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Efeitos dos treinamentos de endurance e de força nas 

medidas antropométricas em uma população maior de 20 anos

Efectos del entrenamiento de endurance y de fuerza en las medidas antropométricas en una población mayor de 20 años

 

Graduação em Educação Física

Universidade Federal de Pelotas, UFPEL, Pelotas

(Brasil)

Alex Sander Souza de Souza

chandysouza@bol.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A partir do aperfeiçoamento dos instrumentos capazes de auxiliar o aferimento com maior precisão dos índices desejáveis para um corpo saudável como, por exemplo, o índice de massa corporal (IMC), percentual de gordura (%G) e relação cintura quadril (RCQ) constata-se uma piora da população em relação a esses indicadores. Assim, esta revisão tem por objetivo geral avaliar os efeitos do exercício físico, na fase adulta (de 20 a 55 anos), quanto ao melhoramento da saúde. Os estudos que não tiveram sucesso na minimização dos índices apresentados na tabela 2, ainda assim tiveram resultados positivos em outras variáveis desprezadas por este estudo, por não ter relevância para esta revisão. Pode- se constatar que na maioria dos estudos foi possível obter mudanças significativas nas medidas corporais. Apesar de ainda ter muito que fazer pelo avanço das pesquisas, já está comprovado que o exercício físico é um fator determinante na vida de todos, para uma melhor saúde (quando o exercício é rotina), ou pela falta de saúde (quando o sedentarismo existe). Novas pesquisas devem existir para uma melhor fixação dos benefícios atribuídos a saúde humana.

          Unitermos: Treinamentos de endurance. Força. Medidas antropométricas.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Os diversos tipos de atividade física adotados pela população, para manter a saúde e/ou o corpo na forma idealizada, podem ser classificados como exercício de endurance (atividades de longa duração, com intensidade moderada) e exercícios de força (atividades de curta duração e carga elevada). Força muscular é definida como a capacidade de um músculo ou um grupo muscular de exercer força e, a resistência muscular como a capacidade de um músculo ou um grupo muscular contrair-se repetidamente durante um período de tempo¹. Ambos os tipos de exercício citados são importantes para a manutenção e o desenvolvimento de um corpo saudável.

    A partir do aperfeiçoamento dos instrumentos capazes de auxiliar o aferimento com maior precisão dos índices desejáveis para um corpo saudável como, por exemplo, o índice de massa corporal (IMC), constata-se uma piora da população em relação a esse indicador. O uso do IMC, entretanto, pode ser questionado quando se trata de individualização, pois o resultado pode ser tortuoso, uma vez que ele não particulariza a quantia exata de gordura corporal, mas sim o peso corporal total. O IMC reflete a mudança ocorrida na composição corporal de indivíduos submetidos a exercícios físicos, como o aumento da oxidação de gorduras, promovendo a perda gradual destas substâncias com conseqüente elevação da massa magra, o que pode ser interpretado erroneamente como excessivo ganho de peso2. Quando, por outro ângulo, se fala em questões epidemiológicas de saúde, a medida ganha um grau de importância maior. Ainda que o IMC não possibilite definir a composição corporal e não expresse a distribuição de gordura, é importante na determinação do risco a muitas doenças.

