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Perfil antropométrico, padrão de refeições e consumo 

alimentar de atletas de uma equipe profissional de futebol

Perfil antropométrico, patrón de comidas y consumo alimentario de atletas de un equipo profesional de fútbol

Anthropometric profile, meal patterns and food intake of professional soccer team athletes

 

*Faculdade de Educação Física e Desportos, Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus Universitário

**Departamento de Ciências Farmacêuticas, Núcleo de Pesquisa e Inovação em Ciências da Saúde (NUPICS),

Faculdade de Farmácia, Universidade Federal de Juiz de Fora, Campus Universitário, Juiz de Fora, MG

(Brasil)

Dayana Rezende Tostes*

Santiago Tavares Paes*

Nádia Rezende Barbosa Raposo**

Elizabeth Lemos Chicourel**

Romário Costa Fochat**

courel@terra.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste estudo foi avaliar o perfil antropométrico, o padrão de refeições e o consumo alimentar de atletas de uma equipe profissional de futebol mineira. A massa corporal, estatura e porcentagem de gordura corporal foram mensuradas em 30 jogadores de uma equipe de futebol federada da cidade de Juiz de Fora/MG. O hábito alimentar de 18 jogadores desta equipe foi avaliado por meio de registro alimentar de três dias, sendo pesquisada a omissão de refeições e/ou sua substituição por lanches e o consumo alimentar, baseado na Pirâmide Alimentar Brasileira. Foi realizada análise estatística descritiva. Constatou-se que a idade média dos 30 jogadores foi de 24,4±4,3 anos, a estatura 179,0±5,3 cm, a massa corporal 75,2±6,7 kg e o percentual de gordura de 9,1±1,5%. Foi verificado que a maioria dos registros alimentares analisados continha as três refeições principais: café da manhã (85,2%), almoço (94,4%) e jantar (100,0%), sendo que 12 jogadores (66,7%) relataram as três refeições principais e apenas 2 (11,1%) realizaram seis refeições, em pelo menos dois dias de registro alimentar. Encontrou-se que 29,6% dos jantares dos atletas foram substituídos por lanches, sendo essa prática prevalente nos dias de final de semana. Os atletas apresentaram baixo consumo de cereais, frutas, verduras e legumes, leite, queijo, iogurte e feijões. O padrão de refeições e o consumo alimentar dos atletas apresentaram algumas inadequações. O fracionamento da dieta em seis refeições diárias deve ser incentivado, bem como uma melhor escolha dos alimentos para compor a dieta.

          Unitermos: Futebol. Consumo de alimentos. Comportamento alimentar. Antropometria.

 

Abstract

          The aim of this study was to evaluate the anthropometric profile, meal patterns and food intake of soccer team athletes from Minas Gerais. The weight, height and body fat percentage were measured in 30 players of a soccer team federated from the city of Juiz de Fora/MG. The eating habits of 18 players from the team mentioned before were evaluated through the food diary of three days, studying the cases of the omission of mainly meals or their substitution for small meals and the food consumption, based on the Brazilian Food Pyramid. A descriptive statistical analysis was accomplished. It was observed that the average age of the 30 players was of 24.4±4.3 years old, the height of 179.0±5.3 cm, the weight of 75.2±6.7 kg and the fat percentage of 9.1±1.5%. It was verified that most food diaries analyzed contained the three main meals: breakfast (85.2%), lunch (94.4%) and dinner (100.0%), 12 players reported the three main meals and only 2 had six meals, in at least two days of food diaries. It was found that 29.6% of the athletes' dinners were replaced by snacks, which were more prevalent on weekends. The athletes showed low consumption of cereals, fruits, vegetables, milk, cheese, yogurt and beans. The pattern of meals and the food consumption showed some dietary inadequacy. The fragmentation of the diet in six daily meals and a better choice of food to be a part of it must be encouraged.

          Keywords: Soccer. Food consumption. Feeding behavior. Anthropometry.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O futebol, sendo o desporto de rendimento mais popular do mundo, praticado por todas as nações, disputado em diferentes condições climáticas, com alternativas técnicas, táticas e físicas variadas e que abrange um grupo elevado de atletas com biótipos diversos, constitui um esporte de grande complexidade e área para estudo (FONSECA et al., 2007; PRADO et al., 2006).

