Ludicidade: um resgate na história do brincar Ludicidad: un rescate en la historia del jugar |
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*Doutoranda em Educação, UFSM. Prof. da Universidade de Cruz Alta **Especialista em Psicopedagogia. Oficial do Exército Brasileiro Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas, EASA ***Pedagoga formada na Universidade
de Cruz Alta |
Vaneza Cauduro Peranzoni* Lincoln Nogueira Andrade** Adriane Zanetti*** |
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Resumo Através desta pesquisa pretendeu-se investigar a importância dos jogos e da ludicidade no processo ensino aprendizagem das crianças. O lúdico está presente no dia-a-dia da criança, contribuindo para o seu desenvolvimento integral, sendo uma atividade vital, que possibilita a ela conhecer a si mesma e formar conceitos sobre o mundo. Sendo o lúdico algo que toda criança gosta, acaba virando um recurso a mais para o educador transformar sua aula mais prazerosa, atraente e uma forma gostosa de aprender. Cabe à escola, procurar cada vez mais reformular e ampliar seus programas e seus objetivos de currículo incluindo essa forma das aulas serem dinamizadas. Dessa maneira esse estudo teve por finalidade analisar a importância da ludicidade fazer parte no dia-a-dia do currículo escolar. Unitermos: Jogo. Brinquedo. Brincadeira.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Para entender e compreender a originalidade dos jogos tradicionais infantis é necessário uma pesquisa bibliográfica em cima das raízes folclóricas que são consideradas responsáveis pelo surgimento.
Com a mistura de três raças que teve a determinação da origem brasileira. A mistura do índio, do negro ao branco, que fez prevalecer como núcleo primitivo para a formação da nacionalidade brasileira. Quando os estrangeiros chegaram ao Brasil já existia o núcleo primitivo da população no qual eram índios.
Segundo Kishimoto (1998, p. 17-18):
Foi graças a esse cruzamento, estimulado pela ausência de preconceitos raciais, que no Brasil se misturaram as raças brancas, ameríndias e africanas na formação do povo brasileiro. Posteriormente, continuou o cruzamento com povos europeus e asiáticos, produzindo a grande heterogeneidade da composição populacional de hoje em dia.
Foi com a mistura de raças que surgiu o folclore, que com o passar dos anos foi ganhando novas cores, novos caminhos, novo estilo. Foi com os primeiros colonizadores que surgiu o folclore lusitano, junto também surgiram os contos, valores, lendas, superstições, festas, jogos e histórias. Devido à ampla miscigenação étnica a partir do primeiro grupo de colonizadores, ficou difícil saber a contribuição especifica de índios, brancos e negros nos jogos tradicionais infantis atuais do Brasil.
Segundo Kishimoto (1998, p.18):
Essa tradição milenar do folclore transmitido pela oralidade de personagens anônimos pode ser constatada na veiculação dos jogos tradicionais infantis como a pipa. Introduzida no Maranhão pelos portugueses no século XVI, a pipa parece ter procedência oriental.
Um dos primeiros brinquedos a ser inventado foi à pipa, mas foi usada primeiramente pelos adultos, para fins práticos e nos serviços militares, só depois de certo tempo que virou brinquedo de criança, depois surgiu o papagaio de papel que também serviu o homem para depois virar brinquedo de criança.
Os portugueses tiveram bastante influência no folclore com seus versos, adivinhas e parlendas, alguns são, o lobisomem, a Moura Encantada, as três cidras do amor, toda a coleção de histórias de bruxas, fadas, assombrações, príncipes, tesouro encantado, versos da mula-sem-cabeça e da cuca ou bicho papão.
Segundo Kishimoto (1998, p.22) registro de Amadeu Amaral:
Vai-te papão
Vai-te embora
De cima desse trabalho
Deixa dormir o menino
Um soninho descansado.
Lindolfo Gomes, (apud KISHIMOTO 1998, p.22) outro mestre, registra a versão mineira:
Vai-te cuca, sai daqui
Para cima do telhado,
Deixa dormir o menino
O seu sono sossegado.
Cantadas pelas avós e pelas amas de sinhozinhos, logo depois surge vários jogos como o de bolinha de gude, jogos de bater palmas, amarelinha, jogo de botão, pião e outros.
Segundo Kishimoto (1998, p.25):
A antiguidade de muitos jogos tradicionais infantis é destacada pela obra do rei de Castilhe Allphonse X que, em 1283, dirigiu o primeiro livro sobre os jogos na literatura européia. Nesta obra, segundo Grunfeld (1979, p.9), o Rei descreve diversos jogos presentes até os tempos atuais, como o pião, a amarelinha, o jogo de ossinho ou saquinhos, o xadrez, tiro ao alvo, jogo de fio ou cama de gato, jogos de trilha, o gamão, entre outros.
