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Análise das habilidades motoras fundamentais de 

escolares da rede pública municipal de Araguaína, TO, Brasil

Estudio de las habilidades motoras fundamentales de escolares de la red pública municipal de Araguaína, TO, Brasil

 

Profissional de Educação Física. Mestre em Ciência da Motricidade Humana

pela Universidade Castelo Branco, Rio de Janeiro, RJ

Professor da Faculdade de Ciências Humanas, Econômicas

e da Saúde de Araguaína, TO

Hugo Martins Teixeira

hugoprof@globo.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A presente investigação propôs analisar o desempenho motor de escolares entre 07 e 10 anos da rede pública municipal de ensino da cidade de Araguaína, Tocantins com o foco nas habilidades motoras fundamentais, chute, arremesso por cima e salto horizontal Para a avaliação do desempenho motor dos escolares, nos seus aspectos qualitativos, os padrões fundamentais de movimento foram realizados seguindo a matriz de análise dos padrões fundamentais de movimento proposto por Gallahue (1994). Na análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva, calculando-se a média e desvio padrão. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar grupos em dados qualitativos. Participaram da pesquisa 398 escolares, sendo, 47,74 % (n=190) do gênero masculino e 52,26% (n=208) do gênero feminino, 8,48 % da população total. Foi verificado que todos os movimentos investigados se encontram em um estágio maturacional abaixo do recomendado para a faixa etária. Os melhores índices para os meninos foram verificados no fundamento arremesso por cima e para as meninas no fundamento salto na horizontal. Percebeu-se que os níveis maturacionais aumentam com o passar da idade e que os melhores níveis maturacionais estão a favor dos meninos.

          Unitermos: Habilidades motoras. Desempenho motor. Escolares.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O estudo do desenvolvimento motor procede historicamente de duas áreas distintas do conhecimento - a biologia e a psicologia. Da biologia aparecem os conceitos de crescimento e desenvolvimento do organismo, e da psicologia o interesse no entendimento do comportamento humano, com seus aspectos relacionados ao movimento (CLARK; WHITALL, 1989). Pode-se inferir, desde então, a reciprocidade entre aspectos físicos (biológicos, inatos) e sociais (comportamento, experiências, aprendizado) no desenvolvimento do indivíduo.

    Ao fragmentar-se a compreensão do desenvolvimento na questão do que é inato ou adquirido, simplifica-se a complexidade da ação humana, e decorre-se a diversas conclusões conflitantes e muito pouco satisfatórias. Quanto mais abrangente for a abordagem desse entendimento, mais capaz será a ciência de fornecer subsídios para compreender as mudanças no comportamento motor, assim como identificar os fatores que o influenciam. No entanto, conceituar o desenvolvimento infantil não é tarefa fácil, porque varia de acordo com o referencial teórico adotado e os aspectos abordados. (MULLER, 2008)

    O desenvolvimento pode ser definido como o aumento da capacidade do indivíduo na realização de funções cada vez mais complexas. Da mesma forma, pode-se associá-lo à maturação do sistema nervoso central (SNC), à relação do ambiente com os aspectos cognitivos e da inteligência, além da constituição do psiquismo individual (OLHWEILER; SILVA; ROTTA, 2005; MIRANDA; RESEGUE; FIGUEIRAS, 2003; SILVA, 2002).

    Num conceito mais abrangente, o desenvolvimento infantil é um processo iniciado desde a vida intra-útero envolvendo aspectos como o crescimento físico, a maturação neurológica e a construção de habilidades relacionadas ao comportamento nas esferas cognitiva, social e afetiva da criança, na intenção de torná-la competente para responder as suas necessidades intrínsecas e as do seu meio, atentando ao seu contexto de vida. Assim, cada vez mais, acredita-se na ação recíproca de fatores como crescimento, maturação, hereditariedade e aprendizagem, inseridos no contexto e dependentes da tarefa. O desenvolvimento é, então, o resultado da interação dessas múltiplas causas, relacionado ao tempo e à necessidade (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006; HAYWOOD; GETCHELL, 2004; TECKLIN, 2002). Este é o objetivo de modelos teóricos - explicar o processo de interação entre o indivíduo em desenvolvimento e seus múltiplos contextos associados. Desse modo, novas teorias aparecem com diversificadas reflexões sobre as variáveis envolvidas neste processo (KREBS, 2001).