    Esse esporte é caracterizado pela prática de exercícios intermitentes de intensidade variável, sendo constituído, aproximadamente, de 88,0% por metabolismo aeróbio e os 12,0% restantes por metabolismo anaeróbio de alta intensidade. Suas características de duração e intensidade fazem com que o futebol seja considerado esporte de endurance, com alto gasto energético (BARROS, GUERRA, 2004; GUERRA, TIRAPEGUI, 2005).

    Durante a realização de uma partida de futebol de campo, os jogadores percorrem em média 11 km em 90 minutos de jogo, estando esta distância diretamente relacionada à qualidade do oponente, nível da competição, motivação, condições ambientais, característica e função específica de cada jogador em campo, considerações táticas, importância da partida e resultado parcial do jogo (BARROS, GUERRA, 2004; PRADO et al., 2006).

    A quantidade e qualidade do treinamento, a posição que o jogador desempenha no time, à distância percorrida durante a partida e o estilo de jogo adotado pela equipe, irão influenciar as necessidades energéticas diárias dos jogadores de futebol, que variam, segundo Guerra e Tirapegui (2005), entre 3.150 e 4.300 kcal.

    Verifica-se forte ligação entre rendimento esportivo máximo e o estado nutricional do atleta. O exercício físico gera maior demanda energética, perda de líquidos e de eletrólitos e depleção total ou parcial dos estoques de glicogênio muscular. Sendo assim, uma dieta balanceada em termos quantitativos e qualitativos, em períodos de treinamento e/ou competições, é importante para o desempenho esportivo, tanto em modalidades com predomínio aeróbio quanto anaeróbio (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 2000; DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE, 2003; NISHIMORI et al., 2008).

    O planejamento alimentar é de fundamental importância para futebolistas profissionais, pois proporcionam ao atleta a manutenção do peso corporal e do percentual de gordura adequado, visto que a gordura corporal atua como peso morto em atividades nas quais a massa corporal é levantada contra a gravidade e carregada repetida vezes, como no futebol. Cabe ressaltar que a promoção da alimentação saudável para os atletas se traduz em melhor desempenho esportivo (GUERRA, 2005).

    A verificação e a determinação das características antropométricas (massa corporal, estatura e composição corporal) servem de subsídios para que o técnico e o preparador físico possam proporcionar mudanças em ações técnicas, táticas e na organização metodológica do treinamento (GUERRA et al., 2001; PRADO et al., 2006).

    Embora exista grande interesse sobre o perfil antropométrico e o consumo alimentar de atletas de diferentes modalidades esportivas, as infor­mações sobre essas características em jogadores brasileiros de futebol ainda são escassas. Deve-se destacar, também, que alguns estudos relatam a importância de abordagens que levem em consideração os alimentos e não somente os nutrientes, sendo que a distribuição dos alimentos em grupos (Pirâmide Alimentar Brasileira) promove e facilita uma melhor compreensão, por parte da população, de uma alimentação adequada (LEAL et al., 2010; PHILIPPI, 2009). Nesse sentido, dados gerados sob essa perspectiva podem ser transformados em práticas de saúde de maneira mais fácil e servem de subsídio para políticas públicas locais, visando à formação de hábitos alimentares saudáveis (DALLA COSTA et al., 2007).

    Dessa forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar o perfil antropométrico, o padrão de realização de refeições e de consumo alimentar de jogadores de futebol de uma equipe profissional do município de Juiz de Fora/MG, priorizando, em um primeiro momento, a análise de adequação dos grupos de alimentos.

Métodos

    Foram incluídos neste estudo transversal todos os atletas federados (n=30), do sexo masculino, com idade variando entre 20 e 35 anos, pertencentes a um clube de futebol do município de Juiz de Fora/MG. No momento da pesquisa, tais atletas estavam participando do campeonato mineiro da primeira divisão. Os atletas receberam uma explicação detalhada dos procedimentos do estudo e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora (parecer nº 006/2010). A coleta de dados foi realizada entre os meses de fevereiro e março de 2010.

