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Análise do desempenho das habilidades técnicas no voleibol

Análisis del rendimento de las habilidades técnicas en el voleibol

 

Universidade Estadual de Londrina

(Brasil)

Marcos Augusto Rocha

Lucélia Batista de Almeida

Renata Adriane Vieira

lucelia.almeida92@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          No voleibol, assim como em outras modalidades esportivas coletivas, as habilidades técnicas constituem estruturas específicas de atos motores integrados, típicas de cada modalidade, auxiliando o jogador na resolução dos problemas correntes do jogo, tornando assim seu desempenho fundamental para o sucesso. (TEODURESCU, 1984; SISTO & GRECO, 1995; GARGANTA, 1997; MESQUITA, 1998; MESQUITA, 2000). Sendo assim, o objetivo deste estudo foi o de verificar o desempenho das funções técnicas (saque, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa) da equipe de voleibol masculina infanto-juvenil brasileira. Foram analisados, através do método observacional, sete jogos durante jogos realizados no Campeonato Mundial de 2003. Para pontuar o desempenho utilizou-se os critérios de analise propostos por Eom & Schuts (1992a). De acordo com os resultados obtidos, pôde-se verificar que os fundamentos que apresentaram os valores mais baixos foram saque, bloqueio e defesa, justificando-se pelas circunstâncias de preparação e execução para o saque, e pela dificuldade de execução com sucesso para o bloqueio e a defesa. Para os fundamentos recepção, levantamento e ataque, estes obtiveram resultados mais elevados, justificados por fazerem parte da situação de processo de ataque (side out), que oferece vantagem pela posse de bola.

          Unitermos: Desempenho. Habilidades. Voleibol.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    As expressivas conquistas em competições mundiais vêm demonstrando uma crescente consolidação da escola brasileira de voleibol, visível em todas as categorias. A criação de um centro de treinamento agregado a um trabalho realizado a longo prazo em consonância com as comissões técnicas, tem alcançado resultados de sucesso nas categorias infanto-juvenil, juvenil e também na adulta.

    As conquistas obtidas pelas equipes nacionais masculinas e femininas da categoria adulto contribuíram para a popularização do esporte no Brasil, proporcionando um crescimento do número de seus praticantes.

    Com a finalidade de manter esse quadro, existe uma preocupação por parte dos profissionais da área em investigar esta modalidade em todo o seu contexto (aspectos técnicos, táticos, físicos e psicológicos), procurando proporcionar um melhor desempenho no jogo.

    O voleibol é um jogo esportivo coletivo constituído de diversas ações motoras que definem os gestos técnicos, caracterizado pela oposição de duas equipes com relações determinadas pelo regulamento do jogo, no qual existem regras de comportamento e dos limites das ações motoras dos participantes. Em cada ação, os atletas procuram concretizar um comportamento senso motor específico para cada situação de jogo, buscando exercer através desta investigação, uma influência no processo do jogo (NOCE, GRECO & SAMULSKI, 1977).

    Segundo Beliaev (1984), o voleibol caracteriza-se como uma modalidade desportiva que exige uma intensa ação motora; ou seja, o atleta deve ter uma grande capacidade de executar os movimentos técnicos e as combinações táticas ao longo de uma partida, mantendo um ritmo de movimento e suportando um grande volume de carga competitiva.

    A atividade motora dos jogadores de voleibol, ainda que se caracterize por uma grande intensidade, exclui quase que por completo as cargas de corrida altamente intensas. Os deslocamentos se realizam, predominantemente, no quadrado da área de jogo e muito raramente fora destes limites. A intensidade e a duração das cargas competitivas dependem de fatores como o nível de maestria técnico-tática, o nível da equipe adversária, a quantidade de sets disputados, condicionado pelas mudanças instantâneas da situação competitiva que transcorre, ininterruptamente, durante toda a partida. (IVOILOV, 1988).

