Efeito agudo de uma sessão de exercício resistido sobre a glicemia em diabético. Um estudo de caso Efecto agudo de una sesión de ejercicio resistido sobre la glicemia em diabético. Un estudio de caso |
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*Aluna do Programa de Pós-graduação “lato sensu” em / ENAF **Centro Universitário da Fundação Educacional Guaxupé ***IF Campus Muzambinho (Brasil) |
Mônica de Lima Marinato* Márcio Luiz de Almeida Bueno*** Arthur Paiva Neto** Autran Silva Jr** |
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Resumo O diabetes mellitus é um importante problema mundial que acompanha a humanidade até os dias atuais. Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que 177 milhões de indivíduos são diabéticos, a maioria com Diabetes tipo II e dois terços deles vivem em países em desenvolvimento. Vários estudos demonstram a eficácia do exercício no controle glicêmico para portadores de diabetes tipo II. O objetivo do presente estudo foi analisar o efeito agudo do exercício resistido nos níveis de glicemia em um indivíduo não atleta diabético tipo II do gênero feminino. A voluntária para estudo de caso apresentou idade de 55 anos, sedentária e foi submetida a um protocolo de treinamento resistido com 6 sessões de treinamento resistido com 15 repetições cada, com 1 minuto de intervalo a uma intensidade de 60% de 1 CVM, e intervalo entre séries de 2 minutos. No presente estudo foram observadas alterações na composição corporal e redução significativa na glicemia após a realização do programa de treinamento. Concluindo assim que, a participação de um programa de treinamento resistido por diabéticos é uma importante estratégia para o controle glicêmico. Unitermos : Diabetes. Exercício físico.Abstract
Diabetes mellitus is a major global problem that accompanies
humanity to the present day. According to the World Health Organization
estimates that 177 million people are diabetic, most with Type II diabetes
and two thirds of them living in developing countries. Several studies
demonstrate the efficacy of exercise on glycemic control for patients with
type II diabetes. The aim of this study was to analyze the acute effect of
resistance exercise on blood glucose levels in an individual non-athlete
type II diabetic females. The volunteer for the case study presented age
55, sedentary, and underwent a resistance training protocol with 6
sessions of resistance training with 15 repetitions each, with 1 minute
intervals at an intensity of 60% of a CVM, and interval 2 minutes between
sets. In the present study we observed changes in body composition and a
significant reduction in blood glucose after the completion of the
training program. Thus concluding that the participation of a resistance
training program for diabetics is an important strategy for glycemic
control.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/ |
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I. Introdução
O Diabetes Mellitus compreende uma doença milenar, acompanhando a humanidade até os dias atuais. É um importante problema mundial de saúde, tanto em termos no número de pessoas afetadas, incapacidade, mortalidade prematura, quanto nos custos envolvidos no controle e no tratamento de suas complicações. A incidência desta doença vem aumentando principalmente nos países desenvolvidos, devido à modificação nos hábitos alimentares e com o sedentarismo dos tempos modernos (MONDINI e MONTEIRO, 1996). Segundo a Organização Mundial de Saúde (2003), estima-se que 177 milhões de indivíduos são diabéticos, a maioria com Diabetes tipo II e dois terços deles vivem em países em desenvolvimento. “Aproximadamente quatro milhões de mortes ao ano são atribuíveis a complicações do Diabetes.” (OMS, 2003).
“O número de indivíduos diabéticos está aumentando devido ao crescimento e ao envelhecimento populacional, à maior urbanização, à crescente prevalência de obesidade e sedentarismo, bem como à maior sobrevida do paciente com DM.” (Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2007).
De acordo com NETTO (2000), a palavra Diabetes foi dada por um médico grego de nome Aretaeus (aproximadamente 150 AC), com o objetivo de descrever uma doença em que os enfermos urinavam muito, ou seja, diabetes em grego significa sifão (um tubo para espirar água) e Mellitus vem da palavra mel. O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença crônica causada por uma deficiência do pâncreas na produção de insulina, ou por incapacidade da insulina exercer adequadamente suas funções (OMS, 2003).
De acordo com a American Dietetic Association (1998), o DM é dividido em quatro classes: DM tipo I (deficiência de insulina causada por destruição das células beta pancreáticas, doença auto-imune); DM tipo II (resistência periférica à insulina com secreção compensatória insuficiente); outros tipos específicos (secundários) a outras patologias e DM Gestacional (incapacidade das mulheres aumentarem a sua secreção de insulina durante a gravidez).
