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O rugby, os jovens, as drogas e a prevenção de 

comportamentos de risco: um artigo de revisão teórica

El rugby, los jóvenes, las drogas y la prevención de conductas de riesgo: un artículo de revisión teórica

 

Doutor e Mestre em Psicologia, na especialização em Psicologia da Saúde

Pós-graduado em Gestão de Recursos Humanos

Pós-graduado em Toxicodependências

Diplomado em Abordagem Sistémica e Familiar

Licenciado e Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica

Antigo atleta federado de Rugby, no presente é treinador de Rugby Infantil

e Juvenil (Mini Rugby) no Clube de Rugby da Universidade do Algarve (CRUAL)

Nuno Álvaro Caneca Murcho

nunalvaro@netcabo.pt

(Portugal)

 

 

 

 

Resumo

          O objectivo deste artigo é reflectir sobre o papel do Rugby como um recurso importante na implementação destas estratégias de prevenção de comportamentos de riscos em jovens, tendo-se concluído que as especificidades desta modalidade desportiva, nomeadamente os seus valores intrínsecos, e o facto de ser integradora na perspectiva social, possibilitando a sua prática por crianças e jovens de todas as formas e tamanhos, a tornam num dos desportos de eleição para a promoção de comportamentos positivos de saúde e para a prevenção de comportamentos de risco em jovens, como o consumo de drogas.

          Unitermos: Rugby. Jovens. Drogas. Prevenção de comportamentos de risco.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Sabemos que o consumo de drogas é um problema transversal a toda a sociedade, nomeadamente pelos impactos negativos que tem para os seus consumidores do ponto de vista biopsicossocial (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2007), e que assume uma particular relevância considerando que afecta cada vez mais jovens, e de idades mais reduzidas (FERREIRA; MATOS; DINIZ, 2008).

    Os diversos estudos realizados sobre esta problemática apontam a importância das intervenções ao nível da prevenção primária, seja ao nível da promoção da saúde como da prevenção da doença (MATOS; SIMÕES, 2008), sendo apontada a falta de programas de ocupação dos tempos livres como um factor de risco para o consumo destas substâncias (PACHECO et al., 2009), podendo a prática desportiva, de uma forma genérica, ser vista como uma estratégia de promoção de estilos de vida saudáveis e de prevenção de comportamentos de risco nos jovens, em particular nos adolescentes, como seja o consumo de drogas, entre outros (LOUREIRO; MATOS; DINIZ, 2008, RODRIGUES, 2010).

    Neste sentido, o Rugby, até pelas suas características específicas, como a atitude de companheirismo, o sentido de fair play e o facto de poder ser praticado por pessoas de todas as formas e tamanhos (CHADUNELI, 2007, INTERNATIONAL RUGBY BOARD, 2008) pode ser um recurso importante na implementação destas estratégias de prevenção de comportamentos de riscos em jovens, e assim o objectivo deste artigo é reflectir sobre o papel desta modalidade desportiva a este nível.

O consumo de drogas como um comportamento de risco

    Considerando que drogas são todas as substâncias psicoactivas que provocam alteração do comportamento e cujo consumo tem objectivos hedonistas (de prazer) ou que culturalmente sejam classificadas como tal (MURCHO et al., 2010), o seu consumo por parte dos jovens, e em particular nos adolescentes, pode apresentar funções utilitárias importantes para eles, constituindo um factor de adesão a este tipo de comportamentos, em que a sua experimentação é uma etapa para o seu consumo mais regular, nomeadamente para a formação de atitudes, de onde resulta a necessidade de uma intervenção precoce, até porque os riscos de comportamentos problemáticos aumentam com a idade, e determinados comportamentos constituem factores de risco para o envolvimento em comportamentos mais graves (MATOS; SIMÕES, 2008).

    Deste modo, parece-nos crucial potenciar nos jovens o desenvolvimento dos factores de protecção para as toxicodependências, os quais definimos como sendo as variáveis que contribuem para modular, prevenir ou limitar o uso de drogas, moderando os efeitos da exposição aos riscos, e que estão presentes no indivíduo ou no ambiente, dos quais se mencionam, entre outros, a auto-estima, as crenças de auto eficácia, a capacidade de resolução de problemas, o controlo interno, as competências de relacionamento interpessoal, as expectativas de sucesso, a tolerância à frustração, a capacidade de adiar a gratificação, a autonomia, a clareza de normas, a adopção de valores convencionais e o envolvimento em actividades sociais convencionais (PACHECO et al., 2009).

