Análise dos estados de humor de atletas em relação à realização de acompanhamento psicológico Análisis de los estados de humor de deportistas en relación a la realización de acompañamiento psicológico Analysis of mood states of athletes in relation the realization of psychological accompaniment |
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Universidade Feevale (Brasil) |
Esp. Danilo Mutto Renata Cristina de Oliveira Me. Marcio Geller Marques Dra. Geraldine Alves dos Santos |
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Resumo Introdução: A competitividade está exigindo cada vez mais dos atletas um rendimento máximo, assim o preparo emocional tem se tornado um fator de suma importância já que influencia diretamente a performance dos atletas. Objetivo: Analisar os estados de humor dos atletas que realizavam ou não acompanhamento psicológico. Método: Foram analisados 119 atletas, de ambos os sexos, na faixa etária de 10 a 33 anos de idade, dos seguintes esportes: judô, vôlei, futebol, remo, ginástica artística e punhobol. Na amostra de 119 atletas identificou-se que 51 atletas realizavam acompanhamento psicológico. Utilizou-se como instrumento a Escala de Humor Brasileira - BRAMS (ROHLFS et. al., 2006). Na análise dos dados utilizou-se o programa estatístico SPSS–versão 15.0. O teste estatístico utilizado foi Mann Whitney, com nível de significância ≤ 0,05. Resultados: Os dados mostraram diferenças significativas nos estados de humor dos atletas com e sem acompanhamento psicológico nas variáveis de tensão (p≤0,04), vigor (p≤0,04) e fadiga (p≤0,01). Conclusão: Os resultados demonstram que o acompanhamento psicológico interfere de maneira significativa nas variáveis relacionadas ao estado físico e não ao estado emocional. Estudos mais aprofundados e sistemáticos são necessários para compreender a complexidade do acompanhamento psicológico. Entretanto percebe-se neste estudo que o acompanhamento psicológico consegue trabalhar de maneira mais adequada com os aspectos imediatos relacionados às mudanças corporais. Os aspectos emocionais que são determinados por mudanças na personalidade demandam uma estrutura de atendimento psicológico diferenciada. Unitermos: Psicologia do Esporte. Estados de humor. Competição.
Abstract Introduction: competitiveness is increasingly demanding a full performance of athletes, so emotional preparation has become of paramount importance as it directly influences the perfornance athletes. Objective: To analyze the mood states of athletes who performed or not psychological accompaniment. Method: Were analyzed 119 athletes of both sexes, aged from 10 to 33 years of age, the following sports: judo, volleyball, soccer, rowing, gymnastics and punhobol. In the sample of 119 athletes identified that 51 athletes performed psychological accompaniment. It was used as an instrument to Brazilian Mood Scale - BRAMS (ROHLFS et. al., 2006). In the data analysis used the statistical program SPSS, version 15.0. The statistical test used was Mann Whitney test, with significance level ≤ 0.05. Results: The data showed significant differences in mood states of athletes with and without the psychological accompaniment in the variables of tension (p ≤ 0.04), vigor (p ≤ 0.04) and fatigue (p ≤ 0.01). Conclusion: The results showed that the psychological accompaniment interferes significantly in the variables related to the physical state and not the emotional state. More detailed and systematic studies are needed to understand the complexity of psychological accompaniment. However it is clear from this study that psychological accompaniment can work more adequately with the immediate issues related to bodily changes. The emotional aspects which are determined by personality changes require a different psychological accompaniment structure. Keywords : Sport of Psychology. Mood states. Competition.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Nos dias atuais, a competitividade no esporte está cada vez mais presente, exigindo dos atletas um rendimento máximo. Deste modo, tem-se observado que os fatores técnicos, táticos e físicos não são o suficiente para a atuação esperada. O preparo emocional, bem como os estados de humor, tem se tornado fatores decisivos, uma vez que influenciam diretamente no desempenho dos atletas (RÚBIO, 2003). Dentro deste contexto, a Psicologia do Esporte procura verificar tudo que acontece na área emocional do sujeito que pratica esporte ou alguma atividade física, atingindo desde crianças até idosos (BECKER JR., 2008).
O objetivo geral deste estudo foi investigar o estado de humor de atletas de diferentes modalidades esportivas. O objetivo específico foi analisar se há diferença significativa nos estados de humor dos atletas com e sem acompanhamento psicológico no período pré-competitivo.
Epiphanio e Albertini (2000) investigaram sobre o acompanhamento psicológico em uma equipe de vôlei feminino, da categoria juvenil, composta por 12 atletas com idade média de 17,5 anos. Foi realizado acompanhamento psicológico individual e em grupo durante o período de nove meses. A coleta dos dados foi realizada a partir de entrevistas individuais com o técnico e com as atletas, também foram utilizados os relatos dos atendimentos individuais e em grupo e por fim, a observação dos jogos e entrevistas finais com as atletas. Os dados coletados foram analisados de acordo com o método de orientação fenomenológica. Os autores apresentaram que o acompanhamento em grupo é um fator de facilitação da coesão grupal; o acompanhamento de competições é um importante instrumento de coleta de dados; verificou-se ainda a importância do atendimento psicológico individual como um espaço de elaboração e preservação da privacidade das atletas e também, constatou-se que o acompanhamento psicológico contribuiu na minimização das dificuldades emocionais das atletas.
