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Percepção de esforço em indivíduos 

submetidos à suplementação de agente antioxidante

La percepción del esfuerzo en personas sometidas a la suplementación de um agente antioxidante

 

*Bacharel em Educação Física pela Universidade Federal de São Paulo

**Graduado em Educação Física pela Universidade Federal de São Carlos

Mestrado em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal de São Carlos

Doutorado em Ciências Fisiológicas pela Universidade Federal de São Carlos

***Professor de Educação Física, licenciado pela Universidade Federal de Uberlândia

Doutor em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade

Federal de São Paulo. Atualmente é Professor Adjunto II do Curso de Educação Física,

Modalidade Saúde da UNIFESP / Campus Baixada Santista

Paulo Eduardo de Assis Pereira*

Robert Wagner Silva de Souza*

João Paulo Botero**

Sionaldo Eduardo Ferreira***

dudumineiro_1987@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Está bem estabelecido na literatura que a prática de exercícios físicos aumenta a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO). Quando as defesas antioxidantes falham ou estão reduzidas, as ERO podem precipitar e agravar o desenvolvimento de diversas doenças degenerativas, tais como as cardiopatias, aterosclerose, problemas pulmonares e danos celulares, em especial nas membranas e no DNA, exercendo um papel importante na mutagênese e na carcinogênese. Sabe-se também, que a suplementação com agentes antioxidantes, como as vitaminas C e E, tem potencial para redução dos efeitos prejudiciais das ERO ao organismo. Deste modo, o presente estudo verificou as possíveis alterações na percepção de esforço em indivíduos submetidos à suplementação com 500mg de ácido ascórbico (Vitamina C). Foram selecionados 07 (sete) voluntários do gênero masculino com idade de 23,8 ± 3,4 anos, massa corporal de 75,8 ± 8,1 quilogramas e estatura de 1,8 ± 0,1 metros, os quais foram submetidos a testes de esforço físico em bicicleta ergométrica, com e sem suplementação de ácido ascórbico (500mg). Trata-se de um estudo clínico, em esquema aleatório e duplo-cego para administração do agente antioxidante e avaliação da percepção de esforço físico, utilizando-se a escala de Borg. Em síntese, não foram observadas diferenças significativas na frequência cardíaca máxima e na percepção de esforço, no entanto os resultados obtidos para a capacidade de realizar esforço físico máximo, na condição sem suplementação (184,7 ± 32,74 Watts) e com suplementação (209,9 ± 26,5 Watts), sugerem que a suplementação com ácido ascórbico pode ser benéfica na capacidade de realizar esforço com maior incremento de carga. No entanto devido ao número relativamente pequeno de voluntários, o estudo deve ser ampliado com objetivo de demonstrar com maior confiabilidade os efeitos da suplementação com ácido ascórbico na percepção e na capacidade de realização de esforço, bem como na adaptação à prática de exercícios físicos.

          Unitermos: Exercício físico. Espécies reativas de oxigênio. Percepção de esforço. Ácido ascórbico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Diversos estudos apontam benefícios do exercício físico regular ao organismo. A prática de exercícios físicos inibe o aparecimento e desenvolvimento de muitas alterações orgânicas que se associam ao processo degenerativo e também contribuem na reabilitação de diversas patologias que estão associadas ao aumento dos índices de morbidade e mortalidade (MACEDO et al., 1998).

    A prática regular de exercícios físicos proporciona melhora da eficiência metabólica com consequente diminuição de gordura, aumento de massa muscular, incremento da densidade óssea, incremento de flexibilidade, melhora de postura, aumento do volume sistólico, diminuição da frequência cardíaca em repouso e no trabalho submáximo, melhora da sensibilidade à insulina, melhora da autoestima, diminuição do estresse, depressão, insônia, melhora do humor, diminuição do consumo de medicamentos como antidepressivos, tranquilizantes, melhora das funções cognitivas e socialização (SANTARÉM, 1996; SAMULSKI e LUTOSA, 1996; MATSUDO, 1999).

    Apesar dos benefícios que a prática regular traz ao organismo, a prática constante de exercícios físicos extenuantes pode desencadear um desequilíbrio entre a defesa antioxidante e a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) gerando uma situação de estresse oxidativo (ELSAYED, 2001). O estresse oxidativo gera diminuição do desempenho físico e aumento da percepção de esforço, fadiga muscular, danos musculares e overtraining (KONIG et al., 2001).

