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Licenciatura ou Bacharelado: uma discussão acerca dos 

motivos capazes de influenciar tal escolha em Educação Física

Licenciatura o Bachillerato: una discusión acerca dos motivos capaces de influir en la elección en Educación Física

 

*Graduado em Licenciatura em Educação Física

Faculdade Anhanguera de Campinas, FAC

**Mestre em Ciência do Esporte, UNICAMP

Docente da Faculdade Anhanguera de Campinas - FAC

(Brasil)

Crisler de Oliveira Borges*

crisler1062@terra.com.br

Leandro de Melo Beneli**

leandro.beneli@aedu.com

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho foi identificar e discutir os motivos que levaram à escolha entre Licenciatura e Bacharelado e posteriormente à troca entre essas opções durante a formação em Educação Física pelos acadêmicos da Faculdade Anhanguera de Campinas, unidade 4, ingressos no ano de 2008. Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado um questionário com aplicação direta a todos os acadêmicos da 6º serie do referido curso, o que constitui um total de 52 acadêmicos. As opções que constam no questionário foram escolhidas a partir de trabalhos que tratam sobre este tema e após aplicação de um questionário piloto a acadêmicos do quarto semestre de E.F. ingressos no ano de 2009. Os resultados apresentaram os seguintes recortes: o principal motivo que levou a uma primeira escolha tanto na Licenciatura como no Bacharelado foi o “Gosto pela Profissão”, contrapondo-se a “Falta de conhecimento entre as habilitações” como principal motivo para a posterior troca entre tais opções. Após a obtenção dos resultados realizou-se uma discussão junto a bibliografias que tratam sobre o tema em questão. Concluiu-se que os alunos ingressos no ano de 2008 pouco sabiam sobre a profissão escolhida.

          Unitermos: Educação Física. Licenciatura. Bacharelado.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Com o fim do currículo generalista e a regulamentação da profissão através da Lei Federal 9.696/1998, a Educação Física passou a ter um destaque pela existência de duas vertentes no que se refere à área de atuação específica, que podem ser classificadas como escolar e não-escolar, segundo Lima (apud Becker; Ferreira; Krug, 1999).

    Embora existam duas formações específicas na E.F., é possível que após a conclusão de uma dessas graduações o acadêmico faça uma complementação com a outra área de atuação tornando-se assim habilitado nas duas modalidades do curso, uma vez que a base curricular acadêmica é a mesma nas duas carreiras.

    Mesmo diante dessa possibilidade, percebeu-se que a partir do primeiro semestre de formação acadêmica no ano de 2008, houve uma migração muito acentuada dos alunos matriculados no curso de Bacharelado para o curso de Licenciatura em Educação Física.

    Uma vez observado esse fenômeno, o presente estudo nasce da inquietude, curiosidade e necessidade de se descobrir os motivos de escolha e da posterior migração pelos acadêmicos do curso de E.F. da Faculdade Anhanguera Campinas 4 (FAC4), entre Licenciatura e Bacharelado, ingressos no ano de 2008.

Objetivo geral

    Identificar e discutir os motivos que levaram à escolha entre Licenciatura e Bacharelado e posteriormente à troca entre essas opções durante a formação em Educação Física pelos acadêmicos da FAC 4 ingressos no ano de 2008.

Objetivos específicos

Justificativa

    O presente estudo justiça-se pelo fato de que os resultados apresentados a partir da discussão entre Licenciatura e Bacharelado juntamente com o apontamento dos motivos capazes de influenciar a escolha entre as duas habilitações da Educação Física enquanto profissão pode contribuir de modo efetivo, possibilitando a um futuro acadêmico subsídios que o ajudem fazer uma escolha adequada entre tais modalidades.

    A presente pesquisa viabiliza-se, pois será baseada em um questionário a ser aplicado a graduandos presentes no curso em questão, bem como uma posterior discussão bibliográfica a partir de literaturas que tratam sobre escolha profissional e o ponto de vista dos acadêmicos voluntários à pesquisa.