Jogos esses que existem até nos dias atuais levando em conta que receberam novas influências, juntando-se com outros elementos folclóricos.
Os povos Africanos também deixaram sua marca. A mãe – preta não deixava de transmitir às crianças as histórias de sua cultura, as lendas, os contos, os mitos. O brinquedo que mais marcou foi a espingarda feita de talo de bananeira. Naquela época os jogos infantis não despertavam interesse dos estudiosos eles sempre estavam interessados nos aspectos sociais, religiosos e superstições.
No entender de Cascudo (apud KISHIMOTO 1998, p.29), “a criança africana aceitava depressa o lúdico que o ambiente lhe permitia. Servia-se do material mais próximo e brincava”.
Eles utilizavam para fazer seus próprios brinquedos materiais tirados da natureza e com isso imitavam atividades dos adultos. Segundo Kishimoto (1998, p. 30), “muitos jogos que constam de nosso acervo são identificados em redutos de influência negra, como nas regiões do ciclo do açúcar”.
As brincadeiras sempre existiram. Na época do engenho de açúcar os filhos dos senhores sempre tinham a sua disposição, moleques que eram filhos de negros escravos, para realizar suas brincadeiras, os meninos brancos faziam o que bem entendiam com os moleques, muitas vezes eram maltratados.
Segundo Kishimoto (1998, p.33):
O melhor brinquedo dos meninos de engenho era montar a cavalo, em carneiros, mas na falta destes, eles usavam os próprios moleques. Nas brincadeiras, muitas vezes violentas, os moleques viravam bois de carro, cavalos de montaria, burros de liteiras, enfim, os meios de transportes da época.
E as mais diversas travessuras próprias da idade, conforme iam ficando mais velho as brincadeiras iam ficando mais exploradas e mais violentas, sempre pegavam moleques da mesma idade e mesmo sexo. As crianças não tinham muita infância, pois eram obrigados a se transformar em adultos e o aspecto triste e sombrio aparecia no rosto de cada menino ou menina, já tinham eliminado a infância de suas vidas.
Segundo Kishimoto (1998, p.35):
As coisas mudam quando ele se aproxima de seu sétimo aniversário: abandona o traje de infância e sua educação é entregue, então, aos cuidados dos homens (...) Tenta-se, então fazê-lo abandonar os brinquedos da primeira infância, essencialmente as brincadeiras de bonecas: Não deveis mais brincar com esses brinquedinhos, nem brincar de carreteiro: agora sois um menino grande, não sois uma criança.
Com as meninas não era diferente, as sinhazinhas gostavam de brincar com as meninas negras e suas brincadeiras giravam em torno do cotidiano, a sinhazinha mandando nas criadas, as bonecas eram as filhas e as meninas negras servas obedeciam às ordens de pequena sinhá.
Isso tudo permaneceu por muito tempo. Os povos indígenas também deram sua contribuição para o folclore brasileiro, uma delas são as danças totêmicas. As mães faziam para seus filhos brincar, brinquedos de barro cozido, principalmente para as meninas. Os meninos usavam aves domésticas como bonecos, usavam desde muito cedo flechas, arcos, tacapes, propulsores, imitando os pais.
Segundo Kishimoto (1998, p.63):
O pai e o avô talham um arco com flechas para crianças a partir de dois ou três anos. Com arsenal ainda inofensivo, a criança inicia seu treinamento, geralmente com galinhas e cachorros, suas vitimas. Mais tarde suas armas ficam mais aperfeiçoadas e aparecem novos instrumentos apontados para passarinhos e borboletas. Já aos dez anos, elas acompanham seus pais á caça e pesca e trazem orgulhosos seus troféus para casa, contando peripécias.
Já as meninas desde pequenas ajudavam as mães nos serviços gerais, acordavam cedo e iam ajudar na plantação, não tendo muito tempo livre para brincar e quando tinham imitavam suas mães, fazendo pequena tecelagem.
Os índios gostam muito de jogos em grupo onde imitam animais como exemplo, jogo de gavião, jogo do peixe pacu, jogo de jaguar e vários outros.
O jogo sempre fez parte da vida, nos tempos passados não tinha muita importância e era visto como um passatempo, mas nos tempos atuais o jogo está sendo cada vez mais valorizado.
