estudo foi dividido em dois grupos: Grupo A- indica a escolaridade dos responsáveis legais (1ª a 4ª serie, 5ª a 8ª serie, Ensino Médio, Curso Superior, Mestrado ou Doutorado); e o Grupo B - indica a renda familiar (menos de R$1.000,00, R$1.000,00 a R$1.500,00, R$1.500,00 a R$2.500,00, R$2.500,00 a R$3.500,00, R$3.500,00 a R$5.000,00 e R$5.000,00 ou mais).
Para esta pesquisa foi utilizado o pacote estatístico SPSS 10.0 e Windows Microsoft Excel. Foram analisadas a estatísticas descritivas como freqüência, média e desvio-padrão, também as análises exploratórias como: Figuras e Tabelas entre as variáveis, foram utilizados os testes de Correlação de Pearson, Qui-quadrado e ANOVA, admitindo ser significativo quando o p-value for inferior a 0,05.
Resultados
A seguir são apresentadas as tabelas referentes aos resultados obtidos nesta pesquisa.
Tabela 1. Analise de freqüência referente ao sexo
Tabela 2. Valor estandardizado com relação à escolaridade e renda da mãe
Tabela 3. Valor estandardizado com relação à escolaridade e renda do pai
Tabela 4. Valor estandardizado com relação à renda x motricidade fina
Tabela 5. Valor estandardizado com relação à renda x motricidade grossa
Tabela 6. Valor estandardizado com relação ao sexo x espaço exterior
Na tabela 1, é apresentada a freqüência com relação ao sexo das crianças. Mostra-se uma pequena diferença, havendo mais crianças do sexo feminino (60,0%) do que do sexo masculino (40,0%). No estudo de LUCENA et al (2010), que avaliava o desenvolvimento psicomotor de 74 crianças entre 9 e 12 anos da rede publica e privada de ensino, também foi encontrada uma maior prevalência do sexo feminino (38 meninas e 36 meninos).
As tabelas 2 e 3 dizem respeito ao grau de escolaridade e renda dos pais, onde, o valor do p= 0,002 para escolaridade e renda da mae e p=0,000 para escolaridade e renda do pai, mostrando ser estatisticamente significativos. Pode-se perceber através dos dados obtidos que quanto maior a escolaridade do pai e da mãe, maior será a renda familiar. Este resultado pode ser comparado ao estudo de RODRIGUES e GABBARD (2007), onde se comprova que o nível econômico é determinante nas melhores condições de escolaridade dos tutores, registrando-se, inclusive, diferenças significativas a favor dos pais e das mães de lares com maior renda. O estudo revela, também, uma tendência evidenciada na literatura, apontando para um melhor nível de escolaridade das mulheres, independentemente do nível econômico. Essas informações parecem ser pertinentes, uma vez que as características do agente mediador constituem um fator determinante na qualidade dos estímulos favorecedores do desenvolvimento, indo a favor dos dados obtidos neste estudo.
A escolaridade dos pais esta intimamente ligada à condição socioeconômica dos mesmos. E ela que influencia a moradia, saúde e educação do ser humano, influencia ainda na rotina de toda a família, pois em muitos casos há necessidade de que todos os integrantes de uma casa criem maiores responsabilidades: os pais visando garantir o sustento da casa e das crianças (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Os resultados deste estudo fortalecem a conclusão de AERTS (2006), que através de um estudo transversal com 3389 crianças de 0 a 59 meses de idade, em Porto Alegre, RS, encontrou maior risco de retardo de crescimento e desenvolvimento nas crianças cujas famílias tinham uma baixa inserção socioeconômica, representada principalmente pela baixa renda associada à baixa escolaridade dos pais.