    O fato de o voleibol ser jogado em um espaço de dimensões reduzidas e sua posterior limitação determinada pela organização tática do jogo, o jogador é obrigado a operar em uma área relativamente restrita. Sendo assim, para a obtenção de eficiência na jogada, é necessário que se imprima uma grande aceleração à bola. As trajetórias descritas pela bola são curtas e realizadas em grandes velocidades (ROCHA, 2000). As capacidades motoras fundamentam as ações motoras que definem as técnicas do jogo de voleibol. Assim, Bosco (1990) afirma que a velocidade de movimento (deslocamentos laterais), a capacidade de aceleração e a capacidade de salto são elementos indispensáveis para se destacar na prática do voleibol.

    Entendendo o voleibol como um esporte de habilidades abertas, a compreensão da tática deve se unir à compreensão da técnica, completando o entendimento do todo. Moyá (1988) acredita que, em cada situação dos jogos coletivos, os jogadores devem responder às perguntas de onde, como e quando agir. Assim, as intenções táticas dão respostas aos diferentes objetivos de ação que deve propor o mecanismo de tomada de decisões. A partir disso, a técnica juntamente com a tática torna-se um componente importante do rendimento esportivo nos esportes coletivos. A técnica, no jogo de voleibol, caracteriza-se como uma conduta objetiva e econômica, que tem como finalidade a obtenção de um alto rendimento. A tática, por sua vez, dentro de um tempo disponível, é a análise, decisão e resposta de um jogador a uma situação de jogo, visando à obtenção do melhor resultado (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE VOLEIBOL, 1997).

    A ocorrência dos aspectos técnicos e táticos se dão dentro de um complexo estrutural de jogo. Dessa forma, segundo Eom & Schutz (1992), o jogo de voleibol é dividido em duas fases as quais possuem objetivos diferentes. A primeira fase é chamada de “processo de ataque” (side out), que tem como objetivo finalizar a jogada com uma cortada, (principal ação de ataque) após a recepção do saque. A segunda fase do jogo é chamada de “processo de contra-ataque”, a qual, em função do ataque adversário, há uma transição do bloqueio e defesa permitindo a construção de uma nova situação de ataque. A dinâmica dos jogos esportivos coletivos caracteriza-se por essa alternância entre o ataque e a defesa. A posse da bola é que geralmente determina o papel (ofensivo ou defensivo) que a equipe está empenhando. Então, naturalmente, enquanto uma equipe ataca, a outra, obrigatoriamente, se defende (ROCHA. 2001). No caso do voleibol, o fato de apresentar uma rede separando as duas equipes, evidencia-se a posse de bola para uma equipe somente quando essa se encontra em sua quadra.

    Outro fator bastante peculiar, imposto pelas regras, é a questão de somente ser permitido a realização de três toques para cada equipe antes de enviar a bola para a quadra adversária. Essa dinâmica é traduzida, essencialmente, em uma constante troca de posse de bola entre as equipes, possibilitando certa previsibilidade das habilidades técnicas nas ações de jogo (ROCHA, 2000).

    Assim como nos jogos desportivos coletivos (JDC) as habilidades técnicas no voleibol também constituem estruturas específicas de atos motores integrados, típicas de cada modalidade, auxiliando o jogador na resolução dos problemas correntes do jogo (TEODURESCU, 1984; SISTO & GRECO, 1995; GARGANTA, 1997; MESQUITA, 1998; MESQUITA, 2000). A utilização das habilidades técnicas está relacionada à situação do jogo, cabendo ao atleta escolher qual a melhor resposta para a ação. Assim, dá-se ás habilidades técnicas um caráter adaptativo (MESQUITA et al, 2001). Essa capacidade de possuir uma resposta específica para cada situação do jogo, faz necessário que o processo de formação seja amplo e multidimensional, proporcionando maiores experiências capazes de fornecer um domínio maior das habilidades técnicas (RINK, 1993).

