efdeportes.com

Efeitos da suplementação de creatina
no desempenho de atividades físicas

Efectos de la suplementación con creatina en el desarrollo de actividades físicas

Effects of creatine supplementation in performance of physical activities

 

Universidade Federal do Paraná

(Brasil)

Juliano Elias Farah

Maria Gisele dos Santos

mariagisele@yahoo.com

 

 

 

 

Resumo

          Melhores resultados com relação ao desempenho de atividades físicas (aumento de força, potência e resistência muscular) podem ser obtidos através de dietas alimentares apropriadas, em conjunto a estruturação do treinamento. A suplementação de creatina parece promover aumentos de força (relativa e absoluta) e potência muscular, sendo que seus efeitos são mais evidentes em atividades predominantemente anaeróbias, contudo, algumas evidências na literatura apontam potenciais efeitos sobre atividades aeróbias (aumentos da performance em atividades intermitentes aeróbias e modificações na utilização de substratos energéticos durante atividade). Atividades como treinamento de força (exercícios resistidos), saltos e corridas de velocidade (sprints) parecem ser significativamente afetadas pela suplementação de creatina. Até o momento não há evidências concretas de que a creatina possa causar problemas à saúde, portanto, sua ingestão pode ser realizada por indivíduos que almejam melhores resultados com relação ao desempenho de atividades físicas.

          Unitermos: Suplementação. Creatina. Desempenho.

 

Resumen

          Mejores resultados con relación al desarrollo de actividades físicas (aumento de la fuerza, potencia y resistencia muscular) pueden ser obtenidos a través de dietas alimenticias apropiadas, en conjunto con la programación del entrenamiento. La suplementación de creatina parece promover aumentos de la fuerza (relativa y absoluta) y potencia muscular, siendo que sus efectos son más evidentes en actividades predominantemente anaeróbicas. Además, algunas evidencias en la literatura apuntan potenciales efectos sobre actividades aeróbicas (aumentos de la performance en actividades intermitentes aeróbicas y modificaciones en la utilización de sustratos energéticos durante la actividad). Actividades como entrenamiento de fuerza (ejercicios resistidos), saltos y carreras de velocidad (sprints) parecen ser significativamente afectados por la suplementación con creatina. Hasta hoy, no hay evidencias concretas de que la creatina puede causar problemas la salud, por lo tanto, su ingestión puede ser realizada por individuos que quieren mejores resultados con relación al desarrollo de la actividades físicas.

          Palabras clave: Suplementación. Creatina. Desarrollo.

 

Abstract

          Superior results with regard to performance of physical activities (force increase, power and endurance muscular) to be obtain through appropriate diet alimentary, in whole of structure of the training. The creatine supplementation to promove high of force (relative and absolute) and muscle potency, that effect are anaerobic activities, even, some study to relate about effects in aerobic activities ( high in the performance in aerobic activities and changeling in the utilize in the energetics substrates during exercise). Force training, jump and runners seem significative for the creatine supplementation. Until the moment there isn’t evidence that creatine can be problems in the health, even, the creatine supplementation can be realign for people that they want the most results in the performance.

          Keywords: Supplementation. Creatine. Performance.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 166, Marzo de 2012. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    As necessidades de melhores resultados conduzem atletas e praticantes de atividades físicas à busca de formas eficazes para otimização da performance e composição corporal. Aprimoramentos no desempenho físico podem ser conseguidos através de hábitos nutricionais adequados (FOX et al., 1991), vinculado ao controle das intensidades e períodos de repouso dentre os exercícios, obtidos através do controle apropriado dos métodos de treinamento (VERKHONSHANSKY, 1996).

    Constantemente, padrões de desempenho são ultrapassados por indivíduos melhores preparados e mais especializados nas atividades que praticam, sendo que, possivelmente utilizam-se de algum recurso ergogênico para concretizarem seus feitos. Qualquer tipo de substância, processo ou procedimento que pode ser capaz de melhorar o desempenho físico, dentre eles, agentes farmacológicos, componentes nutricionais, fisiológicos, psicológicos e mecânicos, é considerado um recurso ergogênico (FOX et al., 1991, WILLIAMS, 1998).

