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O autoexame das mamas é indicado ou não?

¿Está indicado el autoexamen mamario?

 

*Acadêmicos do 4º período do curso de graduação em Medicina

das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros

**Professora do curso de graduação em Medicina

das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros

(Brasil)

Fabiane Mendes de Souza*

Leonardo Canela Almeida*

Ana Beatris Cezar Rodrigues Barral**

fah-mendes@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          O câncer de mama é a maior causa de morte das brasileiras, de modo que a alta taxa de mortalidade se deve principalmente ao diagnóstico tardio. Sendo assim, os métodos de rastreamento precoce tornam-se ainda mais necessários. Uma possibilidade é o autoexame das mamas (AEM) - exame físico realizado pela própria mulher, no qual se observa comparativamente aspecto da pele, coloração e tamanho das mamas, além da presença de lesões ou inchaços. Sabe-se que muitas vezes a neoplasia mamária é detectada pela própria mulher. No entanto, não há consenso acerca de sua recomendação. Alguns pesquisadores afirmam que esse método de rastreio não fornece benefícios claros à saúde e ainda produz efeitos indesejados, não devendo, portanto, ser indicado. Enquanto outros pesquisadores defendem que o AEM possui importância no autocuidado, sendo a sua não-indicação prejudicial. Diante de tais controvérsias, o presente estudo objetivou compreender a indicação do autoexame das mamas, considerando as divergências existentes acerca desse método na comunidade científica. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica do tipo exploratória, na qual as fontes de dados foram publicações escritas em português, inglês e espanhol a partir do ano 2008 até 2011. Após leitura interpretativa, concluiu-se que o autoexame das mamas deve ser indicado não como exame isolado de diagnóstico precoce, mas como integrante das estratégias de incentivo ao autocuidado para, desta maneira, promover a saúde da mulher.

          Unitermos: Câncer de mama feminino. Autoexame das mamas. Prevenção do câncer mamário.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Doenças manifestadas como tumores malignos em diferentes locais são denominadas câncer. Entre as mulheres, o mais incidente é o câncer de mama, o qual é, inclusive, o segundo mais prevalente no mundo. Apesar de se tratar de um problema global de saúde pública, observam-se maiores índices em países desenvolvidos. E, no que se refere ao Brasil, a taxa de incidência é intermediária, contudo é importante causa de morte (INCA, 2010).

    O câncer de mama atinge principalmente mulheres na faixa etária entre 40 e 69 anos. Em 2006, segundo pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), foram 48.930 novos casos da doença no país, com taxa de mortalidade corresponde a 15% (TRUFELLI et al., 2008).

    Essa neoplasia possui alguns fatores influentes em sua prevalência, como: a vida reprodutiva da mulher, o que inclui menarca precoce, nuliparidade, idade da primeira gestação a termo acima dos 30 anos, menopausa tardia, uso de anticoncepcionais orais e terapia de reposição hormonal; o processo de urbanização por determinar maior adoecimento das mulheres; os distúrbios alimentares, como a obesidade; o estilo de vida, representado pelo sedentarismo; e também os fatores genéticos, visto que mulheres com mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 têm 85% de chance de desenvolver câncer de mama antes dos 70 anos de idade (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

    O câncer é uma patologia com localizações e aspectos clínico-patológicos múltiplos e não possui sintomas ou sinais patogênicos, podendo ser detectado em vários estágios de evolução histopatológica e clínica. Diante disso, depara-se com um difícil diagnóstico e, por conseqüência, com um relevante obstáculo para a saúde (INCA, 2010).

    O índice de mortalidade por câncer de mama apresenta-se crescente e tal dado é justificado pelo diagnóstico tardio, uma vez que, nesse momento, a doença encontra-se em estágios avançados. (TRUFELLI et al., 2008).