Segundo Friedmann (2001): recuperar os jogos do passado, nossos, de nossos pais e avós, conhecê-los e trazê-los de volta. Uma vez que eles constituem um material muito importante para o conhecimento e a preservação da nossa cultura, do nosso folclore.
Os jogos estão sempre em constantes transformações, sempre passando de uma geração a outra ele é transmitido de forma expressiva, seja verbal ou gestual, sempre ganhando novos valores ao ser avaliado como instrumento indispensável na infância de qualquer criança.
Segundo Friedmann (2001, p.46):
Os jogos tradicionais infantis têm qualidade que pode satisfazer de bom grado às necessidades de desenvolvimento das crianças contemporâneas. Seu grande valor está em apresentarem ricas possibilidades para o estimulo de várias atividades nas crianças: físicas, motoras, sensoriais, sociais, afetivas, intelectuais, tratando de deficiências motoras; ou de excessiva intelectualizarão da maior parte das atividades típicas da escola, jogos que envolvem o corpo e os sentidos; ou ajudando a superar o isolamento das nossas crianças de hoje.
Compreendendo bem a natureza dos jogos tradicionais é possível reviver, transformar e adaptar às condições contemporâneas, com a condição de preservar seu significado básico assim como a propriedade de extrair deles várias atividades para as crianças.Vários jogos persistiram e não precisam ser relembrados, pois não morreram como por exemplo, bolinhas de gude, corda, amarelinha.
De acordo com Friedmann (2001): para compreender a noção de jogo tradicional devemos situá-los dentro do contexto mais amplo da cultura da qual faz parte o folclore, e mais especificamente, falar da cultura infantil.
O jogo e a criança no início do século em São Paulo
Vários pintores dos tempos passados deixaram registrados através de suas telas a imagem da criança e seus jogos e uma das obras de Antonio Parreiros registra um menino com a Arapuca, que seria uma brincadeira tradicional de criança que moravam na Zona rural, usada para pegar passarinho, outra mostra menino tocando tambor. Outro quadro que registra uma família onde aparecem duas meninas e uma delas traz consigo uma boneca segundo pesquisadores provavelmente brincavam com uma das brincadeiras mais típicas entre menina, brincar de “mamãe e filhinha”.
Segundo Kishimoto (1998, p.78)
O brincar com pequenos animais, prática divulgada pelos antepassados, continuada pelos negrinhos e por meninos brancos, índios e mestiços, aparece na tela de Lasar Segall (1991 – 1957) obra de 1924, “Menino com Lagartixas”. Segall descreve a imagem da criança nos trópicos, rodeada de vegetação bananeira e bichinhos.
As crianças tinham total liberdade viviam rodeadas pela natureza com alegria no rosto correndo atrás de bichinhos, rindo e se divertido. Diziam que a criança ao brincar com os bichinhos flui nelas afetividade e ajudava na estabilidade emocional.
Teruz (apud KISHIMOTO 1998, p.78) registra o jogo tradicional infantil cabra – cega, que na verdade não eram só as crianças que brincavam, os adolescentes e até adultos também se divertiam. Mas também nessas telas percebe-se claramente a pobreza e a miséria do povo brasileiro registro de um menino enfermo.
No ano 1903 a 1963 o autor Cândido Portinari pinta meninos jogando bola uma brincadeira que se encontra até nos tempos atuais e que cada vez mais ganha espaço entre as brincadeiras mais realizadas pelos meninos, outra que permanece ate hoje e as cantigas de roda que eram e são cantadas e dançadas.
Segundo Kishimoto (1998, p.80) “a tradicional brincadeira de soltar balão nas festas juninas destaca-se na pintura de Pennachi, datada de 1948 representando adultos e crianças em torno de um negro que prepara o balão para a subida. É o registro de festas típicas de folclore paulista e que toda criança deve ter em sua memória.
Tudo foi registrado através de pinturas feitas por artistas de cada época mostrando diferentes imagens de crianças brasileiras brincando.
Por volta de 1900 e 1940 a cidade de São Paulo vivia em um ritmo muito tranqüilo, as pessoas tinham bastante horas de lazer, as ruas eram tomadas de crianças que brincavam o dia inteiro enquanto seus pais trabalhavam uma grande jornada para sustento da família. Era o único lugar que as crianças mais pobres tinham para se divertir, ali realizavam várias brincadeiras como por exemplo: esconde – esconde, acusado, pula – sela, jogo de bola na mão, futebol, bolinha de gude, pipas, bonecas e tantas outras.