    Uma das variáveis do treinamento que pode causar significativo impacto sobre os resultados almejados é o componente nutricional. A elaboração de uma dieta alimentar contendo quantidades adequadas de macro-nutrientes (carboidratos, proteínas e gorduras) e micro-nutrientes (água, vitaminas e sais minerais) é essencial para obtenção de resultados satisfatórios. No entanto, constantemente são verificadas carências na ingestão de determinado (os) nutriente (es), devido à alta demanda metabólica da atividade praticada.

    No Brasil, atualmente, observa-se um grande uso de suplementos, recorridos tanto para fins ergogênicos como estéticos (DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE, 2003). Um dos compostos que mais vem se popularizando entre atletas é a creatina (KREIDER, 2003), em sua forma monohidratada, acaba-se sendo um dos suplementos mais utilizados e pesquisados nos últimos tempos (FLECK et al., 2000).

    A suplementação de creatina pode ser efetiva na manutenção de níveis elevados de energia (ATP: adenosina trifosfato) durante atividades físicas intensas (BRUDNAK, 2004), sendo mais eficiente em exercícios onde a especificidade de produção energética depende do sistema ATP-PC (fosfocreatina ou anaeróbio alático). Trabalhos de força e potência muscular são beneficiados com a suplementação de creatina (WILLIAMS & BRANCH, 1998), do mesmo modo, atividades de curta duração e alta intensidade são suscetíveis a melhoras de performance (KREIDER, 2003).

    A maneira como a creatina é administrada (ingerida) pode ser efetuada a partir de protocolos de curta duração (5-7 dias) e longa duração (>15 dias). Numerosos estudos têm examinado os efeitos de curtos períodos de suplementação na performance de atividades físicas (KREIDER, 2003). A quantidade de creatina ingerida durante protocolos de suplementação varia dentre 20-30g ao dia (ou 0,3g/kg peso corporal/dia), separadas e consumidas ao longo das 24 horas em porções de 5-7g, dissolvidas em algum líquido para melhor absorção (WILLIAMS & BRANCH, 1998, JUHN, 1999, BIRD, 2003).

    Existem diferentes formas de creatina disponíveis para utilização em estudos de pesquisa ou como suplementos nutricionais. O (1) monohidrato de creatina é a forma primária utilizada nos estudos, a (2) creatina fosfato é encontrada em pequenas quantidades sendo extremamente cara, limitando seu uso, o (3) citrato de creatina pode ser encontrado em suplementos alimentares, porém não é aplicado em estudos científicos, já a (4) creatina micronizada tem uma maior absorção intestinal, dissolvendo-se melhor em líquidos (WILLIAMS et al., 2000).

    Qualquer forma de creatina ingerida tem a função de elevar os estoques corporais de creatina livre e creatina fosforilada (PC), sendo que, alguns dos efeitos observados após períodos de suplementação de creatina são: (1) aumento da capacidade máxima de desenvolvimento de força muscular (RAWSON & VOLEK, 2003); (2) aumento da performance muscular durante séries de exercícios repetitivos (PREEN et al., 2001, HAVENETIDIS et al., 2003); (3) redução do tempo de sprints únicos e sprints consecutivos (SKARE et al., 2001); melhora nos níveis de potência muscular (TARNOPOLSKY & MACLENNAN, 2000, LEHMKUHL et al., 2003, KUROSAWA et al., 2003, KOCAK & KARLI, 2003); (5) aumento do peso corporal total (KUTZ & GUNTER, 2003, POWERS et al., 2003, HAVENETIDIS et al., 2003, ECKERSON et al., 2004); (6) aumento da massa corporal magra e massa muscular (ZIEGENFUSS et al., 2002, LEHMKUHL et al., 2003, VOLEK et al., 2004).

