Iniciação à pesquisa e ensino: saberes e práticas  em escolas do ensino médio no Vale do Taquari, RS Iniciación a la investigación y educación: saberes y prácticas en las escuelas nivel medio en el Valle de Tacuarí, RS Initiation of research and education: knowledge and practice in schools of high school in the Valley of Taquari, RS
	*Graduação em Educação Física - Licenciatura. Mestre em Ciência do Movimento Humano, UFSM. Professor e Coordenador do Curso de Educação Física - Licenciatura do Centro Universitário UNIVATES, RS **Graduação em Filosofia. Doutor em Filosofia/PUC/RS. Prof. do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas do Centro Universitário UNIVATES ***Graduação em Pedagogia. Profa. Dra. do Centro de Ciências Humanas e Jurídicas do Centro Universitário UNIVATES ****Graduação em Educação Especial Habilitação Deficientes da Áudio Mestre em Educação/UFSM, Professora e Intérprete de Língua Brasileira de Sinais no Centro Universitário UNIVATES *****Graduação em Matemática. Mestrado em Educação/UFSM Prof. do Centro Universitário UNIVATES ******Acadêmico do Curso de Educação Física – Licenciatura do Centro Universitário UNIVATES. Bolsista de Iniciação Científica	Derli Juliano Neuenfeldt* Rogério José Schuck* Angélica Munhoz** Tânia Micheline Miorando*** Adriano Edo Neuenfeldt**** Eduardo Pires***** Paulo Ricardo Daltoé****** derlijul@univates.br (Brasil)
	Resumo           Esta pesquisa teve como objetivo construir coletivamente uma proposta de intervenção em relação à Iniciação à Pesquisa para o Ensino Médio. Busca-se o acompanhamento e a discussão da postura do pesquisador, auxiliando o docente em sala de aula na construção do conhecimento, assim como na proposição de mudanças no ensino e aprendizagem diante do uso das novas tecnologias de aprendizagem. O estudo se justifica com base em pesquisas realizadas pelo presente grupo de pesquisa, no período de 2008 a 2010, ter constatado que predominam, na prática da pesquisa, a reprodução e a apropriação indevida do conhecimento. Como metodologia seguiu-se a pesquisa-ação, tendo como participantes um docente de uma escola pública e três de uma escola particular, ambas do Ensino Médio da região do Vale do Taquari, RS. Dessa forma, a partir do trabalho que já vinha sendo feito pelos docentes, das discussões no e com o grupo de pesquisa, traçaram-se estratégias e propostas de projetos visando a subsidiar o corpo docente que trabalha diretamente com os alunos.           Unitermos: Pesquisa. Ensino. Conhecimento.   Resumen           Esta investigación tuvo como objetivo desarrollar en conjunto una propuesta de intervención para la iniciación a la investigación para la escuela secundaria. Tratamos de controlar y analizar la postura del investigador, la ayuda al profesor en el aula en la construcción del conocimiento, así como los cambios en la enseñanza y el aprendizaje en el uso de nuevas tecnologías de aprendizaje. El estudio se justifica debido a los estudios realizados por este grupo de investigación en el período 2008 a 2010, señalando que predomina, en la práctica de la investigación, la reproducción y la apropiación indebida de los conocimientos. La metodología sigue la investigación-acción, teniendo como participantes un docente de escuela pública y tres de una escuela privada, ambas de nivel medio de la Región del Valle de Tacuarí, RS. Así, desde el trabajo ya realizado por los profesores en los debates y el grupo de investigación se elaboró estrategias y propuestas de proyectos destinados a respaldar a los profesores que trabajan directamente con los estudiantes.           Palabras clave: Investigación. Educación. Conocimiento. Tecnología.   Abstract           This research aims to collectively develop a proposal for intervention on the Initiation of Research for the High School. We seek to monitor and discuss the stance of the researcher, assisting the teacher in the classroom in the construction of knowledge, as well as changes in teaching and learning on the use of new learning technologies. The study is warranted due to studies conducted by this research group in the period 2008 to 2010, noting that predominates in the practice of breeding and research misappropriation of knowledge. The methodology follows the action research, and the participants of a public school teacher and three from a private school, both from high school to Valley Region Taquari, RS. Thus, from the work already being done by the teachers of the discussions and the research group develop strategies and proposals for projects aiming to support the faculty who work directly with students.           Keywords: Research. Education. Knowledge. Technology.   Projeto aprovado pelo COEP / UNIVATES Comunicação no 50/11, protocolo COEP / Univates 021/11.
	EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Contemporaneamente, com o advento de novas ferramentas tecnológicas, como é o caso do computador, da Internet, cresce a preocupação quanto a novas posturas em relação ao conhecimento. Não se trata de questionar a utilidade das novas ferramentas, mas antes percebermos em que medidas fazem parte da vida de nossos discentes, assim como a compreensão e relação que estes têm com tais ferramentas e demais referenciais teóricos utilizados na iniciação à pesquisa propriamente dita.

