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Desafios de uma prática educativa 

através do esporte: um estudo de revisão

Los desafíos de una práctica educativa a través del deporte: un estudio de caso

 

*Faculdade Sogipa de Educação Física de Porto Alegre

**Escola de Educação Física da UFRGS

(Brasil)

Esp. Leonido dos Santos*

Dr. Rogério Da Cunha Voser**

rpvoser@ig.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Este artigo de revisão proposto tem por objetivo principal refletir sobre os aspectos educativos do esporte, os cuidados que temos que ter na prática do esporte, bem como os desafios que temos a enfrentar. A Educação Física como área de estudo vem ocupando cada vez mais espaço no cenário educativo. Para muitos, o esporte pode servir como ferramenta para transformar as crianças e os jovens, dando a eles a possibilidade de integração social e de formação humana mais sólida. Contudo, sabemos que na maioria dos casos os profissionais que realizam suas intervenções pedagógicas no mundo dos esportes não têm respeitado os princípios metodológicos correspondentes as faixas etárias e ao ideário esportivo que é o de usar o esporte como um meio e não um fim em si mesmo. Quando o esporte é mal orientado poderá trazer inúmeros prejuízos às crianças de toda a ordem. Os Cursos de Educação Física como formadores devem desenvolver em seu projeto político pedagógico, uma proposta de ementas que discutam os esportes com uma visão mais complexa, fazendo que os alunos desde cedo experimentem a prática educativa em diferentes ambientes: tais como com indivíduos de terceira idade, com jovens portadores de necessidades especiais, com crianças em vulnerabilidade social, dentro das escolas entre outros. Estas oportunidades práticas irão proporcionar aos acadêmicos (futuros professores) a vislumbrarem o esporte como uma ferramenta educativa e não só com o foco no rendimento, que é seletivo, excludente e que movimenta altas cifras em um mercado que gera muitos negócios.

          Unitermos: Esporte. Ação educativa. Pedagogia. Formação. Escola.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O fenômeno esportivo infantil tem sido neste início de século, motivo de muitos estudos e questionamentos tanto no que diz respeito aos seus ideários como em relação à sua função pedagógica e sociopolítico-cultural.

    A Educação Física como área de estudo vem ocupando cada vez mais espaço no cenário educativo. Para muitos, o esporte pode servir como ferramenta para transformar as crianças e os jovens, dando a eles a possibilidade de integração social e de formação humana mais sólida. Contudo, sabemos que na maioria dos casos os profissionais que realizam suas intervenções pedagógicas no mundo dos esportes não têm respeitado os princípios metodológicos correspondentes as faixas etárias e ao ideário esportivo que é o de usar o esporte como um meio e não um fim em si mesmo.

    Quando o esporte é mal orientado poderá trazer inúmeros prejuízos às crianças de toda a ordem.

    Neste contexto, este artigo de revisão proposto tem por objetivo principal refletir sobre os aspectos educativos do esporte, os cuidados que temos que ter na prática do esporte, bem como os desafios que temos a enfrentar.

    Segundo Lakatos e Marconi (1991), uma pesquisa bibliográfica se propõe a fazer uma avaliação crítica na literatura existente. Em seu plano de coleta de dados tem os seguintes passos: Identificação das fontes, Localização das fontes, Compilação, Fichamento, Análise e interpretação e por fim, a Redação.

Revisão de literatura

    Estudos relacionados às práticas pedagógicas e o esporte tem propiciado muitas reflexões a comunidade esportiva.

    Florentino e Saldanha (2005) em seu artigo Esporte, educação e inclusão social: reflexões sobre a prática pedagógica em Educação Física” apresentam uma reflexão teórica sobre a prática pedagógica do professor de Educação Física e da necessidade de se repensar os valores do esporte na sociedade contemporânea, bem como o papel do professor enquanto agente transformador da realidade de seus alunos e da própria sociedade. A partir deste entendimento, a discussão encaminha-se para a reflexão sobre a pedagogia e a pedagogia do esporte, procurando entender a pedagogia como um campo de reflexão sobre o contexto, o todo, que envolve a ação educativa e formativa dos alunos, contribuindo, assim, para uma prática pedagógica mais eficiente e inclusiva. O professor de Educação Física tem a responsabilidade de preparar seus alunos para a cidadania. Os autores buscaram mostrar ao longo do trabalho os valores que regem o desenvolvimento do esporte na atual conjuntura social e o desafio que se impõe ao professor e ao futuro profissional da área no que tange a superação da visão de desenvolvimento do aluno que enfatize simplesmente o mecânico, o rendimento, o alto nível. 