    Segundo Payne e Isaacs (1987) como sendo o estudo das mudanças do movimento através da vida. Para Haywood (1986) o desenvolvimento motor é um processo seqüencial e contínuo relativo à idade cronológica, durante o qual o indivíduo progride de um movimento simples, sem habilidade, até o ponto de conseguir habilidades motoras complexas e organizadas e, finalmente, o ajustamento dessas habilidades que o acompanham até a velhice.

    A principal diferença entre as duas definições apresentadas é que Payne e Isaacs enfoca o desenvolvimento como um produto, que aborda o movimento do ser humano, sem correlacioná-lo com outros fatores e Haywood engloba todo o processo de mudanças que podem alterar e influenciar no desenvolvimento do indivíduo.

    Assim, observa-se que o desenvolvimento motor possui como ponto central a descrição de aspectos ordinários de movimentos e atividades fundamentais para existência humana. Onde as crianças apresentam maior desenvoltura e facilidade nas realizações dos movimentos, atividades comuns que são realizadas no decorrer do dia-a-dia.

    Para Bohme (1998) desenvolvimento motor se refere às mudanças ocorridas no desempenho motor e/ou movimento do indivíduo, em relação ao comportamento e controle motor que ocorrem com a interação dos processos de maturação e experiências vivenciadas no seu meio ambiente. França (1991) coloca que o desenvolvimento motor é um processo contínuo que se caracteriza nos primeiros anos de vida pela emergência dos padrões fundamentais.

    Para Eickman (2002) o desenvolvimento motor é um processo que se inicia na concepção e continua ao longo da vida, dependendo da maturação e do ambiente, sendo de grande importância para o desenvolvimento integral da criança.

    Muitos autores têm procurado conceituar desenvolvimento motor. Para Gallahue (1989) e Gallahue e Ozmum (2003), o processo do desenvolvimento motor revela-se primeiramente através de mudanças no comportamento motor, onde todos nós estamos envolvidos no processo de aprendizagem em um mundo em constante mudança. As diferenças de desenvolvimento no comportamento motor podem ser causadas por fatores inerentes ao indivíduo (biologia), ao ambiente (experiência) e a natureza da tarefa (física/mecânica).

    O processo de desenvolvimento motor pode ser observado através do estudo das mudanças no comportamento motor que acontecem ao longo do ciclo vital. Esses comportamentos observáveis nos dão indicações para os processos fundamentais onde uma variedade de fatores cognitivos, afetivos e psicomotores influenciarão e serão influenciados pelo desenvolvimento das habilidades motoras.

    Em seu modelo teórico, Gallahue (1989), descreve seu modelo desde a fase dos movimentos reflexos até a fase dos movimentos especializados. O processo de desenvolvimento motor é apresentado através das fases dos movimentos reflexos, rudimentares, fundamentais e especializados. Em cada fase são indicados estágios com idades cronológicas correspondentes. Os movimentos para Gallahue e Ozmun (2003) são classificados como estabilizadores, locomotores ou manipulativos, que podem combinar-se na execução das habilidades motoras ao longo da vida.

    Um movimento estabilizador é qualquer movimento no qual algum grau de equilíbrio é requerido. A categoria inclui movimentos tais como o curvar, o torcer, o puxar e o empurrar, que não podem ser classificados como locomotores ou manipulativos. Movimentos axiais, apoios invertidos e posturas de rolamento do corpo são considerados como movimentos estabilizadores.

    Para o autor, a estabilidade é um aspecto básico da aprendizagem para o movimento. É através desta dimensão que as crianças ganham e mantém um ponto de origem na exploração que elas realizam no espaço. A estabilidade pode ser considerada então, como a habilidade da criança em manter e recuperar o equilíbrio.

