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A ciência como profissão no Brasil: conceitos, aspectos e acontecimentos

La ciencia como profesión en Brasil: conceptos, temas y eventos

 

Programa de Mestrado em Docência Universitária

Universidade Tecnológica Nacional

Faculdade Regional Buenos Aires

Docente da Faculdade Pitágoras de Teixeira de Freitas BA

Edimar Francisco Nunes

edimar_ef@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Em sua obra “Ciência e Política”, Max Weber discute de que maneira se apresenta a ciência como profissão no sentido material da palavra, para tanto, tece um olhar sobre a vida acadêmica, pontuando a situação na qual um jovem egresso de uma universidade decide fazer da ciência a sua profissão, além disso, discute as diferenças entre a realidade européia, mais precisamente na Alemanha e, a realidade da América (Estados Unidos). Mas que nuances se fazem presentes na realidade do Brasil? Que acontecimentos acompanham o indivíduo que termina a sua carreira de graduação e decide permanecer investindo na sua carreira acadêmica, seja com formação continuada ou na utilização da ciência e do conhecimento como profissão? E no caso do ensino superior privado, que características são marcantes? Qual é a influência dos modelos de cátedras e de departamentos na realidade da ciência como profissão no Brasil? Como se dá o ingresso e a permanência de docentes universitários nas universidades públicas federais com base na Lei 8112/90 (regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais) e com base nos procedimentos comumente publicados nos editais dos certames? Tais questionamentos serão abordados, senão totalmente, pelo menos em parte, através da análise de bibliografias relacionadas a tal problematização, dessa forma, um olhar mais abrangente sobre as peculiaridades que permeiam a profissionalização da carreira docente no ensino superior brasileiro permitirá uma compreensão das mudanças que ocorreram ao longo do tempo. Assim sendo, se valendo das premissas de Marx Weber quando busca o sentido material do termo a ciência como profissão e, analisando as realidades recentes no cenário brasileiro, podemos notar que, desde a graduação, diversos fatores vêm promovendo tensões e seletividades, que em diversas circunstâncias, de maneira arbitrária, suprime ou impede que um indivíduo possuidor de habilidades potenciais para se transformar em um eficiente docente universitário chegue a tal posto e, permite que outros indivíduos que não apresentam esse tipo de perfil tenha uma carreira assegurada, vale ressaltar que, não se pretende fazer juízo de valores e avaliar quem pode ou não ser docente, mas sim, ter em mente que a “produção” do docente universitário tem seu início bem mais cedo do que se imagina e que, o discurso da equidade não passa de uma falácia, haja vista que não é fornecido a cada um aquilo que necessita para se desenvolver.

          Unitermos: Ciência. Profissão. Docentes. Brasil.

 

Resumen

          En su libro "El político y el científico", Max Weber analiza cómo la ciencia se presenta como una profesión en el sentido material de la palabra, ya que teje un vistazo a la vida académica, destacando la situación en la que un joven graduado de una universidad decide hacer de la ciencia su profesión. Además, analiza las diferencias entre la realidad europea, en concreto en Alemania, y la realidad de América (EE.UU.). ¿Pero qué matices están presentes en la realidad de Brasil? ¿Qué eventos acompañan a la persona que termina su carrera como licenciado y deciden permanecer apostando a su carrera académica, ya sea con la formación continua o el uso de la ciencia y el conocimiento como una profesión? Y en el caso de la educación superior privada, ¿cuáles son características más llamativas? ¿Cuál es la influencia de los modelos de cátedras y departamentos en la realidad de la ciencia como una profesión en Brasil? ¿Cómo es la entrada y permanencia de los profesores en las universidades públicas basadas en la Ley Federal 8112/90 (el marco legal de funcionarios del Estado Brasileño, las fundaciones públicas federales y locales) y en base a los procedimientos comúnmente publicados en los anuncios de concursos? Estas cuestiones se abordarán, si no totalmente, al menos en parte, a través del análisis de las referencias bibliográficas relacionadas con este cuestionamiento; por lo tanto, una visión más abarcativa de las peculiaridades que impregnan la profesionalización de la carrera docente en la educación superior en Brasil permitirá una comprensión de los cambios que se produjeron con el tiempo. De este modo, aprovechando las premisas de Marx Weber cuando busca el sentido material del término ciencia como una profesión, y el análisis de las realidades recientes en el escenario brasileño, observamos que, desde la graduación, varios factores van produciendo tensiones y selectividades, que en diversas circunstancias, de manera arbitraria, suprime o impide que un individuo con potencial capacidad para convertirse en un eficiente profesor universitario llega a tal posición, y permite que otras personas que no presentan este tipo de perfil tengan una carrera asegurada. Vale la pena destacar que no se pretende hacer un juicio de valor y evaluar quién puede o no ser docente, pero sí, tener en cuenta que la "producción" del profesor universitario se iniciaron mucho antes de lo que piensa y que el discurso de la equidad no pasa de ser una falacia, ya que no se proporciona a cada uno lo que necesita para desarrollarse.

