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A ansiedade e os efeitos de um programa de dança de rua em um 

grupo de mulheres que freqüentam o ensino de jovens e adultos

La ansiedad y los efectos de un programa de baile de calle en un grupo de mujeres que realizan la enseñanza de jóvenes y adultos

 

*Autora 

**Orientador

Maestría y Doctorado en Ciencias del Movimiento Humano

Educacional Universidade Autônoma de Asunción

Asunción, Paraguai

Jamille Denti*

dentijami@yahoo.com.br

Angelo Vargas, Ph.D.**

angelo.vargas@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O medo e a ansiedade têm características distintas, bem como o estresse e a ansiedade. No Brasil e no mundo, a dança está ganhando espaço e provou trazer benefícios, que começam desde melhorar a auto-estima para combater o stress, depressão, bem como o enriquecimento das relações interpessoais. Ao longo da história, a dança começou a ter um sentido social, sendo executado no estrato social diferente. Hoje em dia, nós compreendemos a dança como uma linguagem e uma forma de conhecimento. A dança de rua é um modelo conhecido mundialmente. A dança como terapia utiliza a linguagem do corpo para tratar as pessoas com alguma característica de deficiência mental. A dança é uma forma de tratamento psicológico complementar. Da ligação entre movimento e emoção, é possível realizar alterações psicológicas e melhorar a saúde e desenvolvimento pessoal.

          Unitermos: Dança. Ansiedade. Terapia. Mulheres. Resultados.

 

Abstract

          The fear and anxiety have distinct characteristics, as well as the stress and the anxiety. In Brazil and in the world, the dance is gaining space and bringing proved benefits which start from improving self-esteem to combat stress, depression, even the enrichment of interpersonal relationships. Throughout history, the dance began to have a social sense, being performed in different social stratum. Nowadays, we understand the dance as a language and a form of knowledge. The street dancing is a modelity known worldwide. The dance as therapy uses the body language to treat people with some characteristic of mental impairment. The dance is a form of complementary psychological treatment. From the connection between emotion and movement, it is possible to achieve psychological changes and improve health and personal development.

          Keywords: Dance. Anxiety. Therapy. Women, Results.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 17, Nº 167, Abril de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O Universo como um todo manifesta-se através do movimento.

    Partindo-se do princípio que dançar é mover-se, o Universo e todos seus componentes movem-se/dançam. Por isso acredita-se que ao dançar, com ritmo, melodia e harmonia os movimentos e sentimentos se confundem.

    A dança, quando praticada pelo ser humano, tem o poder de reduzir a ansiedade, o estresse e a depressão. E todos os indivíduos que participam deste movimento, melhoram seu humor e, consequentemente, aumentam seu bem-estar físico e psicológico.

    Assim, sendo a ansiedade um dos grandes vilões do mundo moderno e prejudicial ao bem desenvolvimento físico e psicológico dos indivíduos, esta deve ser controlada e amenizada.

    Acredita-se que a Dança de Rua, uma das várias formas de mover-se, seja um instrumento de facilitação nos relacionamentos interpessoais, no desenvolvimento da auto-estima e da autoconfiança, bem como capaz de proporcionar benefícios físicos, tais como o aumento da resistência corporal, estética, postura e flexibilidade, além de contribuir para o equilíbrio emocional, facilitando o desenvolvimento do indivíduo como um todo.

    Tendo em vista o mencionado, surgiu o interesse e base para a realização deste trabalho, o que se verá a seguir.

Da ansiedade: breve análise

    A ansiedade foi um estado emocional de grande importância para o estudo da psicanálise e da psicoterapia psicodinâmica. Há aproximadamente 100 anos Freud criou o termo neurose da ansiedade e identificou duas formas de ansiedade. Uma representava o sentimento difuso de preocupação e a outra se caracterizava por uma avassaladora sensação de pânico ou de terror. Em 1926, Freud redefiniu sua compreensão da ansiedade em função da criação do modelo estrutural. A ansiedade foi compreendida como um sinal da presença de perigo no inconsciente. No modelo de Freud, a ansiedade é um afeto do ego que controla o acesso à consciência e, por meio da repressão, se separa de qualquer associação com impulsos instintivos do id.

    Com base nas descobertas de Freud e nas dos investigadores subsequentes da psicanálise, uma hierarquia de ansiedades pôde ser desenvolvida para ajudar o clínico psicodinâmico a determinar as origens inconscientes da ansiedade sintomática do paciente.

    Atualmente, a literatura mostra a Ansiedade como um sentimento de insegurança causado por uma expectativa de perigo, ameaça ou desafio. Terminologicamente vêm sendo usados como sinônimos de ansiedade os termos tensão, stress, medo, estimulação.

    Vale ressaltar, que a persistência dos sintomas da ansiedade pode gerar consequências consideradas graves. Nas manifestações comportamentais há interferência no sono e nas relações interpessoais podendo, também, provocar doenças chamadas “psicossomáticas”, como úlceras gástricas, distúrbios cardíacos, hipertensão arterial, doenças da pele e distúrbios respiratórios. Estas doenças são frequentemente interpretadas como consequências de ansiedade e na medida em que a ansiedade se generaliza, também se torna crônica.