    A espécie da aplicação da força na recuperação do equilíbrio pode ser alterada em situações de mudança, causando a necessidade de um ajustamento geral das partes do corpo, em relação ao centro de gravidade. A categoria dos movimentos locomotores refere-se aos movimentos que indiquem uma mudança na localização do corpo em relação a um ponto fixo na superfície. É um aspecto fundamental da aprendizagem para mover-se de forma eficiente e efetiva dentro do meio ambiente (EICKMAN, 2002).

    As performances desses movimentos devem ser suficientemente flexíveis, assim podem ser alterados com os requerimentos que demandam do ambiente através da fixação da atenção em direção ao ato. Caminhar, correr, saltar, pular ou saltitar são tarefas locomotoras. A categoria dos movimentos manipulativos refere-se a manipulações motoras, como tarefas de arremesso, recepção, chute e interceptação de objetos, que são movimentos manipulativos grossos. Costurar, cortar com tesoura são movimentos manipulativos finos.

    Os componentes manipulativos envolvem um relacionamento do indivíduo para os objetos e é caracterizado pela força cedida para os objetos e pela força recebida deles. Um grande número de movimentos envolve uma combinação das três categorias, por exemplo, pular corda envolve locomoção (saltar), manipulação (bolear a corda) e estabilização (manter o equilíbrio). (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

    McClenaghan e Gallahue (1978) criaram o método de identificação de estágios na fase motora fundamental, anos depois revisado e expandido por Gallahue (1994). Esse método consiste em um sistema prático, confiável e fácil de usar para a classificação de indivíduos nos estágio inicial, elementar e maduro.

    Estágio inicial: a fase de habilidades dos movimentos fundamentais do estágio inicial representa a primeira meta orientada da criança na tentativa de executar um padrão de movimento fundamental. O próprio movimento é caracterizado por uma ausência ou seqüência imprópria das partes, o uso do corpo é marcadamente exagerado ou restrito, e pobre fluência rítmica e coordenação. As integrações de movimentos espaciais e temporais são pobres nesse estágio. O movimento é caracterizado pela deficiência coordenativa, rítmica e pelo uso exagerado do corpo, além de marcadamente seqüenciados e restritos. Em geral as crianças de dois anos se apresentam no estágio inicial, podendo haver exceções (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

    Estágio elementar: O estágio elementar envolve maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Os elementos temporal e espacial do movimento estão mais bem coordenados, mas os padrões de movimentos desse estágio são ainda geralmente restritos ou exagerados, apesar de melhor coordenados (EICKMAN, 2002).

    Evidencia-se um maior controle coordenativo e rítmico dos movimentos fundamentais. Movimentos ainda restritos e exagerados, mas com um aprimoramento da sincronia espaço-temporal. Crianças de inteligência e funcionamento físico normal tendem a avançar para o estágio elementar na faixa etária dos três e quatro anos de idade. Muitos indivíduos, mesmo na fase adulta não vão além do estágio elementar em muitos padrões de movimentos. (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

    Estágio maduro: O estágio maduro dentro da fase dos movimentos fundamentais caracteriza-se como mecanicamente eficiente, coordenado, e de execução controlada.

    A maioria dos dados disponíveis na aquisição de habilidades dos movimentos fundamentais sugerem que as crianças tem o "potencial" de desenvolvimento para estar no estágio maduro perto dos 5 ou 6 anos, na maioria das habilidades fundamentais. Habilidades manipulativas que requerem localização e interceptação de um objeto em movimento, amadurecem mais tarde por causa da seqüência visual-motora sofisticada. Embora algumas crianças possam alcançar esse estágio primeiramente através da maturação e com um mínimo de influências ambientais, a grande maioria requer ampla oportunidade para a prática, encorajamento para aprender e instrução (GUIMARÃES, 1999).