    Bloomer e Goldfard (2004) verificaram que após o exercício físico agudo ou crônico existe um aumento da concentração de ERO nos tecidos biológicos que coincide com a presença de danos teciduais. A prática de exercícios físicos extenuantes aumenta a produção de ERO devido a um aumento da necessidade de oxigênio pelas células musculares durante o exercício físico (GIULIANI e CESTARO, 1997; COOPER, 2002; ZOOPI et al., 2003). Durante o esforço físico, observa-se um aumento na produção de ERO e essas podem prejudicar o equilíbrio entre a ação oxidante e antioxidante. O aumento dos níveis de peróxido de hidrogênio no plasma como consequência do exercício físico, induz o aumento de ERO por consequência da aceleração das reações na cadeia mitocondrial e provável isquemia dos músculos periféricos (DESKUR et al., 1998).

    Os indivíduos pouco treinados que realizam exercícios com intensidade e duração acima do seu condicionamento físico, são os que apresentam danos musculares mais acentuados (LAMPRECHT et al., 2004).

    O exercício físico crônico quando prescrito corretamente pode causar adaptações nas respostas das enzimas antioxidantes dos músculos esqueléticos, principalmente da enzima glutationa peroxidase tornando assim o indivíduo mais tolerável à ação das ERO durante o esforço físico (APPEL, SOARES e DUARTE, 1992).

    Entende-se como ERO um átomo, molécula ou composto eletricamente instável em consequência de sua estrutura molecular (FERREIRA e MATSUBARA, 1997) e que podem reagir com compostos celulares importantes para as funções do organismo, podendo exercer efeitos prejudiciais. Dentre outros compostos orgânicos, os lipídios de membrana são os mais susceptíveis às ações das ERO, principalmente os ácidos graxos poliinsaturados (PUFAS) presentes nas membranas celulares. A peroxidação lipídica é uma reação auto propagável, sendo muito lesiva para a membrana celular (HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999).

    As ERO podem desencadear diversos danos no organismo dentre eles, os mais comuns são doenças degenerativas como as cardiopatias, aterosclerose, problemas pulmonares e danos nas membranas celulares e no DNA, o que pode ter papel importante nos processos de mutagênese e carcinogênse (BIANCHI e ANTUNES, 1999).

    O organismo a partir da ação de enzimas e micronutrientes defende-se das ERO com os agentes antioxidantes, que apresentam como funções principais: impedir a formação de ERO pela inibição das reações em cadeia com o ferro e o cobre, interceptar as ERO produzidas pelo metabolismo celular impedindo a formação de lesões e perda da integridade celular, reparar as lesões causadas pelas ERO livres através da remoção dos danos das moléculas de DNA e reconstituição das membranas celulares danificadas (BIANCHI e ANTUNES, 1999).

    Os antioxidantes podem ter origem endógena (enzimas catalase, glutationa peroxidase, redutase e superóxido dismutase) ou exógena, entre os quais se destacam as vitaminas C e E, e alguns minerais como o manganês, selênio e o zinco, obtidos a partir da dieta ou de suplementações específicas (SIGNORINI, 1995).

    A vitamina E é uma das principais vitaminas lipossolúveis com função antioxidante, protege contra a peroxidação lipídica por atuar com diferentes variedades de radicais livres incluindo as ERO. A vitamina C é um antioxidante hidrossolúvel e podendo reagir diretamente com superóxido, radicais hidroxila, ERO e aumenta a utilização e absorção de ferro. Já os minerais exercem ação antioxidante como elemento estrutural das enzimas antioxidantes (CLARKSON e THOMPSON, 2000).

    A partir da revisão de estudos demonstrando que o exercício físico, em especial os de alta intensidade ou longa duração, aumenta consideravelmente a produção de ERO e que estas são prejudiciais ao organismo, aumentando a percepção de esforço e reduzindo o limiar de fadiga, questiona-se neste estudo se a suplementação com agentes antioxidantes é capaz de reduzir a percepção de esforço como resposta a uma maior neutralização de ERO, durante a realização de um teste de esforço físico máximo.

    Com base no exposto, este estudo apresenta como hipótese que por meio da suplementação com agentes antioxidantes haja uma menor formação de ERO causando menor dano ao organismo do indivíduo, melhorando a percepção de esforço durante a prática de atividades físicas em indivíduos não treinados.