    A anamnese e o exame físico constituem a base do diagnóstico clínico de um paciente com câncer e definem a escolha dos exames complementares. Estes incluem mamografia, ultra-sonografia e biopsia da lesão (INCA, 2010). Outra ferramenta usada na identificação de neoplasias mamárias é o autoexame das mamas (EAM), o exame físico realizado pela própria mulher (TRUFELLI et al., 2008).

    Ao fazer o EAM, devem ser observados o aspecto da pele, coloração e tamanho das mamas de forma comparativa, além da presença de lesões ou inchaços. Uma das técnicas recomendadas com boa aceitação é a palpação circular, iniciada no mamilo, que se estende até a região axilar. Quanto à periodicidade, sugere-se que seja realizado mensalmente de sete a dez dias após a menstruação (SILVA et al., 2009).

    Grande parte dos tumores na mama é, inicialmente, detectada pela própria mulher, o que aponta para a relevância do autoexame (SILVA et al., 2009). No entanto, não há consenso acerca de sua recomendação (YANG et al., 2010).

    Sabendo que o câncer de mama é a maior causa de morte das brasileiras, provocando mais de 11 mil mortes/ano somente entre mulheres de 40 e 69 anos (TIEZZI, 2009) e do quanto é fundamental o seu diagnóstico precoce para modificar essa realidade (TRUFELLI et al., 2008), o presente estudo objetiva compreender a indicação do autoexame das mamas, considerando as divergências existentes acerca desse método na comunidade científica.

    Assim, nota-se que a importância do estudo se dá nos benefícios decorrentes de uma postura consciente dos médicos e das mulheres diante da adequação do autoexame.

Metodologia

    Realizou-se uma pesquisa bibliográfica do tipo exploratória. Utilizou-se como fonte de informações Portal do Instituto Nacional do Câncer (INCA), Site do Ministério da Saúde e artigos da base de dados SciELO, BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Google.Acadêmico e PubMed (U.S National Library of Medicina). As palavras-chave usadas foram: câncer de mama, autoexame das mamas, diagnóstico do câncer de mama, rastreio do câncer de mama, controvérsias acerca do câncer de mama, breast cancer screening, breast self-examination, breast cancer screening controversies, e breast self-examination controversies. Houve restrição às publicações escritas em português, inglês e espanhol a partir do ano 2008 até 2011, além de rigorosa seleção mediante leitura exploratória das obras.

    Após identificação dos dados com íntima relação com os objetivos do estudo, fez-se uma leitura analítica com a finalidade de organizar as informações adquiridas para obter respostas para o problema da pesquisa.

    Por fim, realizou-se uma leitura interpretativa com o intuito de conferir maior significado aos resultados alcançados pela leitura analítica ao interligá-los aos conhecimentos de origem teórica e empírica.

Discussão

    Cushman Haagensen, um cirurgião americano, desde a década de 1950, incentivava as mulheres a avaliarem as próprias mamas mensalmente ou a cada dois meses após treinamento prévio. Desta forma, promovia o conceito do autoexame das mamas (AEM) numa época em que o câncer de mama era muitas vezes diagnosticado quando já se encontrava inoperável (THORNTON e PILLARISETTI, 2008).

    O objetivo desse cirurgião era o mesmo dos médicos que atualmente apóiam esse método de rastreio: detectar precocemente o câncer de mama, para que o tumor esteja em estágio passível de tratamento ou cirurgia pouco invasiva de melhores prognósticos (THORNTON e PILLARISETTI, 2008).

    O autoexame da mama foi considerado uma eficiente forma de identificar a neoplasia ainda em fases iniciais. No entanto, sua capacidade de produzir esse efeito esperado no combate ao câncer de mama não é mais uma verdade absoluta e sim, motivo de controvérsia na comunidade científica (BRODERSEN et al., 2010).