    A maturação, que é um fator biológico, determinará a prontidão para a progressão da etapa. Porém, isto só ocorrerá se o meio ambiente proporcionar experiências motoras adequadas. Isto explica o fato de encontrarmos crianças de uma mesma idade em etapas diferentes de desenvolvimento.

    Todo esse processo compreende uma análise minuciosa, Gallahue (1989), ressalta que os limites de idade para cada fase do desenvolvimento motor devem ser vistos apenas como limites gerais. Crianças frequentemente estão se desenvolvendo em diferentes fases, dependendo de suas experiências práticas e composição genética.

    Sobre isto Clark (1994) acrescenta, que as habilidades motoras fundamentais aparecem em uma ampla variedade de esportes, de jogos e de outras atividades motoras que envolvem vários movimentos corporais, onde exige que o jogador corre, arremessa, recebe, dribla, curva-se e estende-se.

    A partir desta compreensão percebe-se que a participação do professor de Educação Física é essencial na fase das habilidades motoras, pois possui grande facilidade de trabalhar com os movimentos da criança, favorecendo positivamente para seu desenvolvimento. Embora pareçam habilidades naturais, o processo pode não ser tão simples e pode requerer atenções essenciais de profissionais qualificados para que não comprometam o desenvolvimento indivíduo.

    È importante destacar para fato de que o processo de desenvolvimento é contínuo e ininterrupto, iniciando na gestão até a morte, passando por diferentes transformações tanto qualitativa e quantitativa, acompanhando um ritmo e intensidade de acordo a etapa da vida que o indivíduo esta passando, porém possui grande diferença de pessoa para pessoa.

    E ainda ressalta-se que crianças pequenas, devem estar envolvidas no processo de desenvolvimento e de refinamento de habilidades motoras fundamentais para uma grande variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos. Isso significa que elas devem vivenciar o máximo de experiências, sob uma perspectiva desenvolvimentista, aumentando assim o conhecimento do seu corpo e do seu potencial para o movimento. Um movimento fundamental envolve os elementos básicos somente daquele movimento em particular, não considerando a combinação de certos movimentos fundamentais nas habilidades complexas. (GALLAHUE e OZMUN, 2003).

Procedimentos metodológicos

    Esta pesquisa, aprovada pelo comitê de ética em pesquisa da Fundação de Medicina Tropical – TO com o processo de nº 185 caracterizou-se enquanto forma de abordagem, qualitativa, enquanto objetivo, descritiva e enquanto procedimentos técnicos, bibliográfica e de campo. O universo do estudo foi o município de Araguaína – TO, e a população-alvo delimitada por todas as crianças na faixa etária entre 7 e 10 de idade, de ambos os sexos, matriculadas na rede pública municipal desta localidade. Para as avaliações foram considerados os escolares de 07 a 10 anos, com idades/anos completos, matriculados na rede publica municipal da cidade de Araguaína – To/zona urbana. As escolas onde foram colhidos os dados foram escolhidas de forma aleatória mediante sorteio, a partir da relação fornecida pela Secretaria Municipal de Educação. Todos os escolares das respectivas escolas escolhidas e que os responsáveis autorizaram a participação para a pesquisa, através do Termo de Consentimento, foram avaliados. O tamanho da amostra foi definido, atentando-se para o fato de atender o estipulado pela fórmula de população finita. Neste sentido, a amostra foi constituída de 398 escolares sendo, 47,74 % (n=190) do gênero masculino e 52,26% (n=208) do gênero feminino, 8,48 % da população total.

    Para a avaliação do desempenho motor dos escolares, nos seus aspectos qualitativos, os padrões fundamentais de movimento foram realizados seguindo a matriz de análise dos padrões fundamentais de movimento proposto por Gallahue (1994). Os movimentos foram gravados em vídeos e posteriormente analisados. Os movimentos analisados foram o salto, o chute e o arremesso. Para a análise dos dados, utilizou-se a estatística descritiva, calculando-se a média e desvio padrão. O teste de Mann-Whitney foi utilizado para comparar grupos em dados qualitativos. Para a realização dos cálculos foi utilizado o programa Bioestatic 5.0.