Conforme a Organização Mundial da Saúde (2003) o Diabetes Mellitus do tipo II pode desencadear conseqüências devastadoras, principalmente quando compromete a circulação de órgãos vitais como coração, rins, nervos, olhos e vasos sanguíneos. Segundo GUEDES et al (2008), Neuropatia é uma doença que afeta os nervos. Eles podem se tornar incapazes de emitir as mensagens emiti-las na hora errada ou muito lentamente. Os sintomas dependerão e variarão conforme o tipo de complicação e quais nervos afetados.
Retinopatia é caracterizada por alterações vasculares. São lesões que aparecem na retina, podendo causar pequenos sangramentos e, como conseqüência, a perda da acuidade visual. Atualmente, esta é considerada uma das mais freqüentes complicações crônicas do Diabetes junto com a catarata (GUEDES et al, 2008). Nefropatia constitui-se por alterações nos vasos dos rins, fazendo que haja perda de proteína na urina. Esta pode afetar o bom funcionamento dos rins, fazendo que eles percam a capacidade de filtrar adequadamente essas substâncias (GUEDES et al, 2008).
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2003), o pé diabético é provocado por alterações que ocorrem nos pés de diabéticos, como infecção, ulcerações e/ou destruição de tecidos profundos associados a anormalidades neurológicas e vários graus de doença vascular periférica na extremidade inferior (pé). A obesidade também desempenha algum papel no desenvolvimento do Diabetes clínico (Diabetes tipo II). Uma razão é que, na obesidade, as células betas das Ilhotas de Langerhans tornam-se mais resistentes à estimulação da glicemia aumentada; por conseguinte, os níveis sanguíneos de insulina não aumentam quando necessário. Outra razão é que a obesidade diminui o número de receptores de insulina nas células-alvo em todo o organismo, de modo que a quantidade disponível de insulina torna-se menos eficiente na indução dos efeitos metabólicos habituais (GUYTON e HALL, 2006).
O aumento da incidência do Diabetes Mellitus está relacionado ao aumento da obesidade e ao sedentarismo (MERCURI e ARRECHEA, 2001). O exercício físico aumenta a velocidade que a glicose deixa o sangue (POWERS e HOWLEY, 2000) e promove efeito pronunciado na utilização de substratos e glicogênio muscular (ERIKSSON, 1999). Sendo assim, o exercício torna-se fundamental para o controle da glicemia no diabético (POWERS e HOWLEY, 2000). Para a Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (2005), durante o exercício físico o transporte de glicose na célula muscular aumenta, bem como a sensibilidade da célula à ação da insulina. Segundo ERIKSSON (1999), o treinamento aeróbico tem sido definido como o tratamento para o Diabetes Mellitus, enquanto o papel potencial do treinamento resistido tem sido negligenciado.
De acordo com CIOLAC e GUIMARÃES (2004), o controle glicêmico é justificado pelo aumento da massa muscular, causando consequentemente uma melhora no metabolismo energético principalmente em populações idosas. Segundo as Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2007), existem evidências consistentes dos efeitos benéficos do exercício no Diabetes Mellitus tipo II como a melhora do controle glicêmico, redução do risco cardiovascular, redução de peso e melhora da auto-estima. A combinação entre o exercício resistido e treinamento aeróbico pode maximizar os efeitos na redução da sensibilidade à insulina, quando comparados com resultados individuais desses programas (ERIKSSON, 1999).
Mas ainda poucos estudos relacionam o efeito agudo de uma sessão de exercício resistido sobre a glicemia em indivíduos diabéticos. Assim sendo, o objetivo do presente estudo foi analisar o efeito agudo do exercício resistido nos níveis de glicemia em um indivíduo não atleta diabético tipo II do gênero feminino.
II. Materiais e métodos
2.1. Voluntária
A voluntária para estudo de caso apresentava idade de 55 anos, sedentária, com diagnóstico do Diabetes Mellitus do tipo II há oito anos e sem complicações decorrentes deste como nefropatia, retinopatia e neuropatia autonômica.