    Reações adversas e efeitos colaterais provenientes da ingestão aguda (curto prazo) e crônica (longo prazo) da creatina ainda continuam obscuros e controversos, sendo que determinados autores relatam que a suplementação por curtos períodos de tempo não propicia qualquer problema patológico (BALSOM et al., 1994), no entanto, a Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, em recente diretriz, recomenda a utilização da creatina somente para atletas competitivos engajados em atividades de cunho anaeróbio alático (fosfagênios), porém, excepcionalmente (DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE, 2003). Visto a discordância de recomendações, consideráveis equívocos podem ocorrer em contundentes afirmações sobre a utilização, ou não, da suplementação de creatina, sendo que muitas pesquisas comprovam efeitos positivos de performance, paralelamente a insignificativas reações adversas.

    Devido aos disparates de considerações a cerca da utilização da suplementação de creatina como processo ergogênico otimizador do desempenho físico, e visto que, encontram-se determinadas lacunas com relação à prescrição dietética da creatina, este estudo tem por objetivo analisar os efeitos da suplementação de creatina sobre o desempenho de determinadas atividades físicas.

Efeitos da suplementação de creatina em exercícios resistidos

    A suplementação de creatina em conjunto com o treinamento contra resistência promove ganhos de força e hipertrofia muscular (VOLEK & RAWSON, 2004). No entanto, os mecanismos pelos quais a creatina exerce efeito ergogênico sobre as adaptações crônicas ao treinamento de força ainda causam controvérsias, porém, especula-se que podem ser devido a ganhos de massa corporal magra (VOLEK et al., 2004), aumento da retenção hídrica intracelular (POWERS et al., 2003), aumento de tamanho das fibras musculares tipo 2 (BURKE et al., 2003) e aumento nas grandes cadeias de miosina (WILLOUGHBY & ROSENE, 2001, VOLEK & RAWSON, 2004).

    Um estudo realizado com nove homens (idade: 20,7 ± 1,9 anos; estatura: 179,3 ± 4,7cm; massa corporal: 88,5 ± 17,0 kg) praticantes de exercícios resistidos há pelo menos cinco anos, sendo suplementados durante quatro semanas (0,3 g/kg peso corporal de creatina na primeira semana e 0,05 g/kg peso corporal nas outras três semanas) e submetidos a um treinamento periodizado de força muscular (semana 1: 3x10-12; semana 2: 3x8-10; semana 3: 5x5; semana 4: 5x3) contendo exercícios para grandes e pequenos grupos musculares. Após o período experimental de suplementação e treinamento foram observados aumentos significativos (p<0,05) no total de carga máxima (1RM) tanto no agachamento (@140 kg para @146 kg), quanto no supino reto (@113 kg para @122 kg), além de aumentos de potência no agachamento com salto (@1570 W para @1670 W) e no supino balístico (@730 W para @800 W) (utilizando 30% de 1RM para o agachamento e supino reto) (VOLEK et al., 2004).

    Nove jogadores de handebol (idade: 20,8 ± 5 anos; estatura: 182 ± 8 cm; massa corporal: 79,4 ± 8 kg) foram suplementados durante cinco dias (20 g de creatina ao dia) e submetidos a testes de repetições máximas (RMs) e de carga máxima (RM). Não foram verificadas mudanças significativas (p<0,05) na produção de força máxima (1RM) durante o supino reto, no entanto, o número máximo de repetições utilizando 60% de 1RM sofreu um significativo aumento (p<0,05) (16,1 ± 2,9 rep. para 18,8 ± 3,5 rep.). Do mesmo modo, o número máximo de repetições utilizando 70% de 1RM no meio agachamento sofreu alterações significativas (p<0,05) (13,2 ± 3,0 rep. para 15,9 ± 2,1rep.), assim como no máximo de carga sustentada durante uma contração muscular máxima voluntária (1RM), reverente a 133 ± 11,9 kg para 147,7 ± 14,1 kg (p<0,01) (IZQUIERDO et al., 2002).