Resultados e discussões: apresentação dos estágios de maturação

    A seguir apresentam-se os valores encontrados na avaliação do processo (análise qualitativa) de desempenho motor, nos movimentos salto na horizontal, chute e arremesso. Estes movimentos são classificados seguindo a Matriz de análise qualitativa proposto por Gallahue e Ozmun (2003), que classifica os movimentos quanto a seu estágio de maturação, sendo esses categorizados em: inicial (valor = 1), elementar (valor = 2) e maduro (valor = 3). Participaram deste estudo, escolares entre 7 a 10 anos, sendo 398 escolares, 47,74 % (n=190) do sexo masculino e 52,26% (n=208) do sexo feminino.

    São apresentados a seguir, na Tabela 1, as médias e seus respectivos desvios padrões para os movimentos investigados, quando agrupados por gênero.

Tabela 1. Resultado da análise do processo de desenvolvimento motor em relação ao gênero

    A análise do processo de desenvolvimento motor do movimento salto na horizontal quando agrupados por gênero, verificou-se que os meninos apresentaram médias superiores a das meninas, diferindo estatisticamente (p=0,0078). Levando-se em consideração, a comparação sob a ótica da idade e sexo, pode-se observar na tabela a seguir, que os valores médios encontrados entre meninos em todas as idades são maiores em relação aos valores médios das meninas, embora em nenhuma relação sejam visualizadas diferenças estatísticas significativas.

    Os dados do presente estudo assemelham-se aos do estudo de Paim (2003), o qual verificou que os meninos tiveram resultados melhores que as meninas, utilizando a Matriz de análise qualitativa proposto por Gallahue e Ozmun (2003). O mesmo resultado, foi verificado no estudo de Cattuzzo et al (2006) com crianças da cidade de Muzambinho – MG, em que as crianças avaliadas apresentaram diferenças de desempenho em relação ao gênero.

Tabela 2. Resultado da análise do processo de desempenho motor do movimento salto na horizontal entre os gêneros

    Observa-se no gráfico abaixo, que as crianças de 7 e 8 anos apresentam as médias próximas ao estágio elementar de movimento (2). Percebe-se ainda, que existe uma progressão em direção ao estágio maduro (3) em função da idade e independente do sexo, apesar de tardia.

    Estes dados corroboram em parte com o estudo de Valentini (2002), que investigou o desempenho motor e as percepções de competência de meninos e meninas de diferentes idades; seus resultados sugerem que crianças mais velhas exibem desempenho locomotor superior.

Gráfico 1. Representação gráfica das médias do estágio de maturação do movimento salto na 

horizontal dividida por gênero de escolares da rede pública municipal da cidade de Araguaína, To

    Pelas informações colhidas pode-se refletir que vários fatores podem estar relacionados aos resultados abaixo do esperado, de acordo com Copetti (2000) um fator pode ser explicado pela complexidade de movimento o qual apresenta maiores exigência mecânicas e musculares, outro fator está relacionado com a pouca utilização desse movimento em brincadeiras recreativas o que dificulta o desenvolvimento do mesmo pelas crianças.

    A análise do processo de desenvolvimento motor do movimento chute na Tabela 3, quando agrupados por gênero, observa-se que os meninos apresentam média superior a das meninas, sendo esta diferença altamente significativa, p<0,0001.

    Comparando-se os escolares a partir da idade e sexo, pode-se observar na tabela abaixo, que os valores médios encontrados para os meninos em todas as idades são maiores em relação aos valores médios encontrados para as meninas, havendo uma diferença altamente significativa para todas as idades.