Por outro lado havia as crianças cujos pais eram de classe média e alta, eram proibidas de brincar nas ruas, só brincavam no quintal de suas casas, mas com um adulto vigiando e com criança vizinha da mesma classe social.
Com o passar dos anos a cidade foi crescendo, se industrializando e as crianças das ruas estavam correndo muitos riscos, tornou-se a geradora de criminalidade infantil.
Segundo Kishimoto (1998, p.83): “O perigo da rua para a formação da criança motivou autoridades municipais a instalar, a partir de 1935 parques infantis com o intuito de retirar o contingente infantil das ruas da capital”.
Foi assim que surgiram as pracinhas que existem ainda nos dias atuais na qual as crianças passam várias horas brincando e não se cansam. Naquela época o jogo associado ao prazer não era visto como elemento importante para a formação da criança na educação. Segundo Kishimoto (1998, p.86) “o brinquedo surgiu nas organizações filantrópicas e religiosas como peças de adorno da instituição”. Ou seja, servia de enfeite nas instituições. Nos lares das crianças cujos pais eram ditos ricos tinham brinquedos industrializados ou artesanais e as crianças pobres os brinquedos eram construídos a partir do barro.
Existiam os “depósitos” infantis onde as crianças ficavam internadas passando sua infância inteira proibidas de realizar qualquer brincadeira ou jogo, eram crianças tristes, pálidas, olhos parados sem brilho, uma criança oprimida que não sabia rir.
Depois surgiu o jardim de infância que era responsável pela formação de criança de 3 a 6 anos e tinha o direito e o dever de desenvolver uma pedagogia baseada no uso dos jogos.
Segundo Kishimoto (1998, p.90) a escola “tem por escopo o desenvolvimento integral, harmônico da parte física, moral e intelectual do educando para que aproveite a instrução primaria”. É uma escola que ensina ler e escrever, contar e principalmente prepara a criança para a vida. Não é considerado um lugar para brincadeiras, até mesmo acham essa palavra ridícula e grosseira. Segundo Kishimoto (1998, p.90), é considerada “o sagrado laboratório em que se aproveitam as múltiplas, variadas e expressivas manifestações das atividades infantil”.
Logo depois várias escolas adotaram a pedagogia froebeliana, ou seja, a pedagogia dos jogos, educava-se as crianças por meio dos jogos e não mais por meio de castigos.
Segundo Kishimoto (1998, p.91) a “metodologia froebeliana foi apontada como responsável pelo desenvolvimento cognitivo das crianças”. Esse novo método usado pelas escolas da época chamava a atenção das mães das crianças do jardim de infância, como seus filhos aprendiam com facilidade através dos jogos e poesias. Uma das brincadeiras mais praticadas era as cantigas de roda, eram feitas bastante brincadeiras de movimentos onde os conteúdos escolares eram incorporados nas brincadeiras.
Segundo Kishimoto (1998, p.102)
O conteúdo das músicas, em consonância com os movimentos, facilita o conhecimento espontâneo sobre os elementos do ambiente. O papel educativo do jogo é exatamente esse. Quando desenvolvido livremente pela criança, o jogo tem efeitos positivos na esfera cognitiva, social e moral.
Foi constatado que as crianças tinham mais facilidade para aprender quando o conteúdo era passado através das brincadeiras, além de dar prazer e satisfação, no rosto de cada criança era fácil de identificar a alegria que eles sentem.
Segundo Kishimoto (1998, p.103), “embora prevaleça uma nítida preferência pelos jogos livres os jogos educativos continuaram presentes nos anos 20, durante a expansão do movimento escolanovista, amparados por alguns teóricos da referida escola”.
No período imperial, no Brasil surgiram as idéias da escolanovistas. Através de relato feito por Kishimoto (1998, p.104). “A análise de eventos ocorridos em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os principais centros disseminadores da escolanovismo, poderá ser um bom exemplo de como o jogo educativo penetra no interior das instituições infantis”.
Foram elaboradas pesquisas com alunos da escola primária sobre suas preferências por brinquedos, foi constatado que já existia a discriminação sexual nas preferências pelos jogos.
Segundo Kishimoto (1998, p.105).
A ausência total do sexo masculino nos jogos de faz-de-conta, (brinquedos de boneca, jogos de imitação familiares como mamãe e filhinha fazer comida, etc.); e em contraposição, a ausência do sexo feminino em brincadeiras com carros, trem e automóveis. Mesmo nos jogos motores como bolas, havia maciça predominância dos meninos e pouca expressão do sexo feminino. Provavelmente a discriminação presente na sociedade brasileira e belorizontina com relação aos comportamentos considerados adequados para o sexo incluíam uma diferenciação nos modos de brincar.
