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Exercício resistido e a saúde do idoso

El ejercicio resistido y la salud de la persona mayor

 

*Discente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro - UNISA

**Orientadora e Docente da Faculdade de Educação Física

da Universidade de Santo Amaro

(Brasil)

Thais Dutra Paiva*

Cleiton Ferreira Santos*

Eliane Matias da Silva*

Elaine Rodrigues da Silva*

Kauê Roberto Silva*

Profª. Ms. Solange de Oliveira Freitas Borragine**

thaisdutrapaiva@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo tem o objetivo de identificar a relevância dos exercícios resistidos para o idoso e sua contribuição para melhor saúde e qualidade de vida. A metodologia utilizada é a revisão bibliográfica, tendo como base artigos científicos e livros com recorte temporal de dez anos. Várias pesquisas confirmam o aumento da população idosa e o IBGE apresenta dados que apontam para o ano de 2030, um Brasil com a sexta população mundial em número absoluto de idosos. Com isso surge a preocupação dos órgãos governamentais e da sociedade, voltando-se para os aspectos pertinentes aos idosos, buscando meios para a promoção de um ambiente saudável que os façam se sentir bem e possam viver esse período mais longo com mais qualidade de vida. Muito se fala acerca de uma boa alimentação, de consultas periódicas a especialistas, de programas de socialização, dentre outros, todos visando melhorias na vida do idoso, e deve-se considerar também de grande importância a prática de exercícios resistidos ou de força. Surge com isso o questionamento acerca das vantagens que esta prática pode promover na vida dessas pessoas. Os exercícios de força são importantes para os idosos, uma vez que atuam no sentido de promover um bem estar que ultrapassa os aspectos físicos, implicando em reintegração social, oportunidade de contato com outras pessoas, diminuição da incidência de quedas e o risco de fraturas, maiores facilidades na execução de atividades da vida diária, enfim, combater males que podem estar presentes na terceira idade. Esses exercícios funcionam como meio de atenuar ou reverter os efeitos negativos relacionados ao envelhecimento, contribuindo em alto grau para o aprimoramento de todas as capacidades funcionais necessárias para que o indivíduo viva com mais saúde.

          Unitermos: Idoso. Processo de envelhecimento. Exercício resistido. Saúde.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O envelhecimento é um processo contínuo, no qual ocorre um declínio progressivo de todo o sistema fisiológico, assim, é importante ter em mente que a manutenção de um estilo de vida ativo e saudável pode minimizar este processo e as alterações funcionais que surgem com a idade.

    Assim, este estudo aborda a importância do condicionamento físico na terceira idade, por meio da prática regular de exercícios resistidos, considerando os inúmeros benefícios que ela pode promover no dia-a-dia do idoso, possibilitando-o executar com mais facilidade as atividades do cotidiano.

    Franchi e Montenegro (2005) ressaltam que o aumento da população idosa gera necessidades de mudanças na estrutura social para que estas pessoas, ao avançarem na sua idade, não fiquem à margem do espaço social, alienadas da sociedade, sentindo-se inativas, com incapacidades físicas e dependentes.

    A pouca ênfase dada aos aspectos inerentes à terceira idade e sua relação com a saúde, por meio da prática de atividade física tem se mostrado um problema que pode e deve ser minimizado, uma vez que os benefícios são inúmeros, propiciando mais qualidade de vida às pessoas dessa faixa etária.

    Assim, nosso objetivo é verificar de que forma um trabalho com exercícios resistidos pode contribuir para melhor qualidade de vida do idoso, possibilitando-o melhor saúde e, conseqüentemente, ampliando suas possibilidades de integração e socialização além do restabelecimento físico, culminando numa mudança positiva em todos os aspectos.

    Acredita-se que a prática regular de exercícios físicos na terceira idade, com ênfase nos exercícios resistidos ou de força, promova benefícios importantes para o idoso, abrangendo-o de uma forma global e promovendo maior bem-estar.

    Tal estudo é importante uma vez que contribui para um olhar diferenciado em relação à prática regular do exercício físico entre idosos, desmitificando pontos controversos e permitindo, ao profissional de educação física, um efetivo trabalho com um público que busca qualidade de vida em todos os seus aspectos.