    Dez homens (idade: 24 ± 1 anos; estatura: 171 ± 1cm; massa corporal: 74 ± 2 kg) praticantes de treinamento força com freqüência de três sessões/semana foram suplementados durante quatro dias com 20 g de creatina e nos subseqüentes 17 dias com 2 g ao dia. Foram realizadas três semanas de suplementação de creatina em conjunto com treinamento resistido contendo exercícios para grandes e pequenos grupos, com um volume de treinamento consistindo de 3 séries de 8-10 repetições, com períodos de descanso variando de 60-120 segundos entre as séries. Após o período experimental de suplementação e concomitante treinamento, foram observados significativos aumentos (p<0,01) em uma contração máxima dinâmica (1RM) no supino reto (87 ± 4 kg para 91 ± 3 kg) e no leg press (280 ± 19 kg para 313 ± 22 kg) (HUSO et al., 2002).

    Após 12 semanas de suplementação de creatina (6g/dia de creatina) em conjunto ao treinamento de força de alta intensidade (realizado 3 vezes por semana, contendo protocolo de treinamento equivalente a 3 séries de 6-8 repetições; utilizando 85-90% de 1RM, separados por períodos de descanso de 90s entre séries e entre exercícios), foram verificados aumentos significativos (p<0,05) na produção relativa de força (1RM (kg)/peso corporal (kg)) dos membros inferiores (3,23 para 4,98) de homens destreinados (idade: 20,41 ± 1,73 anos; estatura: 180,44 ± 3,72 cm; massa corporal: 85,49 ± 14,28 kg) analisada a partir dos exercícios leg press, extensão de pernas e flexão de pernas (WILLOUGHBY & ROSENE, 2001).

    Indivíduos (idade: 24 ± 5 anos; estatura: 179 ± 7; massa corporal: 84,1 ± 8,2 kg) do sexo masculino, saudáveis e treinados, foram submetidos a protocolo de suplementação de cinco dias com ingestão diária de 20 g/dia. Antes e após o período de suplementação foi realizado um teste isométrico no supino reto, consistindo na execução de cinco séries de 20s de máxima contração, separadas por intervalos de dois minutos de descanso entre séries. Foram verificados aumentos significativos no pico de força e no total de força produzida durante as contrações isométricas máximas do grupo suplementado com creatina que respondeu a suplementação (concentração intramuscular de creatina ≥ 32 mmol/kg de músculo seco) (KILDUFF et al., 2002).

    Assim como indivíduos treinados, mulheres sedentárias também podem se beneficiar com a suplementação de creatina, sendo submetidas a uma ingesta de 20 g/dia de creatina durante quatro dias consecutivos, e, mantendo-se por mais 10 semanas com doses de 5 g/dia. Sendo que, aliado a suplementação de creatina, foi introduzido treinamento resistido (3 sessões/semana) contendo cinco séries de doze repetições, utilizando 70% 1RM tanto para grupamentos musculares de membros superiores, quanto inferiores. Após cinco e dez semanas de treinamento e suplementação, foram verificados aumentos significativos (p<0,05) no total de força dinâmica (1RM) no leg press (244 ± 18 para 348 ± 30 kg), extensão de pernas (54 ± 4 para 100 ± 8 kg) e agachamento (57 ± 3 para 83 ± 5 kg). Do mesmo modo, aumentos significativos (p<0,05) do torque (Nm; mensurados a partir de um dinamômetro eletrônico) dos flexores do braço foram observados após o período de suplementação e treinamento (VANDENBERGHR et al., 1997).

    As mensurações de força máxima (1RM) e resistência de força (RMs) parecem sofrer significativas alterações após protocolos agudos (altas doses de CR em curto tempo) e crônicos (longo período de ingesta de CR) de suplementação de creatina, do mesmo modo, quantificações adicionais de potência muscular ocorrem em paralelo a aumentos de força, porém, não necessariamente. Visto os resultados dos estudos sobre os exercícios contra resistência, a suplementação de creatina parece ser efetiva no aumento de performance de força muscular absoluta (1RM) e relativa (RMs), contribuindo, ainda, para possíveis elevações concomitantes de potência muscular.

