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Primeiras aproximações ao estudo do lazer

Primeras aproximaciones al estudio del tiempo libre

 

Licenciado em Educação Física, UESB
(Brasil)

Wagner Barbosa Matias

wagneruesb@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          O conceito e as características das atividades de Lazer foram sendo construídos ao longo da história do ser humano. Desta forma, este estudo pretende refletir sobre o contexto histórico do lazer, os interesses culturais e a importância da população e o governo estarem constantemente buscando construir e consolidar as políticas públicas deste campo.

          Unitermos: Lazer. Interesses culturais. Tempo livre.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O conceito e as características das atividades de Lazer foram sendo construídos ao longo da história do ser humano. Pode-se perceber isso quando avaliamos o que era o “tempo livre” e como este foi sendo modificado nas relações humanas desde a Grécia (considerada o berço da civilização) até os dias atuais com a presença da indústria cultural do lazer.

    Na civilização grega percebia-se o “tempo livre” restrito aos homens livres, (elite) uma vez que os trabalhos manuais eram considerados barreiras ao estagio de contemplação, de crescimento espiritual, e cultivo de valores nobres, a exemplo da beleza. Assim, na Grécia, apesar de haver uma valorização do ócio pela elite, as atividades não tinham o objetivo de busca do prazer como princípio. De forma diferente, o atual conceito de Lazer, vislumbra justamente o prazer nas atividades.

    No império romano alguns aspectos diferenciam-se da civilização grega no que se refere ao “tempo livre”. Em Roma o trabalho não é visto como algo negativo e o tempo de “Lazer” não era restrito a elite. Além disso, o tempo de desocupação buscava a diversão e o descanso, aspectos importantes para se ter boas condições para o trabalho. Porém, essa diversão era diferenciada. Enquanto a elite tinha um “tempo livre”, “reflexivo”, a maior parte da população possuía atividades denominadas de política de “pão e circo” (MELO, 2003)

    Na idade média, a igreja condenava o trabalho acreditando ser um castigo de Deus e o usava o tempo disponível das pessoas para obrigarem a contemplação do ser supremo.

    Com a reforma protestante na Europa, iniciam-se os preconceitos sobre o tempo de lazer, como afirma Lucas (2005, p.8) “[...] uma supervalorização do trabalho e uma condenação do tempo de lazer, que passa a ser associado ao tempo desperdiçado”. Esse princípio de pecado das atividades desenvolvidas no tempo de não trabalho, adequa-se ao pensamento da nova classe (burguesia) e ao novo modo de produção hegemônico (capitalismo).

    A partir do renascimento intensas mudanças ocorrem no nível social, político e econômico. As ciências aos poucos se desenvolvem, indo de encontro às idéias pregadas pela igreja. Com o novo modelo econômico em ação, as camadas populares apenas tinham a mão-de-obra a oferecer em troca de um salário para sobrevivência. As longas jornadas de trabalho dificultavam o acesso à educação e ao lazer. Além disso, o pouco tempo livre destes trabalhadores era vigiado e controlado pelos detentores do capital, pois estes tinham receio de que as horas dedicadas ao lazer pudessem ser usadas para a discussão das condições de trabalho, gerando revoltas organizadas. Nessa época, surge o atual conceito de lazer, marcado pela busca do prazer e diversão, passando-se a dividir os tempos de trabalho e de não-trabalho.

    Fica evidente que o conceito e as condições básicas para o lazer estão formados na modernidade, mas é na pós-modernidade que a economia de bens de produção passa a ser de bens de serviço, panorama ideal para o surgimento da indústria do lazer. Atrelado ao fato, o processo de dominação adquire novas armas como os meios de comunicação: televisão, rádio, jornais e revistas. O lazer agora passa a ser consumido, porém não se limitando a esse aspecto.

    Com essa elaboração do tempo livre, surge o lazer como é entendido na atualidade, passa-se a classificar as diversas atividades de lazer conforme a predominância do objetivo de quem busca essas atividades em seu tempo desobrigado. Essa classificação são os interesses culturais do lazer, que segundo Melo (2003, p39) compreende sempre atividades culturais em um sentido mais amplo, não devendo compreender cultura como sendo apenas uma variedade de linguagens e manifestações, mas também conjunto de normas, valores e princípios que regem a vida em sociedade.

Interesses culturais

    Assim os interesses culturais, segundo DUMAZEDIER (apud MELO, 2003) se classificam em interesses físicos, artísticos, manuais, intelectuais e sociais. Sob um outro olhar, Marcellino (1996) classifica como interesses artísticos, intelectuais, físicos, manuais, sociais e turísticos.

