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O core training como tratamento na lombalgia em 

paciente idoso portador de discopatia degenerativa

El core training como tratamiento para la lumbalgia en una persona mayor portador de discopatía degenerativa

The core training as a treatment in the low back pain of an eldery patient carrier of discopathy degeneration

 

*Graduada em Fisioterapia

**Professor titular da disciplina de Eletroterapia, UGF

Fisioterapeuta do C.R. Vasco da Gama

***Coordenador do curso de graduação em Fisioterapia, UGF

(Brasil)

Vanessa Alves dos Santos*

vanessaalves.870@gmail.com

MSc. Fernando Campbell Bordiak**

DSc. Elirez Bezerra da Silva***

coorfit@ugf.br

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O core training é uma filosofia de exercícios de estabilização de fácil aplicação e forte eficácia sobre a coluna vertebral. Este estudo de caso teve como objetivo observar a eficácia do core training sobre o tratamento da dor em uma paciente de 83 anos de idade, portadora de lombalgia por discopatia degenerativa. Metodologia: O procedimento terapêutico consistiu na realização de 4 tipos de exercícios de estabilização, seguindo a filosofia do core training, em uma periodicidade de 2 vezes semanais, por 45 minutos cada. A dor foi mensurada através da Escala Verbal Numérica (EVN) e do protocolo de McGill, com abordagens imediatamente antes da primeira e logo após a última das 10 sessões de fisioterapia. Resultados: Foram encontrados fortes resultados, onde a EVN apontou uma redução na dor de 8 para 3. Na análise do questionário de McGill houve significativa redução nos descritores de 32 para 3, e o escore de dor caiu de 32 para 7, enfatizando a redução sintomatológica. Conclusão: O fortalecimento isométrico da musculatura do core, seguindo a filosofia do core training, foi efetiva na redução da dor lombar de uma paciente idosa, portadora de discopatia degenerativa em região lombar.

          Unitermos: Contração isométrica. Fisioterapia. Coluna vertebral.

 

Abstract

          Introduction: The core training is a philosophy of stabilization exercises of easy application and strong efficacy for vertebral column. This study had as an objective reply about the efficacy of the core training as a treatment of an 83 year-old patient, carrier of low back pain caused by a degenerative discopathy. Methodology: The therapeutical procedure was consisted by the realization of stabilization exercises, following the core training philosophy, in periodicity of 2 times a week at 45 minutes each one. The pain was measured by the McGill protocol and the Verbal Numeric Scale (VNS), applied immediately before the start and after the finish of 10 sessions of physical therapy. Results: Strong results was observed, where the VNS had showed a reduction in pain from 8 to 3. At the McGill protocol analysis, a reduction of describers was observed from 32 to 3, and the pain score decreased from 32 to 7, emphasizing the reduction of the symptomatology signs. Results: The isometric contractions involving core’s muscle following the philosophy of core training was effective in reduce the low back pain of an eldery patient carrier of degenerative discopathy.

          Keywords: Isometric contraction. Physical therapy. Vertebral column.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A coluna vertebral é o segmento mais complexo e funcional do corpo humano, constituída pela superposição de uma série de ossos isolados, formada por 33 vértebras.

    Estende-se desde a base do crânio até o cóccix, é dividida em quatro regiões. Uma vértebra é composta pelo corpo, forame denominado de arco vertebral, por onde passa a medula espinhal e processos vertebrais. Entre as vértebras há uma estrutura composta por um anel fibroso que circunda um tecido mais mole, o núcleo pulposo, denominado de disco intervertebral.1,2

    Sustentando as forças de compressão, cisalhamento, flexão, extensão e rotação, o disco tolera pouco o torque axial associado à força de compressão, ocasionando, à medida que a ação se repete, sua degeneração.3 No plano frontal ou coronal, a coluna vertebral é retilínea. Quatro curvaturas podem ser identificadas no plano sagital, são elas: lordose cervical, cifose torácica, lordose lombar e cifose sacral.4

    Durante o movimento de flexão, as vértebras movem-se anteriormente, deslocando o núcleo pulposo para a região posterior, criando uma carga compressiva na sua porção anterior e uma carga tensiva ao anel fibroso posterior. No movimento de extensão, as vértebras movem-se posteriormente, deslocando o núcleo para a região anterior, tornando-o relativamente mais centralizado. Na flexão lateral, os discos intervertebrais serão comprimidos lateralmente, ocasionando o deslocamento para o lado oposto à flexão lateral (Este movimento é mais notável nas regiões cervical e lombar por estas apresentarem maior mobilidade). Tais condições refletem tanto em tensão quanto atrito no anel fibroso.5