Efeitos da suplementação de creatina em saltos

    A supressão energética para a realização de um salto ou de uma série pequena de saltos, com ou sem sobrecarga, é fornecida principalmente pelos fosfatos inorgânicos de alta energia (ATP-PC). A literatura evidencia que a suplementação de creatina pode ocasionar aumentos de performance primariamente em exercícios com períodos de duração inferiores a 30s (WILLIAMS & BRANCH, 1998), contudo, a performance de saltos tanto verticais como horizontais pode ser otimizada com períodos apropriados de ingestão de creatina.

    Sete homens saudáveis praticantes de atividades físicas, foram submetidos à suplementação com creatina durante sete dias (25 g/dia de creatina), sendo observadas melhoras significativas (p<0,05) no pico de produção de força (mensurado em Watts) durante (cinco séries de dez repetições) saltos consecutivos utilizando 30% 1RM no agachamento (VOLEK et al., 1996).

    Outro estudo realizado com nove homens (idade: 20,7 ± 1,9 anos; estatura: 179,3 ± 4,7 cm; massa corporal: 88,5 ± 17,0 kg) praticantes de exercícios resistidos há pelo menos cinco anos, suplementados durante quatro semanas (0,3 g/kg peso corporal de creatina na primeira semana e 0,05 g/kg peso corporal nas outras três semanas) e submetidos a um treinamento periodizado de força muscular, demonstrou aumentos significativos na performance de saltos com carga (30% 1RM do agachamento) após o período experimental (VOLEK et al., 2004).

    Atletas masculinos suplementados com 3 g/dia de creatina durante 14 dias, engajados em treinamento resistido fora da temporada, obtiveram aumentos significativos (p<0,05) no teste anaeróbio de salto vertical, porém, 1RM no supino reto, corrida de 40 jardas e extensão de pernas não sofreram modificações entre períodos pré e pós-suplementação (GOLDBERG & BECHTEL, 1997).

    Nove homens jogadores de handebol foram submetidos a cinco dias de suplementação de creatina (20 g/dia), sendo que a performance de saltos foi analisada através de dois saltos consecutivos sobre uma plataforma de análise de contato, sendo que a altura dos saltos era computada a partir do tempo total de vôo. Houve um aumento significativo (p<0,05) na altura do salto (tempo de vôo; 31,4 ± 1 para 33,1 ± 1 cm) do grupo suplementado com creatina, após a realização de uma série de 10 repetições no meio agachamento (70% de 1RM), dados não corroborados com os indivíduos descansados ou após o teste 1RM no meio agachamento (IZQUIERDO et al., 2002).

    Devido a incrementos nos estoques de creatina fosfato após suplementação, a possibilidade para aumentos de performance em saltos, únicos ou consecutivos, aumenta. Possivelmente devido a maiores quantidades de ATP/segundo fornecidas à musculatura esquelética, assim como a redução do tempo de recuperação (aumento da ressíntese de ATP), podendo influenciar na execução consecutiva de saltos. Em contra partida, reduções de performance podem ocorrer devido ao aumento agudo no peso corporal total, possivelmente oriundo de quantidades extras de água corporal carreadas em conjunto com as moléculas de creatina e glicogênio muscular.

Efeitos da suplementação de creatina em tiros de velocidade (sprints)

    Percorrer uma pequena distância no menor tempo possível é característica dos sprints, do mesmo modo, a suplementação de creatina pode ser efetiva para otimizar a performance em sprints únicos e sprints consecutivos (KREIDER, 2003). Os resultados parecem ser mais evidentes quando os tempos dos sprints variam dentre seis a 30 segundos, com períodos de recuperação em torno de 30 segundos a cinco minutos entre os sprints (BIRD, 2003).

