A importância da musculação no controle da pressão arterial: uma revisão de literatura La importancia de la musculación no control de la presión arterial: una revisión de la literatura |
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Instituto de Educação Física e Esportes Universidade Federal do Ceará (Brasil) |
Rafael Rodrigues Lopes Felipe Néo dos Santos |
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Resumo O presente estudo analisa o uso do treinamento de força para indivíduos que possuem anormalidades na pressão arterial, além de indicar caminhos para a prevenção das doenças cardiovasculares. Os benefícios do treinamento de força entre os autores não é uma unanimidade, mas quando se fala em seu uso para o tratamento de cardiopatas ou para a prevenção de doenças, nota-se uma grande aceitação por parte da comunidade científica. Com isso, conclui-se que a musculação é uma ótima ferramenta, juntamente com outros componentes, para auxiliar pessoas com problemas de pressão arterial. Unitermos: Musculação. Pressão arterial. Qualidade de vida.
Abstract This study examines the use of strength training for individuals who have abnormalities in blood pressure, and indicate ways to prevent cardiovascular diseases. The benefits of strength training among the authors are not consensual, but when it comes to their use for the treatment of heart disease or for disease prevention, there is a great acceptance by the scientific community. Thus, it is concluded that strength training is a great tool, along with other components, to help people with blood pressure problems. Keywords: Strength training. Pressão pressure. Quality of life.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Em busca de uma melhor qualidade de vida, a população brasileira está exigindo cada vez mais de nossos governantes espaços para a prática de atividade física. O aumento no número de academias e clubes nas capitais brasileiras mostra que o brasileiro está disposto a praticar atividades físicas, muitas vezes não por prazer, mas pelos benefícios que ela pode trazer em nossas vidas. Apesar disso, ainda é grande o número de pessoas que estão aderindo ao mundo da tecnologia, que facilita a vida das pessoas e conseqüentemente diminui a movimentação e prática de atividades físicas.
Com isso, percebemos o aumento no número de pessoas com hipertensão, diabetes, e muitas outras doenças que estão afetando o sistema cardiovascular dessa população. Com isso, buscamos analisar a importância, negativa ou positiva, da musculação para o controle da pressão arterial, seja na prevenção da doença ou mesmo no tratamento pós-hospitalar. Além disso, mostramos a importância do exercício físico para a qualidade de vida da população e expomos os riscos para a saúde de indivíduos que possuem anormalidades relacionadas à pressão arterial.
Com relação à metodologia utilizada, segundo Ramos, Ramos e Busnello (2003), a pesquisa classifica-se como básica qualitativa exploratória bibliográfica. Para o levantamento da bibliografia, foi utilizada a base de dados Google acadêmico, tendo como expressão de busca “a importância da musculação no controle da pressão arterial”. Surgiu inicialmente 875 trabalhos publicados, restando 23 trabalhos após os critérios de aceitação descritos a seguir: artigo científico; língua portuguesa, espanhola ou inglesa; período de publicação do trabalho entre 2001 e 2011; periódicos com classificação A1, A2, B1, B2.
Atividade física e qualidade de vida
Evidencias indicam que o estilo de vida pouco ativo da população está traduzindo-se em fator de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Segundo Macedo et al (2003, pág. 2 apud Haskell 1998) 54% dos fatores de risco de morte por problemas cardíacos estão relacionados ao estilo de vida, como alimentação, atividade física, pressão arterial, etc. Fernandes et al (2005, pág. 3) nos diz que a chamada “dieta ocidental”, induz a ingestão de alimentos hipercalóricos, como carnes vermelhas, açucares e sobremesas, com a redução do consumo de frutas e verduras, que está diretamente relacionada ao risco de desenvolver obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes. Sobre o assunto, Campos et al (2009, pág. 2) afirmam que
a prática regular de exercícios físicos pode contribuir para o aumento da capacidade aeróbia e redução da gordura corporal e estes, quando associados à alimentação, servem como fator primário no controle de doenças como a hipertensão, o diabetes e a obesidade, que são importantes indicadores para manutenção da qualidade de vida e longevidade.