    Os resultados dos estudos realizados pelo presente grupo de pesquisa (NEUENFELDT et al., 2008; SCHUCK et al., 2010; NEUENFELDT et. al., 2011) sobre a compreensão de pesquisa que os alunos de Ensino Médio e Ensino Superior têm chamaram a atenção. Em pesquisa feita com 373 alunos do 3o ano do Ensino Médio dos municípios de Lajeado, Estrela, Arroio do Meio e Encantado, RS/BRA, em 2008, Neuenfeldt et al. (2008), ao investigarem o uso da Internet como fonte de pesquisa e como ela é utilizada para a elaboração de trabalhos escolares, evidenciaram que:

    [...] predomina tendência à reprodução do conhecimento, pois 9 % deles falaram diretamente que copiam e colam e 52 % que juntam diversos textos copiando e colando o que interessa, o que não difere muito. Ler e interpretar reescrevendo é citado por 14 % e ler e escrever novo texto a partir das ideias apresentadas, por 21 % (NEUENFELDT et al., 2008, p. 10).

    Em relação ao Ensino Superior, Schuck et al. (2010) constataram que há falta de reflexão em relação à pesquisa realizada pelo aluno universitário, apontando que há fortes indícios de uma ligação direta entre a escola básica e a falta de compreensão metodológica de pesquisa, predominando entre os alunos uma postura passiva frente à pesquisa. Corroborando com esse quadro, Neuenfeldt et al. (2011), ao buscarem compreender o modo como se dá a iniciação à pesquisa no Ensino Superior a partir dos professores que atuam com as disciplinas relacionadas a essa área no Centro Universitário UNIVATES/RS, constaram, entre os professores, uma preocupação em relação à compreensão de ciência e de pesquisa com a qual os alunos estão ingressando no Ensino Superior. Além disso, os docentes destacam a necessidade de desenvolver nos alunos a autonomia e a autoria.

    Assim, esta pesquisa se propõe a construir coletivamente uma proposta de intervenção em relação à Iniciação à Pesquisa para o Ensino Médio. Busca-se o acompanhamento e a discussão da postura do pesquisador, auxiliando o docente em sala de aula na construção do conhecimento, assim como mudanças no ensino e na aprendizagem diante do uso das novas tecnologias.

    O estudo justifica-se pela necessidade de intervirmos, em conjunto com professores e alunos de escolas de Ensino Médio da região do Vale do Taquari/RS, no processo de compreensão e efetivação de pesquisas dos alunos. Na medida em que este estudo se concretiza, nos capacita a, futuramente, expandi-lo para toda a região, inclusive como curso de capacitação (formação continuada) aos professores.

Método de pesquisa

    Esta pesquisa caracterizou-se como pesquisa-ação, considerando-se a necessidade do envolvimento ativo do pesquisador e a ação por parte dos grupos envolvidos no problema. Conforme Bogdan e Biklen (1994), a investigação-ação permite às pessoas se conhecerem melhor, aumentarem a consciência que têm dos problemas, bem como o empenho da resolução e servir como estratégia organizativa para agregar as pessoas ativamente face a questões particulares.

    Segundo Franco (2005, p. 485),

    Se alguém opta por trabalhar com pesquisa-ação, por certo tem a convicção de que pesquisa e ação podem e devem caminhar juntas quando se pretende a transformação da prática. No entanto, a direção, o sentido e a intencionalidade dessa transformação serão o eixo da caracterização da abordagem da pesquisa-ação.