    Dessa forma, o objetivo do estudo foi verificar as possíveis alterações na percepção de esforço em indivíduos não treinados após a suplementação com vitamina C (acido ascórbico).

    Para tanto, o presente estudo foi estruturado da seguinte forma:

  • No capítulo 1 são apresentados os procedimentos metodológicos implementados na pesquisa, bem como descrevo todos os protocolos que foram realizados pelos voluntários durante a mesma.

  • No capítulo 2 são apresentados resultados oriundos da coleta de dados.

  • No capitulo 3, os dados obtidos são discutidos e comparados com a literatura pertinente.

    Nas considerações finais são sintetizadas as principais questões levantadas pelo estudo, bem como possíveis respostas para as mesmas.

2.     Métodos

2.1.     Desenho experimental

    Trata-se de um estudo clínico experimental quantitativo, o qual se preocupa com generalizações, conclusões e fins, tendo uma origem no empirismo e utilizando a dedução para a formulação de hipóteses (Creswell, 1994). Organizado em esquema aleatório e duplo-cego, sendo que todos os voluntários realizaram o teste de esforço e a avaliação da percepção de esforço em dois dias distintos, com intervalo de sete dias, sendo que em um deles ocorreu sob vigência da suplementação de ácido ascórbico e no outro sob vigência da administração do veículo (placebo).

2.2.     Amostra

    Foram selecionados 07 (sete) voluntários do gênero masculino, com idade entre 20 e 30 anos, conforme os critérios de inclusão e não inclusão na pesquisa:

Critérios de inclusão

  • Idade: entre 20 e 30 anos;

  • Não participantes de programas de treinamento físico;

  • Ser morador de Santos-SP e região.

Critérios de não inclusão

  • Não realizar o protocolo como proposto;

  • Participar de algum treinamento desportivo que caracterize o indivíduo como atleta.

2.3.     Teste de esforço físico

    Cada voluntário realizou dois testes de esforço em bicicleta ergométrica (Biotec, modelo 1800) em dias distintos, com intervalo mínimo de 07 (sete) dias entre os testes, utilizando-se o protocolo de Bruce (1973). Tal protocolo se inicia com três minutos de aquecimento sem carga ou frenagem, com incrementos de 0,5 quilos a cada três minutos, até a exaustão dos voluntários (relato do voluntário, incapacidade de manter a cadência de pedalada ou outros sintomas).

    A cadência de pedalada e a potência foram analisadas por meio do programa Ergometric 6.0 da CEFISE® (Brasil), conectado à bicicleta. O cálculo de conversão do peso (kgf.m) imposto sobre a roda em potência (watts) foi realizado através da fórmula: watts = kgf.m x RPM x 0,98 (constante referente à circunferência da roda).

2.4.     Análise do consumo de oxigênio

    Foi utilizado um Analisador de Gases Metabólicos VO2000 Inbrasport®. A calibração do aparelho foi realizada previamente com gases atmosféricos. Em seguida, foi acoplada ao indivíduo uma máscara, através do qual as amostras de gases respiratórios foram coletadas e mensuradas a cada 20 segundos durante o teste.

2.5.     Avaliação da percepção de esforço

    Foi utilizada a escala de Borg (1996), fixada em local de fácil visualização pelos voluntários, para avaliar a percepção de esforço. Os voluntários indicaram a intensidade da percepção de esforço ao final de cada estágio do teste de esforço.

2.6.     Avaliação da frequência cardíaca (FC)

    Durante toda a realização dos testes houve monitoramento da FC, utilizando-se um frequencímetro Polar®, sendo a FC registrada no início de cada estágio do teste de esforço.

2.7.     Suplementação antioxidante

    Foi realizada pela ingestão oral de 500mg de ácido ascórbico por dia, quantidade necessária para promover um aumento nos níveis plasmáticos de ácido ascórbico, diminuindo o estresse oxidativo (CÂNDIDO e CAMPOS, 1995). O ácido ascórbico foi produzido e adquirido comercialmente em farmácia de manipulação. Os voluntários utilizaram o ácido ascórbico durante sete dias consecutivos, sendo a avaliação física e percepção do esforço realizada no sétimo dia sob vigência do tratamento. Por se tratar de estudo duplo-cego, os voluntários também receberam cápsulas de igual formato contento apenas o veículo, e realizaram procedimento idêntico à suplementação antioxidante, incluindo esquema de ingestão, procedimento de avaliação física e da percepção do esforço.