Apesar das melhores condições de vida e do aumento da expectativa de vida da população, o envelhecimento, em especial o que acontece de forma sedentária, tem como conseqüência a diminuição progressiva da capacidade funcional, com prováveis prejuízos na qualidade de vida dos indivíduos (Câmara, Santarém e Filho, 2008, pág. 2). De acordo com Macedo (2003, pág. 6), os exercícios físicos auxiliam na capacidade funcional dos indivíduos, como caminhar, subir escadas, carregar mantimentos, etc. Além disso, para evitar problemas relacionados à perda de capacidade funcional, Campos et al (2009, pág. 2) recomenda que os exercícios físicos regulares que envolvam exercícios aeróbios, de resistência muscular localizada e de flexibilidade devem ser mantidos ao longo de toda a vida.
Para mostrar os benefícios do exercício físico na qualidade de vida de seus praticantes, Alves et al (2005, pág. 4) afirmam que a melhora da aptidão física em adultos de meia idade reduziria em mais de 50% a mortalidade geral por todas as causas. Além disso, podemos perceber a diminuição do risco de desenvolver aterosclerose e suas conseqüências (angina, infarto do miocárdio, doença vascular cerebral).
Um estudo realizado com adolescentes entre 12 e 17 anos, na cidade de Fortaleza no ano de 2010 mostrou que, da população pesquisada, 67,4% foram classificados como adolescentes inativos. Destaca-se também que o percentual de meninos ativos foi mais que o dobro do percentual de meninas. Dos adolescentes pesquisados, aproximadamente 20% estavam acima do peso, sendo que a maior prevalência de jovens com sobrepeso foi na população considerada inativa (Freitas et al, 2010, pág. 4). Com isso, percebemos que principalmente a população mais jovem está se envolvendo com as novas tecnologias, com outros desafios, esquecendo assim de cuidar de sua própria qualidade de vida. Isso evitaria uma série de complicações fisiológicas que esses adolescentes poderão ter quando atingirem uma idade mais avançada.
Como vimos, a atividade física deve ser praticada em qualquer época da vida, pois o que ela trará de melhor para seus praticantes é uma melhor qualidade de vida, evitando inúmeros problemas de saúde e melhorando até mesmo o sistema público de saúde. Percebemos o aumento no número de pessoas que procuram os postos de saúde, depois que descobrem a hipertensão, o diabetes, e tantas outras doenças que poderiam ser amenizadas ou até mesmo evitadas com a prática regular de exercícios físicos e uma alimentação balanceada.
Os riscos relacionados ao aumento da pressão arterial
De acordo com Simões et al (2007, pág. 2 apud Monteiro, 2004), a hipertensão arterial sistêmica (HAS) atinge entre 15% e 20% da população adulta brasileira, chegando a afetar também crianças e adolescentes, sendo umas das maiores causas de morbidade cardiovascular.
Diversos fatores influenciam na incidência da HAS: idade, sexo, origem étnica, situação socioeconômica, hereditariedade, fatores genéticos, peso corporal, obesidade, fatores nutricionais, ingestão de álcool, fatores psicossociais, sedentarismo, freqüência cardíaca e fatores ambientais (ORGANIZACION MUNDIAL DE LA SALUD, 1996).
Um dos principais motivos da elevação dos riscos relacionados à pressão arterial é a inatividade física. Ciolac e Guimarães (2004, pág. 1) mostram que estudos epidemiológicos demonstram uma forte relação entre a inatividade física e a presença de fatores de risco cardiovascular, entre eles a hipertensão arterial. Isso nos remete mais uma vez à importância da prática de exercícios físicos por parte dos indivíduos que buscam qualidade de vida e também por aqueles que, infelizmente, já desenvolveram algum tipo de doença cardiovascular.
Outro fator de risco para a pressão arterial é o uso de esteróides anabólicos. Indivíduos que buscam uma melhor estética acabam por utilizar desses artifícios para atingir seus objetivos, mas, com isso, incorporam também seus efeitos colaterais. Boff (2010, pág. 7) afirma que são severos os efeitos do uso de esteróides sobre o sistema cardiovascular, incluindo a hipertensão, hipertrofia no ventrículo esquerdo, pressão diastólica alterada, arritmias, entre outros.
É importante ressaltar que os estudos pesquisados foram enfáticos quando afirmavam os benefícios do exercício físico para a prevenção e tratamento da Hipertensão. Seguindo a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS), indivíduos que praticam atividade física regularmente, por um período mínimo de 30 minutos diários, com intensidade moderada, diminuem drasticamente os riscos de desenvolvimento de problemas relacionados à pressão arterial.
