Efeito da oclusão vascular no treinamento contra-resistido de baixa intensidade Efecto de la oclusión vascular en el entrenamiento contra-resistido de baja intensidad Effect of vascular occlusion in low intensity counter-resistance training |
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*Doutor em Ciências do Movimento Humano Professor da Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS **Bacharel em Educação Física pela Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS Acadêmico do Curso de Educação Física da Universidade de Caxias do Sul, Caxias do Sul, RS |
Eduardo Ramos da Silva* Yonel Ricardo de Souza** Pedro Oreste Smiderle*** (Brasil) |
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Resumo O objetivo do presente estudo foi analisar o método de treinamento de força a baixa intensidade com oclusão vascular parcial (KAATSU training), assim como metodologia, respostas metabólicas, adaptações periféricas, segurança e aplicações como conseqüência da redução de fluxo sangüíneo e hipóxia intramuscular induzidos pelo tipo de treinamento. De uma forma geral os resultados apontam para o aumento da concentração plasmática de hormônio do crescimento pós-exercício, o aumento da força e da massa muscular. Conclui-se que o método é eficaz no que tange às necessidades de idosos, pacientes em programas de reabilitação e iniciantes no treinamento de força. Unitermos: Treinamento de força. Oclusão vascular. Métodos de treinamento. Hipóxia intramuscular.
Abstract The aim of this study was to perform a review of the method of strength training at low intensity with partial vascular occlusion (KAATSU training) as well as methodology, metabolic responses, peripheral adaptations, security and applications as the result of reduced blood flow and hypoxia induced by intramuscular type of training. Overall results indicate an increase in plasma growth hormone after exercise, increasing strength and muscle mass. We conclude that the method is effective with respect to the needs of elderly patients in rehabilitation programs and beginners in strength training. Keywords: Strength training. Vascular occlusion. Training methods. Intramuscular hypoxia.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O treinamento de força tem despertado o interesse de inúmeros profissionais da saúde e praticantes, seja como forma de prevenção, reabilitação, promoção de saúde, estética e competição. Komi1 e Gentil2 evidenciam a importância da força muscular na melhoria da qualidade de vida e promoção da saúde. O treinamento desta qualidade física tem demonstrado ser efetivo na melhoria de várias capacidades funcionais, bem como atenuar a perda gradativa da massa muscular no processo de envelhecimento. Assim, o treinamento de força se torna imprescindível na prescrição de exercícios direcionados a distintas populações, como, por exemplo, atletas, idosos, sujeitos que apresentam lesões ortopédicas ou mesmo os praticantes saudáveis que visam à promoção da saúde2.
Segundo Fleck e Kraemer3 os 4 principais fatores que modificam a força são: fatores neurais, fatores morfológicos, fatores biomecânicos e fatores psicológicos. Os fatores neurais são os principais responsáveis pelo aumento da força nas primeiras semanas de treinamentos de força. Segundo os autores, os fatores neurais são responsáveis pela coordenação intermuscular, pela melhoria na relação agonista-antagonista (co-contração) e pela melhoria na relação agonista-sinergistas e coordenação intramuscular.
Os fatores morfológicos estão relacionados principalmente com a hipertrofia muscular. Kadi, Erickson e Thornell4 têm sugerido a hiperplasia muscular, no entanto, sua contribuição para o volume muscular total parece não ser muito significativo3. A hipertrofia muscular ocorre devido principalmente a sobrecarga tensional e metabólica. A sobrecarga tensional causa a hipertrofia miofibrilar devido ao aumento do conteúdo de proteínas contrateis nas miofibrilas. Já a sobrecarga metabólica que causa a hipertrofia sarcoplasmática, gerando aumento de creatina fosfato, glicogênio e água que ocorre graças ao tempo prolongado de contração3.
Os fatores biomecânicos baseiam-se no princípio que o corpo humano se movimenta graças a sistemas de alavancas, e que não só a força muscular, mas também o seu ponto de aplicação interfere na capacidade de vencer a resistência. Esse conceito é definido como torque, que é a capacidade de forças girarem num sistema de alavancas ao redor do ponto fixo (eixo). Uma mesma força aplicada numa alavanca de maior comprimento obterá um torque maior.
Os fatores psicológicos estão relacionados a uma força latente, denominada reserva de proteção, que é mobilizada de forma não voluntária, como por exemplo, em situações de perigo (luta ou fuga).