Revisão de literatura

1.     Envelhecimento

    De acordo com registros de Virgens et. al. (2006) o envelhecimento é conceituado por vários autores como um conjunto de modificações morfofisiológicas e psicológicas que surgem sobre as pessoas como conseqüência da ação do tempo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) apresenta, de acordo com os autores, que a definição de idoso varia entre os países desenvolvidos, que o classifica com idade igual ou superior a 65 anos e os países em desenvolvimento, como o Brasil, identificando como idoso o indivíduo com mais de 60 anos, ou os que ainda não atingiram esta idade, mas apresentam envelhecimento precoce causado pelas dificuldades da vida.

    Arantes (2000) aponta que o processo de envelhecimento humano tem início por volta dos 45 anos, contudo alguns pesquisadores e a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmam que a terceira idade se instaura a partir dos 65 anos, onde o envelhecer é visto como um processo evolutivo natural e universal.

    Conforme Argimon et al.(2008), o envelhecimento pressupõe alterações biopsicossociais, onde as mudanças ocorrem em diferentes ritmos por meio de alterações graduais e naturais, as quais variam conforme as características genéticas e o estilo de vida de cada pessoa.

    O envelhecimento humano, segundo Nadai (2000) é visto de diferentes formas conforme a sociedade e a cultura de cada povo, sendo que na sociedade ocidental, a velhice é encarada de forma marginalizada, pois a produção e a capacidade de adaptação diminuem nessa fase da vida, e isso faz com que o idoso seja visto com preconceito, tendo poucas condições para viver com dignidade e bem-estar.

    Ocorrem muitas mudanças no processo de envelhecimento e Arantes (2000) menciona as alterações funcionais do organismo, com atrofia do sistema cárdio-respiratório e do aparelho locomotor; sendo que alguns idosos trazem ainda como agravantes a aquisição dos hábitos de bebida e tabagismo, a ausência de ocupação, presença de situações de stress e o isolamento social, o que contribui de forma significativa para um envelhecimento menos saudável.

    Nadai (2000) registra que o envelhecimento provoca alterações, as quais geralmente reduzem o desempenho e a capacidade orgânica do indivíduo, e Faria e Marinho (2004) ressaltam que se trata de um processo complexo que envolve inúmeras variáveis.

    O envelhecimento, segundo Nadai (2000), se manifesta de forma ímpar nas esferas fisiológica, cognitiva e psicológica da pessoa, sendo que em nível fisiológico ocorrem muitas alterações no organismo tais como progressiva atrofia muscular, fraqueza funcional, descalcificação óssea, aumento da espessura da parede de vasos, aumento do nível de gordura, diminuição da capacidade coordenativa, entre outros.

    No que se refere à cognição, a autora aponta que o envelhecer promove um declínio cognitivo, sendo fruto da desmotivação que se manifesta entre os idosos; já os aspectos de ordem psicológica apresentam uma reclusão do idoso, onde o mesmo, de acordo com a aceitação ou recusa da sua condição, terá ou não uma adaptação.

    Souza e Barbosa (2006) ressaltam que o idoso se caracteriza pelas alterações que sofre nos campos biológico, psicológico e social; sendo os aspectos biológicos os mais visíveis devido às mudanças na sua aparência física.

    O idoso sente necessidade de melhorar a saúde, seu estado físico e psicológico para que possa ter uma vida mais tranqüila, sem maiores problemas e consiga encarar a velhice com menos medo, pois o idoso que vê a velhice pelas alterações positivas a relaciona com autonomia física e mental, resultando em capacidade, atividade, beleza, independência, participação e integração. (NERI, 2000)

2.     Envelhecimento e saúde / qualidade de vida

    Argimon et al (2008) descrevem que a saúde do idoso está diretamente relacionada com a sua qualidade de vida, onde apresenta habilidade/capacidade de desempenhar atividades do dia-a-dia, obtendo satisfação. Registram também que uma concepção de qualidade de vida incorpora um estilo de vida ativo, onde o idoso passa a desempenhar outras atividades, as quais o inserem de forma significativa no campo social. Todos esses aspectos permitem uma melhor saúde física e psicológica do idoso.