    Outro estudo de Capitanio (2003) em seu artigo “Educação através da prática esportiva: missão impossível?”, teve como objetivo levar o professor de educação física a refletir sobre sua prática e sobre a relação educação física e esporte. Para tanto, o autor levanta os seguintes questionamentos: O professor está consciente da importância de seu papel enquanto educador? Ele pode imaginar sobre as conseqüências que possam ter para a vida de seus alunos quando estes são excluídos dos times em competições por não apresentarem um “desempenho” que leve a equipe à vitória? Ele estaria contribuindo para uma vida adulta voltada a prática de atividades físicas ou a adultos e sedentários? A educação não se limita àquele ano escolar. Ela se prolonga pela vida de toda pessoa, deixando marcas boas ou ruins, somáticas ou psicológicas. As somáticas são visíveis, porém as psicológicas não. 

    Souza, Souza e Fidelis (2009), em artigo de revisão bibliográfica “A utilização do esporte como ferramenta de intervenção educativa em condições de vulnerabilidade social” analisam as possibilidades de intervenção educativa através do esporte em condições de vulnerabilidade social. Discutindo inicialmente o contexto sócio-econômico de surgimento da vulnerabilidade e os benefícios sócio-emocionais da prática esportiva. Prosseguindo são considerados argumentos relativos ao emprego do esporte em realidades de vulnerabilidade finalizando com uma reflexão numa perspectiva crítica.

    O artigo “O Esporte enquanto elemento educacional” elaborado a partir de experiências diversas no exercício da docência em Educação Física Escolar, procura discutir o esporte enquanto um conteúdo rico de sentidos e significados, apontando possíveis caminhos para um ensino contextualizado, onde as técnicas esportivas não sejam os únicos elementos do processo ensino/aprendizagem (SILVA, 2004). O mesmo autor afirma que nesse sentido, o professor de educação física, tendo em vista a importância que assume o esporte como conteúdo das suas aulas, precisa refletir cotidianamente sobre a sua ação docente, quando da intenção de fomentar esse fenômeno social, que nos últimos tempos tem assumido uma dimensão bastante significativa em todo o mundo, despertando paixões, emoções e interesses diversos.

Cuidados com o Esporte

    As práticas esportivas competitiva, iniciadas precocemente e mal orientadas, podem ocasionar enormes prejuízos à saúde das crianças. Habitualmente, são detectados problemas ósseos, articulares, musculares, cardíacos e emocionais, dependendo da especialidade esportiva; sobretudo aquelas tecnicamente mais complexas. Estas empregam um grande número de repetições de gestos técnicos, visando a automatização e aperfeiçoamento do movimento.

    O estudioso Personne (1987) comprovou que um praticante de ginástica olímpica pode realizar ao longo de uma temporada mais de 8.000 saltos (impacto altamente traumatizante para as articulações); um atleta de saltos ornamentais executa mais de 14.000 saltos; um arremessador de dardo, 6.000 arremessos por ano.

    Já o pesquisador Ferrandis (1994) verifica que, nas corridas de rua, onde crianças e adolescentes são estimulados a participar, um corredor de maratona, durante a prova, executa por volta de 30.000 impactos do calcanhar contra o solo. Nestes impactos, o mesmo pode chegar a aplicar uma força de até seis vezes o peso de seu corpo. No voleibol, sabe-se que um cortador pode chegar a 150 saltos por partida, nos quais seus pés atingem uma altura superior a um metro, onde o impacto de chegada ao solo pode ser de até dez vezes o peso de seu corpo. Devemos pensar também nos anos de preparação, duração e intensidade do treinamento para chegar a este nível. É uma carga demasiadamente forte para o ombro e articulações dos membros inferiores.