    A autora propõe que:

    O trabalho com pesquisa-ação tenha uma fase preliminar que será constituída pelo trabalho de inserção do pesquisador no grupo, de autoconhecimento do grupo em relação às suas expectativas, possibilidades e aos seus bloqueios. Essa fase preliminar é também fundamental para o estabelecimento de um contrato de ação coletiva, em que se podem esclarecer questões referentes à ética da pesquisa, compromissos com a ação coletiva e com as finalidades do trabalho que desenvolverão (FRANCO, 2005, p. 498).

    O objeto de investigação é a prática pedagógica de professores que atuam com alunos de Ensino Médio em escolas do Vale do Taquari/RS/BRA, sendo participantes do estudo duas escolas, uma da rede privada com o envolvimento de três professores e outra da rede pública, envolvendo um professor.

    No início da pesquisa foi feito contato com as direções das escolas. Estas autorizaram o estudo, designaram os professores e as disciplinas que participaram da pesquisa. Na escola pública nos foi encaminhada a disciplina de Ensino Religioso e na escola privada, as disciplinas de História, Geografia e Biologia. Nas duas escolas as turmas participantes foram do 2o ano.

    As informações foram obtidas em: reuniões do grupo de pesquisa com os professores envolvidos - registradas em atas; entrevistas com os professores participantes, material didático elaborado pela escola; observações e acompanhamento do cotidiano escolar das práticas relacionadas à pesquisa registrados em diário de campo.

    Todos os professores participantes aderiram à pesquisa por livre iniciativa, leram e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comitê de Ética da Univates.

    No presente artigo, para se preservar a identidade dos professores, utilizamos os seguintes códigos para os professores participantes: professor 1, 2, 3 ou 4. E, para as escolas, “escola A” para a privada e “escola B” para a pública.

Resultados

    Na escola A constatou-se que há preocupação com a iniciação à pesquisa. O professor 1 destaca que a instituição de ensino possui material didático denominado “Elementos constitutivos de um projeto de pesquisa e apresentação do trabalho”, utilizado com o objetivo de orientar os alunos na escrita dos trabalhos escolares (Ata no 08, 22/06/2011).

    Em relação ao uso da internet, esse professor comenta que “existem os dois extremos, alunos que a usam como entretenimento e bate-papo assim como para a leitura de textos ou busca de materiais de apoio indicados pelos professores” (Ata no 08, 22/06/2011).

    O impacto das novas tecnologias sobre as escolas afeta a ideia da instituição escolar como único centro do conhecimento. O conhecimento passa a estar disponível em outras instituições e espaços. No entanto, a informação não pode ser confundida com conhecimento. “O fato dessas novas tecnologias se aproximarem da escola, onde os alunos, às vezes, chegam com muitas informações, reforça o papel dos professores no tocante às formas de sistematização dos conteúdos e de estabelecimento de valores” (BRASIL, 2011, p. 21).

    Durante a pesquisa na escola A, acompanhou-se o processo de estruturação e efetivação da viagem de estudos à Garopaba/SC/BRA das turmas de 2o anos, à qual é associado um trabalho de pesquisa relacionado a três disciplinas: História, Geografia e Biologia. A viagem de estudos ocorreu de 19 a 22 de outubro de 2011. Acompanharam a viagem dois professores do Ensino Médio, o de Geografia e o de Biologia, e um membro do grupo de pesquisa. No local as orientações foram passadas por uma equipe de quatro professores que prestam serviço educacional especializado durante a visita realizada (Diário de campo, pesquisador 1, 20/10/2011).

    Sobre essa proposta o professor 1 comenta que “não há um modelo de projeto pronto; os professores estimulam as atividades, com passos específicos de acordo com a disciplina. Os alunos são instigados a pensar através de textos científicos, livros didáticos e pesquisa na internet” (Ata no 08, 22/06/2011).

    Em tempos contemporâneos, modelos do espaço do conhecimento começam a ser construídos com as novas tecnologias. As representações em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em “níveis”, organizadas pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, serão substituídas pela imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos, em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou os contextos, nos quais cada um ocupa uma posição singular e evolutiva (LÉVY, 2003).