Infelizmente isso ainda acontece nos tempos atuais também, os meninos não podem brincar de boneca por que são brincadeiras de menina, o mesmo acontece com as meninas, as quais não podem jogar bola nem brincar de carrinho, pois é brincadeira de menino. A diferença também existia no lugar onde meninas e meninos iam brincar, os meninos andavam soltos pelas ruas, já as meninas brincavam no quintal de suas casas, e brincavam menos pois começavam ajudar nos afazeres de casa ainda pequena e com isso perdiam a oportunidade de brincar mais, sendo assim paravam de explorar sua criatividade e enfrentar desafios que a infância proporciona, e que são indispensáveis na vida e na formação de qualquer criança.
Jogo e cultura
O ato de jogar é tão antigo quanto o próprio homem, pois o homem sempre manifestou uma tendência lúdica, um impulso para o jogo. Alguns autores vão além, afirmando que o jogo não se limita apenas à humanidade, seria anterior, inclusive ao próprio homem, pois já era praticada por alguns animais.
Segundo Huizinga (1971, p. 03):
Os animais brincam tal como os homens...Convidam-se uns aos outros para brincar mediante certo ritual de atitudes e gestos. Respeitam a regra que os proíbe morderem, ou pelo menos com violência, a orelha do próximo. Fingem ficar zangado e o que é mais importante, eles, em tudo isto, parecem experimentar um imenso prazer e divertimento.
Analisando por este lado o jogo ultrapassa a esfera da vida humana, sendo, portanto, anterior às culturas. Em cima da relação existente entre o jogo e cultura, Huizinga (1996) fez um estudo profundo, abordando a função social do jogo desde as sociedades primitivas até as civilizações consideradas mais complexas.
A cultura surge como forma de jogo, sendo que a tendência lúdica do ser humano está na base de muitas realizações. Sendo parte integrante da vida em geral, o jogo tem uma função para o ser humano, não só para distração e para descarregar as energias, mas como forma de (re) construção da realidade podendo assim interagir na sociedade expressando suas idéias e sua criatividade.
Conforme Huizinga (1971 p.33) o jogo é:
Uma atividade ou ocupação voluntária exercida dentro de certos e determinados limites de tempo e espaço, seguindo regras livremente consentidas, mas absolutamente obrigatórias dotadas de um fim em si mesmo, acompanhado de um sentido de tensão e de alegria e de uma consciência de ser diferente da vida cotidiana.
A distração, diversão, recreação e os risos acompanhados de prazer são elementos indispensáveis para o desenvolvimento do ser humano. Através do jogo o individuo pode viver alternativas novas, uma contribuição de uma nova sociedade baseada na solidariedade e na justiça.
Segundo Huizinga (1971, p.6):
Todo ser pensante é capaz de entender á primeira vista que o jogo possui uma realidade autônoma, mesmo que sua língua não possua um termo geral capaz de defini-lo. A existência do jogo é inegável. É possível negar, se quiser, quase todas as abstrações: a justiça, a beleza, a verdade, o bem, Deus. É possível negar-se a seriedade, mas não o jogo.
Seja praticado para obter divertimento ou até mesmo em competição o jogo transforma a vida das pessoas, nas crianças ajuda a desenvolver a parte cognitiva, afetiva, moral e social.
Analisando os jogos sempre constituíram uma forma de atividade ligada ao ser humano. Entre os primitivos, as atividades de danças, pescas e lutas eram tidas como de sobrevivência ultrapassando, muitas vezes, o caráter restrito de divertimento e prazer natural.
As crianças, nos jogos, participavam de empreendimentos técnicos e mágicos, o corpo e o meio, a infância e a cultura faziam parte de um só mundo, pois os jogos caracterizavam à própria cultura, e a cultura por sua vez era a educação, e a educação era tudo para eles um modo de sobrevivência.
O jogo é atividade e, por excelência da criança, em todos os tempos, é uma atividade vital que possibilita a criança conhecer-se e formar conceitos sobre o mundo. A criança que nasce tem a necessidade de movimento, que durante a infância se faz sentir mais intensamente, pois se apresenta espontânea, ativando o processo de crescimento.
O jogo é antes de tudo um instrumento impessoal: não há para o discente o tabu da discriminação seja ela das condições socioeconômica, raça, credo ou cor. A ludicidade deve fazer parte da metodologia e da didática do docente para que o dia a dia em sala de aula não caia na rotina, transformando o ambiente escolar num local mais prazeroso ao aprendizado.
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