Metodologia

    Este estudo foi realizado com todos os acadêmicos da 6º serie do curso de E.F. da FAC4 ingressos no ano de 2008, o que constitui um total de 52 acadêmicos.

    Sobre a atividade de pesquisa Pádua (2004) afirma:

    “...independente de sua finalidade – para dissertações, trabalhos acadêmicos ou trabalho de conclusão de curso em suas diferentes modalidades (monografias, artigo, estudo de caso e outros) -, não produzem conhecimento “ao acaso”, mas contribuem – tendo em vista as representações, as idéias e as teorias imbuídas nessas atividades -, para a formação da visão de mundo de cada um e, portanto, para uma nova compreensão do mundo e do ser humano.” (p.38).

    Diante disso, a presente pesquisa foi caracterizada por um estudo de caso, com uma abordagem quantitativa, que ainda segundo Pádua (2004) tem a preocupação com o controle e mensuração de dados ou fatos.

    Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado um questionário com aplicação direta e que segundo Cervo e Bervian (2002) constitui a forma mais utilizada em pesquisas, pois possibilita medir o que se deseja com mais exatidão, e será formado por quatro questões fechadas, o que concorre para uma melhor organização e classificação dos resultados obtidos, sendo elas;

    1) Qual a opção inicial de escolha de curso em Educação Física? ( ) Licenciatura, ( ) Bacharelado; 2) Diante das opções a seguir, enumere por ordem de importância qual o motivo de tal escolha. ( ) Gosto pela profissão, ( ) Influência de familiares ou amigos, ( ) Influência de Professores de Educação Física no ensino Básico, ( ) Perspectiva Salarial, ( ) Facilidade de conseguir emprego ( ) Outros, Quais?; 3) Posteriormente houve troca de opção? ( ) Sim, ( ) Não; 4) Se sua resposta à questão anterior houver sido SIM, diante das opções a seguir, enumere por ordem de importância qual o motivo de tal escolha. Caso sua resposta tenha sido NÃO, desconsidere esta questão. ( ) Falta de conhecimento das diferenças entre as habilitações, ( ) Tempo de curso, ( ) Frustração com a primeira opção, ( ) Mercado de trabalho, ( ) Influência de amigos, ( ) Status.

    As opções que constam no questionário foram escolhidas a partir de trabalhos que tratam sobre este tema e após aplicação de um questionário piloto a dez (10) acadêmicos do quarto semestre de E.F. ingressos no ano de 2009.

    Com relação ao tratamento dos dados obtidos, após a categorização e classificação dos resultados, sua mensuração foi traduzida através de quadros e gráficos do tipo “barra”, para que os leitores possam interpretá-los de modo mais claro.

    Posterior a essa etapa, com base nos referidos gráficos e quadros que traduzem os motivos pertinentes ao objeto de estudo, realizou-se uma discussão junto a bibliografias que tratam sobre o tema em questão.

    Por fim, por se tratar um estudo de caso, é importante destacar que este trabalho representa um recorte temporal, espacial e de sujeitos, não constituindo verdade absoluta, embora seus resultados possam contribuir de modo efetivo, na construção de subsídios concretos para orientar futuros estudos, ou até mesmo estudos mais aprofundados sobre o tema em questão.

1.     Revisão da literatura

1.1.     Motivo e escolha profissional

    Sempre que se faz uma escolha, por mais simples que seja, leva-se em consideração alguns fatores que embora sejam determinantes para tal escolha, não nos atentamos para o que estes, juntos, constituem motivos.

    E de acordo com Hurtado (1983, p.210), pode-se definir motivo como sendo: “qualquer consideração pela qual um ato é realizado. Motivo é o que leva uma pessoa a praticar uma ação”.

    É o que nos compeli a um determinado comportamento a fim de se conseguir atingir certos objetivos.

    Destaca ainda que motivo seja um impulso, a razão que concorre para a determinação do ato volitivo e inclui tudo o que influencia a vontade.

