Esporte e educação: reflexões sobre o discurso midiático Deporte y educación: reflexiones sobre el discurso mediático |
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Cidade Nova, Feira de Santana, Bahia (Brasil) |
Prof. Esp. Elson Moura Junior Prof. Esp. Michael Daian Pacheco Ramos |
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Resumo O presente artigo trata das relações existentes entre o discurso midiático e o aspecto educativo do esporte, tendo como pressupostos teóricos as perspectivas críticas da educação física. Caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de caráter explicativo. Como considerações finais, percebe-se que a grande mídia expressa um discurso “falacioso” sobre as possibilidades educativas do esporte, possibilidades estas que não levam os indivíduos a uma emancipação humana. Unitermos: Esporte. Educação. Mídia.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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“O esporte educa para a vida”, “o esporte educa para tirar das drogas”, “o esporte educa para a cidadania”, “o esporte educa para o bom cumprimento das regras sociais”. Estas e tantas outras frases, tendo a educação como eixo, são ditas na mídia contemporânea, atribuindo ao esporte uma função de educar os jovens brasileiros para aspectos positivos necessários para o convívio social. Até que ponto o esporte tem este potencial educativo? Até que ponto o esporte propaga valores verdadeiramente positivos? Até que ponto o esporte, praticado em sua forma hegemônica, ou seja, competitivo, tem o poder de educar jovens brasileiros para aspectos positivos? De que forma se dá, na contemporaneidade, a utilização do esporte enquanto ferramenta educacional?
Estas são perguntas que não freqüentam cotidianamente os círculos de debates propiciados pela mídia esportiva especializada e geral. Fato é que o esporte educa. Atletas, técnicos, ex-atletas e professores (em sua maioria de educação física) atribuem ao esporte este poder sem questionamentos, problematizações ou indagações sobre de que esporte estamos falando ou de que educação estamos falando. Apenas, educa!
Pensemos: de acordo Guareshi (2000, p. 99) educação é uma palavra oriunda do latim exduerce, onde ex significa “de dentro para fora” e duerce significa “levar”, ou seja, levar de dentro para fora. Sendo assim temos um processo externo que tem o potencial de colocar, levar para fora características humanas adquiridas no contato com um contexto social. Tais características podem ser de cunho positivo: responsabilidade, afetividade, amizade; como também negativas: individualismo, violência e muitas outras. Diante disso, de que características destas falamos quando atribuímos ao esporte seu poder de educar os jovens? Negativas ou positivas, quais se destacam?
Pensemos como Bracht (2005, p. 16) quando este diferencia o esporte em “rendimento ou espetáculo e atividade de lazer” (ibid). O autor nega a divisão tripartite1 do esporte em competição, lazer e educação por entender que educação, mesmo se falando no esporte na ou da escola, está presente nas duas subdivisões, ou seja, rendimento ou lazer. Cabe ao indivíduo que se utiliza do esporte enquanto ferramenta de educação, educar para os valores presentes no esporte lazer, participação ou para os valores existentes no esporte espetáculo ou rendimento. Mas quais seriam estes valores? Antes da busca pela resposta, uma observação: neste artigo estamos falando de formas hegemônicas, ou seja, por mais que vejamos aspectos negativos ou vice versa, não estamos anulando a possibilidade de que estes possam abrir espaço para os aspectos contrários. Não é, por exemplo, por apontar este ou aquele tipo de esporte como sendo um propagador de características negativas que o mesmo não apresente a possibilidade de ser também um propagador de características positivas.
Sendo assim, discutamos agora os valores presentes no esporte de rendimento e no esporte lazer.
Ao pensarmos no lazer, temos como definições as atividades realizadas no momento do não trabalho (abstrato), como busca do indivíduo de suas realização pessoais, ou seja, uma busca pelo verdadeiro sentido de trabalho concreto, aquele em que o produtor se reconhece no produto, o produtor se beneficia com o produzido. Sendo assim, esporte lazer ou participação é aquele em que o indivíduo se ou deve se reconhecer no produto final de sua atividade, deve se beneficiar da sua realização. Portanto, no momento em que 20, 30 ou 40 pessoas se postam a pratica desta tipologia de esporte, a totalidade deve ser beneficiada; obviamente que cada um na sua especificidade, na sua individualidade. Para que isto ocorra alguns valores devem ser trabalhados: solidariedade, cooperação, coparticipação, organização coletiva, respeito às diferenças dentre outras. Como organizar uma atividade que preze pela satisfação de sua totalidade se não priorizarmos a organização coletiva que depende do respeito às diferenças, o que propiciará a coparticipação, ou seja, a participação de todos os indivíduos envolvidos?