Normalmente o treinamento de força segue um modelo clássico5, onde se acredita que predominantemente, nos exercícios de alta intensidade que se caracterizam por uma carga superior a 65% de 1RM, ocorre o aumento significativo da força e hipertrofia muscular. Este fato está diretamente relacionado ao estresse mecânico (fatores biomecânicos e neurais), ao controle neuromotor (fatores neurais), às demandas metabólicas (fatores morfológicos) e também às respostas endócrinas positivas (fatores neurais e psicológicos)3.
Para potencializar o tradicional treinamento de atletas e indivíduos não-atletas e ainda auxiliar na recuperação pós-cirúrgica, foi desenvolvido por Sato6 o treinamento com torniquete (ou oclusão vascular parcial), que reduz o fluxo sanguíneo e aumenta a hipóxia intramuscular, promovendo agudamente o aumento da concentração plasmática de hormônio do crescimento pós-exercício e como resposta crônica, pode-se citar o aumento da força e da massa muscular7.
O objetivo do presente estudo foi realizar uma revisão de literatura da história, alterações metabólicas, segurança, principais achados em relação aos ganhos de força e massa magra envolvendo o treinamento de força com oclusão vascular (KAATSU training) e suas potenciais aplicabilidades.
Desenvolvimento
História do treinamento com oclusão vascular
Em 1967, Sato6, o idealizador do KAAATSU Training, decidiu iniciar suas experimentações aplicando treinamentos em isquemia no próprio corpo, baseado numa experiência pessoal quando, num templo budista, ficou ajoelhado sentiu uma dormência em suas pernas. Determinado a entender o porquê daquele fenômeno, Sato iniciou uma série de experimentações, valendo-se do próprio corpo e submetendo seus membros a pressões superiores a 600 mm Hg por tempo prolongado. Repetidas intervenções foram necessárias para determinar a posição ideal de onde aplicar pressão para reduzir o fluxo de sangue envolvido na musculatura, quando em 1967 conseguiu estabelecer um método seguro e eficaz criando parâmetros para se determinar a pressão adequada no treinamento contra-resistido de baixa intensidade.
Em 1973, depois de sofrer um acidente em um passeio de esqui, Sato rompeu alguns ligamentos e fraturou alguns ossos de seu corpo. Perante a perspectiva de atrofia muscular, que é a conseqüência natural das lesões que Sato havia sofrido, ele começou a utilizar o treinamento de KAATSU. Surpreendentemente, após 2 semanas, seu médico diagnosticou que não só havia sido impedida a atrofia muscular típica, mas o contrário, o músculo tinha hipertrofiado. Então Sato concluiu que havia estabelecido a técnica fundamental para o treinamento de KAATSU6.
A partir daí, a história de recuperação de Sato passou a propagar-se entre os membros do clube de Fitness6. Entretanto, sua dificuldade original de determinar a pressão segura ao segmento ressurgiu no fato de que cada indivíduo requer uma atenção exclusiva devido às variações no tamanho dos membros, vasos sanguíneos, percentual de gordura e na força muscular. Começou então a trabalhar arduamente para obter mais conhecimentos no treinamento KAATSU e dez anos mais tarde e centenas de milhares de voluntários depois, em 1983, os métodos do treinamento de foram generalizados para uso público. Foi durante esse tempo que Sato começou a trabalhar em um protótipo de uma pulseira de pressão flexível com sensor de pressão (Figura 1)6.
Figura 1. Pulseira de pressão flexível com sensor de pressão
Alterações metabólicas no treinamento com oclusão
Normalmente, as unidades motoras são recrutadas seguindo o princípio do tamanho8, partindo das menores (fibras lentas), para maiores (fibras rápidas). No entanto, estudos atuais indicam que o princípio do tamanho não é respeitado em algumas condições específicas, como na contração excêntrica, onde o músculo é forçosamente alongado9, nas contrações potentes onde o recrutamento deve ser o mais rápido possível3 e em contrações em condições isquêmicas10,11. Nestes casos específicos as fibras rápidas glicolíticas são preferencialmente ativadas.
De acordo com Gentil2 a diminuição do fluxo sangüíneo em condições isquêmicas (oclusão vascular) causa a diminuição da entrega de oxigênio e, conseqüentemente, ativação das unidades motoras grandes (fibras rápidas), logo no início do movimento.