Tabela 3. Resultado da análise do processo de desempenho motor do movimento chute entre os gêneros

    Observa-se no gráfico 2, que as crianças de 7 e 8 anos do sexo feminino apresentam as médias próximas ao estágio inicial (1), sendo que para mesma idade as crianças do sexo masculino aproximam-se do estágio elementar de movimento (2). Essas observações contrapõem-se ao estudo de Almeida e Soares (2006), os quais verificaram a maioria (73%) das crianças no estágio maduro quanto à habilidade fundamental chute. Percebe-se ainda, que para as crianças do sexo feminino somente nas idades de 9 e 10 anos aproximam-se do estágio elementar, demonstrando uma lentidão para o alcance de um nível maturacional satisfatório para sua idade, fato que os meninos na mesma faixa etária já se aproximam do estagio maduro, sendo estes resultados semelhantes aos resultados verificados Ferreira et al. (2004) e por Malforte et al (2007), que apenas a partir dos 9 anos tem se uma tendência a aproximação para o estágio maduro.

Gráfico 2. Representação gráfica das médias do estágio de maturação do movimento 

chute dividida por gênero de escolares da rede pública municipal da cidade de Araguaína. To

    A partir dos dados apresentados entendemos que o sexo parece se um fator determinante na velocidade de maturação destes movimentos. Tal entendimento pode ser compreendido a partir da cultura de movimento dos escolares, que para os meninos a prática do futebol evidenciou um maior nível maturacional para o movimento chutar. Isto pode estar relacionado a uma maior prática de atividades esportivas que envolvem esse tipo movimento como futsal e futebol tanto na escola como nas atividades extraescolares. Píffero (2007) relata que, em um país como o Brasil, onde a prática do futebol é muito difundida e estimulada como esporte predominantemente masculino, não é de se estranhar que os meninos apresentem melhor desempenho.

    A análise do processo de desenvolvimento motor do movimento arremesso por cima visualizados na Tabela 3, quando agrupados por gênero, observa-se que os meninos apresentam uma média superior a das meninas, sendo esta diferença altamente significativa, p<0,0001.

    Levando-se em consideração, idade e sexo, pode-se observar na tabela abaixo, que os valores médios encontrados entre meninos em todas as idades são maiores em relação aos valores médios das meninas, havendo uma diferença altamente significativa para todas as idades. Embora utilizando um procedimento avaliativo diferente, resultados similares foram encontrados por Villwock (2005), onde meninos também apresentaram desempenhos melhores, com diferenças significativas.

Tabela 3. Resultado da análise do processo de desempenho motor do movimento arremessar entre os gêneros

    Observa-se na figura a seguir, que as crianças de 7 anos do sexo feminino concentram-se no estágio inicial (1), diferentemente do sexo masculino que se aproximam do estágio elementar (2). Percebe-se ainda, que a partir dos 8 anos as crianças do sexo masculino ascendem em direção ao estágio maduro, que estabiliza-se aos 10 anos, o qual não ocorre com as crianças do sexo feminino, em que as médias localizam-se aos 10 anos no estágio elementar (2). Comparando com o estudo de Bubniak (2001), onde as crianças se concentraram no estágio elementar para este movimento, os escolares em questão apresentam resultados semelhantes.

    O mesmo acontece quando comparamos com o estudo de Copetti (1996). Machado et al. (2002), atribui os resultados superiores dos meninos, neste tipo de habilidade, às características culturais dos ambientes aos quais os escolares estão inseridos e ao maior incentivo proporcionados aos meninos em brincadeiras mais ativas com bolas, bastões e outros objetos de manipulação.

Gráfico 4. Representação gráfica das médias do estágio de maturação do movimento arremesso 

por cima dividida por gênero de escolares da rede pública municipal da cidade de Araguaína, To

    Ë importante ressaltar, que de acordo com Gallahue e Ozmun (2003) as crianças a partir dos 6 e 7 anos já deveriam estar no estágio maduro do desenvolvimento motor e encaminhando-se para o estágio de transição da fase dos movimentos especializados. Esta ponderação não se aplica aos resultados visualizados neste estudo e retrata uma realidade bastante comum nas escolas públicas municipais da cidade de Araguaína, demonstrando que parece não existir um programa que contemple uma gama considerada dos elementos necessários para que os escolares possam atingir níveis maturacionais compatíveis a faixa etária, principalmente estimulando os escolares aumentar o nível de atividade física e experiências motoras, mesmo em atividades extracurriculares.