    Nos interesses físicos estão enquadradas as atividades físicas, inclusive os esportes. Constituem o movimento corporal, sendo objetivo comum dos praticantes à busca do bem estar e preocupação com a saúde.

    Em relação aos interesses artísticos, o que se busca é o estético, o que emociona e que normalmente estão presentes nas linguagens artísticas. Caracterizando os interesses manuais, destaca-se a manipulação de objetos e sua transformação em artesanato sem fins lucrativos, visando sempre a busca pelo prazer.

    Quanto aos interesses intelectuais, a busca é pelo real. Compreende atividades de raciocínio e reflexão, como os jogos de tabuleiro (Xadrez, dama, etc.), leituras e palestras. De modo geral a socialização esta presente em todos esses interesses já citados. Porém, quando um indivíduo tem como principal objetivo a busca por socialização, configura-se aí o interesse social, que normalmente acontece em espaços como festas, bares, restaurantes etc.

    Por fim tem-se o interesse turístico citado por (MARCELINO, 1996) caracterizado pela busca da mudança temporária de paisagens e costumes, sendo exemplos viagens e passeios.

Considerações finais

    Pensar esses conteúdos como fundamentais para o lazer é conseqüente para o desenvolvimento cultural de uma comunidade, compreendendo-a na sua especificidade concreta, pois desenvolver o lazer na sua especificidade abstrata é percebê-lo de forma descontextualizada, sem estabelecer relações com outros aspectos da vida humana. Com isso, lazer seria entendido como algo isolado da vida social, podendo ser reduzido somente às atividades que se faz nos tempos livres, como: divertimentos, descansos, passeios, esportes e distrações, não passando de “um saco vazio”, onde seriam colocados todos os conteúdos de uma maneira totalmente desvinculada com outras esferas da vida social e sem reflexão sobre o sentido desses conteúdos (STIGGER, 1998). Essa medida consolidaria o lazer como uma medida compensatória à vida produtiva.

    Contrariamente, pensar o lazer na sua especificidade concreta seria se atentar para outros aspectos históricos, sociais, culturais, e econômicos, associados a este mesmo “tempo livre”. (MARCELINO, 1996). Assim, o lazer torna-se um elemento de importante significado na vida social e cultural, tanto pelos seus conteúdos, como pelos seus valores vivenciados, atitudes e principalmente, pela relação cidadã que pode ser estabelecida com essa cultura vivida no tempo disponível. Dessa forma “[...] lazer passa a ser um direito do cidadão, campo de reivindicação social e de participação cultural” (STIGGER, 1998, P.87).

    Porém essa participação também deve ser qualificada (como se toma parte) e não apenas quantificada (o quanto se toma parte), devendo-se ampliar para a participação como acesso aos bens sociais e participação com o poder de decisão sobre esses bens. Logo, as políticas públicas de lazer se convergiram para modelos de políticas desenvolvidas com a população, o que do ponto de vista democrático é sem dúvida o mais coerente.

    A descentralização do governo acompanhado de uma participação efetiva da comunidade é de grande importância para a concretização de propostas que trate o lazer na sua especificidade concreta, pois o poder público juntamente com a população que vivencia a realidade dos bairros, que conhece as suas necessidades são mais capazes para solucionarem os problemas.

Referências bibliográficas

  • LUCAS, Fabrício da Mata. O lazer e as políticas públicas de combate à exclusão social numa cidade de porte médio brasileira. Disponível em <www.ub.es/geocrit/7-coldamata.htm> Acessado em: 20 de maio, 2005.

  • MARCELLINO, Nelson Carvalho. O entendimento do Lazer. IN: Marcelino, Nelson Carvalho (org). Políticas Setoriais de Lazer. Campinas: Autores associados, 1999.

  • MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do Lazer: Uma Introdução. Campinas, SP: Autores Associados, 1996. (Coleção educação física e esportes).

  • MELO, Vitor Andrade de. ALVES Junior, Edmundo de Drumonnd. Uma Introdução ao Lazer. Barueri, SP. Manole, 2003.

  • STIGGER, Marco Paulo. Políticas Sociais de Lazer, Esportes e Participação: uma questão de acesso e de poder; ou subsídios para tomar uma posição frente à pergunta; São as políticas Públicas para a educação física, esporte e lazer, efetivamente políticas sociais? Revista Motrivivência, Santa Catarina, ano X, nº 11, p.83-96, setembro, 1988.

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