    Oito homens fisicamente ativos, porém, destreinados, foram submetidos a cinco dias de suplementação de creatina e dextrose (30g de creatina + 30 g de dextrose ao dia). Antes e após suplementação os indivíduos foram testados em um cicloergômetro (bicicleta com freio a ar), sendo que o protocolo de exercício consistia em pedalar 20 segundos o mais rápido possível. As variáveis analisadas durante o teste foram o pico de potência, potência média durante o teste, instante de potência máxima e percentual de queda de potência. Não foram verificados efeitos significativos (p<0,05) nas variáveis analisadas durante os teste, sendo que cinco dias de suplementação de creatina não causaram modificações na performance durante sprints de 20 segundos em bicicleta ergométrica (SNOW et al., 1998).

    Atletas praticantes de handebol (n=9) foram suplementados com 20g/dia de creatina durante cinco dias. Teste de corrida de velocidade foram aplicados nos períodos pré e pós-suplementação, consistindo na execução de seis sprints máximos de 15 metros, separados por 60 segundos de descanso. Não foram verificadas reduções na média total de tempo durante os 15 metros totais, porém, o tempo médio necessário para percorrer os primeiros cinco metros reduziu significativamente (1,05 ± 0,03 segundos para 1,03 ± 0,03 segundos) (p<0,05) (IZQUIERDO et al., 2002).

    Outro estudo analisou a performance em sprints consecutivos em uma bicicleta ergométrica, utilizando sete homens saudáveis não treinados, sendo suplementados durante cinco dias (20 g/dia de creatina). O protocolo de exercício consistia em realizar várias séries de sprints de seis segundos, separados por períodos de recuperação e cargas variadas, durante o tempo total de 80 minutos. O delineamento do estudo teve por objetivo reproduzir fisiologicamente as demandas impostas durante partidas de futebol americano ou roque no gelo. O total de trabalho teve um significativo aumento (p<0,05; 6%) comparando o período pré-suplementação (251,7 ± 18,4 KJ) para o pós-suplementação (266,9 ± 19,3 KJ). Da mesma forma, o pico de potência máxima elevou-se durante todas as séries de exercícios, obtendo significativos aumentos (p<0,05) nas séries 1,4 e 7 (descanso entre séries de 24 segundos), 3 e 9 (descanso entre séries 54s), 5 e 8 (descanso entre séries de 84 segundos) (PREEN et al., 2001).

    Numerosas pesquisas utilizam protocolos de suplementação numa periodicidade média de cinco dias, porém, a utilização de apenas três dias parece ser viável para acarretar aumentos de performance, como no estudo de Ziegenfuss et al. (2002), onde homens e mulheres atletas foram suplementados com 20 g/dia de creatina durante três dias. O protocolo de exercício consistia na performance de seis sprints máximos de dez segundos em uma bicicleta ergométrica, com carga correspondente a 0,10 kg/kg peso corporal. O pico de potência máxima aumentou significativamente (p<0,01) no grupo suplementado com creatina entre os sprints 2 a 6. A potência máxima dos homens foi maior nos sprints 1 e 2, enquanto que as mulheres apresentaram maior potência durante os sprints 4, 5 e 6, levando os autores a concluírem que entre os atletas submetidos a esse estudo, as mulheres apresentaram melhores performances durante sprints consecutivos (ZIEGENFUSS et al., 2002).

    A característica fisiológica dos sprints, especificamente analisando o metabolismo energético envolvido, tem se predominância dos sistemas anaeróbios de energia (ATP-PC e anaeróbio lático), tendo pouca influência do sistema aeróbio. Sprints muito curtos (<8s) tem predominância do sistema ATP-PC, já sprints médios (10-30s) utilizam-se de ambos sistemas, predominando o sistema anaeróbio lático. Em adendo a esses fatores, a suplementação de creatina provoca potenciais efeitos ergogênicos na realização de sprints únicos e consecutivos.