          Palabras clave: Ciencia. Profesión. Docentes. Brasil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Em sua obra “Ciência e Política”, Max Weber discute de que maneira se apresenta a ciência como profissão no sentido material da palavra, para tanto, tece um olhar sobre a vida acadêmica, pontuando a situação na qual um jovem egresso de uma universidade decide fazer da ciência a sua profissão, além disso, discute as diferenças entre a realidade européia, na Alemanha mais precisamente e, a realidade da América (Estados Unidos).

    Sabe-se, de acordo com o cenário supracitado, que historicamente na Alemanha, um jovem decidido a fazer da ciência a sua profissão, precisa apenas consultar um professor titular da matéria e, após ter recebido o consentimento, se torna habilitado mediante a apresentação de um livro ou de um exame em uma faculdade vinculada a uma universidade, a lecionar aulas sobre temas escolhidos de acordo com sua formação, entretanto, não recebe nada por isso, assim, se torna muito arriscado para um jovem sem um capital financeiro pessoal, se dedicar a ciência (investigação e docência), haja vista que, precisaria se manter por uma razoável quantidade de anos sem a certeza de ocupar no futuro um posto que venha suprir as necessidades financeiras.

    Em contrapartida, existe nos Estados Unidos um controle muito mais burocrático, nesse contexto o jovem desde o princípio recebe um salário, ainda que bem modesto para desempenhar suas tarefas, portanto acaba vivendo uma situação teoricamente mais estável, já que recebe uma contribuição fixa. Tudo isso promove outra forte diferenciação, pois, enquanto nos Estados Unidos o jovem ingressante na carreira docente leciona muitas aulas devido à remuneração, no caso da Alemanha leciona-se bem menos, estando no início da carreira com muito tempo disponível para se dedicar a investigação científica.

    Mas que nuances se fazem presentes na realidade do Brasil? Que acontecimentos acompanham o indivíduo que termina a sua carreira de graduação e decide permanecer investindo na sua carreira acadêmica, seja com formação continuada ou na utilização da ciência e do conhecimento como profissão? E no caso do ensino superior privado, que características são marcantes? Qual é a influência dos modelos de cátedras e de departamentos na realidade da ciência como profissão no Brasil? Como se dá o ingresso e a permanência de docentes universitários nas universidades públicas federais com base na Lei 8112/90 (regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais) e com base nos procedimentos comumente publicados nos editais dos certames?

    Tais questionamentos serão abordados, senão totalmente, pelo menos em parte, através da análise de bibliografias relacionadas a tal problematização, dessa forma, um olhar mais abrangente sobre as peculiaridades que permeiam a profissionalização da carreira docente no ensino superior brasileiro permitirá uma compreensão das mudanças que ocorreram ao longo do tempo.

Desenvolvimento

    Por certo todo docente universitário passou por uma carreira de graduação, entretanto, é sabido que nem todos têm o “potencial” para a docência, principalmente no ensino superior, vale ressaltar que o termo docência agora citado diz respeito não apenas ao pilar estudo, ou seja, lecionar aulas, mas também ao pilar pesquisa e extensão, porém, quantos indivíduos cheios de “potencial” realmente chegam a ser docentes universitários fazendo da ciência a sua profissão? E quantos outros que mesmo sem “potencial”, por diversas situações ingressam nessa carreira? Tal indagação nos remete a um “fenômeno funil” extremamente complexo, controverso e sectário.