Santos e Shigunov (2000) realizaram um estudo de delineamento bibliográfico com o objetivo de ressaltar a técnicos e atletas a importância da preparação e do acompanhamento psicológico. Justificou-se o tema pela necessidade de um aparato psicológico especializado aos atletas que estão em contínua exposição a cobranças de diversas partes, chegando a prejudicar, em muitos casos, o seu desempenho. O referencial teórico utilizado delimitou-se à produção dos últimos oito anos. O estudo verificou que, em relação ao Brasil, a preparação psicológica das equipes e dos atletas está no início, além de ser precária. Esta situação ocorre porque são poucas equipes que dispõem de assistência psicológica sistemática e esta ainda não é valorizada. Apontou-se, também, que são poucos os projetos de prática e teorização de estratégias de atuação, já que é insuficiente o número de estudiosos que investigam profundamente a área.
Segatto (2009) utilizou a escala de humor brasileira – Brams, dentre outros instrumentos, para investigar a relação entre o perfil nutricional, estados de humor e estresse de atletas de vela em competição. A amostra foi composta por 31 velejadores de alto nível esportivo que competiram durante a etapa Pré-olímpica de Vela. Os resultados indicaram elevados níveis de depressão, raiva e fadiga, além de baixos níveis de vigor em atletas avaliados antes e após as regatas. O estresse foi correlacionado à depressão e à raiva, antes e depois das regatas, e inversamente ao vigor. De maneira geral pode-se confirmar a hipótese de que existe uma relação significativa entre o perfil nutricional, estados de humor e estresse de atletas da vela em competição.
Outro estudo, que utilizou o Brams como instrumento, avaliou uma amostra de 6 velejadores com o objetivo de caracterizar os atletas da seleção brasileira de vela e avaliar os estados de humor durante os Jogos Pan-americanos. As coletas dos dados foram realizadas antes e depois das regatas. De acordo com os resultados obtidos no estudo, os atletas apresentaram bom estado de humor durante a competição, tendo alterações significativas nos níveis de raiva e tensão. O estudo considera que estas variáveis podem contribuir positivamente no rendimento esportivo quando em grau elevado. Pode-se concluir que os atletas de vela, durante os Jogos Pan-americanos, apresentaram níveis elevados de vigor e níveis baixos de fadiga, associados a níveis moderados de tensão, depressão, confusão e níveis muito altos de raiva (BRANDT, 2008).
O estudo de Brandão e Rebustini (2002) avaliou o perfil dos estados de humor de técnicos que já haviam dirigido seleções brasileiras ou que ainda dirigiam. Os técnicos exercem uma das funções mais importantes, ou seja, de manutenção do equilíbrio e do dinamismo de um grupo esportivo. Neste estudo foram avaliados 14 técnicos de seleções masculinas e femininas de diversas modalidades esportivas utilizando o teste POMS (Profile of Mood States), que é a versão completa do Brams (Escala de Humor Brasileira). Comparando os resultados obtidos com a média da população de atletas de auto rendimento observou-se que os técnicos são mais tensos, mais raivosos e mais fadigados, além de terem maior disposição e energia, já que apresentaram diferenças significativas (p< 0,01) nas variáveis tensão, raiva, vigor e fadiga.
Método
O presente estudo tem um delineamento quantitativo descritivo. A amostra constituiu-se de 119 atletas, escolhidos aleatoriamente, com idade entre 10 e 33 anos, de ambos os sexos, das modalidades judô, vôlei, futebol, remo, ginástica artística e punhobol. Foram 68 sujeitos sem acompanhamento psicológico e 51 com acompanhamento psicológico.
O instrumento utilizado neste estudo foi a Escala de Humor Brasileira (BRAMS) que é a versão brasileira da Escala de Humor de Brunel (BRUMS), desenvolvida por Terry, Lane e Fogarty (ROHLFS et al., 2006). O instrumento contém 24 indicadores de humor e escala de respostas do tipo lickert para cada um dos itens, sendo: 0 - nada, 1 - pouco, 2 - moderadamente, 3 - bastante e 4 - extremamente. A pergunta utilizada foi “como você se sente agora?”. Os vinte e quatro itens da escala compõem seis sub-escalas: raiva, confusão, depressão, fadiga, tensão e vigor. Esta divisão é parte do construto intrínseco do instrumento e não está explícito aos participantes da pesquisa. Cada uma das sub-escalas contém quatro itens e a soma das respostas apresentam um escore que pode variar de 0 a 16 pontos. O resultado é representado graficamente, caracterizando o estado emocional do sujeito.
A coleta de dados foi realizada individualmente, momentos antes da competição. Na análise dos dados utilizou-se o programa estatístico SPSS–versão 15.0, no qual a amostra foi separada em dois grupos: com e sem acompanhamento psicológico. O teste estatístico utilizado foi Mann Whitney, com nível de significância ≤ 0,05.