    Nas últimas décadas têm-se observado uma crescente preocupação em relação ao cuidado com a saúde e a qualidade de vida do idoso, e com isso “o estilo de vida ativo passou a ser considerado um fator preponderante na promoção da saúde e redução da mortalidade entre os idosos”. (ARGIMON et al., 2008, p.63).

    Considerando-se as várias transformações e implicações presentes no envelhecimento, tais como mobilidade, autonomia e saúde, Faria e Marinho (2004) destacam que a qualidade de vida é de extrema importância para essa população, atuando de forma a promover fatores positivos que possam contrabalancear os aspectos que marcam um declínio de todas as atividades do idoso.

    Franchi e Montenegro (2005) ressaltam que há cinco fatores importantes e que devem ser recomendados para o idoso ter uma boa saúde, relacionando: vida independente, casa, ocupação, afeição e comunicação. Os autores enfatizam que se algum desses fatores estiver deficiente, a qualidade de vida do idoso estará comprometida.

    Um ponto importante citado por Néri (2000) mostra que baixos níveis de saúde na velhice associam-se com altos níveis de depressão e angústia e ainda com baixos níveis de satisfação de vida e bem estar. Afirma também que as dificuldades do idoso em realizar as atividades da vida diária, devido a problemas físicos, causam dificuldades nas relações sociais e na manutenção da autonomia, trazendo prejuízos à sua saúde emocional.

    Os autores Franchi e Montenegro (2005) discutem essas questões e relatam que o conceito “envelhecimento com sucesso” (p.153) engloba três diferentes domínios multidimensionais: o primeiro é o de evitar as doenças e incapacidades; o segundo é manter uma alta função física e cognitiva; e o terceiro e último é o de engajar-se de forma sustentada em atividades sociais e produtivas.

    Lima e Pereira (2009) afirmam que um dos grandes aliados do idoso para a obtenção de uma vida saudável é o exercício físico, uma vez que a velhice impõe uma série de alterações na saúde. Pesquisas que discutem essas questões apontam o exercício físico como um dos elementos decisivos para a aquisição e manutenção da saúde, da aptidão física e do bem-estar, fatores indicadores de uma boa qualidade de vida em pessoas idosas.

    O processo de envelhecimento do ser humano enfatiza Rebelatto et al. (2006), tem sido foco de atenção crescente por parte dos cientistas em todo o mundo, na medida em que a quantidade de indivíduos que chega à terceira idade aumenta e, por decorrência, faz com que tanto os problemas de saúde quanto os vários aspectos relativos à qualidade de vida dessa população sejam objetos de preocupação e de estudos.

    Segundo Araújo (2003) há um consenso que o número e a proporção de idosos na população tende a crescer de forma significativa nas próximas décadas, e junto com esse crescimento surge também a preocupação em relação à qualidade de vida que esses indivíduos poderão gozar nos seus anos derradeiros. O declínio associado à capacidade funcional, para Coloma et al. (2004) parece ser inevitável com o envelhecimento, contudo, existem fortes evidências de que muitas funções não necessariamente declinam em uma taxa constante.

    Nóbrega et al. (2001) estabeleceram um esquema que apresenta um ciclo vicioso que permeia o processo de envelhecimento:

Fonte: Nóbrega et al., 2001, p. 13.

    Assim, Rebelatto et al. (2006) apontam que a maioria das perdas funcionais se acentua com a idade devido à insuficiente atividade do sistema neuromuscular, ao desuso e a diminuição do condicionamento físico, determinando complicações e condições debilitantes, que por sua vez conduzem à imobilidade, desuso, debilidade muscular e enfermidade, estabelecendo-se um círculo vicioso clássico em geriatria.

3.     Prática de atividade física e o idoso

    A prática regular de atividade física, para Nóbrega et al. (2001), melhora a força, a massa muscular e a flexibilidade, notadamente em indivíduos acima de 50 anos. Também contribui para uma diminuição da incidência de quedas e o risco de fraturas. Assim, o exercício físico pode ser considerado um componente de grande importância para uma vida saudável em cidadãos idosos.