    Desta forma, associando motivo com escolha profissional, Bohoslavsky (1983) nos diz que esse momento pode ser caracterizado como um processo extremamente complexo e cercado de motivos e fatores externos e internos, tais como: influência familiar, oportunidades de mercado de trabalho, histórico pessoal, aspirações pessoais entre outros.

    Pode-se observar que Bock; Furtado; Teixeira (2005) vão além ao organizar os fatores que influem a escolha da profissão em quatro categorias características, sendo elas, o mercado de trabalho, importância social, remuneração e habilidades necessárias para seu desempenho, e afirmam que é a interação permanente e a combinação entre elas que determinam o quadro geral da escolha profissional. E ainda propõem uma reflexão muito oportuna ao constatar que o indivíduo escolhe e não escolhe a carreira profissional, partindo do pressuposto das possibilidades oportunizadas pela sociedade capitalista onde a escolha nada mais é do que o reflexo da organização social.

    Para tal compreensão imagine-se diante de uma concessionária de automóveis, escolhendo um carro para comprar. Em um determinado momento você decidiu por este, portanto você escolheu. Essa decisão aconteceu no nível individual através de suas capacidades cognitivas que estabeleceram relações entre alguns aspectos como seu gosto, desejos, motivos, condições como o preço e o dinheiro que você possui, culminando no “quero este”.

    A dicotomia apresentada por Bock; Furtado; Teixeira (2005) acerca do momento em que o indivíduo escolhe e não escolhe fica evidenciada ao se pensar que a realidade lhe oferece limites e possibilidades. O grupo social ao qual você pertence valoriza o “ter carro”, por isso você desejou. A mídia veiculou aquela marca como sendo a melhor, portanto você tem o motivo. Seu poder aquisitivo determinou que fosse este e não aquele mais luxuoso e mais caro, e aqui você tem o embate preço versus dinheiro que possui.

    Desse modo a sua necessidade de comprar, bem como a escolha da marca e modelo foi determinada pela sociedade. Logo você não escolheu.

    Já Almeida e Fensterseifer (2007) afirmam que escolha profissional não é tarefa fácil, é uma escolha que só se faz retomando as experiências vividas durante nossa constituição histórico/cultural através de encontros e desencontros com nossos interesses e intenções e, com interesses e intenções dos outros. E é nessa relação, entre a subjetividade e objetividade, que ocorre o embate da escolha.

    Porem, é importante ressaltar que esse processo, como é observado por Macedo (1998), é passivo de constantes transformações motivadas pelas demandas sociais, econômicas e políticas, representadas pela combinação entre a cultura popular, novas tecnologias e novas descobertas científicas.

    Também sobre esse processo e como conseqüência dele, Nóvoa (1997) nos fala que o contexto histórico atual promove profundas transformações na formação profissional, devido justamente ao avanço da ciência e tecnologia. E essa constante mudança altera o sistema de produção e contratação e passa a requerer novas exigências profissionais, com novos conhecimentos, habilidades, atitudes e valores. O resultado de todo esse processo pode significar para muitos a atuação em espaços inesperados, ou até mesmo indesejados, e para outros o alcance de seus objetivos e a realização de um sonho.

1.2.     Licenciatura e Bacharelado

    Para que se possam entender as diferenças entre as duas habilitações da formação em Educação Física, é importante destacar dois pontos determinantes e mais recentes para a construção do seu atual modelo de currículo.

    O primeiro é Lei Federal 9.696/1998 que regulamenta da profissão. E o segundo, em 2002, quando o Conselho Nacional de Educação (CNE), através das resoluções nº 01 que determina as diretrizes e nº 02 que estabelece a carga horária da habilitação em “Licenciatura” de graduação plena para a formação de professores do âmbito escolar, e a resolução 07/2004 que determina as diretrizes do “Bacharelado”, em um segundo momento denominado oficialmente de Graduação na E.F. para não ser confundido na Europa como curso de ensino médio.