    A influência da ansiedade no desempenho é o principal foco das pesquisas recentes nesta área. A ansiedade aparece em resposta a numerosas situações, porém o fato de que os pacientes devem, ou não, recorrer à medicação é uma questão a ser considerada pelos psiquiatras.

A dança como tratamento alternativo da ansiedade

    A medicação como uma forma de tratamento da ansiedade tem sua finalidade, porém os tratamentos alternativos também podem trazer benefícios e auxiliar no seu ansiedade, como os relacionados ao movimento e a dança, com sendo um estímulo a determinadas regiões do corpo e do organismo que proporcionam sensações de bem estar e amenizam os sintomas da ansiedade.

    No Brasil e no mundo a dança ganha cada vez mais espaço em razão de benefícios comprovados que vão desde a melhoria da auto-estima, ao combate ao estresse, depressão, até o enriquecimento das relações interpessoais.

    Desde a antiguidade a humanidade desenvolveu em seu cotidiano a expressão corporal através da dança, utilizando-a em suas manifestações iniciais. No decorrer da história a dança começou a ter um sentido social, sendo exercida nas diferentes camadas sociais e poderiam significar adoração de divindades.

    Na Grécia, ressaltava a beleza do corpo e a perfeição de movimentos, e estava inserida no plano educacional elaborado por Platão. A dança é considerada uma das artes mais antigas que o homem experimentou e permanece sendo uma forma de expressão de vários acontecimentos que marcam épocas.

    Atualmente compreende-se a dança, como linguagem e forma de conhecimento fazendo parte do cotidiano de modo intenso. O ser humano é movimento e responde aos estímulos do seu próprio organismo e aos desafios do meio ambiente sócio-cultural.

    A dança de rua, modalidade conhecida mundialmente, foi escolhida para a realização de um estudo que objetiva identificar os benefícios da dança para o tratamento de sintomas de ansiedade.

A dança de rua: origem e evolução

    Ao que se refere ao histórico da dança de rua, suas primeiras manifestações ocorreram por volta do ano de 1929, com a grande crise econômica dos Estados Unidos. Neste período artistas entre músicos e dançarinos que trabalhavam em casas noturnas perderam seus empregos e foram trabalhar nas ruas. Em meados da década de 50 surgiram grandes gravadoras negras as quais abriram caminho para músicos negros que incorporavam a dança em seus espetáculos.

    Nos anos 60, surgiu a Funk Music e logo em seguida, ao final dos anos 60, início dos anos 70, surge nos Estados Unidos o Hip Hop, que graças ao conflito criativo das gangues de rua que se desafiavam para ver quem era o melhor na dança, gerou-se assim uma nova linguagem cultural.

    O termo Dança de Rua foi criado pela imprensa por não ser uma dança acadêmica, e porque os dançarinos treinavam e ainda treinam em locais não convencionais, tais como: praças públicas, ruas, parques, etc.

    No Brasil o Hip Hop surgiu na década de 80. Em 1984 foi o ano oficial da chegada da Dança de Rua no Brasil e o surgimento dos B.Boyings, Poppings e Lockings. Atualmente existem muitos hip-hopeiros espalhados pelo Brasil, principalmente no Estado de São Paulo.

A dança como terapia

    Assim, a dança como terapia utiliza a expressão corporal em vez da comunicação verbal para tratar pessoas com alguma característica de comprometimento mental. Também se revelou útil no caso de pessoas cegas e mudas, especialmente crianças, alargando as suas formas de expressão, e nos processos de reabilitação de acidentes vasculares cerebrais ou outras lesões que afetem o movimento e a coordenação.

    As bases da terapia pela dança foram lançadas pouco depois da I Guerra Mundial, quando pioneiros de dança moderna começaram a criar coreografias que exprimissem os seus sentimentos íntimos. Os terapeutas especializados em dança são geralmente profissionais com uma sensibilidade altamente treinada. Estes profissionais trabalham com pessoas com problemas sociais, emocionais, cognitivos ou físicos. Alguns treinadores desportivos usam a terapia pela dança para melhorar a agilidade dos seus alunos.

    A dança é uma forma de complementar tratamentos psicológicos, seja pela a interação social ou mesmo pelo prazer de praticar essa atividade. Na dança a forma de expressar sentimentos e a comunicação com os outros como que se torna mais fácil. Da conexão entre movimento e emoção é possível alcançar mudanças psicológicas e melhorar a saúde e o desenvolvimento pessoal.

Método utilizado no presente estudo

    O referido estudo envolvendo a dança de rua e tratamentos de sintomas de ansiedade foi realizado sob o método de pesquisa de Estudo do Caso, um tipo de pesquisa com um forte cunho descritivo. Foi desenvolvido a partir das seguintes etapas: seleção da população; definição da amostra; definição dos grupos de estudo e diagnóstica. O grupo de sujeitos foi constituído por mulheres com idade entre 35 e 45 anos, selecionadas de maneira intencional, matriculadas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Cardeal Roncalli, na cidade de Frederico Westphalen no Estado do Rio Grande do Sul, Brasil.