    Com base nas informações levantadas, verifica-se a importância que os fundamentos técnicos têm sobre o resultado final do jogo e a necessidade de aperfeiçoar cada uma dessas ações, com o objetivo de um melhor aproveitamento do jogo como um todo.

    Sendo assim, o objetivo deste estudo é o de verificar o desempenho das habilidades técnicas (saque, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa) da Seleção Brasileira Infanto-Juvenil, vitoriosa no Campeonato Mundial de 2003.

Materiais e métodos

    Para o desenvolvimento deste estudo foram analisados sete jogos realizados pela Seleção Brasileira Infanto-Juvenil Masculina no Campeonato Mundial de 2003, conforme demonstrado a seguir.

  • BRASIL X INDIA – Final = 3 x 0

  • BRASIL X TCHECOSLOVÁQUIA – Semi final = 3 x 0

  • BRASIL X RÚSSIA – Quartas de Final = 3 x 2

  • BRASIL X ITÁLIA – Eliminatórias = 3 x 0

  • BRASIL X POLÔNIA – Eliminatórias = 3 x 1

  • BRASIL X TCHECOSLOVÁQUIA – Eliminatórias = 3 x 0

  • BRASIL X INDIA – Eliminatórias = 3 x 1

    Foram analisadas as habilidades técnicas, saque, recepção, levantamento, ataque e defesa, separadamente de acordo com a função técnico tática desempenhada pelos atletas. A coleta de dados foi realizada através da análise de vídeo, mediante método observacional, registrando-se os dados em planilhas de acordo com a escala de 0 a 4 proposta por Eom & Schultz (1992a), onde é designado uma pontuação a cada ação do jogo conforme descrita no quadro 1.

Quadro 1. Critérios de observação das ações do voleibol em situações de jogo, proposto por Eom (1998) citado por Eom & Schutz (1992a)

    O resultado do coeficiente de correlação intraclasse para a seis habilidades (saque, recepção, levantamento, ataque, bloqueio e defesa) foram acima de 0,80 indicando uma alta consistência no procedimento de coleta de dados. O tratamento dos dados foi realizado através do software SPSS Statistic for Windows 6.0 através da estatística descritiva, utilizando valores de média e desvio padrão.

Resultados e discussão

    Os resultados obtidos foram os seguintes, apresentados com valores de média e desvio padrão, observados na Tabela 1.

Tabela 1. Valores médios e desvio-padrão do desempenho das habilidades técnicas da seleção brasileira

    De acordo com os resultados obtidos, observa-se que o no fundamento saque, o levantador obteve maior desempenho quando comparado aos demais jogadores. Deve-se frisar que o saque é o único fundamento em que todos os atletas participam da realização nas mesmas condições de execução. Para a recepção, os jogadores de ponta de líbero tiveram uma participação mais efetiva, devido à estrutura da recepção e à função técnico-tática exercida. No caso do fundamento levantamento, os jogadores de ponta, meio, saída e líbero não participam diretamente da execução em função do esquema tático. Porém, no caso de algum passe defeituoso ou na situação de contra ataque, os demais jogadores podem participar na realização do levantamento a fim de auxiliar o levantador. Sendo assim, os resultados obtidos demonstraram que os jogadores das outras posições obtiveram participação na realização do levantamento. Porém, como o levantador é o jogador especializado para a realização da função, seu rendimento foi superior, obtendo o resultado de 3,13±0,21. Para o fundamento ataque, os jogadores de ponta, meio e saída são os mais acionados para a função, devido à estrutura tática. Nesse caso, os jogadores de ponta e saída obtiveram os melhores resultados, sendo os maiores pontuadores, com resultados de 2,73±0,38 para ponta e 2,73±0,23 para saída. No caso do levantador, este não participa diretamente da função, mas pode ter sua participação registrada em bolas rápidas vindas da quadra adversária (bola de cheque) ou em ações de segunda bola. Para o fundamento bloqueio, os resultados de maior destaque ficaram para o jogador de levantador e meio. Em função tática, o jogador de meio apresenta maior participação nesse fundamento, pois atua nas três zonas da rede (apoio na 2 e 4). Os jogadores de ponta, saída e levantador também exercem participação no fundamento, porém, só atuam nas extremidades da rede. Por fim, para o fundamento defesa, os melhores resultados registrados ficaram para o líbero e o jogador de meio. Devido à função tática, o líbero exerce maior participação no fundamento, porém, o maior resultado ficou para o jogador de meio, pois este teve mais ações registradas nas jogadas de recuperação.