    Ao serem apresentadas as relações entre o ensino e a viagem de estudos nas reuniões do grupo de pesquisa, percebemos que uma das preocupações dos três professores envolvidos diz respeito a não tornar a pesquisa solicitada aos alunos algo repetitivo de um ano para outro. Em discussão com o grupo foi sugerido, para 2011, ampliar a divulgação, que era restrita às turmas. De acordo com o professor 2, “o que pode ser pensado é o aluno ter o compromisso de, após a viagem, expor e divulgar o seu trabalho na escola, pensar em estratégias para que os trabalhos não apresentem a mesma coisa, pois seria repetitivo, tal como a apresentação de áreas temáticas”. O professor 3 relata: “já tive uma experiência de criação de um vídeo com meus alunos do Ensino Fundamental. Foi uma experiência muito boa, pois eles adoram ter contato com a tecnologia, internet, movie maker” (Ata no 9, 14/07/2009).

    Barbosa et al. (2007) alertam que a tecnologia, tal como a informática, não deve ser vista como salvadora da educação, mas como uma ferramenta a mais que contribui no trabalho com as diversas disciplinas e na busca de uma educação de qualidade. Além disso, deve ajudar os professores na sua prática pedagógica e aos alunos servir como fonte de pesquisa e investigação.

    No período da viagem foram construídas relações com os locais visitados e as disciplinas. Os alunos foram organizados em grupos de trabalho. Na disciplina de Biologia, os alunos tiveram o propósito de eleger cinco ambientes, fazer registros fotográficos, identificar no mínimo três espécies que ali viviam, classificá-las (Filo e Classe), descrever o modo de vida, as características deste ambiente e sua importância no ecossistema.

    Para a disciplina de Geografia, a tarefa exigiu a apresentação de informações que caracterizassem aspectos geográficos das praias visitadas, considerando características naturais e humanas (ocupação). Para tal, foram utilizados mapas e/ou imagens de satélites como base para demarcar os locais percorridos e explorados.

    Em relação à disciplina de História, os alunos ressaltaram, descreveram e analisaram os principais registros históricos que confirmam a presença de indígenas antes da ocupação europeia, além de destacar marcos da fundação da cidade, relacionando-os à imigração açoriana.

    Uma consequência da sociedade de informação é que a sobrevivência nesse ambiente requer que o aluno, para além de adquirir determinadas informações e desenvolver habilidades para realizar certas tarefas, aprenda a aprender. Para isso é necessário novo comportamento dos professores, que devem estimular a realização de pesquisas, a produção de conhecimentos e o trabalho em grupo (BRASIL, 2011).

    Ao perguntar aos professores que acompanharam a viagem sobre a relevância da saída a campo, eles comentaram:

    Ela está bem relacionada com o conteúdo que estava sendo passado em sala de aula, os alunos estavam com um pré-conhecimento teórico do que veriam lá, e a viagem colocou em prática o que estudavam em sala. Tiveram oportunidade de ir além dos conteúdos que aprenderam em sala de aula, e o interessante é que tiveram esta vivência com uma mescla das outras disciplinas, como História e Geografia, o que na escola normalmente não acontece (Entrevista, professor 2, 08/12/2011).

    Outro docente acrescenta: “Trabalhei com conteúdo teórico pré-viagem, mas não focado na viagem em si, mas sobre urbanização, população, migração, colonizações e atividades econômicas” (Entrevista, professor 3, 07/12/2011). Na mesma linha de raciocínio, ele destaca:

    Percebi que os alunos não têm dificuldades de pesquisa (construção do vídeo), mas sim de organização. Só em um grupo percebe-se que teve um roteiro de filmagem e organização do vídeo, embora a escola tenha entregado um roteiro de como fazer as normas de apresentação do vídeo e dos cartazes (Entrevista, professor 3, 07/12/2011).

    Na escola B, o trabalho de iniciação à pesquisa foi encaminhado na disciplina de Ensino Religioso. Na reunião com o grupo de pesquisa sugeriu-se em diálogo entre os pesquisadores e o professor 4:

    […] elaborar um projeto para esta proposta de iniciação a pesquisa; auxiliar os alunos em relação às pessoas com as quais poderiam conversar e obter informações; orientar quanto às pesquisas bibliográficas e ver as possibilidades da socialização do trabalho de pesquisa, tais como: apresentação, elaboração de painéis e outras formas que podem se estender a toda a escola, não apenas à disciplina (Ata no 27/05/2011).

    Após, ao conversar com os alunos, o professor 4 comenta que foram definidos os seguintes temas sociais: “desmatamento, falta de atenção com o idoso, lixo dentro da escola e fora dela e a organização de campanhas, na perspectiva de como elas ocorrem e onde o grupo irá executá-las para os três temas” (Entrevista, 29/06/2011).