Resultados
Ao comparar os estados de humor dos atletas com e sem acompanhamento psicológico a partir dos escores encontrados através do instrumento BRAMS, foram verificadas diferenças significativas nas variáveis: tensão, vigor e fadiga (p≤0,05).
Tabela 1. Comparação dos estados de humor entre os atletas com e sem atendimento psicológico
O resultado deste estudo aponta que os atletas sem acompanhamento apresentaram um maior nível de tensão (1,57) em relação aos atletas com acompanhamento psicológico (1,27), com uma diferença significativa de 0.04. Com base em dados empíricos, sabe-se que níveis de tensão elevados ou fora dos padrões ideais podem ser úteis no rendimento esportivo, uma vez que tais alterações poderiam colaborar na geração de energia e compensar a diminuição de outros recursos, tais como a fadiga (TENENBAUM; EKLUND, 2007 apud SEGATO, 2009).
Na variável vigor os atletas com acompanhamento apresentaram maior índice de vigor (3,18) em relação aos atletas sem acompanhamento (3,04), com uma diferença significativa de 0,04. Pode-se dizer que o vigor está diretamente ligado ao rendimento esportivo, uma vez que se caracteriza pelo estado de energia (TERRY, 1995 apud BRANDT et al., 2011). Além disso, um bom desempenho esportivo físico e emocional está associado a um nível de vigor elevado e a baixos níveis nas variáveis tensão, depressão, raiva, fadiga e confusão mental (WERNECK et al., 2006 apud BRANDT, 2008).
Em relação à variável fadiga os atletas sem acompanhamento apresentaram um maior índice de fadiga (0,59) do que os atletas com acompanhamento (0,33), com uma diferença significativa de 0,01. A preparação psicológica através do treinamento mental e das simulações das condições de desempenho esperado pode retardar o surgimento da fadiga em provas intensas, potencializando assim, a performance do atleta (PAULA, 2004). Deste modo, entende-se que o acompanhamento psicológico pode contribuir para a diminuição da fadiga.
Pode-se perceber que as variáveis relacionadas ao estado físico (tensão, fadiga e vigor) sofreram alterações com o acompanhamento psicológico enquanto as variáveis referentes ao estado emocional (depressão, confusão mental e raiva) não apresentaram modificações significativas. Assim, neste estudo, verificou-se que o acompanhamento psicológico interferiu significativamente nos aspectos relacionados às mudanças corporais, não tendo a mesma interferência nos aspectos emocionais.
Conclusão
O acompanhamento psicológico contribui para um estado emocional mais positivo dos atletas, principalmente nas variáveis tensão, vigor e fadiga, representando um papel importante na preparação psicológica. Com base nos resultados recomenda-se aos técnicos e dirigentes uma atenção especial ao trabalho do psicólogo na comissão técnica, visto o quanto é necessário o profissional qualificado para lidar e trabalhar com as questões psicológicas que interferem no desempenho dos atletas. É necessário estudar mais profundamente a complexidade do acompanhamento psicológico e suas interferências nos estados de humor dos atletas, sendo indispensáveis mais estudos na área.
Referências
Brandão, M. R. F.; Agresta, M.; Rebustini, F. Estados emocionais de técnicos brasileiros de alto rendimento. Rev. Bras. Ciên. e Mov., Brasília, v.10, n. 3, p. 25-28, jul. 2002.
BRANDT, R. Estados de humor de atletas da seleção brasileira vela nos Jogos Pan-americanos. Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de Santa Catarina, Centro Ciências da Saúde e do Esporte. Florianópolis, SC: [s.n], 2008.
BRANDT, R. et al. Relações entre os estados de humor e o desempenho esportivo de velejadores de alto nível. Psicologia: Teoria e Prática, São Paulo, v.13, n. 1, p.117-130, 2011.
BECKER JÚNIOR, B. Manual de psicologia do esporte e exercício. 2. ed. rev. e atual. Porto Alegre, RS: NOVAPROVA, 2008.
EPIPHANIO, E. H.; ALBERTINI, P. Acompanhamento Psicológico junto a uma equipe de vôlei feminino: relato de uma experiência. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 21, n. 2/3, 36-43, 2000.
PAULA, A. H. A fadiga no esporte. EFDeportes.com, Revista Digital, Buenos Aires, v. 10, n. 70, mar. 2004. http://www.efdeportes.com/efd70/fadiga.htm
ROHLFS, I. C. M.; CARVALHO, T.; ROTA, T. M.; KREBS, R. J. Guia do Usuário: Escala de Humor Brasileira (Brams). Universidade do Estado de Santa Catarina. Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos – CEFID: Florianópolis, 2006.
RUBIO, K. (Org.). Psicologia do esporte aplicada. 1. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003.
Santos, S. G.; Shigunov, V. Suporte psicológico ao atleta: uma necessidade “teórica” que precisa ser aplicada. Revista Treinamento Desportivo, v. 5, n. 2, p. 74-83, 2000.
SEGATO, L. Humor, estresse e perfil nutricional de atletas de alto nível de vela em competição pré-olímpica. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano – Área: Atividade Física e Saúde) – Universidade do Estado de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Ciências do Movimento Humano, Florianópolis, 2009.
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