    Sobre isto Siqueira (2006) relata, o qual observou melhores níveis de desenvolvimento em crianças que praticam atividades esportivas além de aulas de educação física regulares sobre crianças que somente frequentam aulas de educação física regulares.

    Alguns estudos com crianças brasileiras, Elias et al. (2007) e portuguesas, Faustino et al. (2004), Lopes e Maia (2007) consideram relevante tais justificativas, pois visualizaram a influência dos níveis de atividade física e experiência motora nos valores de desempenho motor.

    Em relação às informações colhidas neste estudo em que se observou que os níveis maturacionais aumentam com o passar da idade, assemelha-se aos trabalhos de Lopes (2002), Maia (2002), Valentini (2002), Marramarco (2007), Deus et al (2008), Valdívia et al. (2008). Salientamos que muitos trabalhos como o estudo de Lopes (2003), Píffero (2007), Castro (2008), resultados diferentes foram encontrados, tais constatações aliam-se as informações que indicam o crescente índice de violência urbana que faz com que crianças com idade mais avançada interessem cada vez mais por atividades internas como, vídeo games, vídeos, computadores etc., as quais contribuem para um sedentarismo precoce e níveis maturacionais inferiores a crianças com menor idade. (CRIPPA et al., 2003 ; BERLEZE, 2002 e 2007)

    Em relação aos melhores níveis maturacionais serem em detrimento ao sexo masculino, percebe-se que os resultados do presente estudo se assemelham ao encontrado na literatura, pois os trabalhos realizados, em sua maioria, classificam o desempenho dos meninos como superior ao das meninas, mesmo que sua categorização não seja adequada à faixa etária (NETO et al., 2004; BERLEZE, 2007; SURDI e KREBS, 1999; VALENTINI, 2002,). Algumas reflexões ainda apontam para uma análise minuciosa dos movimentos, “assimetria” (SANTOS ET AL. 2005), e “componentes biomecânicos” (ESTRÁZULAS, 2006)

Considerações finais

    Ao relatar o processo do desenvolvimento motor, percebe-se que os movimentos investigados se encontram em um estágio maturacional abaixo do recomendado para a faixa etária, que os níveis maturacionais aumentam com o passar da idade e que os melhores níveis maturacionais estão a favor dos meninos.

    Estes resultados podem ser devido à falta de oportunidades para a prática, encorajamento, instrução bem orientada e/ou aspectos relacionados ao próprio ambiente. Os resultados encontrados abaixo do esperado podem nos mostrar que as atividades realizadas pelas crianças em seu cotidiano não estão favorecendo os movimentos fundamentais em específico.

    Portanto, elencamos vários motivos que podem ser apontados como obstáculos para um desenvolvimento coeso dos escolares: atividade motora descontextualizada ou incoerente, planejamentos distantes da realidade, falta de pesquisas na área e carência na formação dos profissionais. Assim, acredita-se que os índices de maturação podem ser alcançados em tempo hábil se as instituições considerarem a disciplina Educação Física como uma ferramenta capaz de proporcionar desenvolvimento e de discutir aspectos da saúde no âmago escolar.

    Após a realização desta pesquisa, entendemos que outros estudos devem ser realizados para que se possa ter uma visão mais detalhada dos escolares araguainenses, sobretudo no que diz respeito aos aspectos ambientais, nível de experiência, fatores genéticos, nutricionais/bioquímicos e suas influências no desenvolvimento infantil. Entendemos ainda que o aproveitamento dos espaços para a prática de atividades físicas deveria ser uma preocupação maior por parte das instituições de ensino, que poderiam aproveitar melhor seus espaços disponíveis (ou reestruturar), proporcionando meios para que suas crianças possam desenvolver, movimentar, brincar de forma mais satisfatória.

Referências bibliográficas

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