    Ao realizar a pesquisa, primeiramente os alunos elaboraram um problema e também uma possível solução; organizaram um questionário que foi aplicado na escola com os outros estudantes; saíram às ruas para fazer entrevistas com pessoas de diversas idades com o objetivo de montar um panorama sobre como as pessoas veem esses assuntos.

    O grupo que desenvolveu as campanhas estruturou slogans, desenhos e outras formas de divulgar o trabalho. Quanto ao referencial teórico, o professor 4 orientou os alunos a pesquisar na internet autores que escrevem sobre assuntos que interessam à pesquisa e sobre os cuidados em relação ao uso das fontes.

    Essa preocupação surge devido ao professor 4 comentar que os alunos, ao utilizarem os recursos tecnológicos, acabam fazendo plágio. No entanto, acrescenta que “quando se começa a delimitar a execução da pesquisa, no sentido de que temos que usar várias fontes, de que não se pode ficar no primeiro site e que não podemos fazer cópias, ocorre um corte no ritual do plágio” (Entrevista, 29/06/2011).

    Durante a presença dos pesquisadores na escola, abordou-se a temática da iniciação à pesquisa no Ensino Médio: “Fomos à frente da turma, nos apresentamos e começamos a explicar a pesquisa anterior realizada pela instituição (Universidade), na qual se constatou que os alunos do Ensino Médio realizavam cópias e, quando entravam na universidade, não tinham noções metodológicas de iniciação à pesquisa. Durante a explicação, todos os alunos prestaram atenção. Procuramos nos aproximar de seus conflitos, comentando que, alguns anos atrás, nós é que ali estávamos sentados e tínhamos dificuldade de compreender a pesquisa” (Diário de campo no 7, 30/09/2011).

    A pesquisa acima mencionada foi feita com 373 alunos do 3o ano do Ensino Médio por Neuenfeldt et al. (2008, p. 10). Ao investigarem o uso da Internet como fonte de pesquisa e como ela é utilizada para elaboração de trabalhos escolares, os autores evidenciaram que “predomina tendência à reprodução do conhecimento, pois 9 % deles falaram diretamente que copiam e colam e 52 % que juntam diversos textos copiando e colando o que interessa - o que não difere muito”.

    Outra questão importante no processo desenvolvido na escola B foi a busca da conciliação do trabalho de pesquisa (teórico) com a realização de saídas a campo:

    Ficaram acertadas as datas de saída a campo de cada grupo. Devido à finalização de trimestre e provas das outras disciplinas, a turma vai ter que realizar as tarefas da seguinte forma: dia 16 de setembro o grupo da Coleta Seletiva de Lixo, no dia 23 de setembro o grupo do Desmatamento terá de ter uma área para fazer o reflorestamento com a autorização do proprietário da área assinada, e no dia 30 de setembro o grupo do Lar dos Idosos apresentará a sua prática (Diário de campo no 4, 09/09/2011).

    Na visita realizada ao lar dos idosos, constatou-se que “os meninos da turma, que normalmente não demonstram muito interesse, estavam completamente integrados às dinâmicas, divertindo-se. Estas práticas ocorreram por mais de uma hora” (Diário de campo no 8, 07/10/2011).

    Outro elemento importante ao se pensar a pesquisa e o Ensino Médio é a relação dela com o interesse dos alunos. Em conversa dos pesquisadores com o grupo que abordou o tema do Lixo obteve-se: “Um aluno diz que a pesquisa sobre o lixo foi legal [...]. Mas concordam que temas relacionados ao seu interesse tornariam o trabalho mais estimulante e que pudessem de alguma forma estar relacionados à profissão futura” (Diário de campo no 9, 14/10/2011)

    A iniciação à pesquisa no Ensino Médio, no contexto brasileiro, mostra-se como um campo promissor de estudos e aprendizagens. No final de 2011 foram apresentadas novas diretrizes para o Ensino Médio. Nestas destaca-se que a pesquisa como fundamento pedagógico pode propiciar a participação do estudante tanto na prática pedagógica quanto colaborar para o relacionamento entre a escola e a comunidade (BRASIL, 2011). Nas novas diretrizes para o Ensino Médio encontramos:

    A pesquisa, associada ao desenvolvimento de projetos contextualizados e interdisciplinares/articuladores de saberes, ganha maior significado para os estudantes. Se a pesquisa e os projetos objetivarem, também, conhecimentos para atuação na comunidade, terão maior relevância, além de seu forte sentido ético-social (BRASIL, 2011, p. 22).