    Mesmo sendo uma prática passível de realização por todas as mulheres, o autoexame das mamas não é recomendado pelo Ministério da Saúde (TRUFELLI et al., 2008). O Ministério da Saúde preconiza como principais estratégias de rastreamento um exame mamográfico a cada dois anos para mulheres de 50 a 69 anos e o exame clínico anual das mamas para mulheres de 40 a 49 anos. Além disso, enfatiza que o exame clínico da mama deve ser realizado em todas as mulheres que procuram o serviço de saúde, independente da faixa etária, como parte do atendimento à saúde da mulher. E, para mulheres consideradas com risco elevado para câncer de mama, recomenda-se o exame clínico da mama e a mamografia anualmente a partir de 35 anos (BIM et al., 2010).

    A United States Preventive Services Task Force (USPSTF) também atualizou recentemente suas recomendações acerca dos métodos de rastreio do câncer de mama ao considerar importantes evidências expostas por rigorosas pesquisas científicas de grande número amostral desenvolvidas na Rússia, China e Estados Unidos. Em tais pesquisas, o grupo de mulheres que realizava o autoexame das mamas e o grupo controle, que não o realizava, apresentaram taxas de mortalidade muito semelhantes, sem diferenças estatísticas (NELSON et al., 2009).

    Alguns pesquisadores já definem o autoexame como fator prejudicial (BRODERSEN et al.; MENKE e DELAZERI, 2010). Inclusive as pesquisas supracitadas revelaram uma associação entre a introdução do hábito do autoexame e um aumento de quase duas vezes no número de biópsias realizadas. As biópsias permitem a retirada de um exemplo intacto da arquitetura celular, tornando possível a análise patológica do câncer de mama. Entretanto, trata-se de um processo invasivo, de custo elevado, não muito efetivo. Além do custo-benefício desvantajoso, muitas vezes as biópsias demonstram que os achados no autoexame das mamas foram, na verdade, um falso-positivo. (NELSON et al., 2009).

    Nota-se que a validade do autoexame é contestada por existirem evidências de danos, mas não de benefícios gerados por ele. O objetivo dos programas de rastreamento é a diminuição da mortalidade, o que comprovadamente não é alcançado pela prática isolada desse método (MENKE e DELAZERI, 2010).

    As mudanças nas recomendações de respeitadas instituições, como a USPSTF, acentuaram as divergências no diz respeito ao incentivo do autoexame. Um grupo de pesquisadores corrobora com a USPSTF e julga as mudanças atuais como um cuidado à mulher racional e inteligente. Contudo, outros pesquisadores vêem as novas recomendações como um racionamento dos métodos de rastreio e uma inadvertência com o autocuidado. (DAVISSON, 2011).

    Ainda existem os estudiosos que acreditam numa eficiência do autoexame dependente de boa articulação do sistema de saúde pública, sendo de responsabilidade deste as etapas subseqüentes de confirmação diagnóstica e tratamento da patologia, as quais podem contribuir de modo relevante na redução da mortalidade (GONZÁLEZ-ROBLEDO et al., 2010).

    Ainda que comprovadamente não reduza a mortalidade, achados anormais durante o autoexame podem ser fator desencadeante de maior atenção da mulher e de procura por um profissional da saúde, evidenciando a importância do AEM para o autocuidado (DAHLUI et al., 2011).

    Portanto, desestimular esse método de rastreio pode provocar efeitos indesejados. Em uma pesquisa realizada na Malásia, foram encontradas evidências de que desencorajar as mulheres a fazerem o AEM reduziu a realização de mamografia, principal exame para detecção de tumores mamários. Ciente disso, o autoexame surge como intermédio da busca por exames que de fato reduzem a mortalidade (DUNN et al., 2010).

    Outro argumento pertinente na defesa do AEM é o fato dele ser uma estratégia prontamente disponível, não-invasiva, de fácil introdução e baixo custo. Sendo assim, pode ser um importante método de detecção precoce e controle do câncer mamário especialmente em países que dispõem de poucos recursos. (LOH e CHEW, 2011).