    Muito embora, nos dias atuais esteja aumentando a prática de atividades físicas no âmbito da população idosa, muitos ainda não a realizam e, inclusive, são desaconselhados a participar de programas de condicionamento físico (REBELATTO et al, 2006).

    Para Fischer (2006) a atividade física é uma forma de manter uma boa saúde e de melhorar a qualidade de vida entre os idosos. O autor ressalta ainda que entre todos os grupos etários, as pessoas idosas são as mais beneficiadas com a prática de exercícios físicos, pois, o risco de muitas doenças e problemas de saúde comuns na velhice, tende a diminuir com a atividade física regular.

    Teixeira (2001) coloca que os principais fatores que influenciam o envelhecimento são: tempo; hereditariedade; meio ambiente; dieta; estilo de vida; nível de atividade física. O autor também ressalta que o envelhecimento causa alguns efeitos no sistema muscular do idoso, preconizando a diminuição de número de células musculares; tamanho das células musculares; fluxo sanguíneo para o músculo; velocidade de contrações musculares; elasticidade muscular; conteúdo de água e gordura no músculo; facilidade dos músculos sofrerem lesões; capacidade dos músculos se recomporem. Dessa forma, é possível perceber que o avanço da idade traz comprometimentos funcionais sérios ao idoso, e P-Frimer et al. (2005) ressaltam os efeitos da atividade física, uma vez que essa prática previne e reduz o declínio funcional e os riscos de uma vida sedentária relacionados à idade.

    Rebelatto et al. (2006) relata que a prática regular de exercícios físicos é uma estratégia preventiva primária, atrativa e eficaz para manter e melhorar o estado de saúde física e psíquica em qualquer idade, tendo efeitos benéficos diretos e indiretos para prevenir e retardar as perdas funcionais do envelhecimento, reduzindo o risco de enfermidades e transtornos freqüentes na terceira idade.

    De acordo com Teixeira (2001) o condicionamento físico não pode restaurar os tecidos que já foram destruídos, porém tem a capacidade de proteger o praticante contra um grande número de doenças crônicas que surgem com o envelhecimento. Todavia, o autor coloca que o mais importante é que o exercício físico maximize as funções fisiológicas do organismo que ainda estão conservadas, ressaltando também que, em alguns casos, a idade biológica é reduzida até em mais de 20 anos, ocorrendo um incremento na expectativa de vida, adiamento de condições debilitantes e surgindo ganhos na qualidade de vida.

    A manutenção de bons níveis de capacidades físicas, para Ferreira e Gobbi (2003) é fundamental para proporcionar uma capacidade funcional adequada aos indivíduos, pois, com a prática regular de atividades físicas o idoso pode melhorar ou manter bons níveis de capacidade cárdio-respiratória, flexibilidade, coordenação, resistência de força e agilidade. Os autores destacam também que a agilidade, em conjunto com as demais capacidades físicas, proporciona uma maior independência do indivíduo na terceira idade, contribuindo assim para evitar os efeitos negativos de uma dependência física.

    Teixeira (2001) dá destaque especial aos benefícios que a atividade física pode promover ao idoso, e registra que ao praticar exercícios físicos o idoso terá: aumento da força muscular; aumento da resistência muscular; aumento da flexibilidade; aumento do fluxo sanguíneo para os músculos; diminuição de lesões musculares; melhora da coordenação; melhora da digestão e excreção.

    Silva e Barros (2003) enfatizam que a participação do idoso em programas de exercício físico pode influenciar no processo de envelhecimento, com impacto sobre a qualidade e a expectativa de vida, com melhoria acentuada das funções orgânicas, garantindo maior independência pessoal e um efeito benéfico no controle, tratamento e prevenção de doenças. Ainda em conformidade com os autores é consensual que o exercício físico exerce um papel benéfico para a saúde entre os idosos, no entanto ainda persistem dúvidas quanto à quantidade e intensidade mais apropriadas a serem utilizadas.