2.2. Delineamento do estudo
Inicialmente a voluntária foi informada sobre os procedimentos metodológicos desse estudo e aceitou espontaneamente participar assinando o termo de consentimento livre esclarecido. Em uma segunda visita a academia Heat da cidade de São José do Rio Preto – SP, a voluntária participou de uma sessão de exercício resistido para a aprendizagem dos movimentos e adequação dos aparelhos. Em uma terceira visita a voluntária realizou o teste de contração voluntária máxima (CVM) e finalmente na última visita, participou da sessão aguda de exercício resistido.
2.3. Avaliação antropométrica
A avaliação antropométrica constou de aferição do peso corporal e estatura total (Welmy, Brasil) e percentual de gordura através das dobras cutâneas (adipômetro Cescorf), realizada pré-sessão de exercício resistido.
2.4. Avaliação da freqüência cardíaca (FC) e pressão arterial
Para a aferição da FC foi utilizado um frequencímetro e a PA um monitor cardíaco digital de pulso, ambos da marca Geratherm. Foram realizadas aferições em repouso e durante a recuperação.
2.5. Avaliação da glicemia
Para a avaliação da glicemia foi utilizado um glicosímetro Accu-Chek Advantage (Roche). As aferições ocorrem em repouso e durante a recuperação (0’, 15’, 30’ e 60’). No dia anterior a sessão de coleta de dados, assim como no café da manhã, a voluntária foi instruída a não consumir álcool, nem café (ou chá) e manter a dieta alimentar normal.
2.6. Teste de contração voluntária máxima - CVM
Para avaliação da força muscular dinâmica utilizou-se o teste de 1 contração voluntária máxima (1CVM) segundo protocolo de MATVÉIV (1986). O teste de 1CVM foi realizado em seis aparelhos (Flex Equipamentos): leg press 45°, puxador frente, extensora, supino inclinado máquina, máquina flexora horizontal e bíceps com halteres, respectivamente nessa ordem. A avaliada foi orientada a realizar, sem auxílio, o movimento completo (fase excêntrica e concêntrica). Uma segunda tentativa era iniciada após um intervalo de recuperação de três minutos com uma carga superior (primeira tentativa) ou inferior (segunda tentativa) àquela empregada anteriormente. Foi repetido uma terceira e última tentativa, caso ainda não se tivesse determinado a carga referente a uma única repetição. No entanto, a carga anotada como 1CVM foi aquela na qual foi possível a voluntária executar apenas uma única contração voluntária máxima.
2.7. Exercício resistido
A avaliada realizou 6 sessões de exercícios resistidos respeitando a ordem do aparelhos citados acima. A metodologia da sessão foi: 3 sessões de 15 repetições cada com 1 minuto de intervalo a uma intensidade de 60% de 1 CVM, o intervalo entre as séries foi de 2 minutos.
O programa utilizado nas sessões foi alternado por seguimento, a fim de evitar uma fadiga localizada precoce (GUEDES, 2007), na seguinte ordem: Leg press 45°, Supino Inclinado Máquina, Extensora, Puxador Frente, Flexora Vertical com caneleiras (a voluntária não conseguia realizar o exercício na Máquina Flexora Horizontal) e Bíceps com Halteres. Foi dado um descanso de 1 minuto entre as séries e um descanso de 1 a 2 minutos entre os exercícios.
III. Resultados
Num primeiro momento realizou-se com a voluntária uma avaliação diagnóstica através de uma anamnese respondida pela mesma, onde foi constatado a prevalência do Diabetes há oito anos, sendo que ela não apresenta complicações decorrentes desta patologia nem é considerada hipertensa. De acordo com o protocolo de BAUN et al. (1981), a voluntária apresentava um percentual de gordura corpórea de 22,9% e seu IMC (índice de massa corpórea) de 26,9kg/m2, valor este que a caracteriza com sobrepeso.
A figura 01 mostra o comportamento médio da glicemia antes e durante a recuperação. Pode-se notar que ocorreu uma intensa redução dos valores entre o pré-exercício e recuperação. Podemos observar que somente aos 60 minutos de recuperação a redução foi significativa quando comparado com os demais valores (P<0,05).
Figura 01. Comportamento da glicemia durante a recuperação do exercício resistido
Quando analisamos o comportamento da glicemia durante e após a realização do exercício resistido, podemos observar que quanto maior os tempos de recuperação menores são os valores de glicemia.