    Parece pouco provável, embora aconteçam casos mais isolados, que se decida pela carreira de docente universitário apenas após terminar a graduação, por isso, é importante destacar que durante a graduação vários aspectos são capazes de direcionar o acadêmico para tal carreira ou fazê-lo escolher outro caminho, pois como cita Pérez Gómez (1999) “Nesse sentido, é evidente que o professor ou o estudante para professor, em sua vida prévia e paralela a sua formação ou atuação profissional vai desenvolvendo um conjunto, talvez pouco articulado e implícito, mas poderoso e arraigado de teorias, crenças pressupostos e valores sobre a natureza do fazer educativo e suas relações com a cultura e a politica do contexto social”. Um desses fatores é intrínseco à própria formação, ou seja, a perspectiva que um aluno de Engenharia tem da carreira docente difere em muito da perspectiva de um aluno de Pedagogia ou de Educação Física, haja vista que nos últimos, o currículo contempla uma grande quantidade de disciplinas que dão suporte a prática educativa.

    O tipo de instituição também é fator interveniente na “construção” ou não de docentes universitários, isso porque, as realidades presentes nas instituições públicas (principalmente federais) diferem e muito daquelas presentes nas instituições privadas, principalmente no tocante a iniciação e fomento científico, exposição a modelos e, criação de relacionamentos interpessoais favoráveis, entretanto, é importante ressaltar que existem várias exceções, ou seja, várias instituições privadas que possuem excelentes programas de incentivos a pesquisa e a docência.

    As premissas expostas no parágrafo anterior são ilustradas por alguns dados quantitativos, onde no setor público se encontra a menor parte dos cargos (34 % do total brasileiro), no entanto, nesse setor se concentra a maioria dos contratados em regime de tempo integral (70 % do total de docentes no Brasil) e, além disso, se tem a maior parte de vagas ocupadas por doutores (63 % dos docentes), sem contar o fato de que o ingresso desses docentes se dá por concurso, fornecendo aos mesmos planos de carreira e estabilidade. No que diz respeito ao setor privado, observa-se uma realidade bem diferente onde 94 % dos contratos são precários, com o professor que trabalha e obtêm seus proventos só pelo tempo em que permanece em sala de aula. Assim sendo, é possível dizer que a profissão acadêmica no Brasil se divide em dois mundos distintos, ou seja, o mundo do setor público e o mundo do setor privado, influenciando na formação acadêmica e na perspectiva de valer da docência universitária como profissão. (BALBACHEVSKY, 2008)

    Não obstante, pode-se perceber a existência de dois mundos diferentes no que tange atuação das IES no Brasil e, por conseguinte na formação acadêmica dos indivíduos que podem ou não se transformar em docentes universitários, ou seja, temos docentes que tem sua formação iniciada por instituições privadas, que oferecem grande parte do número de vagas do ensino superior brasileiro e que em contrapartida, tem um número muito menor de docentes com título de mestres e doutores; e docentes sendo formados por instituições públicas, que oferecem a menor parcela das vagas, porém, que disponibiliza de um quadro muito maior de mestres e doutores, de professores com dedicação exclusiva e com estabilidade/plano de carreira.

    Outra discussão importante a ser feita está ligada a como ocorre o ingresso e a permanência do docente tanto nas instituições privadas quanto públicas brasileiras. De antemão, é interessante analisar comparativamente realidades contemporâneas distintas, uma realidade Européia (Itália) e outra da América do Norte (Estados Unidos) para que se tenha uma visão mais ampla do que ocorre no Brasil.

    No caso da Itália, o ensino ocorre pelo sistema de cátedras, nesse contexto, as universidades são divididas em faculdades e seus professores detentores de cátedras, assim sendo, tem total liberdade para traçar o programa de curso que se desenvolverá durante o ano, sem sujeitar-se a nenhum organismo de hierarquia superior, isso pressupõe um ingresso na cátedra baseado no mérito e uma permanência relativamente estável, além do mais, provoca constante renovação das bases do ensino do professor, permitindo que o mesmo faça pleno uso da sua especialidade estimulando a investigação científica pessoal. No caso dos Estados Unidos, a conformação do sistema universitário, se comparado à realidade européia se deu muito mais tarde, a primeira universidade, a de Havard surgiu em 1636, além disso, o professor pode ter seu trabalho educacional reduzido a cerca de 5, 4 e até 3 horas semanais para que se dedique a estudar, pesquisar e publicar, com isso, o professor que promove descobertas científicas e publica alguns livros tem seus salários diferenciados e recebe mais privilégios, portanto, observa-se um sistema onde as universidades definem como mérito a investigação científica, as estruturas estão amparadas em centros e departamentos com os professores assegurando certa estabilidade na produção científica e não nas cátedras. (GÓMEZ, 1999)