    Outra medida relacionada à saúde humana, e muito importante é o percentual de gordura (%G). Evitando o acúmulo de gordura subcutânea automaticamente se evitam muitas doenças causadas pelo alto índice de gordura. A gordura pode se acumular nas paredes dos vasos dificultando o fluxo sanguíneo, o que origina efeitos colaterais graves, como diabetes, hipertensão, cardiopatias, entre outras. O RCQ (relação cintura quadril) tem também relação direta com a saúde cardiovascular, por isso tem sido alvo de grandes estudos nos últimos anos. A deposição excessiva de gordura visceral na região abdominal, chamada obesidade androgênica, está associada a um risco maior de eventos coronarianos, diabetes mellitus tipo 2 e hipertensão arterial, em ambos os sexos e em diferentes etnias3. Para se evitar a elevação do %G, do IMC e do RCQ, ou para a manutenção dos mesmos no índice desejado, existem dois meios: a dieta balanceada e a pratica regular de exercícios físicos. Entre as praticas alimentares associadas ao excesso de peso tem-se o consumo de alimentos com elevada densidade calórica, com alta concentração de carboidratos simples, gordura total, ácidos graxos saturados e trans saturados2. A população adulta vem fazendo com que o índice de sedentarismo e obesidade aumente significativamente no Brasil. O acúmulo de gordura abdominal é um fator de risco que deve receber atenção. As pessoas vêm cada vez mais diminuindo o número de atividades físicas e aumentando a ingestão de alimentos em quantidades inadequadas. Uma hipótese para essa ocorrência credita-se à transição da adolescência à idade adulta, em que a rotina é modificada pela inserção no mercado de trabalho que passa a ocupar muitas horas, levando, muitas vezes a não disponibilização de tempo para cuidar da própria saúde com a prática regular de exercícios físicos. Acrescente-se a isso o fato de que com o passar dos anos o metabolismo fica mais lento, possibilitando um acumulo maior de ácidos graxos livres.

    Contudo, será que os exercícios físicos, quando usados como meio de intervenção no controle dos índices em discussão (IMC, RCQ, %G), alcançarão os benefícios almejados, como a teoria científica afirma?

    Assim, esta revisão tem por objetivo geral avaliar os efeitos do exercício físico, na fase adulta (de 20 a 55 anos), quanto ao melhoramento da saúde. E como objetivos específicos os seguintes itens: a) identificar teoricamente, através de uma revisão bibliográfica os benefícios que os exercícios trazem a saúde de praticantes dos mesmos; b) avaliar os riscos, à saúde, trazidos junto com os altos índices de IMC, RCQ e %G; c) comparar os efeitos de treinamentos dos avaliados na literatura corrente.

Metodologia

    Para o alcance dos objetivos propostos optou-se por uma metodologia adequada ao desenvolvimento do trabalho, abaixo descrita.

    A revisão bibliográfica foi feita em duas bases de dados, Google Acadêmico e PubMed. A busca por artigos foi feita através de palavras chaves diretamente relacionadas com o assunto em questão. As palavras foram exercício físico, RCQ, percentual de gordura, IMC, doenças crônicas, saúde e atividade física. Algumas delimitações foram adotadas para a seleção dos estudos que aparecem após a busca com as palavras chaves. Essas delimitações foram: apenas artigos que estivessem disponíveis na integra; com sujeitos adultos, maiores que 20 anos; nas línguas: inglês e português, á partir do ano 2001.

    Os artigos que apareceram durante a busca nas bases de dados, o titulo era averiguado para ver se o mesmo condizia com o assunto pesquisado. Caso não fosse, no mesmo momento ele era descartado. Os artigos que foram selecionados na primeira busca pelo o seu titulo estar de acordo com o que se pesquisou, foram separados para a leitura do seu resumo. Após a leitura, os resumos que não estavam dentro das limitações foram excluídos.

Resultados

    Combinando- se todos os métodos de busca, foram identificados 7 artigos preenchendo os critérios de inclusão. A tabela 1 mostra os 7 artigos na área do exercício físico e medidas corporais, em relação aos seguintes aspectos: primeiro autor, ano de publicação, faixa etária, tamanho de amostra e objetivos. No que diz respeito aos artigos revisados 5 eram com dados originais e 2 de revisão.

Tabela 1. Estudos de intervenção de exercício físico e medidas antropométricas, segundo ano de publicação, faixa etária, tamanho de amostra e objetivos.

    A importância do exercício físico tem sido cada vez mais entendida pela população. Sugere-se que a morbi-mortalidade associada às doenças crônicas poderia ser reduzida com mudanças no estilo de vida, principalmente na dieta e atividade física. Recentemente, organizações científicas como a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças de Atlanta (CDC) e o American College of Sports Medicine (ACSM) concluíram que sessões de pelo menos 30 minutos por dia, na maior parte dos dias da semana, desenvolvidas continuamente ou em períodos cumulativos de 10 a 15 minutos, em intensidade moderada, podem representar o limiar para a população adquirir os benefícios à saúde4.