    Na Figura 1 está apresentado o gráfico de percentual de aproveitamento das habilidades técnicas da seleção brasileira infanto-juvenil, dos sete jogos analisados.

Figura 1. Percentual de aproveitamento das habilidades técnicas da seleção brasileira Infanto-Juvenil

    Os resultados apresentados demonstram aproveitamento de 38% para saque, 78% para recepção, 52% para levantamento, 65% para ataque, 38% para bloqueio e 50% para defesa. Valores que demonstram maiores percentuais para as ações do processo de ataque (recepção, levantamento e ataque) em relação aos fundamentos que compreendem a estrutura de defesa (bloqueio e defesa). Fato que revela as maiores dificuldades em se treinar e conseguir maiores desempenhos para esses fundamentos. Em relação ao saque, este, é o único fundamento que tem a condição de tempo para preparo e execução, no entanto, permite a formação da equipe adversária aderir a melhor estrutura tática para a execução técnica da recepção, o que pode explicar os valores encontrados para este fundamento.

Conclusão

    Conforme objetivos propostos os resultados demonstraram que os fundamentos que apresentaram os valores mais baixos foram saque, bloqueio e defesa, em virtude do momento em que esses ocorrem na circunstância do jogo. Já, os fundamentos de recepção, levantamento e ataque demonstraram os maiores valores confirmando condições mais favoráveis ao sucesso no processo de ataque.

    Por fim, deve-se frisar que, apesar dos fundamentos terem sido avaliados separadamente, existe uma contextualização, onde um depende do outro para que haja a eficiência e o sucesso na execução.

    Esses resultados podem ser considerados como parâmetro de desempenho de habilidades técnicas para a categoria em campeonatos nacionais e internacionais.

Referências bibliográficas

  • BELIAEV, A. Methods of developing work capacity in volleyball. Soviet Sports Review, v.19, 2.1, p.7-10, 1984.

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  • MESQUITA, I. A instrução e a estruturação das tarefas no treino em Voleibol: estudo experimental no escalão de iniciados feminino. Tese de Doutoramento (não publicada). FCDEF-UP. Porto, Portugal, 1998

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  • MESQUITA, I.; MARQUES, A.; MAIA, J. A relação entre eficiência e eficácia no domínio das habilidades técnicas em Voleibol. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol. 1, nº 3 [33–39], 2001.

  • NOCE, F.; GRECO, P.J; SAMULSKI, D.M. O ensino do comportamento técnico-tático no voleibol: aplicação no saque. Revista da APEF, v.12, n.1, p.12-24, 1997.

  • RINK, J. Teaching Physical Education for Learning (2nd Ed.). Times Mosby College Publishing, ST. Louis, 1993.

  • ROCHA, M. A. Quantificação do número de saltos de ataque, bloqueio e levantamento no voleibol feminino. São Paulo, 2000. 63p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Educação Física e Esporte, 2000.

  • ROCHA, C.M. Análise das ações de ataque no voleibol masculino de alto nível. São Paulo, 2000. 63p. Dissertação (Mestrado) – Escola de Educação Física e Esporte, 2001.

  • SISTO, F.F. & GRECO, J.P. Comportamento táctico nos jogos esportivos colectivos. Rev. Paulista de Educação Física, 9 (1): 63-68. 1995

  • TEODURESCU, L. Problemas de teoria e metodologia nos jogos desportivos. Livros Horizonte (Ed.) 1984.

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