A tabela 4 mostra que quanto maior a renda familiar, maior o estimulo de motricidade fina com p= 0,010. A tabela 5 mostra que quanto maior a renda familiar, maior será o estimulo para motricidade grossa com p= 0,001, mostrando que p é estatisticamente significativo. Os resultados obtidos foram preocupantes, onde a maioria dos pais apresentam índice “muito fraco” tanto para motricidade fina quanto para motricidade grossa podendo levar-se em conta também que a maioria dos pais que apresentaram escore “muito fraco” fazem parte da maioria que possui renda inferior a R$1.000,00. Os resultados vão de encontro ao estudo de MULLER (2008) e NOBRE (2009), que mostra preocupantes resultados quando se trata de materiais que estimulam o desenvolvimento da motricidade, onde 99% e 100% dos participantes do estudo não atenderam ao critério de referencia para os materiais que promovem o desenvolvimento da motricidade grossa; 99% e 96,2% dos participantes apresentaram classificação fraca e muito fraca no que diz respeito aos materiais que objetivam desenvolver a motricidade fina. Segundo SCHOBERT (2008), estes resultados vão a favor do estudo que evidenciou nas escalas da AHEMD as piores classificações: 88% e 100% das residências não atendem aos critérios propostos pelo AHEMD para materiais de motricidade fina e grossa respectivamente. Esta precariedade de estímulos relacionados à motricidade fina e grossa pode afetar o desenvolvimento motor infantil baseando-se no fato de que as famílias com maior renda teriam maiores condições de adquirir materiais que estimulem diretamente o desenvolvimento da criança.
A tabela 6 mostra a referencia entre o sexo das crianças e o espaço exterior, onde os meninos possuem maior escore de espaço exterior com p=0, 046 mostrando ser estatisticamente significativo. Pode-se observar que a maioria das crianças apresenta escore “muito fraco”, “fraco” e “bom”. O estudo de SCHIAVINATO e PEDROSO (2010) mostrou que a prática maior de atividades físicas e também o uso de espaços públicos é maior no gênero masculino que no feminino.
Conclusão
Foi possível constatar que mesmo as famílias que apresentaram maior grau de escolaridade e conseqüentemente maior renda mensal ainda não se enquadraram em uma classificação aceitável para tal variável. Levando-se em conta o numero restrito de pacientes para o estudo, sugerem-se trabalhos futuros baseados em uma amostragem maior, possibilitando assim maior credibilidade dos resultados.
Referencias
AERTS, DRGC. O retardo no crescimento e seus determinantes: o caso de Porto Alegre. Porto Alegre: Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2006
BRONFENBRENNER, U.; MORRIS, P. A. The Ecology of Developmental Process. Lisboa: Faculdade de Medicina, 2000.
GOLDBERG, C., SANT A.V. Desenvolvimento motor normal. In: Tecklin JS. Fisioterapia Pediátrica. São Paulo: Artmed; 2002. 13-34.
GOBBI, L.T.B.; MENUCHI, M.R.T.P.; UEHARA, E.T.; SILVA J.J. Influencia da informação proprioceptiva em tarefa locomotora com alta demanda de equilíbrio em crianças. Ver. Bras. De Ci. e Mov. v.11, n.4, p. 79-86, 2003.
HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. Desenvolvimento Motor ao longo da vida. 3ed, Porto Alegre, 2004. P. 18-21
LIMA, C. B.; SECCO, C.R.; MIASIKE V. S.; GOBBI, L. T. B. Equilíbrio dinâmico: influencia das restrições ambientais. Revista Brasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano. 2001; 3(1): 83-94
LUCENA, N. M. G. et al. Relação entre perfil psicomotor e estilo de vida de crianças de escolas do município de João Pessoa, PB. Revista Fisioterapia e Pesquisa, 2010.
MARTINS, E.; SZYMANSKI, H. A abordagem ecológica de Urie Bronfenbrenner em estudos com famílias. Estud. Pesqui. Psicol., 2004.
MULLER, A. B. Efeitos da intervenção motora em diferentes contextos no desenvolvimento da criança com atraso motor. Porto Alegre, 2008
NOBRE, F. S. S. et al. Analise das oportunidades para o desenvolvimento motor (affordances) em ambientes domésticos no Ceara – Brasil. Rev. Bras. Crescimento Desenvolv. Hum. 2009;19(1):9-18.
PAPALIA, E. D.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. ed.8 Porto Alegre: Artmed, 2006.
RODRIGUES, L.; GABBARD, C. Influencia das oportunidades de estimulação motora presentes na casa familiar nos níveis de desempenho motor de crianças ate 42 meses. 2º Congresso Internacional de Aprendizagem na Educação de Infância, 2007.
SCHOBERT, L. O desenvolvimento motor de bebes em creches: um olhar sobre diferentes contextos. Porto Alegre, 2008.
SCHIAVINATO, J.; PEDROSO J. Praticas de atividades físicas e hábitos alimentares entre alunos de uma escola privada de Carazinho-RS. CONEFF, 2010.
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