    Estudos evidenciam menor morbi-mortalidade por doenças crônico-degenerativas em indivíduos fisicamente ativos. Os autores defendem que a composição corporal está intimamente ligada com a saúde do indivíduo5. Para termos um nível de composição corporal que esteja compatível com uma boa saúde devemos ter um percentual de gordura corporal entre 8 e 15% para homens e 23% para mulheres.

    A falta dos exercícios físicos juntamente com uma má alimentação são fatores que influenciam no grau de obesidade. Os autos índices de algumas medidas antropométricas são fatores relevantes para o aparecimento de doenças crônicas degenerativas, como por exemplo, o percentual de gordura. A obesidade central está mais fortemente associada com os níveis de pressão arterial do que a adi­posidade total6.

    Há uma forte associação entre o aumento do IMC e da circunferência da cintura com a hipertensão arterial6. A gordura localizada na parte central do corpo está associada a um maior número de problemas de saúde em adultos e idosos do que a distribuída abaixo da cintura4.

    A obesidade é considerada preocupante por razões de ordem social, psicológica e metabólica, estando atrelada ao desenvolvimento de comorbidades como diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares7. Estudos recentes comprovam que a caracterização do risco de doenças guarda correlação não somente com a quantidade de gordura total no corpo, mas principalmente com o tipo de distribuição corporal dessa gordura7.

    Quando comparados os treinamentos dos 5 estudos (Costa et al 2009, Barbosa et al 2009, Ferreira et al 2003, Teixeira e Salve 2009, Rocca et al) que apresentaram dados originais, foi possível constatar que todos utilizaram exercícios aeróbios, mas apenas 3 deles combinaram o exercício aeróbio e o resistido.

    Em relação à freqüência semanal da pratica do exercício, 4 tinham a freqüência semanal de 3 vezes e apenas um tinha a freqüência de 2 vezes por semana. Já em relação ao tempo da sessão de treinamento todos tinham como base 60 minutos. Os que utilizaram o exercício resistido e o aeróbio dividiram a sessão de treino em tempos iguais para as duas modalidades.

    Os índices estudados pelos autores foram peso, índice de massa corporal (IMC), relação cintura quadril (RCQ), percentual de gordura (%G), circunferência da cintura (CC), circunferência do quadril, VO2pico.

    Em três dos cinco estudos os índices tiveram diminuição siguinificativas com a intervenção proposta. A tabela 2 mostra os índices relevantes a este estudo, antes e após as intervenções.

Tabela 2. Variáveis antropométricas, antes e após as intervenções

    Os estudos que não tiveram sucesso na minimização dos índices apresentados na tabela 2, ainda assim tiveram resultados positivos em outras variáveis desprezadas por este estudo, por não ter relevância para esta revisão.

Discussão

    Nunca a prática de atividades físicas esteve tão presente na agenda de saúde pública e no debate acadêmico da área da saúde como nos últimos anos. No entanto, são apontados diversos desafios, principalmente no que se refere à metodologia dos estudos8.

    Os artigos revisados tiveram metodologias e objetivos diferentes, mas todos tinham como base principal os efeitos do exercício físico no corpo humano. Pode- se constatar que na maioria dos estudos foi possível obter mudanças siguinificativas nas medidas corporais. Apenas uma intervenção não obteve sucesso. Possivelmente pelo tempo de intervenção. Este item merece uma atenção especial, como já foi mencionado mais de 50 % das intervenções obtiverem sucesso, mas destas que obtiveram sucesso, será que minimização dos índices antropométricos foi o suficiente para que a saúde destas pessoas obtivesse um ganho? Será que o tempo de intervenção foi o suficiente?

    Outro ponto que se destaca é a forma a qual vai se direcionar o estudo. Não há uma regra geral para a prescrição dos exercícios, por isto as metodologias se diferem tanto. E possivelmente pelo mesmo motivo os resultados não são uniformes.