O treinamento de força e sua relação com a pressão arterial
O treinamento de força, quando bem orientado, pode ser realizado por qualquer indivíduo saudável ou mesmo com problemas de saúde, como problemas cardiovasculares, entre outros. As variáveis do treinamento precisam ser analisadas e colocadas conforme a necessidade de cada pessoa, como a carga utilizada, a velocidade e amplitude de execução, intervalos de descanso entre séries, e outros fatores que influenciam o treinamento. (Câmara, Santarém e Filho, 2008 – pág. 2)
Porém, Terra et al (2008, pág. 2) nos mostra as controvérsias existentes entre as pesquisas realizadas analisando a pressão arterial de repouso. Estudos mostram redução na pressão arterial sistólica (PAS) e pressão arterial diastólica (PAD), outros somente da PAS, ou somente da PAD, ou ainda pesquisas que não encontraram alterações significativas na pressão arterial após o treinamento. Portanto, percebemos que os benefícios da musculação sobre a pressão arterial ainda não é uma unanimidade, devido a tantos resultados diferentes. Na pesquisa de campo realizada por Terra e Colaboradores, o resultado obtido foi a redução da PAS e do Duplo Produto de repouso, além da não ocorrência de efeitos adversos na população que realizou o treinamento de força.
Câmara, Santarém e Filho (2008, pág. 2) afirmam que os exercícios de caráter aeróbio geram aumentos da freqüência cardíaca, associados ao aumento da PAS com manutenção ou redução da PAD. Já a musculação eleva os níveis das pressões arteriais sistólica e diastólica, com menores elevações da freqüência cardíaca. O aumento da PAD tem sido sugerido como fator de proteção durante os esforços, pois esta pressão aumentada favorece o fluxo coronariano, diminuindo a possibilidade de eventos isquêmicos ou arrítmicos.
O estudo pesquisado mostra ainda uma relação entre os exercícios resistidos e a população idosa. Segundo o American College of Sports Medicine (ACSM), esforços máximos não devem se utilizados por indivíduos idosos durante a prática dos exercícios resistidos. O Colégio Americano recomenda que o indivíduo interrompa a execução do exercício no momento subjetivo em que este se torna “difícil”, avaliação esta que será feita por um profissional habilitado. Outro fator importante para a população pesquisada é o intervalo de descanso entre exercícios e séries. Intervalos curtos não permitem que os níveis de PAS e PAD voltem aos valores de repouso, iniciando assim uma nova série com valores elevados, o que não é indicado para pacientes cardiopatas. É importante citar também as contra-indicações para a população que pretende realizar treinamento de força.
Segundo Vincent & Vincent as contra indicações para a prática da musculação, que também se aplicam a todas as outras formas de exercícios em populações especiais são: pressão arterial sistólica acima de 200 mmHg ou pressão arterial diastólica acima de 110 mmHg, em repouso; queda da pressão arterial ortostática maior que 20mmHg com sintomas; hipotensão ao esforço maior que 15 mmHg; angina instável; arritmias não controladas; estenose aórtica crítica ou sintomática; doença aguda ou febre; freqüência cardíaca de repouso maior que 120 batimentos por minuto; insuficiência cardíaca descompensada; bloqueio átrio-ventricular de 3º grau sem marcapasso; pericardite ou miocardite em curso; infarto ou embolismo pulmonar recente; problemas ortopédicos graves que proíbam os ER; cardiomiopatia hipertrófica; fração de ejeção ventricular esquerda menor que 30%; gravidez complicada. (Câmara, Santarém e Filho, 2008 – pág. 5)
Mesmo com as controvérsias encontradas em alguns estudos, devemos ressaltar o posicionamento oficial do ACSM, que recomenda a inclusão do treinamento de força em um programa de prevenção, tratamento e controle da pressão arterial.
Conclusão
Apesar das diversas opiniões a respeito do uso da musculação para pessoas com problemas na pressão arterial, percebemos que essa prática pode ser uma grande aliada para o tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares, desde que seja bem orientada. Mas é importante ressaltar que somente o treinamento de força não é suficiente para suprir as necessidades fisiológicas dos indivíduos. É preciso uma alimentação balanceada, além de treinamentos aeróbios e diversos outros fatores ambientais que poderão influenciar diretamente na qualidade de vida da população.
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