    Durante os últimos 10 anos ficou comprovado, de acordo com Teixeira (2001) que os idosos que participam de programas de atividade física são beneficiados, pois essas atividades podem reverter uma acentuação da debilidade funcional, por meio do aumento na capacidade funcional, do menor fator de risco e da possibilidade de controle no desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas e da melhoria dos parâmetros emocionais.

    Algumas vezes, no entanto, é difícil o idoso perceber todos esses benefícios e, segundo Benedetti et. al (2003), é um desafio fazer com que eles, durante sua existência, aproveitem melhor o tempo que lhes resta de maneira saudável, independente, com autonomia, sentindo-se bem e, dentro do possível, com melhor qualidade de vida.

    Benedetti et al. (2003) ressaltam também que os exercícios físicos são fatores de restauração da saúde e que proporcionam maior equilíbrio nesta etapa da vida, logo, o sedentarismo torna-se um inimigo para a população idosa, e deve ser terminantemente abolido. O sedentarismo prolongado que ocorre em muitos idosos leva a uma diminuição gradativa do condicionamento físico, comprometendo de forma bastante acentuada a sua qualidade de vida (SANTARÉM, 2001).

4.     O idoso e os exercícios resistidos

    Apesar das inevitáveis conseqüências do envelhecimento, Coloma et al. (2004) coloca que existe a possibilidade de modificar fisiologicamente este processo por meio de um programa de exercícios apropriados e medidas preventivas para a manutenção da saúde.

    Chagas (2001) relata que a adaptação funcional mais importante que acontece é a força e, conseqüentemente vai haver um aperfeiçoamento no desempenho das atividades relacionadas com essa valência física. No que tange às investigações, verifica-se um aumento crescente de pesquisas adequadamente controladas que demonstram resultados significativos do treinamento de força muscular de alta intensidade para idosos, no aumento da força muscular, mesmo quando os sujeitos apresentam faixas etárias avançadas.

    Gonçalves et al. (2007) colocam que os níveis adequados de força muscular e flexibilidade dentre outros fatores, são determinantes para a eficácia na execução dos diferentes movimentos envolvidos na realização das atividades da vida diária. Com a diminuição na funcionalidade de tais componentes e com o avançar da idade, pode surgir o comprometimento parcial ou completo na realização das atividades da vida diária, acarretando em maior dependência do idoso e na redução de sua qualidade de vida.

    Em uma pesquisa realizada por Glaner (2003) foram obtidos dados que mostraram que dos acidentes com idosos, 70% são devido a uma diminuição na capacidade de andar, correr, saltar e coordenar movimentos, então, torna-se evidente a importância da força/resistência aliadas à flexibilidade para esta faixa etária. A autora também apresenta que a força/resistência é importante na relação aptidão física/saúde, pois são requeridas em várias atividades diárias, tais como carregar compras, transportar objetos, manter a postura, entre outras.

    Rogatto e Gobbi (2001) partilham do mesmo ponto de vista e registram que a diminuição da força muscular é um fator freqüentemente observado em idosos, e pode comprometer o desempenho de atividades comuns da vida diária. A importância do desenvolvimento de um programa de exercícios de força para a conservação da capacidade de trabalho, segundo Silva e Farinatti (2007) torna-se cada vez maior conforme o aumento da idade do indivíduo, já que há tendência progressiva ao declínio.

    Fischer (2006) relata que há algum tempo atrás a prescrição de exercícios físicos para idosos era feita com a orientação de realizarem caminhadas leves. Percebeu-se que tal conceito estava equivocado, pois pouquíssimos benefícios foram observados com a realização de exercícios leves. O autor destaca que alguns estudos têm demonstrado que os exercícios intensos ou moderados podem favorecer alguns aspectos físicos promovendo o aprimoramento da capacidade cardiorrespiratória, além de mudanças na composição corporal com a diminuição dos níveis de gordura corporal.

    Em relação à recuperação da força muscular em idosos, Rebellato et al. (2006) ressalta que alguns estudos têm demonstrado que ela pode ser adquirida mediante programas de exercícios físicos de força e resistência de alta ou baixa intensidade, inclusive em nonagenários. Silva e Farinatti (2007) mencionam que a força muscular pode melhorar em idosos, desde que estes se submetam a um programa de trabalho com sobrecargas.