    A realidade brasileira é bem complexa, no caso das instituições privadas, a maioria dos professores tem contratos precários, recebem por hora aula lecionada sem uma base salarial bem definida, não recebem para estudar, planejar e lecionar, não goza de estabilidade no cargo e em muitos casos se vê obrigado a lecionar várias disciplinas diferentes para aumentar sua rendo o que provoca uma perda de ampliação em conteúdos específicos. No tocante as instituições públicas, analisando em especial as universidades federais, observamos uma conformação em centros e departamentos, onde os docentes ingressam mediante concurso público e são lotados em localidades específicas, com carga horária determinada, plano de carreira e disciplinas a serem lecionadas bem definidas, existem os cargos de professor auxiliar, assistente e adjunto em grau hierárquico de titulação e de vencimentos segundo a ordem em que se apresentam, podem ter carga horária de 20 ou 40 horas semanais, ou mesmo estar sob o regime de dedicação exclusiva, tais docentes tem suas tarefas divididas entre o ensino, a pesquisa e a extensão, gozando de maior prestígio e com possibilidades mais favoráveis na carreira.

    No caso dos professores das universidades federais, o regime jurídico de servidor público é o estatutário, regido pela lei nº 8112/90, que traz em seu texto conteúdos como: “O servidor habilitado em concurso público e empossado em cargo de provimento efetivo adquirirá estabilidade no serviço público ao completar 2 (dois) anos de efetivo exercício”, além disso, “O servidor estável só perderá o cargo em virtude de sentença judicial transitada em julgado ou de processo administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla defesa”. Tal situação nos remete a uma mistura da realidade Norte Americana e Italiana, como citado a pouco, pois, ao mesmo tempo em que se tem um modelo amparado em centros e departamentos, com boa ênfase na investigação científica como pressuposto de estabilidade e prestígio, têm-se também após 2 anos em exercício uma estabilidade profissional bem característica das cátedras, além disso, os concursos públicos de provas e títulos estabelecem como mérito o conhecimento científico, as habilidades e/ou competências práticas, além da formação continuada.

    O fato é que tudo isso gera não só desigualdades, mas tensões conflitantes para os indivíduos que no curso de uma história de vida acadêmica/profissional inicia uma graduação e busca além de fomentar uma formação continuada, fazer da ciência a sua profissão, ou seja, se tornar e permanecer sendo um docente profissional, contrariando o que cita Davini (1998) ao explicitar que “...a educação dos docentes deve estimular a capacidade para questionar as próprias teorias, confrontar supostos, conectar-se com os conteúdos desde outro lugar e desenvolver a autonomia de pensamento e ação”.

    Isso fica evidenciado ao passo que, a prática docente influencia a formação docente, quando se tem nas instituições privadas, um grande número de profissionais acadêmicos, buscando uma qualificação em nível de mestrado e doutorado, na maioria das vezes não pelo incentivo e/ou investimento das instituições privadas visando uma melhoria do seu quadro docente, mas pelo esforço próprio buscando subsídios para que consiga ter êxito em concursos públicos para ocupar cargos de professor nas instituições públicas. Não obstante, a formação docente influencia a prática docente, ao passo que profissionais acadêmicos formados de maneira precária, encontrarão desafios muito maiores para fazerem parte de um processo e/ou sistema de formação continuada em níveis maiores, ou seja, aspirar e efetivamente conquistar titulações de mestrado e doutorado, participar de grupos de pesquisa e fomentar produções científicas se torna uma tarefa muito mais árdua.

Conclusão

    Assim sendo, se valendo das premissas de Marx Weber quando busca o sentido material do termo a ciência como profissão e, analisando as realidades recentes no cenário brasileiro, podemos notar que, desde a graduação, diversos fatores vêm promovendo tensões e seletividades, que em diversas circunstâncias, de maneira arbitrária, suprime ou impede que um indivíduo possuidor de habilidades potenciais para se transformar em um eficiente docente universitário chegue a tal posto e, permite que outros indivíduos que não apresentam esse tipo de perfil tenha uma carreira assegurada, vale ressaltar que, não se pretende fazer juízo de valores e avaliar quem pode ou não ser docente, mas sim, ter em mente que a “produção” do docente universitário tem seu início bem mais cedo do que se imagina e que, o discurso da equidade não passa de uma falácia, haja vista que não é fornecido a cada um aquilo que necessita para se desenvolver.

Referências bibliográficas

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