IV. Discussão
O presente estudo teve como objetivo verificar o efeito agudo do exercício resistido nos níveis de glicemia de um indivíduo não atleta diabético tipo II. A hipótese foi de que o exercício pudesse reduzir a glicemia durante a recuperação. Em nosso estudo pudemos observar este efeito hipoglicemiante.
LAMONTE et al (2005) observam que a prática regular de atividade física apresenta um importante mecanismo para o tratamento de indivíduos com diabetes tipo 2, melhorando a sensibilidade à insulina, tolerância à glicose e diminuindo a glicemia (CIOLAC e GUIMARÃES, 2004). PRAET and VAN LOON (2007) realizaram uma importante revisão sobre o efeito do exercício físico sobre o controle da glicemia e observam que o exercício aeróbio sempre fui recomendado. HEIJDEN et al (2009) observaram melhoria na sensibilidade periférica e hepática a insulina em adolescentes sedentários após um programa de treinamento aeróbio de 12 semanas, sendo 4 sessões semanais de 30minutos cada em uma intensidade de 70% VO2pico.
SIGAL et al (2004) observam que o exercício aeróbio, para induzir efeitos benéficos no controle da glicemia deverá apresentar intensidade entre 40 a 60% do VO2máx. ou 50 a 70% FCmáx. e recrutar grandes grupamentos musculares (caminhada, natação, ciclismos entre outros). Segundo a normatiza do American College of Sports Medicine – Exercise and Type 2 Diabetes (2000) o exercício aeróbio deverá também apresentar, além da intensidade proposta por SIGAL et al (2004), duração de 30 minutos. SHORT et al (2003) estudaram o efeito do exercício aeróbio sobre a sensibilidade a insulina e expressão de Glut4 em voluntários saudáveis, idade entre 21 a 87 anos, onde 65 deles realizaram um programa de treinamento aeróbio que durou 16 semanas (3 sessões semanais, a 70% FCmáx, e duração inicial de 20 minutos e posteriormente 40 minutos e 37 formaram o grupo controle. Os autores observaram elevação da sensibilidade à insulina e a expressão do Glut4 no grupo que realizou treinamento.
Recentemente, alguns estudos têm estudado o efeito do exercício resistido sobre o controle da glicemia. MARCUS et al (2008) compararam os efeitos de um programa de treinamento misto (aeróbio e resistido) e aeróbio em indivíduos diabéticos. O estudo constou de 17 voluntários que participaram 16 semanas e foram avaliados gordura intramuscular, hemoglobina glicosada e IMC. Os resultados mostraram que ambos os grupos reduziram a hemoglobina glicosada e IMC, os autores concluíram que a associação do treinamento resistido associado ao aeróbio e que este grupo elevou a taxa metabólica de repouso. CUFF et al (2003) também comparam treinamento aeróbio e misto, porém em mulheres pós-menopausada com resistência à insulina. Ambos os grupos apresentaram redução do tecido adipose abdominal e visceral com aumento da densidade muscular e controle da glicemia. Os autores concluíram que o treinamento resistido elevou a sensibilidade à insulina e que este efeito relaciona a redução do tecido adiposo visceral e subcutâneo e também a elevação da densidade muscular.
CAMBRI e SANTOS (2006) estudaram o efeito de um programa de exercícios resistidos sobre a composição corporal e hemoglobina glicosada e o efeito agudo sobre a glicemia capilar em diabéticos com idade entre 47 a 58 anos. O programa apresentou 2 séries de 12 a 15 repetições com intervalos de 1 minuto. Os efeitos fisiológicos induzidos pelo programa de treinamento foram significativa redução na relação cintura/quadril, somatório das dobras cutâneas, %G e glicemia capilar. Os autores concluíram que o programa de treinamento resistido apresenta efeito favorável sobre a composição corporal e glicemia capilar.
No presente estudo não foram observadas alterações na composição corporal, isto pode ser explicado devido ao pequeno número de sessões de treinamento realizado neste programa. Porém, ocorreram reduções significativas na glicemia capilar após a realização deste programa agudo de treinamento resistido, como observado em estudo citados anteriormente. Assim sendo, podemos concluir que a participação de um programa de treinamento resistido por diabéticos é uma importante estratégia para o controle glicêmico.
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Sociedade Brasileira de Diabetes. Tratamento e acompanhamento do diabetes mellitus Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes, 2007.
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