    Vários estudos colocam segundo Silva e Barros (2003) que por meio do treinamento de força é possível aumentar a agilidade dos idosos, melhorando a capacidade dessas pessoas em realizar deslocamentos, alterando seu centro de gravidade e, a partir daí incrementando seu equilíbrio, possibilitando aos idosos realizarem com segurança os movimentos do dia-a-dia.

    Atualmente, de acordo com Santarém (2001), os programas de condicionamento físico para idosos estão enfatizando cada vez mais os exercícios resistidos. O acúmulo de resultados positivos nessa direção, explica o aumento considerável de um trabalho de exercícios de força direcionados à terceira idade. Um estudo de Teixeira (2001) demonstra que o treinamento intenso de força aumenta de forma significativa a força muscular e a mobilidade funcional em idosos com mais de 96 anos, ressaltando ainda que o treinamento seja uma forma de diminuir o declínio da força e da massa muscular relacionado à idade.

    Vale et al. (2006) relatam que o treinamento resistido ajuda a preservar e aprimorar a qualidade física nos indivíduos mais velhos, contribuindo para contrabalancear a fraqueza e a fragilidade muscular e melhorar a mobilidade e a flexibilidade. A prática de programas de exercícios físicos voltados para o desenvolvimento da força muscular e a flexibilidade são recomendados como relatam Gonçalves et al. (2007), como meio de atenuar ou reverter os efeitos negativos relacionados ao envelhecimento, contribuindo em alto grau para o aprimoramento de todas as capacidades funcionais necessárias para que o indivíduo mantenha uma ótima aptidão física.

    Teixeira (2001) relata que embora o treinamento de força seja aceito há muito tempo como meio para desenvolver a massa e a força muscular, seus benefícios em outras esferas da saúde somente foram reconhecidos há pouco tempo, e cita como exemplo que apenas em 1990, o American College of Sports Medicine (ACSM) reconheceu o treinamento da força como um componente importante da aptidão física com referência à saúde para adultos de todas as idades. Atualmente, conforme destaca o autor vários estudos comprovam os benefícios que as pessoas com mais de 60 aos de idade podem obter com os exercícios, desde prevenção de fatores de risco para doenças variadas, englobando os efeitos psicológicos, com melhoria da auto-estima, passando por aspectos importantes, como a manutenção da autonomia funcional.

    Raso (2003) relata que as qualidades de aptidão física (força, potência, resistência, flexibilidade e coordenação) são importantes para as atividades da vida diária do idoso, e recebem estimulação através dos exercícios de força. Estes, segundo o autor, são também conhecidos como exercícios de contra resistência ou resistidos, geralmente realizados com pesos. Tais exercícios são recomendados como ideais para pessoas idosas em função de sua grande eficiência para amenizar os efeitos do sedentarismo. Esses exercícios têm importantes efeitos estimulantes para a saúde, sendo os mais eficientes para aumentar a massa óssea e a massa muscular, reduzindo o tecido adiposo e aprimorando a força muscular, a flexibilidade e a resistência.

    Para Hunter et al. (2004) as perdas de massa óssea e muscular costumam ser progressivas nos idosos. Uma pessoa sedentária perde de 5-10% de massa muscular entre os 20 e 50 anos de idade, e cerca de 30-40% entre os 50 e 80 anos. Os autores relatam também que a quantidade de perda associada à idade na força e massa muscular pode ser revertida com o treinamento de força, destacando que nos exercícios resistidos, o controle que se tem dos fatores indutores de lesões é total, o que confere a essa atividade características de exercícios terapêuticos, justificando a baixa incidência de intercorrências músculo-esquelético.

    Silva e Farinatti (2007) salientam que os benefícios promovidos pelo treinamento de contra resistência dependem da manipulação de vários fatores, dentre os quais se destacam a intensidade, a freqüência e o volume de treinamento. Tais fatores, por sua vez, derivam da combinação do número de repetições, séries, sobrecarga, seqüência e intervalos entre as séries e os exercícios, e a velocidade de execução dos movimentos impostos ao treinamento.