    No caso da carga horária para a graduação em E.F. de graduação plena o CNE ainda não publicou uma resolução que estabeleça tal carga, existindo apenas um parecer (329/2004) que determina o mínimo de 4 anos de duração com 3.200 horas/relógio.

    Da-se então início a quebra do paradigma da formação generalista e ampliada, que habilitava os profissionais para atuar de maneira indistinta tanto na área escolar como na área não escolar. Portanto a Educação Física passou a ter um destaque pela existência de duas vertentes no que se refere à área de atuação específica, que podem ser classificadas como escolar e não-escolar, segundo Lima (apud Becker; Ferreira; Krug, 1999).

    Diante disso, o Projeto Político Pedagógico (PPP) para Licenciatura em Educação Física da FAC 4, com base nas Diretrizes Curriculares Nacionais de Graduação em Educação Física e nas Diretrizes Nacionais da Formação de Professores do ensino básico em nível superior, visa formar um profissional que irá exercer a docência na educação básica e na educação profissional, de modo a colaborar com o desenvolvimento do equilíbrio físico, intelectual e emocional de seus alunos, através de diagnósticos pautados no rigor científico e ético.

    O acadêmico egresso do curso de Licenciatura em Educação Física da Anhanguera Educacional, cuja formação deverá ser generalista, humanista e critico-reflexiva (PPP 2008) estará qualificado a intervir no âmbito escolar, a partir de conhecimentos técnicos, científicos e cultural, levando em consideração as diferentes manifestações e expressões do movimento humano, diante do contexto em que esta inserido, contribuindo assim, para a melhoria da saúde e educação de crianças e jovens, e fornecendo subsídios para a formação de seres conscientes de seu real papel no exercício da cidadania.

    Tal curso tem a duração total de 3.080 horas/aula, sendo concluído em seis semestres, com uma carga horária de 1440 horas de aulas de natureza prática e teórico/cientifica, 600 horas de Atividades Teóricas e Praticas Supervisionada, 400 horas de Núcleo de Práticas Pedagógicas, sendo que seu estágio, obrigatoriamente em ambiente escolar e Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) devem compreender 440 horas sob supervisão, e 200 horas de Pesquisas e Atividades Complementares.

    No que diz respeito à Graduação da Educação Física, as diretrizes previstas na resolução Nº 07/2004, proporcionam as Instituições de Ensino Superior a autonomia para a organização de seus currículos, de modo a garantir uma articulação entre ensino, pesquisa e extenção, vendo a graduação como formação inicial.

    Em harmonia com o CNE, o Projeto Político Pedagógico da Anhanguera Educacional para Graduação da E.F. cujo curso tem duração de 3.500 horas/aula divididos em oito semestres, estabelece 1920 horas de natureza Prática e Teórica/Cientifica, 640 horas de Atividades Teóricas e Práticas Supervisionada, 400 horas de Núcleo de Práticas Pedagógicas, sendo que seu estágio sob supervisão deve obrigatoriamente ser realizado em ambiente não escolar, o que possibilita uma área de atuação bastante ampla como clubes, academias, hotéis, spas, instituições que não sejam escolares onde são trabalhadas as atividades físicas para a população de um modo geral, e que juntamente com o trabalho de conclusão de curso (TCC) somam 340 horas, e ainda mais 200 horas de Pesquisa e Atividades Complementares.

    Tal curso objetiva formar um profissional capaz de atuar em todos os níveis de atenção a saúde, de maneira ampla e global, levando em consideração princípios éticos e bioéticos, moral e cultural, individual ou coletivo, com o intuito de preservar, manter, desenvolver e recuperar a integridade física, de sistemas e funções, através de ações corporais.

    Seu processo de formação também deve incutir no acadêmico, capacidade de desenvolver, por sua iniciativa, suas habilidades e competências através de educação continuada e permanente.

    Diante disso, pode-se observar que a carga horária para ambas as habilitações em E.F. oferecidos pela Faculdade Anhanguera Campinas Unidade 4 ultrapassam o mínimo determinado pelo CNE.