Takarada, Takazawa, Sato, Takebayashi, Tanaka e Ishii5 têm demonstrado que exercícios contra-resistidos de baixa intensidade (40%-50% 1RM) com oclusão vascular através do torniquete isquêmico de 50-200 mm Hg proporcionam um aumento de força semelhante ao exercício de alta intensidade sem oclusão. Segundo o autor, a compressão externamente aplicada, que restringe a circulação de sangue durante o exercício, resulta no aumento da hipóxia intramuscular, induzindo o recrutamento adicional de unidades motoras para, dessa forma, aumentar a atividade eletromiográfica do músculo e conseqüentemente manter o nível de força elevado5.
Outro fator que avulta de importância nos treinamentos de oclusão a baixa intensidade é o aumento da concentração de hormônio do crescimento humano (hGH) no plasma em comparação ao métodos de treinamento convencionais. De acordo com Gentil2, o aumento na concentração de hGH em virtude do treino de força ocorre porque as alterações fisiológicas que estimulam aumentos de força e hipertrofia também são responsáveis pelo aumento de hGH, como o acúmulo de metabólitos que provavelmente estimulariam receptores químicos, iniciando a ativação do eixo hipotálamo-hipófise. De acordo com os estudos de Takarada et al 5,12, as concentrações de hGH nos treinamentos de oclusão com baixas intensidades são similares aos treinamentos sem oclusão e com altas intensidades.
Sundenberg11 pesquisou as respostas agudas e adaptações periféricas (músculo esquelético) como resposta a isquemia gradual da musculatura em exercício. Os resultados demonstraram aumento significativo (p<0,05) da captação de O2 no membro com isquemia se comparado ao membro sem isquemia. Embora o aumento da atividade da citratosintase, do número de capilares por fibra e glicogênio muscular ocorram com o treinamento, no membro com isquemia verificou-se que a proporção deste fenômeno nas fibras tipo II b foi menor (p<0,05), e nas fibras tipo I maior (p<0,06). Verificou-se no membro com oclusão que a depleção de glicogênio nas fibras tipo II foi maior, embora não tenham ocorrido diferenças nas fibras tipo I (com ou sem oclusão), assim como a concentração de catecolaminas também foi maior, e diminuídas, no membro com oclusão, as concentrações de ATP e creatina fosfato.
Já Tadashi, Koichi, Noriteru, Takashi, Kagami, Masahiro, et al13 verificaram as respostas metabólicas intramusculares (gastrocnêmios) durante exercícios de resistência com restrição de fluxo sangüíneo. Para isso, distribuíram 24 sujeitos em 3 grupos e os submeteram a um treinamento de flexão plantar a 20% de 1 RM, (2 grupos: experimental e controle) e a 65% de 1 RM (apenas sem oclusão). Os resultados apontaram para uma depleção de fosfocreatina intramuscular, um aumento de dihidrogênio fosfato e um decréscimo de pH significativamente (p< 0,001) maior no grupo com oclusão em relação ao grupo sem oclusão com a mesma intensidade e significativamente menor (p< 0,001) que o grupo sem oclusão com intensidade maior.
Desta forma, os estudos mais relevantes até o momento demonstram que as respostas metabólicas no treinamento com oclusão a baixa intensidade são similares ao treinamento sem oclusão a alta intensidade.
Respostas em eletromiografia, força e massa muscular
Pesquisas tem sido realizadas abordando-se as alterações nos fatores neurais e morfológicos envolvidos no treinamento com oclusão a baixa intensidade, obtendo destaque os achados de Eiken, Sunberg, Esbjornsson, Nygren e Kaijser14; Takarada et al 5,12; Moore, Burgomaster, Schofield, Gibala, Sala e Phillips15; Wernbom, Augustsson e Thomeé16; Yasuda, Brechue, Fujita, Sato e Abe17 e Paternsen e Ferguson18.
Eiken et al 14 mensuraram o torque de pico no quadríceps femoral durante 60 repetições na extensão de joelhos em 10 homens antes e depois de um treinamento de 4 semanas na bicicleta. As adaptações ao treinamento isquêmico apontaram para diminuição do máximo torque de pico (MTP) em 8% (p<0,01) e diminuição do torque de pico inicial (TPI) em 9% (p<0,001), após as 4 semanas em relação à situação antes do treinamento. O torque de pico final (TPF) aumentou 13% (p<0,05) após o treinamento. Não aconteceram mudanças significativas em MTP, TPI e TPF após treinamento sem isquemia. Os autores concluíram que o treinamento com fluxo de sangue reduzido aumenta a resistência muscular, possivelmente por induzir mudanças de características metabólicas no músculo esquelético.