    A avaliação antropométrica foi realizada somente no início da temporada esportiva por um único avaliador, devidamente treinado para esta função.

    Para verificação da massa corporal dos atletas foi utilizada uma balança eletrônica digital portátil tipo plataforma (Línea, Kratos, São Paulo) com capacidade para 150 kg e precisão de 50 g. A balança foi colocada em local plano e os atletas foram pesados descalços e com roupas leves. A medida foi registrada em quilogramas.

    A estatura foi medida por meio de uma fita métrica inelástica de 200 cm de extensão, com precisão de 1 mm, presa à parede em solo nivelado. No momento da medida, o atleta encontrava-se em posição ereta, com os braços estendidos para baixo, os pés unidos e encostados à parede. Para a aferição, utilizou-se um esquadro de madeira colocado rente à cabeça.

    O instrumento utilizado para avaliar o percentual de gordura (%G) foi o protocolo de sete dobras cutâneas (DC) proposto por Jackson e Pollock (1977) e validado para jogadores profissionais de futebol por Fonseca e colaboradores (2007). Para a medida das sete dobras cutâneas (tríceps, subescapular, tórax, suprailíaca, abdominal, coxa e perna) foi utilizado um compasso científico de dobras cutâneas (Lange® - precisão de 0,1 mm).

    A ingestão alimentar foi avaliada por meio de um re­gistro alimentar de três dias, solicitado no momento do convite para a participação no estudo. O preenchimento foi orientado pelos autores da pesquisa, incluindo a alternância nos dias de preenchimento (dois dias durante a semana e um no final de semana), os horários das refeições, os alimentos que consumiam e as quantidades.

    Entre o período da realização da avaliação antropométrica e a entrega dos registros, cinco atletas foram dispensados pelo clube e sete atletas não preencheram o referido instrumento de pesquisa. Portanto, para os dados referentes ao consumo de alimentos e ao padrão de realização das refeições foram avaliados 54 registros, preenchidos por 18 atletas, representando 60,0% dos jogadores inscritos na equipe de futebol estudada, ao início da pesquisa, o que pode ser considerado como limitação do estudo.

    O padrão de realização de refeições dos atletas foi avaliado por meio dos dados informados nos registros alimentares.

    Os alimentos referidos nos registros alimentares foram listados e classificados segundo os grupos da Pirâmide Alimentar Brasileira (PHILIPPI, 2009). Segundo Rico-Sanz (1998) para a manutenção do balanço energético de jogadores de futebol, a necessidade calórica estimada é, aproximadamente, de 4.000 kcal/dia. Deste modo, para análise de adequação dos grupos alimentares, dobrou-se o número de porções dos alimentos, de cada grupo alimentar, indicado por Philippi (2009) para uma dieta de 2.000 kcal.

    Em relação à análise do consumo alimentar, segundo os grupos da pirâmide, consideraram-se os seguintes números médios de porções recomendadas para cada grupo alimentar de interesse: 12 porções do grupo do arroz, pão, massa, batata e mandioca; 6 porções do grupo das frutas; 6 porções do grupo dos legumes e verduras; 2 porções do grupo das carnes e ovos; 6 porções do grupo do leite, queijo e iogurte e 2 porções do grupo dos feijões e oleaginosas. Não foram incluídos no presente estudo os grupos alimentares dos óleos e gorduras e dos açúcares e doces. Deste modo, foi estabelecida a frequência esperada (FE) por grupo alimentar multiplicando-se esses valores pelo número de registros alimentares (54), conforme ilustrado na Tabela 1. Para verificar a adequação do consumo alimentar, calculou-se a razão entre a frequência observada (FO) e a FE.

Tabela 1. Frequência esperada de consumo, por grupo de alimentos da Pirâmide Alimentar Brasileira, para jogadores 

de futebol de uma equipe mineira, considerando uma adaptação para uma dieta de 4.000 kcal/dia. Juiz de Fora, 2010

Resultados

    A idade média dos 30 atletas foi de 24,4 ± 4,3 anos. Já para os 18 atletas, cujo padrão de refeições e o consumo alimentar foram avaliados, obteve-se uma idade média de 24,1 ± 4,1 anos.