    Outro assunto relevante é a definição dos participantes das intervenções. Alguns estudos utilizaram pessoas sedentárias e saudáveis, outros estudos utilizavam como critério de inclusão apenas a necessidade de ser sedentária, isso pode, e com certeza é motivo para alterar resultados finais. Pois dependendo do remédio utilizado pelo voluntário, ou dependendo da patologia a sessão de treinamento responde de formas diferentes. E ainda se os voluntários eram obesos sedentários, daí mesmo que os resultados serão super estimados quando comparados com outros estudos que não utilizaram pessoas obesas.

    Os pontos questionáveis dos estudos existem, mas há também os pontos positivos, que são: incentivar as pessoas a praticar exercícios físicos, a terem uma dieta saudável, contribuir para com a ciência com novos resultados e novas possibilidades para que seja possível auxiliar as pessoas que tenham a necessidade serem educadas corporalmente.

Conclusão

    É notória a evolução dos estudos científicos em relação à importância e a prescrição dos exercícios físicos, para ganhos a saúde, mas ainda há lacunas a serem preenchidas. Uma das maiores dificuldades em relação à comprovação dos benefícios do exercício físico é que quando comparados trabalhos que tenham o mesmo objetivo muitas vezes os resultados não são uniformes, possivelmente pela metodologia utilizada ser diferente, ou porque a qualidade metodológica é ruim.

    Apesar de ainda ter muito que fazer pelo avanço das pesquisas, já está comprovado que o exercício físico é um fator determinante na vida de todos, para uma melhor saúde (quando o exercício é rotina), ou pela falta de saúde (quando o sedentarismo existe). Novas pesquisas devem existir para uma melhor fixação dos benefícios atribuídos a saúde humana.

Referencias bibliográficas

  1. ACSM Position Stand on Exercise and Physical Activity for Older Adults. Med. Sci. Sports. Exerc., Vol. 30, No. 6, pp. 992-1008, 1998

  2. Costa PRF, Assis AMO, Silva MCM et al. Mudança nos parâmetros antropométricos: a influência de um programa de intervenção nutricional e exercício físico em mulheres adultas. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(8):1763-1773, ago, 2009.

  3. Cabrera MA, Wajngarten M, Gebara OC, Diament J. Relationship between body mass index, waist circumference, and waist-to-hip ratio and mortality in elderly women: a 5-year follow-up study. Cad Saúde Pública 2005;21(3):767-75.

  4. Ferreira M, Matsudo S, Matsudo V, Braggion G. Efeitos de um programa de orientação de atividade física e nutricional sobre a ingestão alimentar e composição corporal de mulheres fisicamente ativas de 50 a 72 anos de idade. Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília v. 11 n. 1 p. 35-40 janeiro 2003.

  5. Teixeira, CVL, Salve, MGCS. Efeitos de um programa de atividade física para mulheres funcionárias da Unicamp sobre variáveis antropométricas e na composição corporal. R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 20, n. 2, p. 259-265, 2. trim. 2009.

  6. Barbosa LS, Scala, LCN, Ferreira, MG. Associação entre marcadores antropométricos de adiposidade corporal e hipertensão arterial na população adulta de Cuiabá, Mato Grosso. Rev Bras Epidemiol 2009; 12(2): 237-47.

  7. Rocca, SVSR, Tirapegui, J, Melo, CMM, Ribeiro SML. Efeito do exercício físico nos fatores de risco de doenças crônicas em mulheres obesas. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, vol. 44, n. 2, abr./jun., 2008.

  8. Hallal, PC, Dumith, SCD, Bastos, JP. Evolução da pesquisa epidemiológica em atividade física no Brasil: revisão sistemática. Rev Saúde Pública 2007;41(3):453-60.

  9. Venturim, LMVPV, Cade, NV. Efeitos do programa “p.e.s.o.” (promoção de estilo de vida saudável na obesidade) sobre variáveis antropométricas, hemodinâmicas e bioquímicas. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde.

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