    Neste contexto, o desporto pode ter um papel importante, na medida em que assume um comportamento protector no consumo de drogas, existindo evidência científica que a sua prática não só previne estes comportamentos de risco como também os reduz, caso já existam, promovendo não só a existência de estilos de vida saudáveis como também uma maior satisfação com a vida (FERREIRA; FONTE, 2006, LOUREIRO; MATOS; DINIZ, 2008, PAUPÉRIO et al., 2009, MORAES et al., 2009; RODRIGUES, 2010), até porque que as actividades desportivas, ou mesmo a própria educação física em geral, quando realizados de forma regular e organizada, são importantes para a estimulação e desenvolvimento das capacidades biológicas, neuropsicológicas e psicossociais, incluindo o relacionamento interpessoal, nomeadamente ao nível dos sentimentos de solidariedade, cooperação, respeito mutuo e princípios éticos, factores que têm implicações no surgimento da consciência para a cidadania, permitindo a construção de relações sociais adequadas com os seus pares e treinadores (LOUREIRO; MATOS; DINIZ., 2008, DE MARCO, 2010)

O rugby como um recurso nas estratégias de prevenção do consumo de drogas em jovens

    O Rugby tem vindo a evoluir ao longo dos tempos, passando de um desporto violento para um desporto que mantendo as suas características de contacto físico intenso se encontra controlado e regulado, privilegiando a segurança dos jogadores, e cujos princípios básicos assentam na conduta desportiva, no carácter, no controlo físico e na disputa pela posse, na disciplina, no autocontrolo e no respeito mútuo (CHADUNELI, 2007, INTERNATIONAL RUGBY BOARD, 2008).

    Existe também uma multiplicidade de formas de jogo, algumas das quais com um contacto físico mais reduzido, o que permite a sua prática em vários tipos de campo, e com diversas configurações, designadamente o Touch Rugby, o Rugby Bitoque ou o Rugby Tag, estas duas ultimas adequadas inclusive a recintos fechados como os pavilhões desportivos (VAZ, 2005, AGRAMONTE, 2011), para além de formas de Rugby adaptadas para pessoas com mobilidade reduzida, como o Rugby em cadeira de rodas (INTERNATIONAL WEELCHAIR RUGBY FEDERATION, disponivel em http://www.iwrf.com/history.htm, acesso em 9 de Dezembro de 2011).

    A sua prática em crianças e jovens, pelas suas esfericidades, possibilita que eles vivenciem um vasto leque de aprendizagens motoras, promovendo a sua interacção e integração, nomeadamente no contexto escolar, possibilitando a convivência activa de raparigas e rapazes, de todos os tipos morfológicos, dando oportunidades de êxito a todos os praticantes, favorecendo por esse motivo a inclusão e a aceitação da diferença, em que todos são necessários, e importantes, independentemente das suas características físicas, culturais ou do género, e permitindo o desenvolvimento de valores essenciais como sejam: a humildade e o espírito de sacrifício; a responsabilidade, a coragem e a criatividade; o espírito de equipa e de entreajuda; e a disciplina e o respeito (GARCIA; MOURA, 2011).

    De referir também que existem inúmeros projectos de integração e combate à exclusão de crianças e jovens, assentes nesta modalidade desportiva, como é o caso das Escolinhas de Rugby Galiza, em Portugal (SILVA, 2010), e mesmo ao nível do desenvolvimento loco-regional, ao nível comunitário, nas vertentes não só do combate à exclusão, como ainda económica e da promoção da saúde, de que se mencionam algumas experiências de sucesso na região do Pacifico (STEWART-WITHERS; BROOK, 2009).

Considerações finais

    Assim, tendo em conta as características específicas do Rugby, como já mencionamos, esta modalidade parece ser um dos desportos de eleição para promoção de comportamentos positivos de saúde e para a prevenção de comportamentos de risco nos jovens, como o consumo de drogas, designadamente pelos valores que tem intrínsecos, até mesmo pelo fato de ser integradora do ponto de vista social uma vez que possibilita a sua prática por crianças e jovens de todas as formas e tamanhos, o que também é comprovado pelo sucesso de alguns dos projectos desenvolvidos neste sentido.