    Em relação às características antropométricas da população estudada, constatou-se que a massa corporal média foi de 75,2 ± 6,6 kg, variando entre 64,0 e 92,1 kg. Para a estatura, obteve-se média de 179,9 ± 5,3 cm, com intervalo entre 170,0 e 191,0 cm. Em relação ao %G, a média foi de 9,1 ± 1,5, com intervalo entre 7,0 e 11,5%.

    Quanto ao padrão de realização de refeições, a maioria dos registros alimentares analisados continha as três refeições principais: café da manhã (85,2%), almoço (94,4%) e jantar (100,0%). Ao que se refere aos lanches intermediários, 5,5% continham lanche da manhã, 55,5% lanche da tarde e 51,8% lanche da noite (Tabela 2). Destaca-se que 12 jogadores (66,7%) realizaram as três refeições principais em pelo menos dois dias de registro alimentar, sendo que somente 4 (22,2%) desses jogadores as relataram nos três dias de registro. Apenas 2 jogadores (11,1%) relataram a realização de seis refeições, as quais foram observadas em dois registros alimentares de cada um desses atletas.

Tabela 2. Distribuição dos jogadores (n=18) e dos Registros Alimentares analisados (n=54), segundo as refeições realizadas. Juiz de Fora, 2010

    Analisando-se a substituição de uma refeição principal por lanche, encontrou-se que 29,6% dos jantares dos atletas, geralmente constituídos por alimentos como arroz, feijão, macarrão, carne e salada, foram substituídos. Os alimentos mais consumidos em substituição à refeição foram sanduíches, biscoitos e pizza. A maioria dessas substituições (68,7%) ocorreu em um dia de final de semana.

    Ao se comparar a frequência observada nos registros alimentares e a frequência esperada, destaca-se que o consumo de alimentos do grupo dos cereais, das frutas, das verduras e legumes, dos feijões e leguminosas e dos produtos lácteos foi abaixo do esperado. Somente o consumo dos alimentos que compõem o grupo das carnes e ovos foi acima do esperado, com uma razão entre a FO/FE de 1,24 (Tabela 3).

Tabela 3. Relação entre as frequências de consumo observada e a esperada na dieta de 18 jogadores de futebol de uma equipe 

mineira, segundo os grupos da Pirâmide Alimentar Brasileira, adaptada para uma dieta de 4.000 kcal/dia. Juiz de Fora, 2010

Discussão

    Para Shephard (1999), a idade ideal para o jogador profissional de futebol é entre 24 e 27 anos. Segundo Guerra e Tirapegui (2005), a média de idade do jogador profissional de futebol está entre 25 e 27 anos. Essa média de idade prevalece dentro dos gramados pelo fato de os gestores do futebol mundial apresentarem certa relutância na contratação de jogadores com mais de 30 anos. No presente estudo, os atletas apresentaram uma média de idade de 24,4 ± 4,3 anos, compatível com a modalidade esportiva por eles praticada, segundo os autores supracitados.

    No futebol, a estatura pode influenciar na escolha da posição a ser desempenhada, pois ser alto é vantajoso para jogadores que usam a estatura para ganhar a posse de bola, como goleiros e atacantes. Entretanto, os meio-campistas e laterais tendem a ser mais baixos que os demais jogadores (BARROS, GUERRA, 2004; GUERRA, 2005). Também, a composição corporal é um aspecto importante no condicionamento para o futebol, já que o excesso de gordura representa um peso extra, que pode comprometer negativamente o rendimento físico do atleta (BARROS, GUERRA, 2004; SILVA et al., 1997).

    Os resultados encontrados no presente estudo, para estatura e massa corporal, foram de 179,0 ± 5,3 cm e de 75,2 ± 6,7 kg, respectivamente. Guerra e Tirapegui (2005) reportaram que os jogadores de futebol possuem estatura média de 179,0 cm e massa corporal média de 76,0 kg. Outros estudos realizados com equipes profissionais de futebol nacional também constataram valores semelhantes (BALIKIAN et al., 2002; FONSECA et al., 2007; SILVA et al, 1997).