2.     Resultados

    A partir dos resultados obtidos, como podemos observar no quadro 1 e no gráfico 1, é possível afirmar que para 89% dos 19 acadêmicos que optaram em um primeiro momento pela Licenciatura, o motivo “Gosto pela Profissão” foi mais determinante (Motivo 1). Em quanto que para 95% dos mesmos acadêmicos, “Outros” fatores além dos listados no questionário têm menos importância (Motivo 6), o que pode confirmar uma escolha assertiva das opções elencadas no referido questionário.

Quadro 1. Motivos pela escolha inicial dos alunos para o curso de Licenciatura em Educação Física (%). 

Entenda-se 1 como motivo mais importante, e 6 como menos importante

 

Gráfico 1. Motivos pela escolha inicial dos alunos para o curso de Licenciatura em Educação Física (%)

    Posterior ao motivo “Gosto pela Profissão”, mas ainda como motivo “1” observou-se respectivamente “Influência de Professores de E.F. do Ensino Básico” e “Outros” ambos representando 5% dos acadêmicos, e “Influência de Familiares e Amigos” para 1%, ficando “Perspectiva Salarial”, e “Facilidade de Conseguir Emprego” observados apenas nos motivos secundários (2 3 4 5).

    Com relação aos outros 33 acadêmicos que optaram em um primeiro momento pelo Bacharelado, o quadro 2 e o gráfico 2 nos mostram que os dados obtidos foram semelhantes aos da Licenciatura tanto para o motivo mais relevante (Motivo 1), quanto para o motivo menos importante (Motivo 6), representando para 85% dos acadêmicos “Gosto Pela Profissão” e para aproximadamente 95% dos acadêmicos “Outros”, respectivamente.

Quadro 2. Motivos pela escolha inicial dos alunos para o curso de Bacharelado em Educação Física (%). 

Entenda-se 1 como motivo mais importante, e 6 como menos importante

 

Gráfico 2. Motivos pela escolha inicial dos alunos para o curso de Bacharelado em Educação Física (%)

    As variações observadas no Bacharelado, na ordem de importância dos motivos em detrimento aos motivos relacionados à Licenciatura, foram verificadas nos motivos secundários (2 3 4 5). Ainda como motivo “1” mas com uma representação bem menor ao “Gosto pela Profissão”, observou-se “Facilidade de Conseguir Emprego”, e “Outros” (declarado como “Meio de acesso para concursos públicos que exijam formação em nível superior”) ambos para 6% dos acadêmicos, e “Influência de Professores de E.F. do Ensino Básico” para os outros 3% dos acadêmicos.

    Nesse primeiro momento é possível afirmar que tanto para quem escolheu a Licenciatura como para quem optou pelo Bacharelado, o motivo “Gosto pela Profissão” foi disparado o mais determinante. Mas é importante lembrar que tal motivo, embora concorra para uma escolha assertiva, não foi suficiente para fazer com que os acadêmicos continuassem a cursar a opção inicialmente escolhida. Esse quadro dicotômico é discutido no próximo capítulo.

    O fenômeno da troca entre as habilitações supra citado, foi comprovado através do questionário onde foi possível observar os seguintes resultados. Dos 52 graduandos 27, posteriormente trocaram de opção entre as habilitações, sendo 5 da Licenciatura para o Bacharelado e 22 do Bacharelado para a Licenciatura.

    Como nos mostra o quadro 3 e o gráfico 3, os motivos mais determinantes para tal mudança (Motivo 1), foram “Falta de conhecimento das diferenças entre as habilitações” para 60% dos acadêmicos, seguido por “Frustração com a primeira opção” e “Mercado de Trabalho”, ambos representando 20% dos acadêmicos. Neste cenário também fica evidenciado que os motivos menos determinantes para a troca entre os acadêmicos da Licenciatura (Motivo 6), foram respectivamente “Status” para 60%, e “Tempo de Curso” e “Influência de Amigos” ambos para 20 % dos acadêmicos.