    A coluna vertebral desenvolve-se até os 25 anos e perde retenção de água do núcleo pulposo, diminuindo sua altura e tornando-o fibrocartilaginoso, com a chegada da velhice.6 O processo de envelhecimento é natural, e ocasiona diversas alterações ósseas, modificações discais e ligamentares na coluna vertebral. É por este fator, que encontramos diversas patologias ligadas a coluna vertebral, como por exemplo, a discopatia degenerativa, que é comumente observada entre L4-L5 e L5-S1.7

    As alterações intervertebrais lombares causam o desequilíbrio entre as funções dos músculos extensores e flexores do tronco.8 Como abordagem terapêutica são recomendados, exercícios que visam o fortalecimento dos músculos envolvidos na mecânica de flexão e extensão da coluna vertebral, com o objetivo de prevenir e reabilitar o quadro álgico na região lombar.9,10

    O core training é uma técnica diretamente ligada aos exercícios corporais globais, com ênfase nas musculaturas do centro do corpo, visando à estimulação dos músculos profundos e superficiais, associado à respiração, e combinando múltiplas articulações, requerendo o equilíbrio do participante, tendo o objetivo de gerar ação postural, terapêutica, preventiva e otimizadora na função do aparelho locomotor.11,12

    O core é composto por músculos abdominais, paravertebrais, glúteos, diafragma, assoalho pélvico e músculos da articulação coxo femoral.11-14 Sua gama de exercícios é relacionada com contrações isométricas, que têm relevância no tratamento das instabilidades e processos degenerativos, promovendo o aumento da vascularização superficial.15,16

    Este estudo de caso teve como objetivo observar a eficácia do core training sobre o tratamento da dor em uma paciente de 83 anos de idade, portadora de lombalgia por discopatia degenerativa.

Metodologia

Sujeito

    Paciente do gênero feminino, com idade de 83 anos, aposentada, diagnóstico clínico de discopatia degenerativa da coluna lombar, encaminhada para tratamento fisioterapêutico, atendida na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Gama Filho.

Dor

    Para analisarmos o nível de dor foram utilizados dois tipos de testes, imediatamente antes a primeira e após a última das 10 sessões de tratamento. A escala verbal numérica no qual consiste em apontar em uma escala de zero a dez, sendo zero a ausência de dor e dez a pior dor imaginável.17 E em seguida, o questionário de MC Gill, que é um teste avaliativo, o qual mensura a dor na sua forma multidimensional, baseado no auto relato do paciente para descrever o quadro álgico, referindo-se a grupamentos de palavras de conotação sensitivo-discriminativa, afetivo-motivacional e cognitivo-avaliativo.18

    A partir do questionário de Mc Gill pode-se relatar as seguintes medidas: número de descritores, que corresponde à seleção de apenas uma palavra por subgrupo sendo o maior valor possível 20, e o índice de dor que é obtido através da somatória dos valores de intensidade dos descritores classificados. Ambas as mensurações possíveis em McGill, permitem a quantificação do nível de dor pelo paciente.

Tratamento

    As sessões de fisioterapia iniciaram no dia 16/08/2011, com freqüência semanal de 2 vezes e duração de 45 minutos. Todos os exercícios propostos tiveram como referência o core training, sendo executados em uma superfície estável (maca), com supervisão de pelo terapeuta, para manutenção do alinhamento corporal (Distância entre ombros e orelhas, e nivelamento de crista ilíaca), manutenção do abdômen e glúteos contraídos, com sustentação da posição, retornando após término da isometria à posição inicial. Foi observado um tempo de sustentação de 10 segundos para cada exercício em uma série de 5 repetições.12

    O primeiro exercício realizado foi o rolamento do quadril, popularmente conhecido como “ponte”, onde o paciente fica posicionado em decúbito dorsal, com os joelhos flexionados, e membros superiores ao longo do corpo. É solicitado ao paciente que inspire e faça a elevação da cintura pélvica, retirando vértebra por vértebra da superfície.19

    A sustentação lateral foi o segundo exercício proposto, realizado com a paciente em decúbito lateral, membro inferior totalmente estendido, membro superior a 90° de abdução de ombro e pés com bordo externo apoiados ao solo. É solicitado ao paciente que inspire realizando a elevação do tronco, sustentando a posição. Este exercício é realizado em decúbito lateral direito e esquerdo, com alternâncias em 5 repetições, bilateralmente.20

    No exercício de prancha frontal, o terceiro proposto na bateria, o paciente se encontra em decúbito ventral com os cotovelos flexionados a frente do tronco em 90º, e pés nivelados e apoiados no solo. É solicitado ao paciente que faça elevação do tronco, sustentando-o em sentido paralelo ao solo. Este exercício exerce um trabalho estático do músculo, sem promover deslocamento articular e gerando tensão máxima.20

Resultados

    Como demonstrado no Gráfico I, na avaliação inicial a paciente relatou quadro álgico intenso, com escore 8 na Escala Verbal Numérica. Após a 10° sessão de tratamento, foi realizada uma nova avaliação, sendo notada uma melhora importante na dor, com diminuição do escore para 3.