    Os resultados referentes ao percentual de gordura de jogadores de futebol, obtidos no trabalho desenvolvido por Silva e colaboradores (1997) foi de em média 11,0%. Em uma revisão de literatura realizada por Rico-Sanz (1998) foi encontrado valor médio de 10,0% para este parâmetro. Chin e colaboradores (1992) avaliaram o %G de jogadores de futebol de vários países e encontraram os seguintes resultados: 7,3% para jogadores chineses, 8,9% para kuwaitianos, 9,5% para americanos, 9,6% para australianos, 9,6% para jogadores canadenses e, 10,7% para brasileiros. No presente estudo, verificou-se que o valor médio de %G apresentado pelos atletas foi de 9,1%, dado concordante com os dos autores citados anteriormente.

    Analisando o padrão de realização de refeições, verificou-se que a maioria dos atletas realizou as três refeições principais em pelo menos dois dias de registro alimentar, mas somente 2 jogadores relataram a realização de seis refeições. Ressalta-se que um programa nutricional balanceado diário deve conter três refeições principais (café da manhã, almoço e jantar) e três intermediárias (lanche da manhã, lanche da tarde e lanche da noite) (PHILIPPI, 2009).

    Dois hábitos comuns entre os indivíduos jovens referem-se à substituição de uma refeição principal por lanche, a qual foi constatada em 29,6% dos jantares dos atletas, e a omissão de refeições, o que pode contribuir para uma inadequação dietética e para a dificuldade em atingir as necessidades nutricionais (LEAL et al., 2010). Os alimentos comumente consumidos em determinadas refeições, dificilmente serão consumidos em outros horários ao longo do dia (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 1998). A maioria dos registros alimentares estudados (61,1%) indicou omissão na realização de lanches intermediários (Tabela 1).

    As implicações de um fracionamento inadequado da dieta e de um descontrole de horários para se alimentar podem incluir problemas decorrentes do jejum prolongado, como maior propensão à gastrite ou realização de refeições excessivamente volumosas para "compensar" o jejum, situação que pode favorecer sintomas como a dispepsia e a distensão gástrica. Esses sintomas podem prejudicar o desempenho dos atletas durante o período de treinamento ou de jogo. Além disso, dietas variadas e fracionadas estão associadas ao aporte adequado de macro e micronutrientes (MAHAN, ESCOTT-STUMP, 1998).

    O gasto energético na realização de uma atividade física varia entre indivíduos, bem como de um dia para o outro. Em indivíduos sedentários, 2/3 do gasto energético são utilizados para sustentar o metabolismo basal, enquanto 1/3 é gasto na realização da atividade física. Em indivíduos muito ativos, o gasto energético diário total pode ser o dobro do gasto energético basal ou até superior (INSTITUTE OF MEDICINE, 2002). Deste modo, para suprir os gastos energéticos diários de atletas, é necessário um programa nutricional individualizado que leve em consideração a composição corporal, a idade e o sexo do atleta, além do tipo, da frequência, da intensidade e da duração dos treinos (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 2000; DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE, 2003; SOUZA, TIRAPEGUI, 2005).

    Segundo Leal e colaboradores (2010), a avaliação do consumo de alimentos utilizando-se os grupos da Pirâmide Alimentar mostra-se meto­dologicamente satisfatória, uma vez que permite identificar o padrão alimentar de indivíduos. Além disso, enfatiza-se que a relação entre as frequências de consumo observada e a esperada para cada grupo da Pirâmide permite uma melhor visualização do padrão alimentar, mostrando-se um método rápido e eficaz.

    No presente estudo, observou-se a baixa ingestão de alimentos do grupo dos cereais, o que pode contribuir para uma inadequação energética da dieta, uma vez que, para atletas, os carboidratos devem satisfazer de 65 a 75% do valor energético total da dieta (LIEBMAN, WILKINSON, 2002). No organismo humano, cerca de 1 a 2% da energia estocada é proveniente dos carboidratos, presente no organismo sob a forma de glicogênio muscular e hepático. O glicogênio muscular é o principal responsável pela produção de energia durante a atividade física, sendo que a depleção de seus estoques está diretamente relacionada à queda no desempenho e fadiga (GUERRA et al., 2001). Desta forma, o consumo de carboidratos, antes, durante e após o exercício físico, potencializa o desempenho do atleta, devido à otimização dos depósitos de glicogênio hepático e muscular. Os carboidratos estão presentes em maior quantidade nos alimentos que fazem parte do grupo da base da pirâmide alimentar (COELHO et al., 2004; GOMES et al., 2005; GUTTIERRES, SAVOIA, 2009; PANZA et al.; 2007).