2.8.     Diagnóstico de nível de atividade física

    O nível de atividade física dos voluntários foi avaliado pelo Questionário Internacional de Atividade Física - IPAQ (Versão Curta).

2.9.     Orientações sobre saúde

    Após a participação no projeto, os voluntários receberam informações sobre cuidados gerais à saúde.

2.10.     Procedimentos éticos

    Este estudo foi analisado e aprovado pelo Núcleo de Bioética do Campus Baixada Santista da Universidade Federal de São Paulo, parecer número 0024/11, todos os voluntários assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

2.11.     Análise estatística

    A avaliação dos resultados foi realizada utilizando-se da análise de variância teste t Student bicaudal. Os resultados obtidos são apresentados com média e desvio padrão. O nível de significância foi fixado em p≤0,05 e o software BioEstat® 5.0 foi utilizado para elaboração do banco de dados e análise dos resultados.

Resultados

    Os voluntários foram avaliados quanto ao efeito da suplementação com ácido ascórbico na percepção de esforço, frequência cardíaca máxima, consumo de oxigênio e teste de esforço máximo.

    Amostra foi composta por 7 (sete) voluntários e suas características de idade, estatura e massa corporal estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Dados Descritivos da Amostra

    Os resultados obtidos para percepção de esforço máxima e consumo de oxigênio não apontaram diferenças estatisticamente significantes e estão representados nas figuras 1 e 2, respectivamente.

    Diferenças estatisticamente significantes (p<0,05) foram observadas nos resultados da frequência cardíaca máxima e na carga máxima de esforço, apresentados nas figuras 3 e 4, respectivamente.

Figura 1. Percepção de esforço máxima.

Pla: Placebo, Vit C: ácido ascórbico.

 

Figura 2. Consumo de oxigênio.

Pla: Placebo, Vit C: ácido ascórbico.

 

Figura 3. Frequência cardíaca máxima.

Pla: Placebo/veículo, Vit C: ácido ascórbico. *p0,05 quando comparado com o controle

 

Figura 4. Teste de esforço Maximo.

Pla: Placebo/veículo, Vit C: ácido ascórbico. *p≤0,05 quando comparado com o controle

    Os testes foram interrompidos após os avaliadores observarem indicadores de fadiga dos voluntários (relato do voluntário, incapacidade de manter a cadencia ou outros sintomas) ou interrupção voluntária dos sujeitos. Todos os voluntários relataram que a principal dificuldade encontrada durante a realização dos testes foi manter a manutenção da cadência da pedalada (55 a 65 RPM) conforme a intensidade aumentava.

Discussão

    A partir das considerações apresentadas referentes aos danos que as ERO podem desencadear ao organismo, o presente estudo teve como objetivo verificar as possíveis alterações na percepção de esforço em indivíduos não treinados após a suplementação com vitamina C.

    Durante a realização do exercício físico 2 a 5% do oxigênio consumido dão origem a ERO, as quais podem ser indutoras do estresse oxidativo, desencadeando diversos danos ao organismo, dentre eles, peroxidação lipídica, fadiga muscular e consequente diminuição de desempenho físico (ESSIG e NOSEK, 1997; HALLIWELL e GUTTERIDGE, 1999). De acordo com Broto (1996), em um estudo que comparou dois grupos de ratos, quando o grupo controle era composto por ratos saudáveis e grupo experimental era composto por ratos que tinham deficiência de agentes antioxidantes exógenos, verificou-se que os ratos com deficiência de agentes antioxidantes fadigava mais rapidamente do que o grupo controle.

    Durante a realização dos testes sob a vigência da suplementação de ácido ascórbico, tiveram um aumento na capacidade de realizar esforço máximo. Esse aumento pode ser decorrente de uma menor formação ou maior neutralização das ERO a partir da suplementação com ácido ascórbico, pois de acordo com Jacob (1998), o ácido ascórbico elimina as ERO antes que elas iniciem o processo de peroxidação lipídica e também exercem a função de regenerar a forma ativa da vitamina E e outros antioxidantes, como os flavonóides e a glutationa, para que estes exerçam sua ação antioxidante com maior eficiência.