Conclusão

    A pesquisa demonstra, em ambas escolas, preocupações comuns na forma de conduzir a iniciação à pesquisa. São elas: uso adequado da internet e referencial teórico, preocupação com a apropriação indevida do conhecimento (plágio) e diversificação das fontes de pesquisa. Além disso, busca-se associação da teoria com a prática a partir da elaboração de trabalho escrito, visitas orientadas, entrevistas e viagem de estudo.

    Um aspecto construído com as escolas em relação à iniciação foi a necessidade de socializar a pesquisa, o que ocorreu por meio de apresentação oral, painéis e construção de vídeos.

    Acredita-se que as discussões ocorridas no grupo de pesquisa contribuíram para a melhoria da prática pedagógica dos professores, uma vez que estão proporcionando modificações no cotidiano escolar. No entanto, uma dificuldade encontrada foi o fato de os professores das escolas estarem envolvidos em muitas atividades e com pouco tempo para destinar aos encontros do grupo de pesquisa.

    Por fim, na medida em que a Iniciação à Pesquisa é reconhecida como fundamento pedagógico, será imprescindível que seja tratada a formação dos docentes em relação ao uso da pesquisa no Ensino Médio e das novas tecnologias. Esta formação terá que ser feita de forma continuada para aqueles que já estão atuando nas escolas e com especial atenção aos currículos dos cursos de formação de professores, pois a ênfase dada à pesquisa na graduação reflete diretamente na formação do aluno do Ensino Médio. E, neste sentido, temos que nos perguntar sobre qual compreensão de pesquisa queremos.

    Assim, finalizamos com Demo (2007, p. 08) que diz: “a pesquisa inclui sempre a percepção emancipatória do sujeito que busca fazer e fazer-se oportunidade, à medida que começa e se reconstitui pelo questionamento sistemático da realidade.

Referências

• BARBOSA, C. M; LIMA JÚNIOR, J. P. de; MERCADO, L. P. L.; SILVA, Q. M. da; COSTA, R. F. da; NASCIMENTO, S. V. do. As Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação: da resistência à efetiva contribuição na prática pedagógica. In.: ABREU, N. G. de; DAMASCENO, A. M.; MERCADO, L. P. Formando o pesquisador do ensino médio. Alagoas: EDUFAL, 2007. p. 27-34.

• BOGDAN, R. e BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994.

• BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Conselho Nacional de Educação/Câmara de Educação Básica. Parecer Nº: 5/2011. Aprovado em 4/5/2011.

• DEMO, P. Educar pela pesquisa. 8 e. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.

• FRANCO, Maria Amélia S. Pedagogia da Pesquisa-ação. Educação e Pesquisa. São Paulo, Vol. 31, n. 3, p. 483-502, set./dez. 2005.

• LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2e. São Paulo: Editora 34, 2003.

• NEUENFELDT, D. N.; SCHUK, R. J. S.; MUNHOZ, A.; MITTELSTADT, J.; MIORANDO, T. M. e ROCHENBACK, R.. INICIAÇÃO À PESQUISA NO ENSINO SUPERIOR: desafios dos docentes no ensino dos primeiros passos. Ciência & Educação. São Paulo. Vol. 17, n. 2, p. 289-300, 2011.

• NEUENFELDT, D. J.; SCHUK, R. J; CONTO, J. de; MITTELSTADT, J. A cibercultura e os alunos do ensino médio: apontamentos e reflexões. Lecturas: Educación Física y Deportes. Buenos Aires - Año  12 - N° 126 - Noviembre de 2008. http://www.efdeportes.com/efd126/a-cibercultura-e-os-alunos-do-ensino-medio.htm

• SCHUCK, R. J. S.; NEUENFELDT, D. J.; MUNHOZ, A.; MITTELSTADT, J.; MIORANDO, T. M. e ROCHENBACK, R.. Iniciação à Pesquisa: do perfil do aluno que ingressa na Univates às ferramentas utilizadas no acesso ao conhecimento durante o processo de formação. Anais do III Congresso nacional de Educação Física na Escola. Lajeado: Univates, maio de 2010, p. 105.

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