    Apesar dos questionamentos, o autoexame continua sendo um dos principais métodos de detecção precoce do câncer de mama, mostrando-se útil no diagnóstico de muitas mulheres acometidas pela neoplasia (ROTH et al.; LOH e CHEW, 2011; MENKE e DELAZERI, 2010).

    Ainda hoje são desenvolvidas ações de incentivo e instrução sobre a técnica de realização do autoexame, objetivando maior nível de conhecimento nas mulheres para conseqüente aumento na adoção de sua prática e execução apropriada (SHALLWANI et al.; GONZÁLEZ-ROBLEDO et al., 2010). Afinal, constatou-se que os principais motivos para a não realização do autoexame da mama são: o esquecimento, o fato de não acreditar na técnica, a falta de segurança quanto à prática correta e a desatenção à própria saúde (SILVA et al., 2009).

    Quanto a isso, perduram as sugestões de projetos de educação da saúde da mulher que incluam o autoexame das mamas nas clínicas de atenção básica e especializadas em mastologia (LOH e CHEW, 2011). Ressalta-se que, para solucionar as falhas e alcançar o diagnóstico precoce do câncer de mama, são necessárias intervenções motivacionais e não somente informativas (YANG et al., 2010).

Conclusão

    Com a presente revisão de literatura, verificou-se que o autoexame das mamas não atinge um dos principais objetivos de um método de detecção precoce: a redução do índice de mortalidade. Deste modo, não é o exame mais adequado isoladamente. Todavia, apesar de evidências de conseqüências indesejadas, não é correto afirmar que o autoexame das mamas traz somente prejuízos. Esse exame realizado pela própria mulher tem a vantagem de ser de fácil de realização e baixo custo, além de acarretar benefícios secundários para a saúde da mulher. O desencorajamento da realização do exame pode culminar em redução na atenção à saúde da mulher, tanto no diz respeito ao interesse pelo conhecimento do próprio corpo quanto na busca por atendimento especializado.

    Portanto, conclui-se que o autoexame das mamas deve ser indicado, não como forma de detecção precoce isoladamente e sim, como estratégia fundamental ao incentivo e à prática do autocuidado. Devendo permanecer, então, projetos que divulguem o autoexame das mamas.

Referências

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  • NELSON, H. D.; TYNE, K.; NAIK, A.; BOUGATSOS, C.; CHAN, B.; NYGREN, P.; HUMPHREY, L. Screening for Breast Cancer: Systematic Evidence Review Update for the U.S. Preventive Services Task Force. Evidence Review Update No. 74. AHRQ Publication No. 10-05142-EF-1. 2009.

  • ROTH, M. Y.; ELMORE, J. G; YI-FRAZIER, J. P.; REISCH, L. M.; OSTER, N. V.; MIGLIORETTI, D. L.. Self-Detection Remains a Key Method of Breast Cancer Detection for U.S. Women. Journal of Women's Health. 2011.

  • SHALLWANI, K.; RAMJI, R.; ALI, T. S.; KHUWAJA, A. K. Self Examination for Breast and Testicular Cancers: A Community-based Intervention Study. Asian Pacific Journal of Cancer Prevention. v. 11, n. 2, 2010.

  • THORNTON, H.; PILLARISETTI, R. R. “Breast awareness” and “breast self-examination” are not the same. What do these terms mean? Why are they confused? What can we do?. European Journal of Cancer. v. 44, 2008.

  • TRUFELLI, D. C.; MIRANDA, V. C.; SANTOS, M. B. B.; FRAILE, N. M. P.; PERCONI, P. G.; GONZAGA, S. F. R.; RIECHELMANN, R.; KALIKS, R.; GIGLIO, A. Análise do atraso no diagnóstico e tratamento do câncer de mama em um hospital público. Revista de Associação Médica Brasileira. São Paulo, v. 54, n. 1, p. 72-76. 2008.

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