Quadro 3. Motivos pela troca dos alunos de Licenciatura para o curso de Bacharelado em Educação Física (%).

 Entenda-se 1 como motivo mais importante, e 6 como menos importante

 

Gráfico 3. Motivos pela troca dos alunos de Licenciatura para o curso de Bacharelado em Educação Física (%)

    No que concerne aos acadêmicos do Bacharelado, de acordo com o quadro 4 e o gráfico 4, ainda classificados como motivo “1” observou-se que a “Falta de conhecimento entre as habilitações” representou um recorte ainda maior, de aproximadamente 70% dos acadêmicos para a troca entre as habilitações, seguido por “Tempo de Curso” para 14% dos acadêmicos, “Mercado de Trabalho” também para 14%, e “Status” para 05% dos acadêmicos.

    Como aspectos menos significativos (Motivo 6) para a determinação da troca entre as habilitações para os acadêmicos do Bacharelado, foi possível observar a “Influência de Amigos” para 36% dos acadêmicos, “Frustração com a primeira Opção” para 32%, “Status” para 27% e “Tempo de Curso” para 05% dos acadêmicos.

Quadro 4. Motivos pela troca dos alunos de Bacharelado para o curso de Licenciatura em Educação Física (%). 

Entenda-se 1 como motivo mais importante, e 6 como menos importante

 

Gráfico 4. Motivos pela troca dos alunos de Licenciatura para o curso de Bacharelado em Educação Física (%)

    Desse modo ficam apresentados os resultados para apreciação e ao mesmo tempo subsidiando, no próximo capítulo, a discussão de tais resultados com literaturas pertinentes aos motivos.

3.     Discussão

    De acordo com os resultados apresentados no capítulo anterior, podemos comprovar a existência de um fenômeno que leva a uma situação dualística quando verificamos os motivos pertinentes à escolha inicial e a posterior troca entre as habilitações possíveis em Educação Física. De acordo com os acadêmicos o principal motivo que levou à primeira opção de escolha tanto para o Bacharelado quanto para a Licenciatura foi o Gosto pela Profissão.

    Para compreensão de tal motivo, que descontextualizado pode ter um significado global e, portanto relativo, é necessário sua fragmentação para uma fundamentação científica adequada ao tema deste trabalho.

    Desse modo Veloz, Nascimento-Schulze e Camargo (1999) afirmam que “gostar” indica preferências já presentes no passado, a partir de experiências positivas, sejam elas através de vivências práticas, contatos visuais, contatos indiretos, mas que estão adaptadas de acordo com as novas exigências e necessidades do presente. É importante ressaltar que as experiências passadas com caracterização negativa são levadas em consideração pelos acadêmicos apenas no motivo “influência de Professores de E.F. no Ensino Básico”, que considera tanto influências positivas quanto as influências negativas, diferentemente do Gostar, que segundo os autores considera apenas as experiências positivas.

    Já Bourdieu (1979) nos fala que Profissão é algo que exige escolaridade alta e qualificação diferenciada, se tornando desse modo o produto final de um processo longo, mas planejado, projetado e calculado, que também considera as experiências passadas.

    A partir dessas definições pode-se entender, portanto, que uma escolha motivada pelo “Gosto pela Profissão” considera o conhecimento sobre essa profissão unido as experiências vivenciadas (através de atividades físicas ou esportivas, identificação com a área por ter sido atleta, etc.) durante seu desenvolvimento como indivíduo, e assim leva a uma escolha assertiva. Porém a afirmação da existência de uma situação dualística na escolha entre as opções de habilitações na E.F. justifica-se, pois se esta escolha foi assertiva, não haveria uma futura mudança da opção inicial escolhida.

    Outros motivos assinalados pelos acadêmicos de Licenciatura, que constam entre os motivos principais, mas com um percentual de escolha bem inferior ao “Gosto pela Profissão”, estão “Influência de Professores de E.F. no Ensino Básico”, “Outros” (este motivo é discutido em um parágrafo posterior), e “Influência de Familiares e Amigos”.