Efeitos da suplementação de creatina em atividades aeróbias

    Estudos utilizando suplementação de creatina em conjunto com atividades aeróbias continuam limitados na literatura, no entanto, tem se sugerido que a suplementação de creatina pode modificar a utilização de substratos energéticos durante exercícios prolongados submáximos, ocasionando aumento da performance (WILLIAMS & BRANCH, 1998). Do mesmo modo, sprints repetitivos realizados sobre bicicletas, caracterizados como atividades aeróbias intermitentes, podem ser aumentados concomitantemente a suplementação de creatina (FLECK et al., 2000, WILLIAMS et al., 2000).

    Entretanto, algumas pesquisas realizadas sobre alimentação e suplementação são contundentes em suas posições, relatando que a utilização da creatina como recurso ergogênico em atividades prolongadas não encontra qualquer respaldo na literatura científica (DIRETRIZ DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE, 2003). Talvez determinadas posições sejam devido a não utilização da creatina fosfato (CP), como contribuinte energético, durante atividades aeróbias (ACSM, 2000).

    Analisando a utilização isolada dos fosfatos inorgânicos de alta energia (ATP-CP) sobre exercícios aeróbios, seria válida a afirmação de que a creatina não ocasiona melhora de performance, porém, um dos processos pelo qual a creatina teria ação ergogênica sobre o metabolismo oxidativo, seria através do sistema de lançadeira de creatina fosfato, onde “a CP e a creatina podem servir como mensageiros energéticos auxiliares entre a mitocôndria e os sítios citoplasmáticos para a utilização de ATP” (WILLIAMS et al., 2000, p. 23).

    Um estudo realizado com jogadores de handebol (n=9), suplementados com creatina durante cinco dias (20 g/dia), submetidos a um teste de corrida de resistência, sendo que o protocolo consistia em correr ao redor de uma quadra (40x20 m) durante cinco minutos continuamente, iniciando a uma velocidade de 10 km/h e aumentando a velocidade em 2 km/h ao final de cada estágio (5 min), porém, antes do início do próximo ciclo eram dados três minutos de recuperação, onde eram retiradas amostras de sangue para aferição da concentração de lactato. O teste seguia ininterruptamente até a exaustão voluntária máxima. Não foram verificadas diferenças significativas (p>0,05) nas concentrações de lactato do grupo suplementado, assim como não foram observadas melhoras no tempo médio de exaustão. Levando os autores a concluírem que a suplementação de creatina não foi efetiva para ocasionar aumentos de performance no teste descontínuo de corrida com aumento de velocidade (IZQUIERDO et al., 2002).

    Outro estudo que investigou os efeitos da suplementação de creatina (20 g/dia de creatina durante cinco dias + 5g/dia de creatina durante 35-50 dias), sobre a captação máxima de oxigênio (VO2 máximo) em um teste de bicicleta com cargas moderadas e pesadas, não demonstrou nenhuma diferença nos parâmetros de captação de oxigênio durante cargas moderadas, no entanto, para cargas elevadas, houve uma significativa (p<0,05) redução da captação de oxigênio, contudo, a magnitude dessas reduções esta correlacionada (r=0,87) com o percentual de fibras tipo 2 na musculatura do vasto lateral, indicando que o recrutamento das unidades motoras e o volume muscular ativado podem interferir nos resultados de teste submáximos de VO2 máximo (JONES et al., 2002).

    Os resultados da suplementação de creatina sobre atividades aeróbias continuam limitados (WILLIAMS & BRANCH, 1998), resultados controversos são obtidos em pesquisas metodológicas distintas, no entanto, resultados atuais revelam que a creatina pode ser efetiva para determinadas atividades físicas de cunho aeróbio (FLECK et al., 2000). Portanto este é um campo de pesquisa que ainda precisa ser explorado, utilizando-se de metodologias estruturadas e embasadas na literatura, para que os próximos resultados sejam fidedignos e confiáveis a estudos subseqüentes.