Referências

  • AGRAMONTE, E. A.. El rugby: historia y aplicación en la educación física. Pedagogia Magna, n. 11, p. 90-97, fev. 2011.

  • CHADUNELI, B. La evolución del rugby: de deporte violento a deporte regulado. Revista Ciencias de la Salud, v. 5, n. 2, p. 116-121, jul/set. 2007.

  • DE MARCO, A.. Crescimento e desenvolvimento infantil. Revista Mackensie de Educação Física e Esporte, vol. 9, supl. 1, p. 18-20, 2010

  • FERREIRA, C.; FONTE, C. O consumo de drogas e o envolvimento em actividades de lazer na adolescência. Motricidade, v. 2, n. 3, p. 159-166, 2006

  • FERREIRA, M.; MATOS, M. G.; DINIZ, J. A.. Consumo de substâncias na adolescência: evolução ao longo de 8 anos. In: MATOS, G. M. (Coord.). Consumo de substâncias: estilo de vida? À procura de um estilo. Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência, IP, 2008. p. 319-340.

  • GARCIA, H.; MOURA, J. Tag ruggy na escola: dossier do professor. Lisboa: Federação Portuguesa de Rugby; Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular; Desporto Escolar, 2011. Disponível em: www.fpr.pt. Acesso em: 25‎ out. ‎2011.

  • INTERNATIONAL RUGBY BOARD. A beginner’s guide to rugby union. Dublin, 2008. Disponível em: www.irb.com. Acesso em 15 nov. 2011.

  • LOUREIRO, N. E.; MATOS, M. G.; DINIZ, J. A.. Actividade física, desporto e consumo de substâncias entre adolescentes portugueses. In: MATOS, G. M. (Coord.). Consumo de substâncias: estilo de vida? À procura de um estilo. Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência, IP, 2008. p. 25-43.

  • MATOS, M. G.; SIMÕES, C.. Conclusões. In: MATOS, G. M. (Coord.). Consumo de substâncias: estilo de vida? À procura de um estilo. Lisboa: Instituto da Droga e da Toxicodependência, IP, 2008. p. 341-348.

  • MORAES, M. et al.. Satisfação com a vida, exercício físico e consumo de tabaco em adolescentes de diferentes áreas geográficas de Portugal. Revista brasileira de ciências do esporte. v, 30, n. 2, p. 137-149, mar.-abr.2009

  • MURCHO, N. et al. Guia de toxicodependências para forças de segurança. Faro: Governo Civil do Distrito de Faro; Instituto da Droga e da Toxicodependência, IP – Delegação Regional do Algarve, 2010.

  • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Neurociência do uso e da dependência de substâncias psicoactivas. São Paulo: Editora Roca, 2007

  • PACHECO, J. E. P. et al. Factores de risco e de protecção das toxicodependências em crianças e jovens adolescentes: contributos para a sua compreensão. Mudanças – Psicologia da Saúde, v. 17, n. 1, p. 33-38, jan.-jun.2009.

  • PAUPÉRIO, T. et al. Sports practice, tobacco use and perceived health... wich relationship? A study fo adolescents in the 3.th cycle of basic education. In: PRECIOSO, J. et al. (Orgs.). Smoking: prevention, treatment and protection: procedings of the I International Conference on Smoking Prevention and Treatment. Braga: Centro de Investigação em Educação, Universidade do Minho, 2009. p. 71-83. 1 CD.

  • RODRIGUES, J. A. S.. Prática desportiva, consumo de haxixe e percepção de saúde em adolescentes. Que relação. 2010. 120 f. Dissertação (Mestrado em Ciências do Desporto) - Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Porto. 2010.

  • SILVA, M. R.. Efeitos da prática de uma modalidade desportiva na promoção da interculturalidade. 2010. 99 f. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, Lisboa. 2010.

  • STEWART-WITHERS, R.; BROOK, M. Sport as a vehicle for development: the influence of rugby league in/on the Pacific. Palmerston North (NZ): Institute of development Studies - Massey University, 2009.

  • VAZ, L. M. T. Ensino do rugby no meio escolar. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, v. 10, n. 81, fev. 2005. http://www.efdeportes.com/efd81/rugby.htm

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