O indivíduo que utiliza o esporte lazer ou participação como sustentação de suas ações não pode esquecer que o lazer pode ser utilizado tanto “(...) como veículo e como objetivo da educação.” (MARCELINO, 2002, p. 50). Sendo assim, tanto como ferramenta quanto como objetivo, os valores acima descritos necessitam de estar presente caso contrário a atividade corre o risco de se tornar uma atividade excludente em que o espírito de realização pessoal tornar-se-á um benefício de alguns poucos.
Não se trata de uma análise em que não se considere a imposição do esporte espetáculo, tendo a mídia como grande aliada, na própria pratica do esporte lazer. Um breve passeio pelas “peladas”2 nos mostra que os valores do esporte de rendimento invadem a pratica na perspectiva do lazer. Não se trata também de considerar tal ato como sendo feito sem tensão, ou seja, como se o esporte lazer não oferecesse resistência.
Falaremos agora da tipologia esportiva que atua sobre a égide da mídia: o esporte de competição ou rendimento. Quais os valores presentes neste tipo de esporte? Para responder tal questionamento recorreremos à história.
Kunz (2004), Bracht (2005), Assis (2005) e Betti (2004), dentre outros são unânimes em considerar o esporte moderno como sendo este nascido por volta dos séculos XVIII- XIX, no seio de uma Inglaterra industrial, na estruturação do modo de produção capitalista, tendo como objetivo principal de sua criação a adequação dos indivíduos da época aos valores e necessidades de um sistema que necessitou de um novo trabalhador, devido suas novas formas de organização. Ora, pensemos: quais as necessidades do modo de produção capitalista? Que tipo de trabalhador era exigido? Que valores eram necessários para manutenção da ordem?
Já que o esporte mantém uma inter-relação com a estrutura macro, analisar tais valores é analisar também a atuação do esporte enquanto propagador dos mesmos.
Para manutenção da opressão e repressão do homem sobre o homem, da subsunção do trabalho ao capital, é necessário que o indivíduo tenha como natural a competição, sendo que a derrota é conseqüência de sua má aplicação em determinada atividade. É preciso também que este indivíduo seja um tecnicista, ou seja, só se preocupe com a técnica que lhe foi passada, o processo não lhe diz respeito, portanto um indivíduo alienado do processo. Por ser um derrotado (competição) não tem o direito de se apropriar do produto final, ou seja, alienado também do produto final. Deve ser acrítico, se apoiar no racionalismo3, individualista, enxergar a realidade de forma fragmentada, haja visto que a totalidade lhe esclarecerá as coisas.
Já que o esporte é determinado socialmente e é também é um determinante social, e já que o esporte de rendimento é fruto das determinações capitalistas, logo o esporte de rendimento tem como seus valores a serem aplicados: a alienação, o racionalismo, a competição, o tecnicismo, individualismo, visão parcial, dentre outras. Cabe, portanto ao educador que se utiliza desta perspectiva atuar, mesmo que não saiba, sobre estes pilares. Grande aliado é a mídia; extremamente interessada na venda de mercadorias (dentre elas o próprio esporte).
Sendo assim temos que o esporte educa sim, porém avançamos na análise ao entender que os valores que estão presentes nas duas tipologias aqui por nós trabalhadas, apresentam-se como antagônicos: um, transformação, o outro, manutenção do estado atual.
Notas
Mesmo tendo a consciência de que esta divisão está presente nos projetos de políticas publicas de esporte e lazer.
Forma como em algumas regiões é chamado o jogo de futebol.
Diferente de racional por negar a emoção, a afetividade.
Referências
ASSIS, Sávio. Esporte, escola e transformação social. Instituto Brasileiro de Direito Desportivo.
______. Reinventando o esporte: possibilidades da prática pedagógica. 2ª ed. Campinas: Autores Associados, 2005.
BETTI, Mauro. Violência em campo: dinheiro, mídia e transgressões às regras do futebol. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004.
BRACHT, Valter. Sociologia crítica do Esporte: uma introdução. 3ª ed. Ijuí: Ed, Unijuí, 2005
GUEDES, D. P. & GUEDES, J.E.R.P. Educação Física Escolar: Uma proposta de Promoção da Saúde Revista da Associação de Professores de Educação Física. Londrina, v. 7, n. 14, p. 16-23, 1993.
GUARESHI, Pedrinho. Sociologia Crítica: alternativas de mudança. 47° ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2000.
KUNZ, Elenor. Transformação didático-pedagógica do Esporte. 6. ed. Ijuí: Unijuí, 2004.
MARCELINO, Nelson de Carvalho. Estudos do Lazer: uma introdução. 3ª ed. Autores Associados, Campinas, 2002.
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