    O grande problema deste tipo de risco reside no impacto e na similitude dos gestos, principalmente se nos referimos a crianças em pleno processo de desenvolvimento. Com relação aos riscos do tipo psicológico (saúde mental) em crianças competidoras, foram encontrados níveis anormalmente altos de ansiedade, estresse e frustração. Tudo isto também se evidencia em conhecidos casos de talentos esportivos com futuro promissor que hoje se sentem martirizados internamente por fracassos e desilusões, conseqüentes de maus resultados em competições. De qualquer forma, a resposta psicológica mais preocupante é a que alguns autores chamam de “infância não vivida”, resultado da alta dedicação aos treinamentos, exigida principalmente em algumas modalidades esportivas, podendo chegar a várias horas por dia, durante todos os dias da semana, além da atividade escolar.

    Kunz (1994) detectou que isto pode provocar uma formação escolar deficiente, e pior, leva a criança esportista a participar menos das brincadeiras e jogos do mundo infantil, atividades estas que são indispensáveis ao pleno desenvolvimento de sua personalidade. Cabe aqui também lembrar, que muitos pais, na ânsia de satisfazerem suas frustrações esportivas de infância, sobrecarregam emocionalmente seus filhos, trazendo enormes prejuízos de ordem psicológica, que, por muitas vezes, podem levar inclusive ao abandono precoce esportivo.

    Como foi visto, se faz necessário despender cuidados especiais para com os nossos pupilos, principalmente no que diz respeito aos objetivos que queremos desenvolver com a prática desportiva, pois ser atleta não significa ser saudável.

    Neste sentido, os profissionais envolvidos neste período de formação esportiva, deverão se utilizar de procedimentos pedagógicos eticamente corretos, que venham ao encontro das necessidades e capacidades da criança.

Papel da Escola na Ação Educativa através do Esporte

    Segundo Voser e Giusti (2002) a escola assume um papel importante para que estes jovens insiram em sua cultura o hábito pela prática esportiva. As escolas que realmente investem em Educação, reconhecem na Educação Física Escolar um meio rápido de interação da criança com o meio em que ela vive, proporcionando momentos de convívio e interação social. Com propostas sérias que visam democratizar, humanizar e diversificar a forma pedagógica do ensino da Educação Física, e métodos que procurem valorizar e incorporar as dimensões afetivas, cognitivas e sócio-culturais dos alunos, estão se tornando uma referência significativa no contexto Educacional principalmente na hora da escolha (por parte dos pais) da melhor escola para seus filhos.

    Ainda os mesmos autores afirma que a Educação Física Escolar como atividade física, além de desenvolver os aspectos físicos e disciplinares, desenvolve também a auto-confiança, que através de jogos, danças, lutas, ginástica, e atividades rítmicas, vão enriquecer o acervo motor oportunizando que a criança aprenda a cultura do movimento. È por meio dessa cultura que a criança descobre as possibilidades de se expressar com o seu corpo e passa a reconhecer a importância do movimento na integração e no relacionamento com seus companheiros de grupo. É através desta participação social, e da cooperação com os colegas, que o mesmo passa a praticar princípios democráticos e uma vivência coletiva.

    As atividades físico-desportivas, entendidas como atividades naturais de movimento, jogo e confrontação, são elementos básicos para a educação das pessoas, e possui funções altamente pedagógicas que podem incidir no desenvolvimento equilibrado e harmônico do ser humano (VARGAS NETO, 1995).

    O professor deve lançar mão de estratégias inteligentes de ensino, para desenvolver o desporto dentro de sua escola, considerando aspectos importantes como a competição, que mal ou bem está presente do contexto escolar, procurando procedimentos adequados de ensino-aprendizagem.

    Em seu texto: Desporto na Escola: Competição ou Cooperação? - Rochefort (1995), analisa procedimentos mais cooperativos, para serem desenvolvidos de forma significativa nas aulas de Educação Física, propondo uma discussão mais ampla e mais transformadora, que possam apontar uma mudança no trato com o conteúdo esportivo, e com procedimentos na escola.