Gráfico I. Intensidade da dor avaliada através da escala verbal numérica na avaliação antes e após 10 sessões de tratamento

 

Tabela I. Número de descritores selecionados para expressar a dor

    Nota-se que no presente estudo de caso, foi observado que após o período de treinamento, houve uma expressiva diminuição na marcação dos descritores, caracterizando a eficácia do tratamento com dados de redução do quadro álgico, valores estes demonstrados nas Tabelas I e II.

Tabela II. Somatória dos valores de descritores escolhidos pela paciente

Discussão

    A diminuição da dor observada neste estudo de caso, encontra-se em conformidade com estudos realizados por Thompson et al (2007) e Norris (2008), podendo ser explicada pela realização da técnica denominada core training. O fortalecimento da musculatura paravertebral, principalmente a profunda, constituída pelos músculos multífidos, oblíquo interno e transverso do abdômen, é capaz em atuar na melhora em casos de dor lombar.19,21 Barbosa (2007) diz que devido ao quadro álgico, a musculatura dos indivíduos portadores de lombalgia tende a sofrer com diminuição de tônus e perda de trofismo, acarretando em menor condição de estabilização intervertebral, o que justifica, assim que possível, a realização de cinesioterapia.22

    O desequilíbrio entre a função dos músculos extensores do tronco, flexores do tronco e eretores espinhais, gera estabilização deficiente da coluna lombar, desenvolvendo distúrbios, que podem resultar em carga excessiva sobre articulações e ligamentos da coluna. O core training é indicado para várias patologias, entre elas, as artroses, lombalgias crônicas, discopatias, processos traumáticos e também desequilíbrios biomecânicos da coluna lombar.11,23

    De acordo com Imamura (2001), exercícios de fortalecimento da musculatura abdominal e paravertebral são comprovadamente eficazes. Músculos abdominais fortes protegem a região lombar de atividades extremas, e o exercício físico na forma terapêutica é altamente desejável e realístico para a recuperação da área afetada, sendo uma ferramenta poderosa para recuperar força, resistência, flexibilidade, e mobilidade.24 Na coluna vertebral lombar, o trabalho muscular isométrico é um regime preventivo e terapêutico necessário para manter a estabilidade funcional e diminuir a incidência de lesões e desconforto no complexo lombo pélvico.12

    Koumantakis et al (2005) investigaram dois programas de exercícios físicos direcionados a indivíduos com dor lombar, com dois grupos de exercícios gerais, onde em um deles, era também realizado core training. Os resultados mostraram melhora na incidência das dores após ambos os programas, mas o grupo que realizou exercícios gerais combinados com exercícios de estabilização manteve por um período maior os benefícios em relação à ocorrência de dor lombar.25

    Coghlan (2008) e Campbell (2012) ressaltam que a realização do core training seguido de eletroestimulação neuromuscular reduz significativamente a dor em relação à aplicação do core training de maneira isolada. Este fato se explica pelo aumento da atividade funcional dos músculos eletroestimulados, resultando em um maior recrutamento de unidades motoras de grupamentos subutilizados, além de propriedade analgésica, propriamente dita.17,26

    Diante das perspectivas sobre os distúrbios da coluna, não basta um tratamento terapêutico para alívio sintomático momentâneo, é necessária a cura efetiva e a prevenção de novos episódios de lesões. Este fato está diretamente ligado a um processo de aprendizagem e conscientização do indivíduo, com mudanças comportamentais para o resto da vida.27

Conclusão

    Conclui-se que neste presente estudo de caso foi constatada a eficácia do core training como um programa de tratamento, proporcionando a redução do quadro álgico de uma paciente acometida por discopatia degenerativa lombar, sendo os objetivos alcançados de maneira satisfatória e com melhora expressiva. Os exercícios de estabilização isométrica em forma de pontes, apresentaram fundamental importância na diminuição do quadro álgico sintomatológico da coluna vertebral lombar.

Referências

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