    Sobre esta primeira Castello (apud Hurtado, 1983) afirma que o Professor de Educação Física de fato influencia o aluno como pessoa, como profissional, através do que ensina e do que faz, constituindo uma influência de pessoa para pessoa num relacionamento de amizade, compreensão, respeito mútuo e com o bom exemplo que lhes dá.

    Já Almeida e Fensterseifer (2007) destacam que mesmo uma influência negativa através de uma prática pedagógica deficiente do Professor de E.F. no Ensino Básico é absolutamente possível despertar no futuro acadêmico a vontade de dar um novo significado as ações da E.F. na escola contribuindo assim para a construção de um novo referencial da prática docente.

    Sobre a “Influência de Familiares e Amigos” o Psicólogo Argentino Bohoslavsky diz que é justamente desse grupo social que as principais pressões são observadas. Porém ele ressalta que essa relação de família e amigos tem um caráter contraditório para o sujeito, pois neste contexto a família é responsável pelas referências que o indivíduo procura rejeitar com suas escolhas, já os amigos são responsáveis pelas referências positivas que o indivíduo utiliza com mais facilidade, isso ocorre por que além do grupo familiar não ser opcional, diferentemente do grupo de amigos, suas relações são sabidamente mais complexas.

    Uma abordagem ao motivo “outros” revelou dois resultados peculiares. Um dos acadêmicos justificou como outro motivo “a variedade de locais de trabalho”, que pode ser entendido como amplo, a partir da falta de conhecimento das mudanças contemporâneas da E.F., portanto que concorre teoricamente à “Facilidade de se conseguir emprego”, motivo discutido posteriormente. Já o outro acadêmico justificou que fora induzido ao erro após consultar o serviço de informações da Anhanguera Educacional/SA (AESA) sobre as diferenças entre as habilitações, pois, ainda segundo o acadêmico, a atendente lhe informou que a única diferença entre as habilitações era o tempo de duração curso.

    Talvez essa declaração do acadêmico não merecesse tanto alarde se por curiosidade eu, em meados do segundo semestre de 2009, não tivesse acessado o site da Anhanguera Educacional e comprovado que de fatos as informações que lá constavam só diferenciavam as habilitações no tempo de duração do curso.

    Com relação aos acadêmicos do Bacharelado, podemos observar que os outros motivos declarados como principais, mas que a exemplo da Licenciatura, com um percentual bem inferior ao “Gosto pela Profissão” para a escolha de tal habilitação, encontram-se “Facilidade de se conseguir Emprego” e “Outros”. Este segundo justificado pelo acadêmico como interesse de prestar concursos públicos que exijam formação em nível superior.

    Segundo Bock; Furtado; Teixeira (2005) o motivo “Facilidade de se Conseguir Emprego” é considerado quando o futuro profissional acredita que a força de trabalho a ser vendida, embora seja maior que o número de emprego disponível, não é suficientemente capaz de causar uma saturação da profissão no mercado de trabalho. Portanto leva-se em conta a relação entre a oferta e a procura.

    Isto posto, passamos a compreensão dos motivos que levaram à troca entre as habilitações.

    Assim, tanto para os acadêmicos que optaram inicialmente pelo Bacharelado (aproximadamente 70%) quanto os da Licenciatura (60%) declararam que a “Falta de conhecimento entre as habilitações” foi o motivo mais determinante para a troca entre as habilitações.

    Porém na Licenciatura temos a seguinte leitura posterior ao motivo “Falta de conhecimento entre as habilitações”: “Frustração com a primeira opção” e “Mercado de Trabalho”.