    Para o mesmo autor fica claro que para adotar uma postura mais cooperativa, no que diz respeito aos procedimentos, é imperativo "ousar", é necessário ousar duas vezes, primeiro rompendo com a cultura imposta do esporte de rendimento como normatizador e balizador das atividades esportivas, dentro das aulas de Educação Física na escola, sem necessariamente desconhecer sua existência.

    Em segundo lugar, ousar entender que este romper determina uma alteração do significado. Aponta sim, para a identificação do significado central do que Kunz (1994) chamou de "O se movimentar" de cada modalidade esportiva, afirma Rochefort (1995).

Reflexões finais e desafios

    Como pode ser observado neste ensaio o Esporte poder ser uma ferramenta educativa de enorme magnitude, mas dependerá dos profissionais que nela estejam inseridos. No meio acadêmico é um tema recorrente as discussões que envolvem o Esporte com foco no rendimento x Esporte com o foco na formação, na educação para saúde, na sociabilização, na inclusão, na participação de todos.

    Vislumbramos também a necessidade de que os Cursos de Educação Física como formadores de professores devem desenvolver em seu projeto político pedagógico, uma proposta de ementas que discutam os esportes com uma visão mais complexa e ampla, fazendo que os alunos desde cedo experimentem a prática educativa em diferentes ambientes: tais como com indivíduos de terceira idade, com jovens portadores de necessidades especiais, com crianças em vulnerabilidade social, como lazer, em associações de bairro, em projetos sociais, dentro das escolas entre outros.

    Estas oportunidades práticas irão proporcionar aos acadêmicos (futuros professores) a vislumbrarem o esporte como uma ferramenta educativa e não só com o foco no rendimento, que é seletivo, excludente e que movimenta altas cifras em um mercado que gera muitos negócios.

Referencias

  • CAPITANIO, Ana Maria. Educação através da prática esportiva: missão impossível? EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 8 - N° 58 - Marzo de 2003. http://www.efdeportes.com/efd58/esport.htm

  • FLORENTINO J.; SALDANHA R. P. Esporte, educação e inclusão social:reflexões sobre a prática pedagógica em Educação Física. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 12 - N° 112 - Septiembre de 2007. http://www.efdeportes.com/efd112/esporte-educacao-e-inclusao-social.htm

  • FERRANDIS, R. Patologia traumática en el corredor de maratón. In: Plata, F.; Terrados, N.; Vera, P.: El maratón. Apectos técnicos y científicos. Madrid: Alianza Editorial S.A., p. 377-410, 1994.

  • KUNZ, E. Transformação didático-pedagógica do esporte. Ijuí: Unijui, 1994.

  • PERSONNE, J. Aucune médaille ne vaut la santé d’un enfant. Paris: Denoël, 1987.

  • LAKATOS, E.M.; MARCONI. M. de A. Fundamentos de metodologia cientifica. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 1991.

  • ROCHEFORT, R. Desporto na Escola: Competição ou Cooperação? Pelotas: ESEF/UFPEL, 1995.

  • SCULLY, P. Fitness. Condición física para todos. Barcelona. Barcelona: Editorial Hispano Europea, S.A., 1990.

  • SILVA, Welington Araújo. O esporte enquanto elemento educacional. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, 10 - N° 79 - Diciembre de 2004. http://www.efdeportes.com/efd79/esporte.htm

  • SOUZA, Aline de Oliveira, SOUZA, Fláviane Marques de, FIDELIS, Mauricio. A utilização do esporte como ferramenta de intervenção educativa em condições de vulnerabilidade social. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 14 - Nº 131 - Abril de 2009. http://www.efdeportes.com/efd131/esporte-em-condicoes-de-vulnerabilidade-social.htm

  • VARGAS NETO, F.X. Deporte y salud. Las actividades físico-deportivas desde una perspectiva de la educación para la salud: síntesis actual. Tesis doctoral. Barcelona: Universidade, 1995.

  • VOSER, R. C.; GIUSTI, J. G. Futsal e a escola: uma perspectiva pedagógica. Porto Alegre: ARTmed, 2002.

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