Takarada et al 5 investigaram um treinamento contra resistido de 16 semanas para o músculo flexor do cotovelo, com baixa-intensidade (30-50% de 1 RM) com oclusão em 110 mm Hg, com baixa-intensidade sem oclusão, e com intensidade media-alta (50-80% 1 RM) sem oclusão. No período pré e pós-treinamentos foram mensuradas a força e a área de secção transversa do músculo flexor do cotovelo. Aumentos percentuais na área de secção transversa (hipertrofia) e na força isocinética do músculo flexor do cotovelo pós-treinamento em baixa intensidade com oclusão foram significativamente maiores do que aqueles após o baixa-intensidade sem oclusão (p<0.05) e similares àqueles de intensidade média-alta sem oclusão. Os resultados sugerem que o treinamento contra-resistência em uma intensidade mesmo mais baixa de 50% 1 RM é eficaz em induzir a hipertrofia muscular e o aumento concomitante da força quando combinados com a oclusão vascular.
Em outro estudo foi importante, Takarada et al 12 submeteram atletas de elite de rugby (n = 17), durante 8 semanas, a treinamento dos músculos extensores de joelho com e sem oclusão. Os atletas foram divididos em 3 grupos: baixa intensidade (50%1RM) com oclusão vascular a 200 mm Hg, baixa intensidade (50%1RM) sem oclusão vascular e grupo controle (GC) sem treinamento. O grupo que utilizou o método de oclusão vascular mostrou um significativo aumento no torque isocinético da extensão de joelhos (p<0,05), em todas as velocidades estudadas, enquanto não houve diferenças entre os grupos de baixa intensidade sem oclusão e GC.
O estudo de Moore et al 15 envolvendo 8 homens destreinados durante 8 semanas com flexão unilateral do cotovelo demonstrou que o treinamento contra resistido a 50% de 1 RM é eficaz no aumento da força dinâmica máxima (22% no TCR com oclusão, 23% no TCR sem oclusão) dos flexores do cotovelo, independente da utilização do torniquete isquêmico, porém o aumento de força isométrica máxima de 8,3% (p<0.05) ocorreu somente com a utilização do torniquete.
Visando investigar a resistência muscular durante exercício de extensão de joelhos em diferentes cargas com e sem oclusão, Wernbom et al16 submeteram 16 sujeitos a 4 seções de treinamento com cargas de 20, 30, 40 e 50 % de 1 RM sem e com oclusão (200 mm Hg) até a exaustão. Ocorreram diferenças significativas (p<0,01) no número máximo de repetições entre a cargas de 20, 30 e 40 % de 1 RM com e sem repetições. Entretanto, entre as cargas de 50% sem e com oclusão não ocorreram diferenças significativas (p = 0,465). Concluíram sugerindo que à medida que se eleva a carga, as diferenças tendem a diminuir.
No estudo realizado por Yasuda et al17, 10 sujeitos participantes realizaram a contração dos flexores de cotovelo em quatro níveis de compressão externa (0, 98, 121 e 147 mm Hg), no músculo flexor do cotovelo, seguindo uma série de 30 repetições e após, mais 3 séries de 15 repetições, a 20% de 1RM. Intervalos de 2 minutos entre as contrações e de 3 a 4 dias entre as mensurações em diferentes pressões foram respeitados. O decréscimo da contração isométrica voluntária máxima entre os níveis 0 e 98 mm Hg foi o mesmo (18%) e foi maior entre os níveis 121 e 147 mm Hg (37%). A ativação muscular aumentou aritmeticamente com o aumento dos níveis, porém a estimulação eletromiográfica foi significativamente maior no nível 147 mm Hg.
Paternsen e Ferguson18, num estudo mais recente, verificaram os efeitos do treinamento com e sem oclusão a 25 e 50% de 1 RM nos músculos da panturrilha. Dezesseis mulheres destreinadas foram divididas em 2 grupos (com e sem oclusão) e foram submetidas unilateralmente a um treinamento de 4 semanas aplicando uma pressão de 110 mm Hg durante a execução da flexão plantar. Área de seção transversa, máxima força dinâmica (RM), torque isocinético e contração voluntária máxima foram significativamente maiores no grupo com oclusão se comparado ao grupo sem oclusão.