    De acordo com Elsayed (2001), durante o exercício físico extenuante há uma grande produção de ERO, gerando uma condição de estresse oxidativo, o qual, segundo Ascensão et al. (2003) pode ser considerado uma das causas da fadiga muscular, que é definida como a incapacidade do músculo manter uma determinada potência ou deficiência em sustentar um nível particular de desempenho durante um esforço físico (DAVIS e BAILEY, 1997). Como a capacidade de realizar esforço máximo dos voluntários foi maior na condição suplementado, consequentemente a fadiga muscular demorou mais tempo para ocorrer, desta forma, de acordo com os resultados obtidos a percepção de esforço foi menor para uma mesma intensidade de esforço físico, quando comparado com a condição em que não estavam suplementados.

    Como consequência da suplementação com ácido ascórbico, houve uma menor produção de ERO, assim os voluntários conseguiram manter o esforço físico por mais tempo e em uma intensidade maior, aumentando consequentemente a demanda metabólica muscular. De acordo com Lewis e colaboradores (apud ALONSO et al., 1998) o comportamento da FC durante o exercício físico depende, em grande parte, da demanda metabólica na musculatura ativa, ou seja, quanto maior a intensidade maior a demanda metabólica. Assim acreditamos que dos motivos da maior elevação da FCM durante o teste, é devido a maior demanda muscular por nutrientes.

    Além da maior demanda metabólica em intensidades mais elevadas, o exercício físico progressivo provoca uma diminuição da ativação do sistema parassimpático e um aumento da ativação do sistema nervoso simpático, efeitos fisiológicos que resultam na elevação da frequência cardíaca (YAMAMOTO, 1991; RIMOLDI, 1992; BREUER, 1993; SHIN, 1995).

    A ativação cardíaca simpática e parassimpática influenciada por informações dos barorreceptores, quimiorreceptores, sistema respiratório, sistema vasomotor, sistema termorregulador e sistema renina-angiotensina-aldosterona. À capacidade do sistema cardiovascular em responder a diversos estímulos fisiológicos e patológicos no sentido de manter a homeostase, está relacionada com a sua interação com sistema nervoso autônomo. O teste de esforço físico progressivo é um bom exemplo de estimulo estímulo, pois é observado que resposta parassimpática é mais precoce e rápida do que a simpática. Com a continuidade da atividade e incremento de carga observa-se um predomínio simpático, com consequente elevação da frequência cardíaca.

    Os voluntários quando estavam suplementados com ácido ascórbico tiveram um aumento na capacidade de executar esforço físico quando comparado à condição em que não estavam suplementados, demonstrado pelos resultados observados no tempo de teste, na carga de execução e na frequência cardíaca máxima observada.

    Não há evidencias na literatura que demonstrem os mecanismos de ação da suplementação com ácido ascórbico sobre a frequência cardíaca. Assim, hipotetiza-se que resultados obtidos para frequência cardíaca, estão relacionados com o aumento da intensidade do esforço físico realizado.

    Devem ser investigados os mecanismos de ação específicos do ácido ascórbico associado ao exercício físico nas variáveis fisiológicas, consumo de oxigênio (VO2) e frequência cardíaca (FC), pois como foi discutido, hipotetiza-se que a elevação do consumo de oxigênio e frequência cardíaca máxima foram devido à maior carga de trabalho suportado.

Considerações finais

    Em síntese, o principal achado deste estudo foi de que a suplementação com ácido ascórbico apresenta potencial em ser benéfico na capacidade de realizar esforço, com maior incremento de carga como consequência da maior intensidade, observando-se, ainda que e maneira não significativa do ponto de vista estatístico, um maior nível de consumo de oxigênio e de frequência cardíaca, para sujeitos jovens, saudáveis e não treinados.

    Não foram observadas diferenças na percepção de esforço, na intensidade máxima, porém na situação que estavam suplementados, os indivíduos realizaram maior intensidade de esforço físico, indicando uma possível melhora na capacidade aeróbia e/ou um menor estresse oxidativo, proporcionando aos indivíduos um menor desconforto proveniente do esforço físico, possibilitando execução de maiores cargas de trabalho para o mesmo nível de percepção de esforço.

    Devido ao número limitado de voluntários testados, assim como a estreita faixa etária, o estudo necessita ser ampliado com objetivo de demonstrar com maior confiabilidade os efeitos da suplementação com ácido ascórbico na capacidade de realização e na percepção de esforço físico nas diferentes fases do ciclo vital, em diferentes condições clínicas e nível de condicionamento físico, ainda que os resultados obtidos e trabalhos encontrados na literatura apontem resultados positivos para a suplementação.

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