    No que se refere aos alimentos que compõem o grupo das frutas e hortaliças observou-se, além da baixa quantidade, a pouca variedade no consumo, destacando-se: banana, laranja, mamão, alface, tomate e cenoura, evidenciando uma possível monotonia alimentar, que pode estar relacionada a um maior risco de carências nutricionais. Os alimentos que constituem os grupos das frutas e das hortaliças são importantes fontes de vitaminas e de minerais na dieta. Atletas, no geral, estão sob constante risco de ingestão deficitária de micronutrientes, devido ao tempo e intensidade dos treinos e jogos, sudorese excessiva e constantes viagens (dependência de cardápios de restaurantes). A deficiência de um ou mais micronutrientes pode acarretar prejuízos no desempenho de jogadores de futebol (BARROS, GUERRA, 2004; PHILIPPI, 2009).

    No que se refere ao grupo das carnes e ovos, o consumo foi o único que apresentou valores maiores que os esperados, mostrando que alimentos com alto teor protéico são enfatizados na dieta. Os resultados encontrados corroboram os dados da literatura, os quais mostram que o consumo de dieta hiperprotéica por atletas é uma prática rotineira, por esta ser considerada responsável pela hipertrofia muscular (GOMES et al., 2009; GOMES et al., 2005; ROSSI et al., 2008).

    O grupo dos feijões e oleaginosas possui proteínas consideradas “parcialmente completas” por apresentarem concentração de metionina e de outros aminoácidos essenciais abaixo do valor ideal. Esses alimentos, ao serem consumidos concomitantemente com cereais, melhoram o seu valor biológico. O consumo de feijão deve ser incentivado, pois além de ser característico do hábito alimentar brasileiro, é um alimento de bom valor nutritivo pelo alto teor de fibras, proteínas, ferro e ácido fólico, constituindo fonte importante de ferro e proteínas (PHILIPPI, 2009; LEAL et al., 2010).

    Ao analisar os registros alimentares, observou-se que os alimentos fontes de cálcio como os do grupo do leite, queijo, iogurte foram pouco consumidos. O cálcio proveniente da dieta é a única fonte disponível para o organismo humano, sendo importante garantir uma ingestão mínima deste mineral, que possui dentre outras funções a formação de uma massa óssea adequada (LEAL et al., 2010).

    Uma alimentação balanceada é de fundamental importância para a realização de qualquer tipo de exercício físico, independente da idade e modalidade esportiva praticada. O consumo variado e adequado dos alimentos dos diferentes grupos alimentares favorece o atendimento as recomendações de micro e macronutrientes, os quais desempenham importante papel no balanço energético e proporcionam ao atleta níveis ótimos de glicogênio muscular durante uma partida, importante para retardar a fadiga e melhorar o desempenho atlético (GUERRA, 2008; GUERRA et al., 2004).

Conclusão

    Os atletas apresentaram um perfil antropométrico compatível com a modalidade esportiva praticada e um padrão alimentar com baixo consumo de alimentos dos grupos dos cereais, das frutas, das verduras e legumes, dos feijões e oleaginosas e dos produtos lácteos. Apesar do padrão de realização de refeições ter sido considerado satisfatório, é necessário incentivar a realização das refeições intermediárias entre os atletas. Além disso, há necessidade de orientá-los para a prática de alimentação saudável com base na Pirâmide Alimentar Brasileira, por meio da utilização de "escolhas inteligentes".

    Não somente a educação nutricional, visando corrigir desordens de comportamento alimentares, como também um controle rigoroso das necessidades nutricionais são de fundamental importância para uma dieta adequada em jogadores de futebol.

Agradecimentos

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e à PROPESQ/UFJF pela bolsa de iniciação científica concedida.

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 17 · N° 167 | Buenos Aires, Abril de 2012
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