Os principais achados em força, eletromiografia e a ganho de massa muscular são convergentes no sentido de apontar ganhos superiores no treinamento com oclusão vascular parcial a baixa intensidade se comparado como treinamento sem oclusão vascular parcial a baixa intensidade e similares aos treinamentos sem oclusão vascular a alta intensidade.
Segurança do método
Durante anos, a definição dos limites seguros de aplicação da pressão pelos torniquetes foram o foco de pesquisa de Sato6 que concluiu que os melhores e mais seguros níveis pressóricos estão entre 120 a 150 mm Hg para membros superiores e algo em torno de 200 mm Hg para os inferiores17. De uma forma geral, os pesquisadores atualmente adotam os limites sugeridos por Takarada et al5 que vem utilizando uma pressão de 50 a 200 mm Hg para treinamentos a baixa intensidade.
Um estudo desenvolvido por Nakajima, Kurano, Iida, Takano, Oonuma, Morita, et al 19 teve como objetivo mapear os resultados práticos e incidência de eventos adversos do treinamento de KAATSU no Japão. Com base nos resultados da pesquisa, 12,642 pessoas receberam treinamento de KAATSU (homens 45,4 %, mulheres 54.6 %). O treinamento foi aplicado a todas as idades, incluindo os jovens (<20 anos de idade) e os idosos (> 80 anos de idade). O objetivo principal deste método de treinamento no Japão foi reforçar a musculatura dos atletas e promover a qualidade de vida das pessoas, incluindo os idosos. A incidência de efeitos colaterais ocorreu da seguinte forma: trombose (0,055 %), embolia pulmonar (0,008 %) e rabdomiólise (0,008 %).
Segundo Nakajima et al19 estes resultados indicam que a formação de KAATSU é um método seguro e promissor para atletas de formação e pessoas saudáveis e também pode ser aplicada às pessoas com diferentes condições físicas. Além disso, a restrição do fluxo venoso, induzindo o acúmulo de sangue venoso, e subseqüentemente reduzindo a pré-carga cardíaca durante o exercício pode ser benéfica na reabilitação de alguns pacientes cardíacos19. Em contrapartida, se excessiva, esta restrição pode acarretar na diminuição do débito cardíaco e, posteriormente, na redução do fluxo sangüíneo para o cérebro e a circulação coronariana e, por conseguinte, efeitos secundários, tais como tonturas, desmaios, anemia cerebral e deterioração isquêmica do coração.
No que tange a dor, Holander, Reeves, Clavier, Francois, Thomas e Kraemer20 submeteram 7 homens treinados, revezando-se aleatoriamente em 3 grupos: baixa intensidade (30% de 1 RM) com oclusão, moderada intensidade (70% de 1 RM) sem oclusão e oclusão sem treinamento, em 3 séries por 3 semanas consecutivas. Taxa subjetiva do esforço, dor e freqüência cardíaca foram mensuradas ao final de cada série, enquanto amostras de sangue foram colhidas antes, imediatamente e 15 minutos depois de cada exercício. Resultados demonstraram que na situação de oclusão sem treinamento a percepção subjetiva do esforço e a dor foram menores que as outras duas, sem diferença significativa entre elas. A freqüência cardíaca foi mais elevada na situação com oclusão em baixa intensidade que nas outras situações. Sugerem os autores que a percepção subjetiva do esforço e dor com oclusão a baixa intensidade são similares a situação de intensidade moderada sem oclusão.
Quanto ao melhor ponto de aplicação da pressão, embora a grande maioria relate se valer da porção proximal, Madarame, Sazaki e Ishii21 compararam as respostas endócrinas quando aplicada a cinta elástica nas porções proximais dos bíceps e tríceps e distais dos extensores e flexores de perna, medindo lactato, noradrenalina, testosterona, cortisol e hormônio do crescimento antes e depois da cinta em 9 homens com uma intensidade de 30 % de 1 RM, 3 séries de 30 repetições. As concentrações de lactato, noradrenalina, testosterona, cortisol e hormônio do crescimento aumentaram significativamente em ambas as situações (proximal e distal) em relação à situação pré-exercício, embora não tenha ocorrido diferença significativa entre elas, exceto um aumento significativo do hormônio do crescimento na situação distal em relação à proximal.