Efeitos colaterais e reações adversar após suplementação de creatina

    Devido à creatina ser um aminoácido absorvido exogenamente através da dieta, assim como pode ser produzida endogenamente pelo próprio organismo humano, poucos são os relatos de que a ingestão de suplementos de creatina causam efeitos colaterais, tanto a curto como longo prazo.

    Dois indivíduos suplementados com creatina (20 g/dia) durante quatro dias apresentaram leves e passageiros desconfortos abdominais, no entanto, depois de cessada a suplementação, não foi constatada nenhum tipo de alteração do quadro clínico normal (TARNOPOLSKI & MACLENNAN, 2000).

    Estudos de revisão, como o de Balsom et al. (1994), não relataram efeitos adversos em curtos períodos de suplementação. Do mesmo modo, o aumento dos níveis de creatinina (resultante da degradação da creatina) na urina após suplementação, não é fator contribuinte para ocasionar disfunções renais (YOSHIZUMI & TSOUROUNIS, 2004). Corroborando com esses dados, Schroder et al. (2004) sugerem que baixas doses de creatina ingerida não são suficientes para ocasionar alteração na concentração plasmática analisada clinicamente.

    Portanto, pesquisas subseqüentes são necessárias para averiguar quais as causas pela qual a creatina pode gerar determinados tipos de desconfortos, com isso, tentando minimizar os possíveis problemas que podem ocorrer após períodos de ingestão de creatina.

Considerações finais

    A aderência a hábitos alimentares apropriados e a rotina e treinamentos estruturados pode ser suficiente para o alcance dos objetivos almejados, tanto para fins estéticos como competitivos. No entanto, para otimização da performance em atividades físicas distintas, principalmente atividades com predominância dos sistemas anaeróbios de energia (ATP-PC e glicólise anaeróbia), o uso da creatina, como suplemento ergogênico, pode apresentar significativa importância.

    Os resultados que a suplementação de creatina pode ocasionar na performance são: (1) aumento da potência máxima e média de potência máxima durante séries únicas e repetitivas de exercícios em bicicletas ergométricas, aparelhos contra resistência isocinéticos e hidráulicos, (2) aumento da carga máxima (RM) e aumento do número de repetições máximas após períodos curtos de descanso, (3) redução do tempo de sprints únicos e sprints consecutivos, (4) redução do tempo de recuperação após séries consecutivas de exercícios anaeróbios.

    Devido à creatina ser um aminoácido sintetizado pelo próprio organismo, sua ingestão por via de suplementos alimentares parece ocasionar poucos efeitos colaterais, sendo que alguns indivíduos submetidos à suplementação com dosagens elevadas apresentaram pequenos problemas intestinais, como dores e mal estar. No entanto, não há nenhuma comprovação científica de que a creatina possa causar danos para órgãos internos, como fígado e rins.

    Contudo, as evidências encontradas na literatura e apresentadas nessa pesquisa são categóricas e, de certa forma, incontestáveis em alguns dos seus resultados, como a utilização da suplementação de creatina para otimização do desempenho em atividades anaeróbias predominantes do sistema ATP-PC e subseqüente anaeróbio lático.

    Portanto, a utilização da suplementação de creatina parece ser efetiva para ocasionar melhorias na performance em atividades com predominância anaeróbia, contudo, atividades aeróbias intermitentes também podem ser beneficiadas. Devido à elevada demanda de estudos que obtiveram resultados positivos no desempenho de atividades físicas, a suplementação de creatina como recurso ergogênico apresenta-se de grande valor, do mesmo modo, devido à falta de argumentos concretos com relação a reações adversas, observam-se poucas restrições a sua ingestão, mostrando-se um suplemento eficiente tanto para comunidade atlética como para praticantes de exercícios sem fins competitivos.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 15 · N° 166 | Buenos Aires, Marzo de 2012
© 1997-2012 Derechos reservados