    Em relação à força, Teixeira (2001) menciona que uma das características mais marcantes do processo de envelhecimento é o declínio gradual da capacidade de desempenho muscular, se constituindo em um fenômeno que se mostra como uma das principais causas da perda da independência funcional dos idosos. O autor enfatiza que as diferenças entre indivíduos mal ou bem condicionados fisicamente tornam-se evidentes com a idade através do esforço relativo imposto por tarefas como subir escadas, transportar pesos ou caminhar longas distâncias. A função muscular também é, inegavelmente, importante para um grande número de atividades do dia-a-dia.

    Níveis moderados de força fazem-se necessários para caminhar, transportar compras, subir escadas, utilizar transportes coletivos, cozinhar, assim como em várias atividades profissionais e de lazer, e de acordo com Rogatto e Gobbi (2001) Oe exercícios resistidos podem favorecer um aumento, ou pelo menos manutenção dos níveis de força e da área muscular em indivíduos idosos,

    A manutenção da força muscular destaca Teixeira (2001), contribui para prevenir a instabilidade articular e a osteoporose, diminuindo o risco de quedas e mesmo para melhorar a auto-estima. Todos os idosos podem e devem se exercitar na medida das suas capacidades.

    Santarém (2001) relata que, além dos benefícios registrados, a prática promove a socialização entre os idosos, uma vez que os exercícios não produzem sensação de cansaço respiratório, e são interrompidos para intervalos de descanso, favorecendo a interação verbal entre as pessoas.

    Coloma et al. (2004) destaca que as investigações científicas nos últimos anos, demonstraram que o treinamento de força pode ser adotado com sucesso e segurança nas populações mais velhas, o que vem colocar a prática do exercício físico como um aliado importante, pois além de combater o sedentarismo, contribui de forma significativa para a manutenção da aptidão física do idoso, tanto na saúde como nas suas capacidades funcionais.

Considerações finais

    O envelhecimento é um processo natural e comum a todos os seres vivos, conduzindo a uma perda progressiva das aptidões funcionais dos organismos, aumentando o índice de sedentarismo, o que por sua vez, leva o idoso a um enfraquecimento por falta da realização de atividade física que estimule o seu organismo. O sedentarismo se constitui em fator de risco, contribuindo para o surgimento e evolução de doenças crônicas, e mediante as limitações que o avanço da idade traz, os idosos apelam para uma vida sedentária, todavia deve ser combatida por meio da prática de atividades e exercícios físicos.

    Especialmente para os idosos, os exercícios resistidos são muito importantes, pois auxiliam na diminuição do declínio da força da massa muscular, que estão relacionados com o avanço da idade. Considerando-se a importância da força muscular para as capacidades funcionais, conforme verificado nas revisões literárias, esta vai enfraquecendo em decorrência do envelhecimento, e isso impede que os idosos realizem atividades simples, como levantar-se de uma cadeira, ou mesmo carregar uma sacola.

    A manutenção da força é imprescindível para a saúde, uma vez que promove, além da independência funcional, uma defesa nas quedas, as quais são causas freqüentes de lesões em idosos.

    O exercício de força é um caminho para que o idoso adote um estilo de vida mais saudável, além de promover sua integração com as pessoas. A melhora fisiológica e funcional do idoso vai refletir no seu relacionamento social e nas questões psicológicas, uma vez que se sentirá mais útil, aumentando a sua auto-estima, a sua confiança, permitindo-lhe uma maior integração dentro da sociedade.

    Podemos registrar, portanto, que os benefícios vão além da esfera física, abrangendo os aspectos psicológicos e sociais, logo, tendo em vista todos esses benefícios é importante que tais programas de atividades físicas sejam mais divulgados, uma vez que ainda existem muitos idosos que desconhecem os resultados positivos dessa prática.

    Conclui-se desta forma, que o exercício resistido favorece o idoso no fortalecimento físico, no relacionamento com outras pessoas, possibilita uma melhor disposição para realização de suas atividades diárias resultando, conseqüentemente, em melhor saúde.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 167 | Buenos Aires, Abril de 2012
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