Em virtude do apresentado, o método do KAATSU training demonstra ser seguro quando utilizado nas faixas limites de pressão, com taxa subjetiva de esforço similar ao treinamento com intensidades mais altas sem oclusão. Não existem diferenças quanto à colocação proximal ou distal da cinta pressórica. Entretanto, estudos detalhados sobre os efeitos colaterais do treinamento de KAATSU ainda não foram relatados19.
Aplicabilidade
Na revisão literária realizada, 2 estudos se voltaram para a aplicação prática do treinamento com oclusão: Takarada et al5 e Takarada et al12. Takarada et al12, inspirados nos relatos históricos de Sato6, verificaram se a oclusão poderia diminuir a atrofia muscular dos músculos extensores e flexores do joelho após cirurgia. Para isso, 16 sujeitos (8 homens e 8 mulheres) que foram submetidos à cirurgia de reconstrução do ligamento cruzado anterior, foram divididos em 2 grupos (com oclusão e sem oclusão), tendo o grupo com oclusão realizado 2 seções por dia, cada seção dividida em 5 oclusões de 5 minutos com intervalo de 3 minutos, entre o 3º e o 14º dia após a cirurgia, com pressão média de 238 mm Hg. Os resultados, medidos por ressonância magnética, apontaram uma redução da área transversa dos músculos extensores e flexores do joelho de 20,7 ± 2,2 % e 11, 3 ± 2,6 % respectivamente no grupo sem oclusão, e de 9,4 ± 1,6 % e 9,2 ± 2,6 % no grupo ocluído.
Madarame et al21, baseados nas respostas hormonais dos treinamentos de oclusão em baixa intensidade5,11,12, verificaram se os ganhos de força e hipertrofia podem ser transferidos aos treinamentos de resistência com oclusão. Para isso, 15 homens não treinados foram divididos em 2 grupos: com e sem oclusão, e inicialmente foram submetidos a um treinamento de resistência em um dos antebraços, ambos os grupos sem oclusão, a 50% de 1 RM, em 3 séries de 10 repetições. Ao final do treinamento, o grupo com oclusão realizou um treinamento de extensão de perna ocluida a 30% de 1 RM, 3 séries de 15 a 30 repetições, enquanto o grupo sem oclusão de antebraço realizava o mesmo treinamento de perna sem oclusão. Este treinamento se repetiu 2 vezes por semana por 10 semanas. Aumento significativo de força e área transversal dos músculos flexores do cotovelo foram constatados apenas nos indivíduos que trabalharam com oclusão no antebraço com o membro dominante. As concentrações de noradrenalina foram significativamente maiores logo após o treinamento de perna no grupo com oclusão em relação ao grupo sem oclusão. Hormônio do crescimento e testosterona não mostraram diferenças significativas entre os 2 grupos.
Pode-se concluir parcialmente que a oclusão vascular pode ser empregada com sucesso na redução da atrofia muscular em pacientes com membros recém cirurgiados que necessitem repouso prolongado, porém as alterações periféricas provocadas pela oclusão parecem se limitar ao membro ocluído.
Conclusão
A partir da revisão de literatura dos diversos estudos envolvendo os pesquisadores com vasta experiência no treinamento de força com oclusão vascular (KAATSU training) pode-se concluir que as respostas fisiológicas no treinamento com oclusão a baixa intensidade são similares ao treinamento sem oclusão a alta intensidade, que os ganhos na ativação eletromiográfica, força e massa muscular do treinamento com oclusão a baixa intensidade são similares ao treinamento sem oclusão a alta intensidade.
O método de treinamento com oclusão a baixa intensidade aparenta ser seguro desde que seja realizado na faixa de pressão entre 50 e 200 mm Hg. O local da colocação da cinta não trás diferença nas respostas, embora os efeitos colaterais do treinamento de KAATSU ainda não estão esclarecidos. A princípio, os efeitos do treinamento com oclusão são localizados (se restringem ao membro ocluído).
Pode-se através da utilização desse método de treinamento atender as necessidades de idosos, pacientes em programas de reabilitação e iniciantes no treinamento força. Assim sendo, esse campo oferece uma nova proposta para profissionais de Educação Física, Fisioterapia e Medicina.
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