    Santini e Molina Neto (2005) destacam que a “Frustração” acontece quando a escolha não é consciente e coerente com os interesses pessoais, podendo levar a pouca motivação, desconforto e refletir diretamente no exercício da profissão. Ainda assim os autores acreditam e salientam que nem sempre é preciso a desistência ou a troca do curso escolhido, pois o acadêmico é perfeitamente capaz de tomar gosto pela área no decorrer do curso.

    Já o “Mercado de trabalho” é considerado aqui, a partir do conhecimento das mudanças da E.F. após a regulamentação da profissão, e como conseqüência do “saber” sobre as possibilidades de atuação das habilitações em questão. Diante disso a área não escolar pode ser considerada mais ampla pelos acadêmicos, pois abrange clubes, empresas, parques, academias, eventos esportivos, treinamentos em equipes esportivas, treinamentos individuais, entre outros.

    No caso do Bacharelado, posterior à “Falta de conhecimento entre as habilitações” obtivemos resultados diferentes aos da Licenciatura, mas que também foram por conseqüência deste primeiro motivo. Sendo “tempo de curso” por questões óbvias, uma vez que consideramos para a realização deste trabalho o PPP de E.F. da FAC4, que especifica como tempo de curso para Licenciatura 6 semestres e para o Bacharelado 8 semestres com a possibilidade de complementação entre si em até mais dois semestres, o que permite uma formação nas duas habilitações em 8 semestres se começado pela Licenciatura.

    E por fim “Influência de Amigos”, corroborando com o que nos diz Bohoslavsky anteriormente sobre a grande capacidade de influência desse grupo sobre o indivíduo.

4.     Conclusão

    Um Estudo de Caso pode representar um recorte parcial, temporal e de sujeitos, revestidos de provisoriedade, mas que neste caso seus apontamentos podem contribuir significativamente para que futuros acadêmicos possam fazer uma escolha consciente e coerente e efetivamente assertiva.

    Diante do novo momento da Educação Física pode-se encarar com bons olhos a possibilidade de se alcançar um perfil egresso das Instituições de Ensino Superior (IES) específico (especializado) uma vez que as novas diretrizes do CNE são direcionadas as áreas de atuação e ainda incentivam com a ajuda das próprias IES a formação continuada.

    Tais mudanças constituem um novo marco da E.F. e a quebra do paradigma da formação generalista, onde o profissional egresso das IES podia ou pode atuar indistintamente nas escolas ou fora delas.

    Por outro lado, tais mudanças podem ser consideradas recentes diante de toda história da Educação Física e consequentemente de sua imagem construída ao longo dos anos perpassando por diversos períodos, tais como Higienista, Militarista, Tecnicista entre outros. Essa afirmação é sustentada quando ate mesmo o site oficial da AESA se mostra confuso, ainda hoje (segundo semestre de 2010), em relação às diferenças entre as habilitações possíveis em E.F.

    Diante disso o momento de escolha entre as possíveis habilitações em E.F., passa a ser para o futuro acadêmico, pela sua própria essência, uma incógnita de alta complexidade, pois ainda influenciado por diversos fatores como mídia, colegas e familiares, que tem para si a falta de informações sobre as mudanças contemporâneas ocorridas na E.F., concorrem para uma opção equivocada pelo candidato à universidade.

    Portanto sem a pretensão de constituir uma verdade absoluta sobre o tema em questão, é possível considerarmos a partir dos resultados obtidos durante a execução deste trabalho, que as mudanças ocorridas no atual momento da Educação Física no âmbito Nacional, embora tenham se iniciadas há mais de 10 anos através da Lei Federal 9.696/1998, ainda podem ser consideradas extremamente recentes. De modo que a Educação Física construiu uma imagem caricata tão forte ao longo dos tempos, que ainda hoje é capaz de influenciar futuros acadêmicos na sua escolha, uma vez que de acordo com Santos e Halall (2001) grande parte dos ingressos nas IES pouco sabe sobre a profissão. Porém esse quadro funesto deve ser modificado em seu devido tempo, constituindo uma nova imagem e construindo um novo paradigma para a profissão, tendo-nos como protagonistas.

Referências bibliográficas

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