    As alunas foram convidadas a participar da experiência, e após, encaminhadas para a entrevista com uma psicóloga, que as submeteu ao protocolo descrito por BECK. As sessões foram realizadas por meio de ensinamentos teóricos, em que a dança de rua foi apresentada através de histórico, conceitos, benefícios e sessões práticas. As sessões foram ministradas durante cinco meses, sendo três sessões por semana, com 50 minutos de duração, nas dependências da Escola Cardeal Roncalli. As alunas foram estimuladas a participar das atividades, criando um ambiente de integração e descontração.

    Constatamos com este estudo, que a dança de rua é representada de formas diferentes para aqueles que participam e para os espectadores, sendo portanto, vivenciada pelo seus integrantes como uma experiência modificadora da realidade.

    Dados coletados através da aplicação do questionário possibilitam análises estatísticas descritivas. Os sujeitos que fizeram parte da amostra apresentaram sintomas de ansiedade entre mínimo a grave. No entanto o grupo apresentou significativa redução nos níveis de ansiedade.

    Sugere-se apresentar os resultados deste estudo a dirigentes de grupo de dança para que os mesmo possam utilizá-los e evitar que os sintomas de ansiedade constatado influenciem negativamente nos desempenhos dos dançarinos.

Resultado

    Com base nos dados coletados através da aplicação do questionário, foram feitas análises estatísticas descritivas adaptadas às condições específicas dos resultados obtidos. (NOCE, 1999).

    Aproximadamente 60% das participantes que responderam ao questionário relataram a presença de alguns sintomas relacionados à ocorrência de ansiedade.

    A análise estatística dos valores médios dos escores obtidos para o grupo de controle pré e pós-teste, indica que as amostras são independentes para o nível de significância 95%, de maneira que os resultados não terem ocorrido ao acaso.

    Assim, considerando que foram atribuídos valores de 1 a 4, nas opções contidas no questionário, pode-se considerar que perguntas com escores maiores ou iguais a que a p ≤ 0,05 para que a hipótese seja aceita.

    Embora Nitsch citado por Samulski (1999), afirme que os fatores relacionados a estresse e ansiedade podem ser relacionados a três fatores: social, psicológico e psíquico (fator tridimensional), o mesmo não pode ser verificado claramente neste estudo. Provavelmente se deve ao fato de que não foi incluída pergunta relacionada ao fator social.

Tabela 1. Níveis de ansiedade de mulheres do grupo experimental, pré e pós testes

    Os resultados mostram que 90% das integrantes do grupo experimental diminuíram o nível de ansiedade, com a prática da dança de rua três vezes por semana. Sendo que em 10% o nível de ansiedade permaneceu igual. Esses resultados mostram que o grupo (de controle pré e pós-teste) experimental apresenta uma significativa alteração no nível de ansiedade.

Tabela 2. Níveis de ansiedade de mulheres do grupo de controle, pré e pós testes

    Observando os resultados, podemos constatar que o programa de dança de rua desenvolvido com as 10 alunas do EJA (Educação de Jovens e Adultos) da Escola Cardeal Roncalli, do município de Frederico Westphalen - RS, apresentaram uma significativa diminuição do nível de ansiedade em relação ao grupo controle.

    Então, o nível de ansiedade dos dez sujeitos que fizeram parte da amostra apresentou uma diminuição significativa sendo que, dos 10 sujeitos quatro passaram do nível de ansiedade moderado para mínimo. Uma manteve leve durante toda a pesquisa. Duas diminuíram de grave para leve. Uma manteve leve durante a pesquisa. Um diminuiu de moderado a leve e um passou de leve a mínimo. Constatou-se que os sujeitos que fizeram parte da amostra apresentaram significativa redução nos níveis de ansiedade, consagrando o entendimento de que o movimento e a expressão corporal por intermédio da dança de rua podem contribuir de maneira expressiva no tratamento da ansiedade.

Conclusão

    A literatura mostra que estudos sistemáticos sobre o estresse e a ansiedade em modalidades esportivas têm apresentado um crescimento significativo no mundo científico. Tendo em vista que o mesmo não ocorre na área de dança, evidencia-se assim a necessidade de novos estudos a este respeito, que possam refletir sobre este fenômeno contemporâneo, tentando abarcar em maior profundidade sua inserção e difusão na nossa sociedade.

    Por fim, contatou-se que a dança como arte, seja qual for seu estilo, traz ao público além de lazer, uma nova forma de ver a vida, o mundo real e o mundo irreal; favorecendo também ao espectador, trazendo o quê as palavras não são capazes de dizer e o que somos capazes de sentir; a dança em si tem o poder de criar um mundo diferente e este mundo é capaz de gerar novas informações, novos significados e conhecimentos para uma vida. Não importa qual o estilo, se ela ta na escola, no teatro, ou na rua, a Dança faz parte de nossas vidas e se prestarmos um pouco mais de atenção, veremos que sua contribuição sai de dentro das paredes de uma sala de aula e ultrapassa as linhas de um palco, levando para a sociedade uma contribuição infinita e de grande valor.

Referências

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